25/07/2008
- Experiências práticas, com visitas
ao campo e centros experimentais, além de
muita discussão e apresentação
de casos bem-sucedidos foram a grande inovação
do “Encontro Água e Floresta – Vivenciar
para Agir”, realizado pela Secretaria Estadual do
Meio Ambiente - através do Projeto de Recuperação
de Matas Ciliares - , no município de Jaboticabal,
na região norte do Estado de São Paulo,
durante os últimos dias 23, 24 e 25. O evento
principal, que sediou as apresentações,
teve lugar na Escola de Artes Professor Francisco
B. Marino, no Centro de Jaboticabal, e reuniu diariamente
cerca de 200 pessoas, entre educadores ambientais,
lideranças regionais, pesquisadores, estudantes
e agricultores, além de representantes de
comitês de bacias hidrográficas.
Durante a abertura oficial, que
aconteceu na noite do dia 23, Fábio Trevisoli,
secretário da Agricultura e Abastecimento
e Meio Ambiente de Jaboticabal deu as boas-vindas
aos participantes e ressaltou a importância
do evento, afirmando que “a preocupação
de todos no município é com relação
à integração do meio ambiente
com a agricultura, pois os resultados adquiridos,
necessários, serão os frutos para
as futuras gerações”.
A coordenadora de Educação
Ambiental da Secretaria Estadual do Meio Ambiente
(SMA), Maria Lourdes Rocha Freire, que representou
o secretário Xico Graziano, enfatizou que
“a educação ambiental capacita e promove
um maior envolvimento entre os atores sociais e
também está a serviço da pesquisa,
pois permite espaço para a exposição
de estudos e troca de experiências”. Aproveitou
para fazer um desabafo: “Por que ainda se joga lixo
nas ruas e se desperdiça água? Apesar
de investirmos bastante na questão, ainda
não houve mudança sensível
de atitudes. Acredito que cada um de nós
ainda está fazendo a coisa errada devido
à cultura que herdamos. Teremos que promover
uma mudança de paradigma”. Além disso,
Malu, como é mais conhecida, sugeriu também
que o trabalho de atualização de planos
de bacias seja feito para potencializar as ações
de educação ambiental. “Precisamos
abrir o maior número possível de frentes
em vários segmentos e rever o ambiente com
a realidade diferente das áreas, pois só
assim conseguiremos uma mudança de atitudes”,
concluiu.
Estavam presentes também
à mesa de abertura o agrônomo Edy Augusto
de Oliveira, da CETESB e secretário-executivo
do Comitê de Bacias Hidrográficas Mogi-Guaçu;
o agrônomo Roberto Ulisses Resende, diretor
do Departamento de Proteção da Biodiversidade
da SMA; Antonio Penaiol, secretário do Sindicato
Rural de Jaboticabal; a agrônoma Vera Lúcia
Palla, diretora responsável pela Regional
da Coordenadoria de Assistência Técnica
Integral (CATI); e Marta Maria Gomes dos Santos,
advogada da Cooperativa dos Fornecedores de Cana
da Zona de Guariba (COPLANA).
Após os pronunciamentos
da autoridades, a professora Amélia dos Santos,
bacharel em ciências biológicas, foi
convidada a apresentar uma reflexão sobre
o tema “Educação Ambiental: Vivenciar
para Agir”. Ela indagou sobre a importância
da educação e a responsabilidade que
todos que ensinam têm, pois de acordo com
a professora educar não é só
transmitir: “´É mais do que isso, temos
a responsabilidade de fazer com que os outros reflitam,
pensem. Do contrário, não é
educação. Ela fez ainda uma análise
da cultura que herdamos em relação
à educação e o conhecimento.
Para isso, a professora citou alguns filósofos,
como Francis Bacon, Descartes e Galileu. Conforme
as suas pesquisas, houve uma ruptura na era medieval
e que ainda hoje sofremos com esse resultado. E
a crise ambiental pela qual o mundo está
passando é resultado dessa educação
fragmentada, segundo ela. A professora disse propor
sempre em suas aulas ter como pesquisa a interface
nas áreas de educação e saúde,
ambiente, e educação ambiental, um
novo paradigma, com ética ambiental, com
a participação de todos os atores
envolvidos. “É a hora de renascermos com
um novo paradigma”, finalizou.
No mesmo dia, no período
da tarde, houve as apresentações das
palestras sobre turismo rural como fator de desenvolvimento
local, proferido pelo engenheiro Ricardo MoncorvoTonet,
da CATI; e “Conservação da mata e
fauna aquática associada”, pela bióloga,
Kathia Sonoda, consultora da SMA e doutora em Ecologia
pela Universidade de São Paulo (USP).
Sonoda realiza pesquisas com diversos
grupos animais que podem ser utilizados para biomonitoramento,
como peixes, algas, macroinvertebrados, “por possuírem
diferentes sensibilidades às alterações
do ambiente”. Na sua pesquisa, ela está utilizando
comunidade de insetos aquáticos presentes
em locais de plantio da mata ciliar, que será
comparada com outras, de locais cujas matas possuem
grau de conservação dentro do estabelecido
por lei e áreas em recuperação.
Conforme ela, espera-se que alguns anos após
a implantação do Projeto de Recuperação
de Matas Ciliares, a fauna dos locais reflorestados
corresponda àquelas de locais conservados.
Na sua Oficina, foram apresentados
os principais grupos de insetos e outros táxons
que se espera encontrar, nos três tipos de
estágios sucessionais da vegetação
ripária. Segundo a doutora, o resultado de
sua pesquisa vai comprovar a quebra da cadeia alimentar,
pois esses animais são sensíveis as
substâncias tóxicas. “Queremos provar,
principalmente para os agricultores, o efeito benéfico
do plantio de árvores, da regeneração
da floresta, da manutenção de rios
e lagos limpos. Na verdade, é muito mais
do que isso, é despertar a consciência
de todos, na prática, a preservação
de todas as espécies vivas”.
