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DESAFIOS DO G8: METAS CONTRA EMISSÕES E SOLUÇÕES PARA CRISE ALIMENTAR

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Julho de 2008

06 de Julho de 2008 Para combater o aquecimento global, devem ser estabelecidas metas claras de corte de emissões de CO2
Hokkaido (Japão) e São Paulo (Brasil), Internacional — Países ricos são protagonistas do encontro, mas Brasil é nação chave nas negociações sobre mudanças climáticas.

Os líderes dos países mais ricos do mundo, os chamados G8, se reunirão nesta semana, de 7 a 9 de julho, em Hokkaido, no Japão, para discutir assuntos de interesse global, como mudanças climáticas e segurança alimentar. O Greenpeace acompanhará o encontro para cobrar que o G8 se comprometa com metas obrigatórias de redução das emissões de gases de feito estufa, além de adotar medidas efetivas para atacar as causas da crise alimentar global.

A mudança climática, grande ameaça para humanidade hoje, tem sido causada principalmente pelos países do G8 (Estados Unidos, Japão, Alemanha, França, Reino Unido, Itália, Canadá e Rússia). Eles são responsáveis por mais de 80% das emissões globais de gases de efeito estufa. Apesar de representarem somente 13% da população mundial, emitem mais de 40% do percentual global de CO2.

O G8 tem que se comprometer a reduzir as emissões em 30% até 2020 e de 80% a 90% até 2050 – em relação aos níveis de 11000.

"Adotar metas obrigatórias de redução de emissões e investir em uma revolução energética baseada em soluções reais – investindo em energias renováveis e eficiência energética -, significa uma resposta do G8 aos gigantescos preços do petróleo e o início de uma política global efetiva contra as mudanças climáticas", afirmou Daniel Mittler, especialista em política do Greenpeace Internacional.

O Greenpeace está pressionando o G8 para que:

* que os países industrializados se comprometam a cortar as suas emissões em pelo menos 30% em 2020 e de 80% a 90% em 2050 – em relação aos níveis de 11000;

* as emissões globais comecem a ser reduzidas em 2015 e cheguem a mais de 50% em 2050 (em comparação a 11000);

* mantenham o aumento médio da temperatura global abaixo dos 2°C (em comparação aos níveis pré-industriais);

* haja um empenho unilateral do Japão em reduzir suas emissões em 40% em 2020, já que ele é o país-sede da reunião neste ano;

* reconheçam que a proteção das florestas intactas é crucial para a preservação da biodiversidade e para o combate às alterações climáticas.

O Greenpeace também vai cobrar do G8 providências para resolver as causas fundamentais da crise alimentar mundial. O primeiro passo é substituir a agricultura intensiva por sistemas ecológicos que valorizem a biodiversidade, o que significa intensificar a luta contra os trangênicos. As falsas promessas da engenharia genética são uma ameaça para a segurança alimentar, e não a solução para a crise.

"'O G8 deve transferir para os países mais pobres investimentos em tecnologias que proporcionem rendimentos mais elevados, qualidade na alimentação e maior resistência aos efeitos das mudanças climáticas. Se continuarmos a sujar nosso solo, contaminar a nossa água com produtos químicos tóxicos e cultivar sementes geneticamente modificadas, não vamos resolver a atual crise alimentar", afirmou Jan van Aken, especialista em agricultura do Greenpeace Internacional.

As medidas sobre segurança alimentar que devem ser tomadas são:

* aumentar os investimentos públicos em pesquisas e desenvolvimento de temas relacionados a alterações climáticas e ecológicas;

* eliminar os financiamentos de culturas geneticamente modificadas e proibir as patentes de sementes;

* eliminar progressivamente a maioria dos produtos químicos tóxicos usada na agricultura;

* eliminar os subsídios agrícolas ecologicamente destrutivos;

* incentivar à produção alimentar interna e derrubar as metas obrigatórias para aumentar a proporção de biocombustíveis nos transportes.

O Brasil e o G5

Os países ricos podem ser os protagonistas do evento, mas o Brasil, ao lado de China, Índia, México e África do Sul, é uma nação-chave nas negociações internacionais sobre mudanças climáticas e tem um papel estratégico na reunião do G8 por também ser um grande emissor – o 4° do mundo.

"O presidente Lula declarou-se a favor de metas para os países desenvolvidos. Essa só será uma boa notícia caso países como o Brasil passem do discurso à prática e implementem planos nacionais e metas – ainda que nacionais – de maneira transparente e efetiva. O plano brasileiro deveria estar pronto em abril e agora está prometido para setembro. Nós exigimos um compromisso real do governo brasileiro pois não temos tempo a perder", disse Luis Henrique Piva, coordenador da campanha de clima do Greenpeace Brasil.

As discussões sobre agrocombustíveis como uma das soluções para reduzir a emissão de gases do efeito estufa interessam muito ao Brasil – de acordo com o IPCC, a tecnologia deverá responder por 3% a 10% da matriz do setor de transporte em 2030.

