24 de
Abril de 2008 - Internacional — Vazamento radioativo
na Espanha e problemas técnicos em reatores
na França e Finlândia expõem
insegurança da energia nuclear.
Às vésperas do 22º
aniversário do acidente ocorrido na usina
nuclear de Chernobyl (em 1986 na Ucrânia)
e que matou mais de 200 mil pessoas, a indústria
nuclear continua patinando em termos de segurança,
além de enfrentar também graves problemas
de atrasos em obras e orçamentos estourados
nas usinas em construção em diversos
países do mundo.
Ao lembrar as vítimas de
Chernobyl, o Greenpeace alerta que a indústria
nuclear não superou sua cultura de insegurança
e aponta o caso do vazamento radioativo ocorrido
em novembro passado na Espanha como emblemático.
Em novembro de 2007, durante uma
troca de combustível da usina nuclear Ascó
I, houve um vazamento de material radioativo pelo
sistema de ventilação, que acabou
contaminando um contêiner que estava próximo.
Na época do vazamento, a empresa nada comunicou
a população. Até que no início
de abril um caminhão deixou o material que
destinava-se a reciclagem fora do sítio nuclear,
o que acabou provocando contaminação
em áreas públicas.
No entanto, a empresa responsável
pela usina manteve essa grave quebra de segurança
em segredo durante meses. Mesmo após o Greenpeace
ter publicado detalhes do acidente, a Conselho Nuclear
de Segurança (CNS), da Espanha, continuou
a subestimar a gravidade do fato por muitos dias.
Pressionado pelas evidências, eles foram forçados
a admitir que o vazamento foi pelo menos cem vezes
maior do que o anunciado inicialmente. Partículas
radioativas quentes foram espalhadas por muitos
quilômetros fora da usina e centenas de pessoas
precisaram ser examinadas em busca de uma possível
contaminação.
“Passadas duas décadas,
o caso da Espanha mostra que as lições
de Chernobyl ainda não foram aprendidas e
que os problemas inerentes à energia nuclear
não foram solucionados. Persiste o risco
de que os reatores nucleares de hoje se tornem a
Chernobyl de amanhã”, disse Rebeca Lerer,
da campanha de energia do Greenpeace no Brasil.
“A única novidade da indústria nuclear
é sua milionária campanha de marketing
para aceitar mudar uma imagem marcada por desconfiança
e insegurança”, completa.
Já na França, a
maior potência nuclear do mundo, os problemas
envolvem atrasos e orçamentos estourados.
O projeto do Reator Pressurizado Europeu (EPR, na
sigla em inglês), da usina nuclear em construção
Flamanville 3, por exemplo, enfrenta entraves técnicos
após apenas três meses de obra. Recentemente,
veio à tona uma série de cartas escritas
por inspetores da agência de segurança
nuclear oficial da França, (ASN, na sigla
em francs) demonstrando problemas de qualidade e
segurança na execução do projeto.
As cartas da ASN endereçadas
ao Diretor de Desenvolvimento de Flamanville 3 detalham
os problemas como o uso de concreto de qualidade
inadequada, trama de ferro mal disposta na base
e soldas produzidas por fornecedor sem qualificação
para a base do reator. Ainda de acordo com as cartas,
os planos de implementação são
diferentes daqueles aprovados nos projeto, o controle
de qualidade é ineficiente ou inexistente,
e o construtor falhou em reparar os erros a tempo
e melhorar os processos. A dona do projeto, estatal
francesa Areva alega que o EPR é mais barato,
seguro e confiável e o modelo é um
dos ícones do renascimento nuclear.
Conheça aqui mais detalhes
sobre os atrasos nas obras e o estouro nos orçamentos
das usinas européias.
“Nós vemos uma situação
na Espanha e na França onde o controle é
frágil e os interesses políticos e
econômicos estão se sobrepondo às
questões de segurança e qualidade.
Infelizmente, pouca coisa mudou desde 1986. A energia
nuclear continua sendo um experimento falido do
século 20 que não tem lugar na matriz
energética no futuro ou minimiza as catástrofes
das mudanças climáticas”, disse Jan
Beránek, coordenador da campanha anti-nuclear
do Greenpeace Internacional.
O outro EPR da Areva em construção
é o Olkiluoto 3, na Finlândia. Após
dois anos e meio de construção, a
obra já apresenta problemas: está
dois anos atrasada e acumula mais de US$ 1,5 bilhões
de prejuízo e questões de segurança.
Na Eslováquia, a construção
de dois reatores nucleares soviéticos ultrapassados
sofreu um grande golpe financeiro, com a desistência
de um consórcio de bancos em financiar o
projeto. A empresa eslovaca responsável pela
usina, Elektrane/ENEL, esperava começar a
construção no ano passado, mas não
conseguiu iniciar as obras até agora.
O governo eslovaco foi acusado
pelo Greenpeace de dar subsídios ilegais
ao projeto.
E no Brasil, o projeto federal
de construir Angra 3 também enfrenta problemas
financeiros e de segurança. Até hoje,
os números apresentados pelo Greenpeace no
relatório Elefante Branco: os verdadeiros
custos da energia nuclear não foram oficialmente
explicados. A questão do lixo radioativo
permanece sem solução.
“Nosso país não
deve conviver com o risco de um acidente nuclear
como o de Chernobyl. Temos alternativas como a economia
de energia e as fontes renováveis para garantir
a segurança energética, social e ambiental
necessária ao desenvolvimento do país.
O Brasil não precisa de Angra 3”, completa
Rebeca.