Ainda nesse dia, foram realizadas
as oficinas “Técnicas de preparo de sementes
e produção de mudas para reflorestamento”
e “Mutirão – Plantio de mudas em propriedades
rurais participantes do Projeto de Recuperação
de Matas Ciliares”.
Abordagens e técnicas diferenciadas
No segundo dia do encontro, pela
manhã, além da apresentação
de trabalhos, houve uma mesa-redonda com o tema
“Recuperação de Áreas Degradadas”.
Nessa mesa, houve a apresentação de
dois especialistas, sendo a primeira Deisy Regina
Tres, mestre em Biologia Vegetal pela Universidade
de Santa Catarina, que falou com base no seu conhecimento
em projetos de restauração ambiental,
na linha de pesquisa de Ecologia da Paisagem, com
ênfase na restauração da conectividade
da paisagem, em parceria com os setores florestal,
energético e de planejamento e consultoria.
O outro especialista que apresentou suas experiências
na área foi Yuri Tavares Rocha, agrônomo
e doutor em Geografia Física pela USP, que
enfocou as áreas de planejamento e gestão
ambiental e biogeografia, entre outros itens.
Conforme o mediador da mesa-redonda,
Roberto Ulisses Resende, agrônomo, diretor
do Departamento de Proteção da Biovidersidade
da SMA e diretor técnico do Projeto de Recuperação
das Matas Ciliares, o trabalho de reflorestamento
das áreas de mata ciliar é fundamental
e deve ser implementado com espécies nativas,
além de observar um nível adequado
de diversidade biológica para assegurar a
restauração dos processos ecológicos,
processo indispensável para o desenvolvimento
sustentável. No Estado de São Paulo,
existem um milhão de hectares de áreas
ciliares que precisam ser recuperados e reflorestados,
sendo necessário produzir, plantar e manter
dois bilhões de mudas.
“Para enfrentarmos este desafio,
é preciso realizar pesquisas científicas,
desenvolver e transferir tecnologia, promover a
conscientização da sociedade e a capacitação
dos diferentes atores sociais, identificar e viabilizar
fontes de recursos e desenvolver estratégias
e instrumentos que incentivem a mobilização
e adesão dos produtores rurais e agricultores”.
Segundo ainda Resende, é preciso assegurar
que o Poder Público, a iniciativa privada,
os agricultores, as organizações não-governamentais,
as instituições de pesquisa e toda
a sociedade de unam num esforço conjunto.
“Essas duas apresentações no Encontro
são importantes nesse sentido, pois são
discutidas as novas experiências, com abordagens
e também técnicas diferenciadas de
plantio”, concluiu ele.
No período da tarde, houve
uma visita ao Centro de Educação Ambiental
da Usina São Martinho e um trabalho de percepção
ambiental, “Educação ambiental em
trilhas ecológicas”, no Bosque Municipal
Francisco Buck. E, paralelamente a essas atividades,
as palestras “Utilização de insumos
químicos em Áreas de Proteção
Permanentes” e “Pagamento por serviços ambientais”,
entre outras.
No último dia do Encontro,
nesta sexta-feira, pela manhã aconteceu a
mesa-redonda com o tema: “Gestão de recursos
hídricos”. No período da tarde, a
palestra com o tema “Programa Estadual de Microbacias
Hidrográficas – Planejamento Integral da
Propriedade”, realizada pela agrônoma Vera
Lúcia Palla, trouxe ao público a importância
de se realizar o planejamento com o objetivo de
se adequar a propriedade rural para a sustentabilidade.
Na vivência, foi realizada
uma visita a uma propriedade rural considerada modelo
no município de Jaboticabal e inserida na
Microbacia Hidrográfica do Córrego
Rico. Nessa propriedade, foram observadas a conservação
do solo, mata ciliar, saneamento e o programa social
realizado pelo proprietário com as famílias
de colaboradores.
Outro tema apresentado foi “Extensão
rural e meio ambiente”, por Oriowaldo Queda, agrônomo,
formado pela Escola Superior de Agricultura Luiz
de Queiroz – ESALQ/USP; e por João Dagoberto,
engenheiro florestal da SMA, também formado
pela ESALQ/USP, que realiza trabalhos há
mais de 10 anos com projetos e ações
voltadas para o desenvolvimento rural, com base
em sistemas de produção florestal
e agroflorestal e restauração de áreas
degradadas.
O “Encontro Água e Floresta
– Vivenciar para Agir”, em Jaboticabal, foi realizado
pela Secretaria Estadual do Meio Ambiente (SMA),
através do Projeto de Recuperação
de Matas Ciliares, no âmbito das atividades
que vêm sendo realizadas, no Estado de São
Paulo, nas seguintes Unidades de Gerenciamento de
Recursos Hídricos (UGRHIs): Aguapeí,
Mogi-Guaçu, Tietê-Jacaré, Paraíba
do Sul e Piracicaba-Capivari-Jundiaí, com
o objetivo de desenvolver instrumentos, metodologias
e estratégias para viabilizar a recuperação
das matas ciliares.
O Encontro destinou-se principalmente
aos educadores ambientais, pesquisadores, entidades
ambientalistas, agricultores, gestores ambientais,
técnicos, formadores de opinião, estudantes,
lideranças e representantes dos colegiados
atuantes na gestão ambiental participativa.
Texto: Rose Ferreira Fotografia: José Jorge