21 de Junho de 2008 - Luana Lourenço
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- Os resultados positivos dos dois primeiros anos
da moratória da soja, compromisso assinado
por compradores de não comercializar grãos
produzidos em áreas de novos desmatamentos
na Amazônia, podem não se repetir no
período de prorrogação do compromisso,
assinada essa semana por representantes do governo,
organizações não-governamentais
e indústrias.
De acordo com o Grupo de Trabalho
da Soja, que reúne representantes da Associação
Brasileira das Indústrias de Óleos
Vegetais (Abiove) e do Greenpeace, por exemplo,
nos dois primeiros anos da moratória, em
nenhum dos 193 polígonos de novos desmatamentos
na Amazônia houve cultivo de soja.
No entanto, a situação
pode mudar até a próxima safra, influenciada
pelo aumento do preço do grão no mercado
internacional, o que eleva o interesse dos produtores,
e passada a “domesticação” da terra,
período de transição (com plantio
de outras culturas, por exemplo) para que o solo
seja cultivável para a soja.
“O monitoramento revelou que houve
desmatamento em 193 polígonos e a área
está lá aguardando algum tipo de definição,
que não necessariamente será a soja.
O que não quer dizer que se nós não
formos atentos, alguma soja será plantada
nessas áreas. Até porque em alguns
polígonos, essas áreas estão
relativamente próximas a áreas já
plantadas com soja no passado”, admitiu o presidente
da Abiove, Carlo Lovatelli.
O levantamento dos polígonos
de novos desmatamentos só levou em conta
áreas de devastação iguais
ou maiores que 100 hectares, porque, segundo o GTS,
em geral, não é economicamente viável
para o produtor de soja cultivar o grão em
áreas inferiores a essas.
Na avaliação do
coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace,
Paulo Adário, é preciso ficar atento
também a desmatamentos inferiores a 100 hectares.
“Identificamos proprietários que desmataram
áreas menores, bem próximas às
lavouras que já produzem soja, o que pode
indicar que a produção será
estendida para essas áreas nos próximos
anos”, apontou.
Mas, para o presidente da Abiove,
a garantia de que a soja irregular não será
comercializada se deve ao fato de que os compradores
de soja, que repassam a produção aos
grandes exportadores “conhecem de perto” os produtores
do grão. “Ele tem raízes na região,
conhece os produtores, é relacionado, são
companheiros, ele tem a informação
[se desmatou ou não]”, disse.
Já o coordenador da campanha
do Greenpeace defende a divulgação
da lista de fornecedores, para que o monitoramento
dos produtores, que desmataram ou não para
produzir mais soja, não seja feito somente
por representantes das indústrias compradoras.
“O comprador de soja não tem credibilidade
suficiente para dizer que não comprou de
quem desmatou”.
Adário acredita que será
necessário reforçar o trabalho para
que o monitoramento chegue aos pequenos polígonos
de desmatamento. Segundo ele, foram identificados
mais 47 mil com extensão inferior a 100 hectares.
“Esse ano vai ter soja plantada
nas áreas desmatadas Não será
um grande problema monitorar os 193 polígonos.
O que o GTS não têm condições
de fiscalizar são os polígonos abaixo
de 100 hectares. A imensa maioria não é
em área de soja, mas se a gente falar em
10% para a soja, sendo conservador, serão
cerca de 5 mil polígonos a mais para monitorar”,
estimou.
+ Mais
Para representante do Greenpeace,
soja de área não desmatada precisa
de certificação
21 de Junho de 2008 - Luana Lourenço
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- Mais que assumir compromissos de não comercializar
soja produzida em áreas de novos desmatamentos
na Amazônia, os grandes compradores do grão
têm que articular ferramentas de certificação
que garanta credibilidade no mercado internacional,
cada vez mais exigente com critérios ambientais
de produção.
A avaliação é
do coordenador da Campanha Amazônia do Greenpeace,
Paulo Adário, que nesta semana participou
da assinatura da prorrogação da moratória
da soja.
Em julho de 2006, compradores
responsáveis por 94% da soja comercializada
pelo país e organizações não-governamentais
se comprometeram a não comprar soja produzida
em áreas desmatadas. O termo de compromisso
assinado na última terça-feira (17)
estende a moratória até julho de 2009.
“Não basta para a indústria
dizer que ela não está comprando,
é preciso ter um sistema de rastreabilidade,
que seja capaz de rastrear aquela soja que foi plantada
na área desmatada, saber para onde ela vai,
para impedir que essas empresas que assinaram a
moratória comprem. E é preciso ter
um sistema de certificação para que
ela possa provar que não comprou soja de
desmatamento”, argumentou.