"O Greenpeace apóia o desenvolvimento de fontes de energia alternativas e amigáveis do ponto de vista climático, desde que incorporem critérios rigorosos para assegurar salvaguardas ambientais e sociais", explicou Piva.

"Há outras maneiras muito mais efetivas de se reduzir as emissões, como o uso de fontes renováveis."

O Greenpeace não acredita que o Brasil deve se tornar uma 'Arábia Saudita Verde', conforme vem sendo promovido pelo governo federal e nos discursos do presidente Lula fora do país. Diversas experiências ao redor do mundo mostram que as atuais fontes de agrocombustíveis não têm critérios apropriados do ponto de vista social e ambiental.

Outro tema que deve atingir o governo brasileiro é a geração de energia nuclear.

No cenário brasileiro de abundância de recursos renováveis, investir em geração nuclear é um desperdício inaceitável de recursos públicos, além de risco desnecessário para a sociedade.

"O anúncio de que o governo brasileiro pretende construir 8 usinas nucleares, além de Angra 3, não se sustenta do ponto de vista energético ou de combate ao aquecimento global. Da maneira como está sendo apresentada, a proposta é também uma afronta à Constituição Federal, que delega claramente ao Congresso Nacional o poder de discutir e aprovar a construção de usinas nucleares em território nacional. Investir em energia nuclear não é o caminho da sustentabilidade energética brasileira", afirma Receba Lerer, coordenadora da campanha de energia.

Os 50% do G8 não são suficientes para barrar mudanças climáticas

08 de Julho de 2008 Ativistas do navio Rainbow Warrior, do Greenpeace, mostram na praia de Songkhla, na Tailândia, a previsão de elevação do mar para 2100. Na faixa, a mensagem: "G8 salve o clima - Liderem a Revolução Energética".
Hokkaido (Japão) e São Paulo (Brasil) — Decisão dos países industrializados de reduzir pela metade as emissões de CO2 em 2050 é estratégia para postergar ações efetivas.

Com pompa e circunstância, o primeiro-ministro japonês, Yasuo Fukuda, anunciou segunda-feira na abertura da reunião anual do G8, no Japão, que os países industrializados têm que reduzir suas emissões de C02 pela metade em 2050. Parece um número e tanto, mas nada mais é do que outra estratégia dos países ricos para minar as negociações sobre mudanças climáticas lideradas pela Organização das Nações Unidas (ONU).

O Greenpeace está pressionando o G8 para que os países industrializados assumam a liderança e se comprometam a cortar 30% das emissões até 2020 e de 80% a 90%, até 2050, em relação aos níveis de 11000.

"Enquanto as geleiras no Ártico estão derretendo, o G8 está adiando as medidas reais de redução das emissões. Com esse anúncio de reduzir em 50% em 2050, os líderes dos países desenvolvidos deram ao mundo nada mais do que belas palavras. Nesse ritmo, nós não teremos tempo de evitar o caos que será provocado pelas mudanças climáticas", afirma Daniel Mittler, especialista em clima do Greenpeace Internacional.

"Os anos 2050 serão um pesadelo se o mundo não fizer uma revolução energética baseada em fontes renováveis e no aumento da eficiência. O homem do petróleo texano, no entanto, conseguiu postergar as ações que o mundo precisa", completa Mittler.

O pacote de maldades não pára por aí. Nesta terça-feira, os Estados Unidos farão uma proposta 'pra lá' de indecente, que tem o claro objetivo de atrapalhar os acordos que já estão sendo encaminhados. Eles querem promover uma reunião com as maiores potências do mundo, sem a participação dos pequenos países que já estão sendo afetados pelos efeitos das mudanças climáticas.

"Aqueles que já carregam o fardo da mudança do clima hoje devem ter sempre um lugar à mesa, especialmente os países menos desenvolvidos e os pequenos Estados insulares em desenvolvimento. Excluir os mais vulneráveis não é maneira de contribuir para um significativo e verdadeiro acordo global em Copenhague em 2009", completou Mittler.

Carvão não é solução

Enquanto jogam para a platéia, o G8 continua fomentando as mudanças climáticas. Por exemplo: o Fundo de Investimento do Banco Mundial para o Clima, anunciado pelo G8, não exclui o carvão como fonte energética. E o carvão é hoje a maior fonte de poluição do setor de energia.

"É um passo na direção errada. A única boa notícia do encontro é que essa é a última vez que Bush participa dele", afirmou Mittler.


Para o Greenpeace, não se trata apenas de mera discussão sobre a porcentagem correta. Estamos falando aqui de compromissos que garantirão a nossa sobrevivência. As Nações Unidas têm de entregar um plano de ação destinado a salvar o planeta em Copenhague, em 2009. O mundo está assistindo ao encontro do G8 e aqueles que diariamente já sentiram os impactos das alterações climáticas estão esperando uma ação decisiva.

"A estratégia dos Estados Unidos é arrastar as discussões para fora do âmbito da ONU. Mas o fórum adequado para esse tipo de discussão é a Convenção da ONU sobre Mudança do Clima, não a reunião do G8”, afirma Luis Henrique Piva, coordenador da campanha de Clima do Greenpeace Brasil.

