8 de Julho
de 2008 - Mylena Fiori - Enviada especial - Hokkaido
(Japão) - Como na cúpula do ano passado,
na Alemanha, os sete países mais industrializados
do mundo e a Rússia conseguiram empurrar
para frente compromissos efetivos com a redução
de emissões de gases de efeito estufa.
As mudanças climáticas
foram tema principal da cúpula de 2007, na
cidade alemã de Heilligendamm. Japão,
Canadá e União Européia (que,
como bloco, não integra o G8 mas participa
das reuniões como convidado especial) defenderam
a redução das emissões em 50%
até 2050 e os demais países do G8
se comprometeram a considerar a proposta na reunião
deste ano, em Hokkaido.
A resistência, especialmente
norte-americana, levou a uma manifestação
morna sobre o tema. Os poderosos do G8 jogaram a
aprovação da meta para a Convenção
Quadro das Nações Unidas Sobre Mudança
do Clima, que vem tentando negociar um regime de
emissões pós-2012, quando vencem as
metas do Protocolo de Quioto.
Eles reconheceram, porém
o princípio de responsabilidades comuns mas
diferenciadas, assumindo que os países desenvolvidos
devem liderar o processo de redução
de emissões e fixar metas também de
médio prazo.
O ministro das Relações
Exteriores, Celso Amorim, assegura que os países
emergentes estão dispostos a colaborar. O
Brasil, no entanto, é contrário à
fixação de metas por setores da economia,
como a siderurgia – isso implicaria uma mudança
profunda na economia das nações em
desenvolvimento.
“Não queremos que seja
uma mesma meta para um setor no mundo inteiro”,
frisou o chanceler. “A prioridade do desenvolvimento
dos países pobres é muito forte”,
afirmou.
+ Mais
Brasil e Índia redirecionam
debates na cúpula do G8 para a alta dos alimentos
e do petróleo
8 de Julho de 2008 - Mylena Fiori
- Enviada especial - Hokkaido (Japão) - Pautada
pela agenda oficial do G8, a reunião das
cinco potências emergentes convidadas para
a cúpula começou focada em meio ambiente
e mudanças climáticas. Brasil e Índia
redirecionaram os debates e o tema central acabou
sendo a disparada nos preços dos alimentos
e do petróleo.
O mesmo deve ocorrer na reunião
ampliada do G8 com os cinco países que integram
o G5 - Brasil, China, índia, México
e África do Sul -, nesta quarta-feira (9).
“Foi uma vitória do G5 que esses assuntos
sejam objeto de discussão amanhã [na
reunião ampliada do G8 com o G5], porque
o grande tema ia ser só clima”, avaliou o
ministro das Relações Exteriores,
Celso Amorim, após o encontro entre líderes
do G5.
“Clima é importantíssimo
e continuaremos discutindo, mas estaremos todos
mortos se não conseguirmos vencer o curto
prazo, e o curto prazo é a segurança
alimentar, é o preço dos alimentos,
é a inflação, é o desequilíbrio
macroeconômico no mundo desenvolvido contaminando
o mundo em desenvolvimento”, ponderou.
Os líderes do G5 tentarão
convencer os sete países mais industrializados
do mundo e a Rússia de que a inflação
alimentar não decorre de uma demanda maior
do que a oferta, mas da especulação
nos mercados futuros. As potências emergentes
também apontarão a crise do mercado
de subprime (investimentos no sistema imobiliário)
nos Estados Unidos e seu efeito dominó sobre
a valorização dos alimentos e do petróleo.
“A especulação decorre
da má gerência no sistema financeiro,
que faz com que os investimentos especulativos tenham
saído do setor financeiro e se dirigido para
o setor das commodities, do petróleo, dos
alimentos”, disse Amorim antecipando os argumentos
brasileiros a serem apresentados no café
da manhã com a participação
de representantes do G8 e do G5 e em encontro de
líderes das grandes economias. “Essa especulação
não tem nada a ver com a relação
entre oferta e demanda por alimentos, mas sim com
a necessidade de buscar outro tipo de lastro para
os investimentos que antes iam para as hipotecas
ou outras atividades”, reiterou.
Segundo ele, o ministro da Fazenda, Guido Mantega,
deve levar à próxima reunião
do Fundo Monetário Internacional (FMI) propostas
para disciplinar os mercados. O Brasil também
defende a coordenação macroeconômica
em relação a políticas financeiras,
sob a batuta de instituições como
o FMI. “Ouvimos durante muito tempo as instituições
internacionais dizendo o que nós devíamos
fazer. Acho que está na hora dessas instituições
poderem dizer o que é que outros devem fazer
para manter a sanidade da economia mundial”, argumentou
Amorim.
+ Mais
Brasil e potências emergentes
reúnem-se para articular posições
perante a cúpula do G8
7 de Julho de 2008 - Mylena Fiori
- Enviada especial - Hokkaido (Japão) - Brasil,
China, Índia, México e África
do Sul – o chamado G5 – reúnem-se nesta terça-feira
(8), em Hokkaido, paralelamente à cúpula
do G8. Os líderes das cinco potências
emergentes articularão posições
para apresentar em reunião, no dia seguinte,
com Estados Unidos, França, Alemanha, Grã-Bretanha,
Itália, Japão, Canadá e Rússia.
