31 Mar
2008 - A Moratória da Soja, compromisso estabelecido
em julho de 2006 entre indústrias e exportadores
associados à ABIOVE (Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais) e ANEC (Associação Nacional
dos Exportadores de Cereais) de não adquirir
soja oriunda de novos desmatamentos do Bioma Amazônia,
acaba de mostrar seu primeiro resultado: a avaliação
de campo para identificar se ocorreu plantio de
soja nas áreas desflorestadas entre agosto
de 2006 e junho de 2007.
O setor empresarial e as organizações
da sociedade civil se uniram na execução
deste trabalho inédito. Por meio da ação
do GTS (Grupo de Trabalho da Soja), responsável
pela implementação e controle do processo
da Moratória, foi contratada a empresa Globalsat
para localizar os desmatamentos acima de 100 hectares,
ocorridos no período citado, nos municípios
que cultivam soja nos estados do Mato Grosso, Pará
e Rondônia.
Utilizaram-se dados do sistema
PRODES do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(INPE). A empresa realizou sobrevôos e visitas
de campo a todas as áreas desmatadas acima
de 100 hectares, entre dezembro de 2007 e fevereiro
de 2008, para identificar o tipo de uso do solo.
Todas as áreas foram
fotografadas e documentadas.
A constatação desse
trabalho foi que não ocorreu plantio de soja
nas 193 áreas analisadas, o que leva à
conclusão de que a soja produzida na presente
safra não é originária de desmatamentos
recentes, acima de 100 hectares, no Bioma Amazônia.
As empresas e ONGs acordaram que
o monitoramento abrangeria somente os desmatamentos
acima de 100 hectares, que é o avaliado como
sendo a área mínima desmatada, economicamente
viável, para o cultivo do grão. Mesmo
assim foi desenvolvido, adicionalmente, um estudo
piloto em três municípios tradicionais
produtores de soja, localizados na área prioritária
da Moratória, para verificar se havia desmatamento
menor que 100 ha no mesmo período e, em caso
afirmativo, verificar o que havia sido cultivado
nas áreas. Também não havia
soja plantada nessas áreas.
Apesar dos resultados obtidos
até agora não indicarem a presença
da soja nos desmatamentos ocorridos, ainda persistem
fatores de risco que podem mudar este resultado
para as próximas safras. Por exemplo, os
atuais preços internacionais elevados representam
um forte estímulo econômico para aumentar
a produção de soja brasileira na próxima
safra, indo ao encontro da crescente demanda mundial
pela proteína da oleaginosa.
Além disso, verificou-se
que ocorreram desmatamentos em áreas vizinhas
às áreas já utilizadas atualmente
para produção de soja, o que pode
indicar uma potencial utilização futura.
Tal fato ressalta a importância da moratória
da soja como ferramenta para desestimular desmatamento
já que as empresas
deixaram claro que não comprarão soja
de quem desrespeitar a decisão anunciada
em julho de 2006.
O monitoramento da produção
é uma das ferramentas de governança
da Moratória, mas sua eficiência restringe-se
às empresas participantes do compromisso
e será insuficiente para controlar o desmatamento,
principalmente nos momentos de maior pressão.
É necessário que os diferentes níveis
de governo executem, com máxima urgência,
a sua parte na efetivação de um sistema
de governança mais amplo, fundamental para
a conservação e a sustentabilidade
do Bioma Amazônia.
Também é necessário
que o governo promova a criação de
estratégias de valorização
da floresta em pé e ofereça alternativa
econômica para aqueles que estão dispostos
a abrir mão do direito de produzir com agricultura,
conservando integralmente todos os recursos naturais
da área. O GTS acredita que a valorização
dos serviços ambientais, que permita a justa
remuneração do proprietário
rural, é o caminho natural para evitar o
desmatamento.
O GTS é composto pelas
entidades ABIOVE e ANEC, as empresas ADM, Amaggi,
Bunge e Cargill e as organizações
da sociedade civil Conservação Internacional
Brasil, Greenpeace, IPAM, TNC e WWF Brasil.
+ Mais
Earth Hour é sucesso no
mundo inteiro
02 Apr 2008 - Milhões de
pessoas ao redor do planeta sinalizaram uma nova
consciência global sobre as mudanças
climáticas ao desligar as luzes por uma hora
no último sábado ao aderirem à
iniciativa da Rede WWF, Earth Hour. Ícones
de vários países, como o Coliseu,
na Itália, a Sydney Opera House, na Austrália,
e a ponte Golden Gate, nos Estados Unidos, também
tiveram suas luzes desligadas.
"O Earth Hour é um
evento global da Rede WWF que tem como objetivo
encorajar empresas, comunidades e indivíduos
a dar passos simples para reduzir suas emissões
de gases de efeito estufa”, afirma Andy Ridley,
o criador da iniciativa e agora diretor internacional
do Earth Hour da Rede WWF.
