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COMANDANTE DIZ QUE DEMARCAÇÃO DE TERRA INDÍGENA PODE SER AMEAÇA AO PAÍS

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Abril de 2008

16 de Abril de 2008 - Vladimir Platonow - Repórter da Agência Brasil - Rio de Janeiro - O comandante militar da Amazônia, general Augusto Heleno, disse hoje (16) que a demarcação contínua de terras indígenas na região de fronteira é uma ameaça à soberania nacional. Ele participou da abertura do seminário Brasil, Ameaças a sua Soberania, que prossegue até sexta-feira (18), no Clube Militar do Rio de Janeiro.

“Nós estamos cada vez mais aumentando a extensão das terras indígenas na faixa de fronteira e caminhando numa direção que me preocupa. Pode não ser uma ameaça iminente, mas ela merece ser discutida e aprofundada", declarou Augusto Heleno. E completou: "Poderão representar um risco para a soberania nacional".

Para o militar, o país tem que estar preparado para a guerra e a Amazônia é a região mais provável de ocorrer ações bélicas. “É nossa hipótese alfa. Há ameaça de conflitos armados, ainda que não sejam iminentes, mas que podem ocorrer, devido ao aumento inegável de tensão em algumas relações bilaterais”, disse Augusto Heleno.

Ele apontou dez possíveis conflitos fronteiriços entre os países vizinhos, desde disputas por terras entre Guiana e Venezuela ou Paraguai e Bolívia, até efeitos da guerrilha das Forças Armadas Revolucionárias da Colômbia (Farc).

O militar negou que sua posição contrária à demarcação de área contínua na reserva Raposa Serra do Sol, em Roraima, defendida pela Presidência da República, represente quebra de hierarquia.

“Em nenhum momento eu contrariei a decisão do presidente da República. Ela está tomada e será cumprida por quem de direito. Eu levantei o problema. E ele merece ser discutido e novamente está sendo estudado”, referindo-se à decisão do Supremo Tribunal Federal (STF), que mandou suspender a ação de retirada de não-índios da reserva.

O general comentou a declaração do representante da Advocacia Geral da União (AGU), José Antônio Toffoli, feita ontem (16), contestando os argumentos de que homologação em área contínua traria riscos para a defesa do território nacional e enfatizando que declarações de membros das Forças Armadas que se mostraram críticos à demarcação “não correspondem ao pensamento do governo brasileiro”.

“Eu não tomei posição quanto à demarcação de terra indígena. Eu coloquei um problema para que ele seja discutido por aqueles que representam o governo. Eu não falo em nome do governo porque não tenho autoridade para isso. E o Exército brasileiro é um instrumento do Estado, acima de ser um instrumento de governo.”

Durante a palestra, para cerca de 200 pessoas, a maioria militares, o general mostrou trechos da Declaração da Organização das Nações Unidas (ONU) sobre os Direitos dos Povos Indígenas, para reforçar sua visão de possíveis ameaças à soberania nacional com demarcações contínuas de territórios indígenas, que poderiam ser considerados independentes do país.

A declaração da ONU foi aprovada no ano passado e tem 46 artigos, com objetivo de proteger os povos indígenas em todo o mundo. Segundo ele, o artigo 6 define que “toda a pessoa indígena tem direito a uma nacionalidade”. O artigo 9 diz que “os povos e as pessoas indígenas têm o direito de pertencer em uma comunidade ou nação indígena, em conformidade com as tradições e costumes da comunidade, ou nação de que se trate”.

O diretor do Centro de Informações da ONU, Giancarlo Summa, rebateu as desconfianças do general e disse que a declaração não tem objetivo de formar novos estados indígenas. “O artigo 46 proíbe, explicitamente, que a declaração possa ser utilizada para tentar desmembrar um território de um país. Não é para formar novos países ou estados indígenas e a própria declaração proíbe essa possibilidade.”

Em referência à polêmica em torno da reserva Raposa Serra do Sol, o representante da ONU disse que a entidade não se pronuncia sobre assuntos internos dos países-membros, limitando-se a reconhecer que há maior preservação do meio ambiente nas áreas transformadas em reservas indígenas o que, segundo ele, é um fator positivo.

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Câmara convoca três ministros para depor sobre Raposa Serra do Sol

16 de Abril de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Os ministros da Justiça, Tarso Genro, da Defesa, Nelson Jobim, e de Assuntos Estratégicos, Mangabeira Unger, terão que comparecer, em data a ser agendada nos próximos 30 dias, à Comissão de Relações Exteriores e Defesa Nacional da Câmara dos Deputadios. Eles vão prestar esclarecimentos sobre o posicionamento do governo federal em relação à homologação da Terra Indígena Raposa Serra do Sol e à retirada dos não-índios de lá.

Os requerimentos de convocação foram aprovados hoje (16). Um dos autores, o deputado federal Antônio Carlos Pannunzio (PSDB-SP), adiantou que o principal objetivo será confrontar idéias com o ministro da Justiça.

"O ministro [Tarso Genro] simplesmente quis dar cumprimento a uma decisão do Executivo, baixada por decreto, e entendeu ser uma questão meramente policial. Temos a compreensão que o problema é mais grave, ligado à defesa e segurança nacional", afirmou Pannunzio, em entrevista à Agência Brasil. "Estivemos na iminência de um gravíssimo conflito armado de proporções desconhecidas", acrescentou.

Pannunzio explicou que a convocação do ministro Mangabeira Unger foi motivada pelo fato dele supostamente ter impedido que um general do Exército e parlamentares da região o acompanhassem em uma viagem oficial pela Amazônia. O governador de Roraima, José de Anchieta Júnior, também deverá comparecer à comissão, mas na condição de convidado.

O líder do PT, deputado Maurício Rands (PE), definiu a convocação dos ministros como uma "armadilha da oposição". Ele disse que parlamentares do partido deixaram a reunião da comissão para tentar impedir a aprovação dos requerimentos, mas deputados de outros partidos da base acabaram se posicionando favoráveis à convocação. "Convocar três ministros para tratar de um único assunto caracteriza um excesso, uma desproporcionalidade", reclamou Rands.

O deputado federal Márcio Junqueira (DEM-RR) disse que vai cobrar do ministro da Justiça explicações sobre os gastos do governo federal com a Operação Upatkon 3 em Roraima. "Hoje se encontraram no estado 500 policias, 60 caminhonetes, um grande aparato bélico. Eles estão comendo e gastando diárias. Isso é dinheiro do povo. E se daqui a 60 dias um ministro do Supremo pedir vista [das ações pendentes]?", questionou.

Segundo Junqueira, a presença da Polícia Federal na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, determinada pelo Supremo Tribunal Federal (STF), é necessária, mas "sem todo esse aparato".

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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