18 Apr 2008 - Um dos objetivos
do WWF-Brasil ao participar da III Feira Brasil
Certificado, entre 16 e 18 de abril na capital paulista,
é divulgar a importância socioambiental
da certificação FSC e do manejo florestal
praticado por comunidades e empresas. O engenheiro
ambiental Estevão Braga, do WWF-Brasil, explica
o que é a certificação FSC,
como funciona e como contribui para a conservação
das florestas.
O que significa a certificação
FSC?
Estevão Braga: FSC é
a sigla em inglês para Conselho de Manejo
Florestal, uma organização internacional
criada em 1993 no Canadá para desenvolver
princípios e critérios universais
para o bom manejo florestal, com base em aspectos
sociais, ambientais e econômicos. A certificação
FSC é concedida após a comprovação,
por parte de uma certificadora independente e credenciada
pelo FSC, que a empresa ou comunidade cumpre todas
as normas da certificação. Além
disso, as áreas certificadas são auditadas
pelo menos uma vez por ano para assegurar que as
regras continuam sendo respeitadas.
Em linhas gerais, quais são
esses critérios?
Estevão Braga: A certificação
FSC é baseada no tripé da sustentabilidade:
o manejo florestal tem que ser ambientalmente adequado,
socialmente justo e economicamente viável.
Isso significa que a exploração da
floresta não pode agredir o meio ambiente.
Adicionalmente, não é aceito o uso
de mão de obra infantil ou escrava e todos
os direitos trabalhistas devem ser integralmente
respeitados. Além disso, o plano de manejo
da floresta deve ser exeqüível do ponto
de vista operacional e financeiro.
Quais são os passos necessários
à obtenção da certificação
FSC?
Estevão Braga: Primeiramente,
a empresa ou comunidade deve comprovar que tem o
direito de manejar aquela área. Ou seja,
que ela tem a posse ou o direito ao uso da terra.
Com essa comprovação em mãos,
ela deve realizar o inventário da área
a ser manejada, levantando cada uma das árvores
de espécies comerciais existentes. Com base
nesses dados, é elaborado um plano de manejo,
que determina quais árvores podem ser extraídas
para a retirada de madeira e com qual periodicidade,
de modo a causar o menor impacto possível
à floresta e à biodiversidade local.
Basicamente, o manejo florestal tenta imitar o ciclo
natural da floresta, onde as árvores mais
velhas morrem, caem e abrem clareiras, permitindo
assim que as mais jovens cresçam e tomem
o lugar das mais velhas. E o FSC é a forma
mais segura de se extrair árvores da floresta,
imitando esse ciclo natural.
A certificação FSC
é válida apenas para a madeira?
Estevão Braga: Não.
A certificação FSC também pode
ser concedida para o manejo de produtos florestais
não-madeireiros, como a castanha-do-Brasil,
o óleo de copaíba, sementes a serem
utilizadas para a produção de jóias
e artesanato, entre outros. Os critérios
básicos são os mesmos, com pequenas
adequações de caráter técnico.
Custa caro obter e manter a certificação
FSC?
Estevão Braga: Quando se
compara o custo do manejo feito da forma correta,
que respeita as leis e normas ambientais brasileiras,
a diferença não é tão
grande. O que não dá é para
comparar o preço do manejo certificado, que
cumpre a lei, paga impostos e tem funcionários
registrados em carteira, com a extração
ilegal de madeira, que é feita em áreas
públicas ou de terceiros, não paga
nenhum imposto e não paga bem seus funcionários.
No aspecto financeiro, compensa
investir na certificação?
Estevão Braga: Sim. Estudos
na Amazônia comprovam que o manejo florestal
custa, em média, 17% menos que a exploração
predatória dos recursos. Afinal, com a exploração
racional das florestas há menos desperdício,
as árvores se recuperam com mais rapidez
e é possível lucrar com a floresta
por muito mais tempo. Em relação ao
mercado, já existem diversos compradores
dispostos a pagar mais por produtos social e ambientalmente
adequados.
Sobretudo no exterior ou também
no Brasil?
Estevão Braga: O mercado
no exterior é bem mais desenvolvido. Na Holanda,
por exemplo, cerca de 20% da madeira comercializada
tem a certificação FSC. No Brasil,
a porcentagem de madeira FSC da região amazônica
não chega a 1%. Se olharmos historicamente,
o Brasileiro nunca se preocupou com a origem da
madeira que consome. Nos últimos 10 anos,
entretanto, temos visto a situação
mudar, principalmente nos mercados consumidores
mais importantes. O governo de São Paulo,
por exemplo, está criando barreiras legais
para a entrada de madeira de origem predatória
em todo o estado. Certamente é uma tendência
sem volta, o FSC é o norte a ser seguido
por todos que se preocupam com as florestas brasileiras.
+ Mais
WWF-Brasil participa da III Feira
Brasil Certificado e mostra novidades
16 Apr 2008 - O WWF-Brasil participa
da III Feira Brasil Certificado, que começa
nesta quarta (16 de abril) e vai até sexta-feira
(18 de abril), no Centro de Eventos São Luís,
em São Paulo (SP). No estande, técnicos
que atuam no campo vão mostrar projetos da
ONG ambientalista, voltados para o desenvolvimento
sustentável. Os visitantes também
podem se informar sobre a atuação
do WWF-Brasil nos biomas Amazônia, Pantanal
e Mata Atlântica .
Durante a feira, o WWF-Brasil
vai lançar a primeira edição
do Guia de Preços de Produtos Certificados,
em parceria com a Fundação Florestal
do Estado de São Paulo. A publicação,
de periodicidade trimestral, vai divulgar quanto
o mercado paga por produtos com a certificação
FSC (Conselho de Manejo Florestal). O objetivo é
mostrar que os investimentos na certificação
de produtos florestais compensam financeiramente
e que existem produtos certificados com preços
acessíveis para o consumidor final.