Oficialmente, 26 cidades em seis
continentes participaram desta iniciativa da Rede
WWF. Na maior parte dos países, a energia
elétrica é produzida de forma a emitir
muitos gases do efeito estufa, os causadores das
mudanças climáticas.
O WWF-Brasil apoiou a ação,
mas não participou diretamente. Apesar disso,
muitos brasileiros apagaram suas luzes espontaneamente,
o que demonstra a consciência da sociedade
brasileira sobre o tema.
Início
O Earth Hour começou ano passado, por iniciativa
do WWF-Ausatrália, que envolveu apenas a
cidade de Sidney. A expectativa inicial era de reduzir
5% do consumo de energia elétrica da cidade
durante os 60 minutos do evento. O resultado, porém
foi o dobro do esperado: 10,2% de redução
no consumo.
"Para o Earth Hour 2009,
em 28 de março, esperamos que mais pessoas
tenham incorporado soluções simples
de utilizar a energia elétrica de maneira
mais eficiente em casa e no trabalho. É importante
que as pessoas incorporem estes hábitos para
termos um futuro sustentável”, afirma Ridley.
Reunião de clima resulta
em agenda de trabalho ambiciosa
04 Apr 2008 - As reuniões
da Organização das Nações
Unidas (ONU) sobre clima esta semana em Bangcoc
resultaram em uma agenda de trabalho ambiciosa,
que garante a discussão mais aprofundada
sobre os principais assuntos relacionados a um novo
acordo dos 160 países signatários
da Convenção-Quadro de Mudanças
Climáticas em 2009. Esta é a opinião
do WWF-Brasil sobre a conclusão do primeiro
encontro da ONU sobre mudanças climáticas
após a 13ª. Conferência das Partes
em Bali, em dezembro passado. O acordo de 2009 é
necessário, pois o primeiro período
do Protocolo de Quioto termina em 2012 e os países
necessitam de um tempo para ratificar o novo compromisso
até que ele entre em vigor, devido à
complexidade do assunto.
“Os países em desenvolvimento
colaboraram bastante para a formulação
da agenda, mas ainda é preciso que apresentem
propostas concretas para serem discutidas por todos”,
afirma Karen Suassuna, analista em mudanças
climáticas do WWF-Brasil, que acompanhou
as discussões na Tailândia.
O Brasil, por exemplo, já
apresentou duas propostas em anos anteriores: a
da compensação por reduções
de emissões pelo desmatamento, que sugere
que os países sejam compensados financeiramente
pela diminuição no desmatamento como
forma de incentivo, e a da responsabilidade histórica,
que afirma que cada país deve se comprometer
com as reduções de suas emissões
de acordo com seu histórico de poluição.
Dificuldades nas negociações
As negociações não
são fáceis e muitos países
têm apresentado resistência. Desta vez,
o Japão foi quem mais colocou obstáculos
para que as negociações avançassem.
O país manteve sua posição
conservadora ao exigir que as nações
em desenvolvimento também assumam metas de
redução de emissões. Em Bali,
o acordado foi que os países em desenvolvimento
iriam agir para reduzir suas emissões, porém
sem metas obrigatórias.
"O governo japonês
terá de construir uma relação
de mais confiança com os grandes países
em desenvolvimento se quiser liderar o G8 (Grupo
dos sete países mais desenvolvidos + Rússia)
para um acordo razoavelmente bom na próxima
reunião do grupo em Hokkaido”, afirma Kathrin
Gutmann, coordenadora de políticas públicas
da Rede WWF. “A melhor maneira de fazer isso é
o Japão adotar uma posição
agressiva e defender uma redução drástica
de emissões pelos países industrializados
de 25% a 40% até 2020.”
A atenção do mundo
se voltou para as mudanças climáticas
de forma mais intensa depois da divulgação
de diversos relatórios sobre o tema no ano
passado, como o Relatório Stern, sobre os
impactos na economia mundial, e o do Painel Intergovernamental
de Mudanças Climáticas (IPCC). “Os
impactos apontados por estes documentos explicitam
a vulnerabilidade econômica, social e ambiental
a que estamos sujeitos. É necessário
que haja liderança política arrojada
o suficiente para construir uma agenda global com
medidas concretas e enfrentar a gravidade e urgência
do assunto”, afirma Karen Suassuna. “Caso contrário,
cientistas e economistas têm apontado prejuízos
enormes para a humanidade”, completa.
Este ano, haverá ainda
mais três reuniões da ONU para tratar
do tema: na Alemanha, em Gana, e na Polônia
(COP 14), em dezembro. Na reunião de Gana,
marcada para agosto, será tratado um dos
assuntos mais relevantes para o Brasil, Reduções
das Emissões do Desmatamento e Degradação
(REDD).