"O Brasil tem o dever de cobrar dos Estados Unidos uma postura alinhada com as necessidades urgentes do mundo e ratificar o Protocolo de Kyoto imediatamente. Além disso, o Brasil deve fazer sua lição de casa e desenvolver seu Plano Nacional sobre Mudança do Clima, com o estabelecimento de metas - ainda que nacionais -, de redução de emissões de forma clara e efetiva no campo do desmatamento e da energia”, avalia Piva.

Grilagem na Amazônia vira lei: aprovada MP que incentiva destruição da floresta

09 de Julho de 2008 MP aprovada pelo Senado estimula a grilagem de terras públicas na Amazônia, incentivando assim a destruição da maior floresta tropical do mundo.
Brasília (DF), Brasil — Medida Provisória que legaliza a invasão de terras públicas e beneficia infratores, também conhecida como PAG, passa no Senado.

Agora é lei: o Senado acaba de aprovar, por 37 votos a favor, 23 contra e três abstenções, Medida Provisória (MP) que legaliza a grilagem de terras públicas na Amazônia e beneficia infratores, estimulando assim a destruição da maior floresta tropical do planeta. Quem acompanhou, ao vivo ou pela TV, assistiu a uma sessão quase surreal, onde não se sabia quem era oposição e quem era da base aliada do governo.

A senadora Marina Silva (PT-AC) fez uma defesa candente da floresta, alertando para o impacto que a aprovação da medida pode ter no aumento do desmatamento e para o risco de transformar áreas griladas em florestas públicas na Amazônia em terras regularizadas. Durante a votação, a proposta, também conhecida como PAG, Plano de Aceleração da Grilagem, foi rebatizada de PAI, Plano de Aceleração das Invasões. Líder do governo no Senado e principal defensor da medida, Romero Jucá (PMDB-RR) foi quem pediu que o presidente Lula assinasse a medida no dia 27 de março. Na ocasião, Lula afirmou que ela atendia aos pedidos de deputados que apóiam o governo no Congresso.

Em maio a MP foi aprovada na calada da noite, horas após a demissão de Marina Silva do Ministério do Meio Ambiente.

A MP 422 é uma cópia fiel do projeto de lei 2278/07, do deputado Asdrúbal Bentes (PMDB-PA), que ampliava o limite máximo de áreas invadidas na zona rural da Amazônia Legal que poderiam ser legalizadas pelo governo sem exigências, como uma licitação. A MP amplia o limite de 500 para até 1.500 hectares, com a desculpa de beneficiar pequenos proprietários. Ora, 1.500 hectares é terra para gente grande e não 'pequenos proprietários'.

"Era só o que faltava: a grilagem de terras na Amazônia agora virou lei", disse Paulo Adario, diretor da campanha Amazônia do Greenpeace.

"A aprovação do Plano de Aceleração da Grilagem só vem confirmar nossos temores de que o governo optou pelo pragmatismo eleitoreiro, em vez de ampliar os investimentos em atividades que ajudem a manter a floresta em pé e fortalecer as instituições encarregadas de zelar pelo patrimônio ambiental dos brasileiros, como Ibama e Polícia Federal, como reza a Constituição Federal."

Na terça-feira, o Greenpeace entregou ao presidente do Senado, Garibaldi Alves, um DVD contendo um vídeo que usa linguagem da década de 1970 para satirizar o processo de ocupação ilegal de terras na Amazônia. Apesar do tom bem-humorado, o vídeo é um alerta para o fato de que crimes ambientais e conflitos de terras andam lado a lado em regiões onde não existe a presença constante do Estado, como a Amazônia.

"Nunca o passado esteve tão próximo quanto agora", diz Adario.

"O Brasil voltou a ser um país da década de 1970, quando a questão ambiental era equivocadamente considerada um entrave para o desenvolvimento do país. Para os militares de então, e para o presidente de hoje, a floresta permanece como um obstáculo a ser removido para dar lugar ao ‘progresso’ da madeira, da soja, do pasto, da mineração. Um retrocesso."

Para o Greenpeace, a decisão do Senado é um sinal verde aos destruidores da floresta de que o combate ao desmatamento e à grilagem de terras na região está sujeito a interesses políticos da base de sustentação do governo. Não custa lembrar que este ano haverá eleições municipais em todo o país. Além disso, a medida também é um contra-senso aos esforços do próprio governo de combater o desmatamento na Amazônia – resultante da expansão da fronteira agropecuária, da exploração madeireira predatória, da grilagem de terras e da ocupação desordenada da região.

Enquanto isso, na Câmara dos Deputados...

O Grupo de Trabalho da Consolidação das Leis conseguiu aprovar o relatório do deputado federal Ricardo Trípoli (PSDB-SP) sobre o Projeto de Lei 679/07, que sistematiza a legislação ambiental em vigor, reunindo em único texto várias leis diferentes. Esta aprovação fortalece a Medida Provisória (MP) que altera o Código Florestal e que define a Reserva Legal (a área que não pode ser desmatada) de cada propriedade privada na Amazônia em 80%.

 
 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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