Segundo Adário, grandes
importadores europeus de soja, entre eles grupos
como McDonalds, Carrefour e Wal Mart elogiaram a
renovação do compromisso, mas defenderam
garantias de maior governança para o mercado
de soja. “Eles dizem muito claramente que a indústria
européia acredita que a moratória
só pode acabar quando todos os passos para
a comprovação da legalidade da cadeia
de produção da soja tenham sido dados”.
Na avaliação do
representante do Greenpeace, a proposta do ministro
do Meio Ambiente, Carlos Minc, de estender a experiência
da moratória da soja para madeireiras, siderúrgicas
e grandes frigoríficos situados no bioma
amazônico “é muito boa” mas deverá
enfrentar dificuldades logísticas.
“No caso da soja, são poucos
os grandes compradores, é mais fácil
monitorar a comercialização. Em relação
à pecuária, por exemplo, é
mais complicado porque existem milhares, talvez
milhões de fazendeiros, além da questão
cultural, é um setor de pouca sofisticação
do ponto de vista industrial, se comparado com o
da soja”, avaliou.
+ Mais
Greenpeace quer que comissão
internacional defenda baleias, não baleeiros
23 de Junho de 2008 - Paula Laboissière
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- A Comissão Internacional Baleeira (CIB)
se reúne hoje (23) em Santiago, no Chile,
para discutir temas como a manutenção
da moratória à caça comercial
de baleias e a criação do Santuário
do Atlântico Sul. Para a organização
não-governamental Greenpeace – que participa
do encontro – a CIB precisa converter-se em uma
entidade que protege as baleias e não os
baleeiros.
A comissão foi criada em
1946 com o propósito de oferecer métodos
eficazes para a conservação de baleias
e, ao mesmo tempo, de tornar possível o desenvolvimento
ordenado da indústria baleeira. Integram
o CIB países como Argentina, Austrália,
Brasil, Canadá, Chile, Dinamarca, França,
Nova Zelândia, Peru, Estados Unidos e África
do Sul.
Para a coordenadora do Programa
de Baleias do Greenpeace, Leandra Gonçalves,
o “real objetivo” do CIB consistia em fortalecer
a indústria baleeira. Ela explica que, dos
anos 80 para cá, com a entrada de países
com visão conservacionista, a caça
de baleias começou a ser questionada. Atualmente,
75 países integram a CIB – 42 são
conservacionistas e 33, “baleeiros”. Os únicos
que, segundo Leandra, praticam a caça de
baleias são Japão, Islândia
e Noruega.
O destaque negativo, de acordo
com o grupo ambientalista, é direcionado
ao Japão. Leandra acusa o país de
praticar a compra de votos, sobretudo, de países
pequenos africanos e caribenhos. “Eles acabam votando
a favor de interesses baleeiros.”
Além da moratória
e da criação do santuário,
o Greenpeace irá exigir, durante o encontro,
que se mantenha uma maioria de países conservacionistas
durante as discussões da comissão.
“Para que leve a comissão a defender as baleias
e não os baleeiros.”
O grupo ambiental defende ainda
a ação imediata dos países
membros para reduzir as ameaças modernas
às baleias, como a poluição,
os sons subaquáticos e sonares, as colisões
com navios, as mudanças climáticas
e as redes de pesca.
Dados do grupo ambientalista apontam
que só as redes de pesca matam 300 mil baleias
e golfinhos todos os anos – o equivalente a um animal
morto a cada 90 segundos.
Outra medida proposta pelos ativistas
é que o governo japonês anuncie o fim
do programa de caça científica no
Santuário de Baleias do Oceano Antártico.
Segundo a ONG, os estudos provocam a morte de mil
baleias a cada temporada. A contra-proposta do grupo
é que o Japão realize pesquisas não-letais,
que possam beneficiar o meio ambiente da região.
“Eles usam uma brecha no texto
da convenção que permite fazer caça
com fins científicos mas não deixa
de ser uma caça comercial, porque eles acabam
utilizando esse material de pesquisa para venda
comercial. A gente sabe que existem cerca de 4 mil
toneladas estocadas em freezers no Japão,
o que faz com que já não tenha uma
saída ou um mercado muito forte para a carne
de baleia no mundo.”
Leandra reforça que, já
no primeiro dia de reunião, há um
clima de possível consenso e de diálogo
pacífico entre os países membros.
“O que a gente ainda não sabe é se
isso vai ser bom ou ruim”. O encontro termina na
próxima sexta-feira (27).