Os profissionais do WWF-Brasil
também explicarão o programa SIM (Sistema
de Implementação e Verificação
Modular), que qualifica empresas e comunidades que
trabalham com produtos florestais a obter a certificação
FSC. O programa também proporciona aos participantes
oportunidades de atingir nichos dos mercados nacional
e internacional que se preocupam com a origem ambiental
e social dos produtos.
Para atingir os objetivos propostos
pelo SIM, técnicos do WWF-Brasil e consultores
contratados visitam periodicamente os participantes
e identificam carências que precisam ser trabalhadas
para a obtenção do selo FSC. Por meio
de atividades como treinamentos e capacitações,
as empresas e comunidades inscritas no programa
aprendem passo-a-passo como manejar de forma adequada
as florestas e trabalhar com fornecedores que realizam
o manejo sustentável.
O engenheiro florestal do WWF-Brasil
Estevão Braga, que coordena o SIM, explica
que o selo FSC é atualmente a melhor ferramenta
para garantir o bom manejo florestal na Amazônia,
pela seriedade dos critérios de certificação
e monitoramento adotados.
“Para obter a certificação
FSC, é preciso obedecer a pré-requisitos
de caráter ambiental, social e legal. O aproveitamento
dos recursos florestais tem que acontecer de forma
sustentável, os direitos trabalhistas dos
funcionários devem ser integralmente respeitados
e a situação fundiária da propriedade
precisa estar regularizada”, sintetiza Estevão
Braga.
No dia 17 de abril, durante a
feira, o WWF-Brasil e o Instituto Floresta Tropical
(IFT) vão promover curso gratuito para técnicos
que trabalham com manejo florestal, apresentando
o software Rilsim 2.1. A ferramenta, criada pelo
IFT, permite calcular e monitorar os custos gerados
pelo manejo das florestas, em comparação
com a exploração convencional e predatória
dos recursos.
A Feira Brasil Certificado
Durante os três dias da
III Feira Brasil Certificado, especialistas e autoridades
do Brasil e do exterior irão debater experiências
bem sucedidas em arquitetura e construção
sustentável, compras responsáveis
e oferta de produtos de florestas comunitárias,
desmatamento na Amazônia e mudanças
climáticas. Também serão apresentados
panoramas da certificação no contexto
mundial.
O estande do WWF-Brasil na Feira
Brasil Certificado é fruto de uma parceria
com a União Mundial pela Natureza (UICN).
+ Mais
Fórum Global reúne
cadeia de produção da soja
14 Apr 2008 - A terceira conferência
do Fórum Global da Soja Responsável
(RTRS, em inglês) acontece nos dias 23 e 24
de abril, em Buenos Aires, com o tema: “Comida,
Ração e Combustível para o
Futuro”. O objetivo do encontro é se aproximar
de padrões globais para produção
de soja responsável.
Com os preços da soja atingindo
patamares recordes, a pressão para expandir
os negócios se torna maior. Essa pressão
aumenta com a enorme demanda por ração
para gado e galinhas e produção de
biocombustíveis. Para gerenciar este crescimento
de maneira sustentável e reduzir os impactos
negativos nas pessoas e na natureza, representantes
de toda a cadeia produtiva da soja global – produtores,
processadores, financiadores e organizações
não-governamentais – se juntaram ao Fórum
Global da Soja Responsável.
A terceira conferência do
Fórum está com 78 inscritos e visa
estabelecer os critérios e princípios
para produção e comercialização
da soja responsável. Trata-se de um processo
participativo, envolve múltiplos atores e
está na segunda etapa de consulta pública
na conferência. Outros tópicos a serem
apresentados e debatidos são modelos de verificação
do sistema de monitoramento e certificação,
o papel dos biocombustíveis, expectativas
e contribuições dos consumidores e
varejistas e um foco especial na análise
da cadeia produtiva da soja na Argentina.
Soja
A indústria da soja é
uma das que mais cresce na América do Sul.
A produção é uma grande fonte
de renda, porém, se cultivada de maneira
inadequada, pode trazer graves impactos ecológicos
e sociais, especialmente quando áreas de
grande valor para a conservação são
convertidas em lavoura. Quando o cultivo da soja
envolve desmatamento, também contribui para
o aumento do aquecimento global.
A área de soja cultivada
mais que dobrou nos últimos dez anos nos
países considerados grandes produtores do
grão: Brasil, Argentina, Paraguai. A demanda
por soja deve crescer em cerca de 60% nos próximos
20 anos, especialmente na União Européia
e China, onde o produto é usado para fazer
ração para animais. Isso pode resultar
na ocupação de 16 milhões de
hectares de novas áreas de Cerrado e 6 milhões
de hectares de florestas tropicais na América
do Sul. A maior parte desta conversão pode
ser evitada com o uso de técnicas adequadas
e planejamento estratégico.
A Rede WWF está convencida
de que a produção de soja pode caminhar
lado-a-lado com a conservação do meio
ambiente e respeito às comunidades tradicionais.
Se forem adotadas técnicas apropriadas de
planejamento do uso da terra e boas práticas
agrícolas. Como implantação
de zonas-tampão, manejo sustentável
da água e uso responsável de defensivos
agrícolas. A Rede WWF encoraja todos os atores
da cadeia produtiva a participar do Fórum
Global sobre Soja Responsável e buscar juntos
um processo participativo para estabelecer princípios
e critérios para termos uma soja responsável.
Para mais informações
e inscrições, entre no site http://www.responsiblesoy.org