A pauta deve incluir reivindicação
pela participação nas instâncias
decisórias da Cúpula.
O G5 participa como convidado
do G8 desde a reunião de 2005, em Gleanegles,
na Escócia, mas sem poder de decisão.
Cansado de ser figurante de luxo do encontro de
poderosos, o presidente Luiz Inácio Lula
da Silva chegou a cogitar não vir ao encontro
deste ano, mas acabou mudando de idéia: decidiu
continuar sua cruzada em defesa dos biocombustíveis.
Lula chega à ilha de Hokkaido
na manhã desta terça-feira – começo
da noite pelo horário de Brasília.
Antes de se reunir com os demais líderes
do G5, terá encontros bilaterais com os presidentes
do México, Felipe Calderón, da China,
Hu Jintao, e da Coréia do Sul, Lee Myung-Bak.
Enquanto isso, os mandatários dos sete países
mais industrializados do mundo e a Rússia
reúnem-se a portas fechadas. Na quarta-feira
(9), finalmente, será a vez de ouvirem a
voz dos países emergentes. A primeira sessão
do dia será um café da manhã
com o G5.
Na seqüência, G8, G5,
Austrália, Indonésia e Coréia
do Sul participam da Reunião das Grandes
Economias sobre Mudança do Clima - diálogo
lançado pelo Presidente Bush às vésperas
da reunião do G-8, em 2007, em busca de um
consenso sobre o regime de emissões pós-2012.
Também participam da reunião o secretário-geral
da ONU, o presidente do Banco Mundial, o secretário-geral
da OCDE e o diretor-executivo da Agência Internacional
de Energia. O mesmo grupo, mais o presidente do
FMI e o diretor-geral da OMC terão almoço
de trabalho sobre economia mundial e alta do preço
dos alimentos.
Hoje (7), o G8 teve reunião
ampliada com Etiópia, Gana, Nigéria,
Senegal, África do Sul, Tanzânia e
África Austral, mas não foram divulgadas
informações sobre o encontro. A África
integra a agenda do G8 desde o final da década
de 90 e passou a participar como convidada, em reunião
paralela, na cúpula do ano 2000.
+ Mais
Temas da reunião do G8
mostram que preocupações do grupo
continuam as mesmas
6 de Julho de 2008 - Mylena Fiori
- Enviada especial - Hokkaido (Japão) - As
preocupações dos sete países
mais industrializados do mundo e da Rússia
seguem têm sido as mesas dos últimos
anos. O menu da cúpula do G8, que começa
amanhà (7) na ilha de Hokkaido, no Japão,
contém quatro temas macro: meio ambiente
e mudanças climáticas, desenvolvimento
e África, economia global e questões
de política internacional, como o regime
de não-proliferação de armas.
Na área ambiental, o Japão
- que ocupa a presidência rotativa do grupo
e propôs as questões para a reunião
anual - pretende focar as discussões no regime
de emissões de gases do efeito estufa pós-Kioto,
em negociação no âmbito das
Nações Unidas. Deve entrar em pauta
proposta feita na reunião do ano passado,
na Alemanha, entre Japão, Canadá e
União Européia na qual os os três
defenderam a redução de 50% das emissões
até 2050.
Em relação à
África, o objetivo é mobilizar conhecimento
e recursos da comunidade internacional, de forma
a ajudar no desenvolvimento do continente e permitir
que a região alcance as metas de desenvolvimento
do milênio. A África integra a agenda
do G8 desde o final da década de 90 e passou
a participar como convidada, em reunião paralela,
na cúpula do ano 2000.
As discussões sobre economia
global serão focadas no crescimento sustentado
da economia mundial. Outras questões em debate
são investimentos, comércio, proteção
da propriedade intelectual, economias emergentes
e recursos naturais.
No âmbito político,
os sete países mais industrializados do mundo
e a Rússia darão ênfase ao fortalecimento
do Regime de Não-Proliferação.
Preocupa particularmente ao grupo de poderosos os
programas nucleares da Coréia do Norte e
Irã. A pauta política também
incluirá a luta contra o terrorismo e questões
regionais.
A articulação de
posições entre as grandes potências
sobre temas globais teve início nos anos
70. O cenário de desvalorização
do dólar e a primeira grande crise do petróleo
foram decisivos para a criação de
um fórum para coordenação de
políticas econômicas em áreas
como macroeconomia, câmbio, comércio
e energia. Aos poucos, foram sendo incorporados
à agenda temas políticos, como a guerra
fria e as relações Norte-Sul, e questões
como meio ambiente, combate ao terrorismo, e prevenção
à aids.
A primeira reunião foi
em 1975, por iniciativa francesa e os encontros
passaram a ser anuais, sempre sob a presidência
rotativa de um dos países do grupo inicialmente
integrado por Estados Unidos, França, Alemanha,
Grã-Bretanha, Itália e Japão.
O Canadá entrou no ano seguinte e a Rússia,
em 1998.
Mesmo sem qualquer poder de interferência,
desde o fim da Guerra Fria outros países
do mundo são convidados a participar das
chamadas reuniões ampliadas do G8. Desde
2005, em Gleanegles, Brasil, China, Índia,
África do Sul e México formam o grupo
de convidados fixos chamado de G5. Cansadas do papel
de figurante de luxo, as cinco potências emergentes
reivindicam a participação nas reuniões
decisórias do G8.