24 de
Julho de 2008 Área desmatada dentro de fazenda
de soja monitorada pelo Grupo de Trabalho da Soja.
Manuas (AM), Brasil — Acordo completa dois anos
e obteve avanços significativos, mas ainda
há desafios a enfrentar para acabar com destruição
da floresta.
A moratória da soja completa
dois anos nesta quinta-feira e, na avaliação
dos diversos setores envolvidos, os avanços
são significativos. Mas há desafios
que precisam ser encarados com o rigor que merecem
para que seja possível acabar com o desmatamento
na Amazônia.
No mês passado, a indústria
da soja anunciou a extensão da moratória
até julho de 2009. No evento, o ministro
do Meio Ambiente, Carlos Minc, se comprometeu a
apoiar a moratória da soja, priorizando o
cadastro rural nos municípios produtores
de soja.
Além de ter colocado diferentes
atores da sociedade na mesma mesa de negociação
para articular formas de produzir sem destruir a
floresta, a iniciativa é um exemplo do poder
que os consumidores têm de demandar boas práticas.
Afinal, foi através da pressão das
indústrias de alimentos consumidoras de soja
que as traders que operam no Brasil anunciaram a
moratória.
A extensão da moratória
foi apoiada pela Aliança das Empresas Consumidoras,
da qual participam o Macdonald’s, o Carrefour, a
Sadia e o Wal Mart, entre outras. “Nós elogiamos
o progresso positivo do Grupo de Trabalho da Soja
- responsável pela implementação
da moratória - nos últimos dois anos
e reconhecemos que muito já foi alcançado.
No entanto, nós concordamos que o processo
precisa continuar. (...) Esperamos que a moratória
continue em vigor até que todos os compromissos
tenham sido alcançados”, afirma nota das
empresas.
Para o Greenpeace, os principais
desafios da moratória neste próximo
ano são: a realização do cadastro
e licenciamento ambiental das propriedades rurais
- responsabilidade a ser partilhada pelo setor da
soja e pelos governos estaduais e federal; a ampliação
do sistema de monitoramento para incluir mecanismos
de rastreabilidade; e assegurar que o Instituto
Brasileiro de Geografia e Estatísticas (IBGE)
disponibilize o mapa do bioma Amazônia na
escala 1:100.000, para a definição
das propriedades rurais que estão dentro
do bioma.
“É preciso dar nome aos
bois. O cadastramento das propriedades rurais permite
identificar quem é o responsável pelo
desmatamento e separar estes produtores daqueles
que acreditam que é possível produzir
sem desmatar”, afirma Tatiana de Carvalho, da Campanha
Amazônia do Greenpeace.
No início deste ano, o
Grupo de Trabalho da Soja realizou o primeiro monitoramento
sobre o progresso da moratória e concluiu
que a mais recente safra de soja (2007/2008) não
veio de novos desmatamentos na região. Mas
a verificação de campo realizada pelo
Greenpeace, de dezembro de 2007 a março de
2008, constatou que, apesar de ainda não
terem sido ocupados pela soja, vários destes
desmatamentos ocorreram dentro de fazendas produtoras
do grão.
“Na próxima safra podem
começar a aparecer casos de produtores que
plantaram soja em áreas desmatadas após
julho de 2006. O monitoramento dessas áreas
vai resultar em um desafio para a indústria:
excluir de sua lista de fornecedores aqueles produtores
que não respeitaram a moratória, garantindo
assim o direito do consumidor de não comprar
produtos que causem a destruição da
floresta. Esta é a lógica da moratória
”, conclui Tatiana.
Inspirado nesta iniciativa, o
governo federal, anunciou em Belém na semana
passada, o Pacto pela Madeira Legal e Sustentável.
+ Mais
Áustria desafia Comissão
Européia e proíbe importação
de milho transgênico
24 de Julho de 2008 A Comissão
Européia está sob pressão interna
para rejeitar o plantio de duas variedades de milho
transgênico no continente. Cientistas apontam
problemas à biodiversidade e à vida
selvagem.
Bruxelas (Bélgica) e Viena (Áustria)
— Decisão pode desencadear medidas semelhantes
em outros países. Variedade da Monsanto não
é autorizada no Brasil.
A Áustria desafiou mais
uma vez a Comissão Européia ao proibir
a importação de uma variedade de milho
geneticamente modificado produzido pela Monsanto.
O país deve informar na semana que vem à
Comissão Européia sobre sua decisão.
Outros países-membros da
Comissão Européia já indicaram
que também pretendem proibir o milho MON863,
que é importado como ração
animal e também para uso em na alimentação
humana. Testes feitos em laboratórios independentes
revelaram que ratos alimentados com o milho inseticida
MON863 apresentaram toxicidade nos rins e fígado.
"Apesar de testes mostrarem
que esse milho é tóxico para animais,
a Comissão Européia se diz confortável
em permitir a entrada do produto na cadeia alimentar.
É extremamente preocupante que o sistema
de autorização de transgênicos
da União Européia tenha falhado em
reconhecer esses riscos e evidencia a necessidade
de uma reforma em seus procedimentos", afirma
Marta Vetier, da campanha de Transgênicos
do Greenpeace Europa.
Áustria, França,
Hungria e Grécia já desafiaram a aprovação
da União Européia para outro milho
transgênico da Monsanto, conhecido como MON810
– único plantio geneticamente modificado
autorizado na Europa – devido a evidências
de seu impacto negativo ao meio ambiente. A autorização
para o cultivo dessa variedade na Europa está
para ser reavaliada. O Brasil autorizou recentemente
o plantio comercial do milho MON810.
O milho MON863 – que não
tem autorização para ser plantado
ou comercializado no Brasil – vem causando controvérsias
desde 2004, quando o jornal francês Le Monde
revelou que ratos alimentados com a variedade apresentaram
mudanças na composição de seu
sangue e possíveis danos em órgãos
internos. No entanto, apesar de toda controvérsia
científica, a Comissão Européia
permitiu em janeiro de 2006 que o milho transgênico
fosse comercializado no mercado europeu. A decisão
foi tomada mesmo com a oposição da
maioria dos estados-membros da União Européia:
em setembro de 2004, 14 países votaram contra
a aprovação do milho da Monsanto e
apenas cinco apoiaram.
Uma investigação
do Greenpeace e estudos independentes posteriores
publicados em março de 2007 mostraram que
o fígado e os rins dos ratos alimentados
com o milho MON863 estavam realmente danificados.
Os estudos também revelaram que a Monsanto
forneceu dados questionáveis às autoridades
européias em relação ao seu
produto.
"É inaceitável
que a União Européia coloque os interesses
comerciais de empresas como a Monsanto acima da
segurança dos cidadãos europeus. A
decisão austríaca contra a importação
desse milho é um sinal forte à Comissão
Européia para que abandone seu apoio cego
à transgenia", afirma Vetier.