2 de Julho
de 2008 - Ivan Richard - Repórter da Agência
Brasil - Brasília - A Comissão de
Agricultura e Reforma Agrária do Senado aprovou
hoje (2), em caráter terminativo, projeto
de lei que propõe alterar a Lei Agrícola
Brasileira com objetivo de estimular a substituição
do sistema de pecuária extensivo, empregado
em grandes áreas, pelo intensivo.
Aprovado anteriormente pela Comissão
de Assuntos Econômicos (CAE), a proposta segue
direto para apreciação da Câmara
dos Deputados. A Confederação Nacional
da Agricultura (CNA) criticou a proposta, afirmando
que no Brasil é “impossível” a criação
de gado sem o sistema extensivo.
De acordo com texto do projeto,
com a expectativa de crescimento da produção
de biocombustíveis, há a preocupação
com o avanço de outras culturas e até
mesmo da pecuária em direção
à Floresta Amazônica.
A idéia é conceder
incentivos especiais aos produtores para que promovam
a troca da criação de gado empregada
em grandes áreas pela produção
em pastos menores. Também há a previsão
de conciliar a criação dos bois com
a produção de outras culturas, como
soja, milho ou cana-de-açúcar na área
excedente.
Para o presidente do Fórum
Nacional de Pecuária de Corte da CNA, Antenor
Nogueira, não há como separar o sistema
extensivo do intenso. “Boi não é como
frango ou suíno. Não se engorda um
boi com 30, 40 dias [como ocorre na produção
de aves]”, disse Nogueira.
Ele explicou que para engordar
um boi é preciso, primeiramente, ter uma
fêmea para parir o bezerro. Para tanto, acrescentou,
as fêmeas têm que ser criadas extensivamente.
Depois, existe ainda o período de cria do
gado, que também tem que ser no sistema extensivo,
argumentou Nogueira. “Diferentemente de outros países,
o gado brasileiro não vai diretamente para
o confinamento”, comparou o presidente do Fórum
Nacional de Pecuária de Corte da CNA
“Aqui, ele é recriado,
pelo menos por um ano e meio no pasto, no sistema
extensivo. O regime de criatório intensivo
no Brasil é feito exclusivamente para a fase
de terminação. Ou seja, nos últimos
90 dias antes do abate. Antes disso, não
há como trocar”, reforçou Nogueira.
Segundo ele, retirar o bezerro
do pasto antes do tempo e transferi-lo para o confinamento,
ou seja, para o sistema de pecuária intensiva,
iria inviabilizar a produção. “Não
compensa. Pela renda e pelas condições
brasileiras isso é praticamente impossível”,
pontuou.
Apesar de criticar a alteração
proposta pelos senadores, Antenor Nogueira afirma
que a CNA está disposta a discutir o projeto.
“Acho que teria que haver mais discussão
sobre o assunto. E a CNA está disposta a
contribuir com o debate."
A Comissão de Agricultura
e Reforma Agrária do Senado também
aprovou hoje projeto de lei com objetivo de estimular
o desenvolvimento do sistema orgânico de produção
agropecuária.
+ Mais
Vazio sanitário impõe
restrição temporária ao plantio
de soja em oito estados
4 de Julho de 2008 - Lourenço
Canuto - Repórter da Agência Brasil
- Brasília - Os plantadores de soja da maioria
dos estados produtores estão obedecendo recomendações
técnicas da Empresa Brasileira de Pesquisa
Agropecuária (Embrapa) e respeitando o vazio
sanitário estabelecido para a entressafra,
visando conter o ataque do fungo da ferrugem asiático,
o Phakopsora pachyrhizi, que provoca desfolhamento
nas plantas e prejudica o desenvolvimento dos grãos,
afetando a rentabilidade das lavouras.
O período de restrição
ao plantio este ano no Brasil vai de 15 de junho
até 30 de setembro. Em Mato Grosso e Paraná,
o vazio sanitário precisa ser cumprido até
15 de setembro; em Goiás, Mato Grosso do
Sul, Tocantins, São Paulo e Minas Gerais
até 30 de setembro; e no Maranhão
entre 15 de agosto e 15 de outubro.
O fitopatologista e pesquisador
da Empresa Brasileira de Pesquisa Agropecuária
(Embrapa) Rafael Moreira Soares esclarece que o
vazio sanitário foi criado com o objetivo
de proibir o cultivo de inverno - menos importante
que o de verão -, para que haja um período
maior sem soja no campo. "Isso faz com que
a população do fungo causador da ferrugem
diminua bastante, pois sem as plantas da soja ele
sobrevive no máximo por 55 dias no ambiente".
A soja é uma cultura de
verão, sendo plantada normalmente entre outubro
e abril, lembra Rafael Moreira. Mas, com o desenvolvimento
de novas cultivares, adaptadas a diversas condições
climáticas e também devido ao uso
de irrigação artificial, muitas regiões
(principalmente a do Cerrado) começaram a
semear soja no inverno (ou entressafra, que vai
de junho a setembro).
Com o aparecimento da ferrugem
asiática no Brasil em 2001, o fungo causador
da doença, que precisa da planta viva para
se desenvolver, encontrou condições
para sobreviver, pois havia soja no campo praticamente
o ano inteiro, explica Rafael Moreira.
"Quando começa o plantio
de verão, a incidência do fungo da
ferrugem está muito baixa no meio ambiente,
mas, na medida em que transcorre a safra, a doença
acaba aparecendo, embora mais lentamente, podendo
ser controlada com fungicidas, que são menos
tóxicos que os inseticidas. Apesar do uso
de fungicidas, a população do fungo
acaba aumentando com o tempo, atingindo com maior
severidade a soja que tiver sido plantada por último,
o que incorre em necessidade de uso dos fungicidas".
O período de plantio da
soja pode variar de outubro a dezembro, dependendo
da região, destaca o pesquisador Rafael Moreira
Soares. Por isso, quanto mais cedo se plantar na
safra de verão, melhor estará sendo
a estratégia do agricultor para escapar da
doença, lembra ele.
A recomendação dos
técnicos da Embrapa é de que os plantadores
respeitem o vazio sanitário, procurando semear
cedo na safra de verão, devendo sempre monitorar
a lavoura para realizar a aplicação
de fungicida no momento certo.
Durante a safra 2007/2008 ocorreram
2106 de focos da ferrugem asiática, cujo
fungo vem pelo vento, sendo propícia a temperatura
entre 28 a 30 graus. Nessas condições,
ele ataca as folhas da planta, provocando perfurações,
afetando o desenvolvimento dos grãos.
O fungo Phakopsora pachyrhizi
começou a atacar as lavouras de soja no país
por volta de 2001. O pesquisador Rafael Moreira
afirma que em grandes plantações é
praticamente improvável que não ocorra
necessidade de proteger a lavoura com o uso de fungicidas,
quando a temperatura está muito alta.
O Consórcio Antiferrugem,
do qual participam todos os órgãos
da cadeia produtiva da soja ligados ao Ministério
da Agricultura, além de universidades e empresas
do setor, tem procurado orientar os produtores quanto
à prevenção adequada do fungo
asiático. No final da atual safra de soja,
será feito um balanço sobre o comportamento
do fungo nas lavouras do país.