Descoberta mostra que o sistema
de recifes de corais da região pode ter o
dobro do tamanho anteriormente considerado pela
ciência
Salvador, 08 de julho de 2008 — Cientistas de três
instituições anunciam hoje a descoberta
de uma grande área de recifes de coral e
outros ambientes marinhos até então
desconhecidos no Banco dos Abrolhos. Eles acreditam
que a área pode ter o dobro do tamanho até
então considerado pela ciência. A mesma
região também foi alvo de um estudo
divulgado na semana passada, segundo o qual a dinâmica
de peixes recifais mostra que parcelas destas novas
áreas apresentam abundância de vida
marinha muito superior quando comparada aos recifes
anteriormente conhecidos e melhor estudados.
Os resultados da pesquisa, intitulada
“Mapping marine habitats in the largest reef area
of Southern Atlantic: the Abrolhos Bank, Brazil”,
serão apresentados esta tarde no 11o Simpósio
Internacional dos Recifes de Coral na Flórida-EUA.
Desenvolvido por cientistas da Conservação
Internacional, da Universidade Federal do Espírito
Santo e Universidade Federal da Bahia, o projeto
mapeou ambientes recifais em profundidades que variam
entre 20 e 70 metros. Para tanto, foi utilizado
um sonar de varredura lateral, equipamento que produz
um mapa tridimensional do fundo marinho. Nas próximas
etapas do trabalho, as áreas mais promissoras
serão novamente visitadas para a obtenção
de amostras mais detalhadas da vida marinha ali
existente.
Os resultados do estudo demonstram
que mesmo em Abrolhos, o maior e mais rico banco
de corais do Atlântico Sul, apenas uma pequena
parte dos habitats marinhos é conhecida e
está protegida. Os resultados preliminares
do mapeamento do fundo marinho já apontam
para a existência de uma grande área
de recifes e outros ambientes nas áreas mais
profundas da região. Rodrigo Moura, biólogo
da Conservação Internacional e co-autor
do estudo, explica que quando o trabalho foi iniciado
esperava-se encontrar estruturas recifais ainda
não mapeadas, mas não na escala do
que foi descoberto. “Precisamos agora checar a vida
marinha associada a estas estruturas, para entender
melhor sua importância para a conservação
de Abrolhos”, informa.
O outro estudo, divulgado na semana
passada, de co-autoria de Rodrigo Moura, e Ronaldo
Francini Filho, professor da Universidade Estadual
da Paraíba (UEPB), demonstrou a importância
de um desses recifes profundos para a vida marinha
no Banco dos Abrolhos. Os resultados obtidos apontam
para biomassas de peixes até 30 vezes maiores
nestes recifes do que nos recifes mais rasos até
então conhecidos. Segundo o professor Francini
Filho, apesar do isolamento e do fato de ainda não
serem cartografados, esses recifes vêm sendo
descobertos e explorados por barcos pesqueiros,
cada vez maiores e mais bem equipados com sonares
e equipamentos de localização por
satélite. “É preciso avaliar e monitorar
a vida marinha nessas estruturas, garantindo que
se faça um uso mais sustentável dos
recursos pesqueiros ali existentes”, afirma o professor.
No artigo, publicado na revista científica
Aquatic Conservation, os pesquisadores também
fazem uma análise da importância das
atuais áreas marinhas protegidas do Banco
para a conservação de espécies
de peixes de importância econômica,
mostrando que o atual conjunto de áreas protegidas
não é suficiente para a proteção
destas espécies.
Segundo Guilherme Dutra, diretor
do Programa Marinho da Conservação
Internacional, estes estudos realizados de forma
integrada permitem a melhor compreensão da
complexidade e da conectividade dos ecossistemas
da região dos Abrolhos, propiciando melhores
condições para planejar sua proteção.
“Os dados de ambos os estudos apontam para a necessidade
de uma rede de áreas marinhas protegidas
que contemple outros ambientes ainda não
protegidos”, afirma Dutra.
Estes estudos fazem parte do Programa
de Ciência Aplicada ao Manejo de Áreas
Marinhas Protegidas, coordenado pela Conservação
Internacional com a participação de
várias instituições de pesquisa
no Brasil e em outras três regiões
no mundo, com o apoio da Fundação
Gordon e Betty Moore. O projeto de mapeamento do
fundo marinho do Banco dos Abrolhos conta também
com o apoio do International Conservation Fund of
Canada.
Informações complementares
International Coral Reef Symposium
ou Simpósio Internacional dos Recifes de
Coral é o maior encontro mundial relacionado
à pesquisa de recifes corais na atualidade.
Organizado a cada quatro anos pela Sociedade Internacional
de Estudos de Recifes de Coral, a proposta do Simpósio
é compartilhar informações
científicas com agentes governamentais e
não-governamentais ao redor do mundo. A sua
11a edição acontece na Flórida-EUA
de 7 a 11 de julho de 2008.
Banco dos Abrolhos é um
alargamento da plataforma continental que começa
próximo à foz do rio Doce, no Espírito
Santo, e segue até a foz do Rio Jequitinhonha
na Bahia. Com cerca de 46 mil km2, compreende um
mosaico de ambientes marinhos e costeiros margeados
por remanescentes da Mata Atlântica, abrangendo
recifes de coral, bancos de algas, manguezais, praias
e restingas. A região concentra a maior biodiversidade
marinha conhecida no Atlântico Sul, abrigando
várias espécies endêmicas, como
o coral-cérebro, e espécies ameaçadas
de extinção. Berçário
das baleias-jubarte, a região dos Abrolhos
foi declarada, em 2002, área de Extrema Importância
Biológica pelo Ministério do Meio
Ambiente.
Assessoria de imprensa
Iana Borges