24 de
Julho de 2008 - Amanda Mota - Repórter da
Agência Brasil - Manaus - Da vontade de preservar
a história, a cultura e a prática
de fazer artesanato com os frutos, as semenes, as
fibras e muitos outros artigos encontrados no interior
da floresta amazônica, surgiu, em 1999, a
Associação dos Artesãos Indígenas
(Assai) de São Gabriel da Cachoeira, município
localizado no norte do Amazonas, a cerca de 860
quilômetros de Manaus.
Criada por um grupo de índios
de nove etnias, a associação congrega
atualmente representantes diretos de 30 famílias
que vivem na cidade - onde comprovadamente vive
a maior população indígena
do país - e é responsável pela
divulgação e organização
administrativa do comércio realizado com
os acessórios e artigos de decoração
que seus associados produzem.
De acordo com a coordenadora da
associação, Célia Albuquerque,
da etnia Piratapuia, toda produção
é feita de forma artesanal e o lucro compartilhado
entre os associados. Ela explica que, apesar da
vontade e do empenho na atividade, ainda existe
uma grande barreira para garantir maior lucratividade
pelo trabalho, que é o escoamento da produção.
"Nossa cidade é pequena
e temos muitas dificuldades para vender nossos produtos
para outros lugares. Estamos conseguindo viver desse
trabalho, mas ganhamos pouco diante do esforço
para fazer produtos de melhor qualidade", diz
Célia.
As dificuldades encontradas para
a distribuição e a venda de artigos
indígenas e outros aspectos relacionados
ao trabalho desses povos estão sendo discutidos,
em Manaus, desde segunda-feira (21), na Conferência
sobre Empreendedorismo Indígena nas Américas.
O evento começou no Novo
México, no sudoeste dos Estados Unidos, com
a participação de grupos de indígenas
locais, e hoje está na terceira edição.
O objetivo da Conferência sobre Empreendedorismo
Indígena nas Américas é reunir
líderes indígenas, representantes
de entidades públicas e privadas, instituições
multilaterais, estudantes e até mesmo pesquisadores
interessados em formar alianças para a superação
dos atuais entraves, assim como para a promoção
e o desenvolvimento dos negócios indígenas.
"Queremos mostrar alternativas
econômicas para os povos indígenas,
que também precisam de emprego e renda para
sobreviver. Eles precisam de oportunidades e de
valorização. As comunidades precisam
dar um preço mais justo ao artesanato vendido,
porque são produtos de excelente qualidade",
ressalta o diretor e idealizador da conferência,
o professor universitário Raul Gouveia.
Ele explica que a escolha por
Manaus para sediar a terceira edição
da conferência se deu em função
de o Amazonas abrigar a maior população
indígena do Brasil.
"Existe uma relação
interessante entre Novo México, onde foram
realizadas as duas edições anteriores
do evento, e Manaus, que é o fato de cada
uma delas concentrar o maior número de indígenas
dos respectivos países onde estão
localizadas", diz. Segundo o idealizador do
evento, a conferência é um primeiro
passo para ultrapassar os entraves que impedem o
desenvolvimento do empreendedorismo indígena.
"A conferência é
só um primeiro passo. Estamos investigando
e pesquisando alternativas econômicas que
promovam o empreendedorismo indígena. Existe
muita coisa a ser feita e o evento marca o início
disso. Uma das coisas principais é começar
a discutir as possibilidades e dinamizar as atividades
praticadas. Além disso, é entender
que é preciso estabelecer ligações
entre os setores envolvidos nesse comércio,
sejam eles indígenas ou não".
Na opinião de Gouveia,
o setor privado deve começar a formalizar
sua participação nesse comércio.
"A gente tem que parar com essa história
de que o setor público vai resolver tudo.
O setor privado tem que começar a ter uma
participação mais ativa e ter mais
parcerias com os índios. As linhas de microcrédito,
por exemplo, já podem chegar às comunidades
indígenas".
A Conferência sobre Empreendedorismo
Indígena nas Américas, que termina
na sexta-feira (25), conta com uma série
de apresentações em sua programação,
assim como de palestras de conferencistas brasileiros
e de outros países, debates envolvendo a
sociedade civil e representantes indígenas,
além da exposição e venda de
produtos indígenas.