28/07/2008
- É preciso conter a escalada dos preços
do petróleo. Essa foi a principal conclusão
do fórum que, mês passado, reuniu em
Jeddah, na Arábia Saudita, ministros de Energia,
líderes e dirigentes das maiores companhias
petrolíferas do mundo.
Por designação do
presidente Lula, chefiei a delegação
brasileira nesse encontro de emergência, no
qual o Brasil foi reconhecido como player importante
no mercado mundial.
Nos dois choques do petróleo,
em 1973 e 1979, o Brasil sofreu o impacto da elevação
dos preços, principalmente porque havia uma
forte dependência, materializada na importação
de 80% do óleo bruto então consumido
no país.
A partir do novo patamar de preços
e das necessidades de crescimento econômico
e desenvolvimento industrial, o país adotou
duas grandes estratégias para contornar a
crise: investimentos para aumento da produção
doméstica de petróleo e implementação
do Proálcool, o maior e mais bem-sucedido
programa de substituição de combustíveis
derivados de petróleo do mundo.
Hoje, a matriz energética
brasileira é a que conta com a maior participação
de energias renováveis -um exemplo de sustentabilidade.
Segundo a Opep (Organização
dos Países Exportadores de Petróleo),
os preços do petróleo podem alcançar,
em breve, US$ 200 o barril, e muitos analistas acreditam
que ele nunca mais será inferior a US$ 100.
Quais as conseqüências
desse novo patamar? Para o Brasil, o grau de dependência
é infinitamente inferior àquele verificado
nas décadas de 1970 e 1980, o que nos permite
afirmar que, com uma política energética
adequada, poderemos enfrentar os desafios do futuro.
Mas, se os preços atuais
se mantiverem, haverá recessão em
muitos países por causa do impacto dos preços
dos energéticos na economia, inclusive nos
preços dos alimentos. Aumentará a
necessidade de políticas de conservação
de energia, de ampliação da fronteira
de prospecção e aproveitamento das
reservas existentes e, principalmente, da busca
por fontes renováveis de energia. Esta é
a mais poderosa arma no combate à escalada
de preços das commodities agrícolas.
É impressionante e inaceitável
que, nesse contexto, o Brasil tenha que defender
sua política de produção e
uso de biocombustíveis contra críticas
acirradas e, por vezes, insanas, que se valem do
conceito de sustentabilidade para esconder razões
menos nobres. Sustentabilidade abrange aspectos
sociais, econômicos e ambientais.
Quanto ao aspecto econômico,
o Brasil é reconhecido como o produtor mais
competitivo de biocombustíveis. O etanol
da cana-de-açúcar compete com a gasolina
em uma cadeia de preços livres de subsídios.
Na área social, o cultivo
da cana-de-açúcar e de oleaginosas
na produção de etanol e biodiesel
contribui para a geração de empregos
sustentados no campo. No caso do etanol, mais de
1 milhão de empregos diretos são gerados.
No caso do biodiesel, mais de 100 mil famílias
de pequenos agricultores participam do processo
produtivo.
A questão ambiental é
muito importante. Os biocombustíveis são
instrumentos valiosos na redução da
emissão de CO2 na atmosfera.
Se considerarmos o consumo dos
combustíveis por veículos leves entre
1970 e 2007, constatamos que, com a utilização
do álcool, tivemos uma economia efetiva acumulada
de 854 milhões de barris equivalentes de
petróleo, o que representa 15 meses da produção
nacional de petróleo (1,9 milhão de
barris/dia) ou, ainda, a cinco anos do consumo de
combustíveis em veículos leves no
Brasil.
Se incluirmos nesse cálculo
o volume de etanol que substituiu a gasolina exportada
pelo Brasil no período, considerando que
a demanda energética foi suprida pelo etanol,
teremos economizado quase 1,25 bilhão de
barris equivalentes de petróleo.
Nesse período, a utilização
do álcool como combustível, puro ou
misturado à gasolina, evitou a emissão
de 800 milhões de toneladas de CO2.
Na reunião de Jeddah, os
líderes e os ministros de 36 nações
concordaram que a transparência e a regulação
dos mercados financeiros devem ser aprimoradas para
frear a especulação financeira.
Resta agora reconhecer a importância
dos biocombustíveis no processo de desenvolvimento
de uma nova matriz energética sustentável
para o mundo. Trata-se de fator estratégico
que deve ser reconhecido não como antagônico
à indústria do petróleo, mas
como um elemento que agrega valor ambiental aos
combustíveis fósseis, tornando-os
menos danosos ao planeta. O Brasil está decidido
a compartilhar sua expertise nesse campo e não
fugirá ao desafio que as mudanças
climáticas impõem.