30/07/2008
- Em artigo publicado no Jornal Pessoal da primeira
quinzena de agosto, o jornalista Lúcio Flavio
Pinto fala sobre o anúncio da Vale em construir
uma grande aciaria e que o governo federal afirma
que desta vez sairá a hidrelétrica
de Belo Monte. Investimentos de muitos bilhões
no Pará.
Há uma nova onda de grandes
investimentos desabando simultaneamente no Pará.
Um deles foi anunciado com todas as letras na quinzena
passada: a Companhia Vale do Rio Doce garante que,
desta vez, dará um passo a mais na transformação
do minério de ferro, que extrai há
um quarto de século das minas de Carajás,
em escala crescente (o que fez o horizonte da exploração
cair de 400 para menos de 150 anos). A empresa disse
que investirá seis bilhões de dólares
numa fábrica que produzirá 2,6 milhões
de toneladas de placas de aço em Marabá,
no Pará.
É negócio de causar
impacto em qualquer parte do mundo, mas sobretudo
no Pará, que há seis anos vem disputando
essa obra com o Maranhão. A Vale ainda juntará
no pacote algumas outras iniciativas para ajudar
o Estado a sair do mero extrativismo mineral, para
cuja manutenção a ex-estatal tem dado
sua decisiva colaboração. Mas o governo
terá que fazer a sua parte, que não
será pequena. Uma das contrapartidas poderá
ser o licenciamento ambiental da usina de energia
que a Vale planeja construir em Barcarena, com capacidade
para 600 mil kW (o equivalente a quase duas das
21 turbinas que funcionam na hidrelétrica
de Tucuruí), uma das maiores do programa
de termelétricas no país.
A usina será à base
de carvão mineral importado, um dos processos
mais poluidores que há. Além de anunciar
o uso da tecnologia mais limpa que existe, a Vale
argumenta em defesa do seu projeto que não
há alternativa no prazo que lhe interessa
para permitir a ampliação da capacidade
de produção da Albrás, a 8ª
maior fábrica de alumínio do mundo,
instalada em Barcarena. A Albrás estagnou,
por causa de sua intensa demanda de energia não
suprida, enquanto a vizinha Alunorte, que produz
alumina, o insumo para o metal, cresceu tanto que
se tornou a maior do mundo, por exigir muito menos
energia.
De fato, não há
nenhuma outra possibilidade de curto prazo para
adicionar a quantidade de energia exigida por uma
fundição de alumínio como a
da Albrás. Por isso mesmo, o governo federal
tomou providências para colocar o projeto
da hidrelétrica de Belo Monte na prancheta
de execução. Numa ofensiva orquestrada,
o Conselho Nacional de Política Energética
decretou que haverá um único aproveitamento
na bacia do Xingu, o de Belo Monte. O governo renunciou
a construir mais três barragens que estavam
incluídas no programa de obras da Eletronorte
para não causar maior impacto ecológico
nem efeitos nocivos aos índios e ao restante
da população da área. Com tal
compromisso, o complicado e acidentado licenciamento
ambiental poderá finalmente sair.
Em sã consciência,
ninguém poderia se opor a uma obra que produzirá
um terço de energia a mais do que Tucuruí,
a quarta do mundo, inundando uma área sete
vezes menor, o que proporcionaria o menor custo
por kW instalado do mercado. A facilidade com que
os dados são manipulados, conforme as diferentes
configurações dos projetos apresentados
pela Eletronorte, porém, não cria
nenhuma segurança entre os que analisam a
partir de fora o plano energético para o
Xingu.
O próprio diretor-geral
da Aneel (Agência Nacional de Energia Elétrica),
Jerson Kelman, foi claro: a decisão do governo
de se limitar a uma hidrelétrica no Xingu
foi política e não técnica.
Do ponto de vista técnico, ele não
tem dúvida de que seria viável implantar
os outros três aproveitamentos, que resultariam
em mais 3,5 mil megawatts adicionados aos 11,8 mil
MW de Belo Monte. Se, no futuro, com outro governo,
a vontade política mudar, o curso do planejamento
inicial poderá ser retomado. Nada há
que o impeça.
Continua a predominar entre os
técnicos independentes a convicção
de que, sozinha, a usina de Belo Monte não
tem viabilidade econômica, independentemente
da avaliação dos seus impactos socioambientais.
O compromisso com uma única barragem seria
apenas uma manobra tática para criar o fato
consumado do primeiro aproveitamento e assim possibilitar
os demais, que acumularão água a montante
do rio para usá-la nos períodos de
estiagem (quando a vazão pode cair até
30 vezes), incrementando a potência de geração.
Há, contudo, uma saída,
há muitos anos defendida por este jornal:
modificar a concepção sobre o desenvolvimento
na Amazônia. O planejamento seria feito a
partir das bacias hidrográficas, que são
a mais sólida referência física
na região. Antes de definir qualquer uso
para o Xingu, por exemplo, o governo federal teria
que remeter ao congresso um projeto de lei sobre
o plano de desenvolvimento para o vale por longo
período (15 ou 20 anos), no qual um dos itens
seria o uso energético.
Se for sincera e convicta a decisão
de só erguer uma única barragem no
Xingu, a lei sobre o desenvolvimento do vale estabelecerá
esse compromisso, conferindo-lhe valor legal. O
descumprimento caracterizaria a prática de
um delito, punível na forma da legislação
penal e cível. A palavra do agente do governo
deixaria de ser apenas palavra, que o vento das
conveniências leva.
Talvez a partir daí seja
possível um debate sério e maduro
sobre a possibilidade e a conveniência de
o país prosseguir no uso dos rios para fins
energéticos. É claro que há
certa pressa na tomada de decisões, em função
das grandes transformações que ocorrem
neste momento em todo mundo. Essas mudanças
atingem a Amazônia, mas não podem se
refletir na região apenas como eco. A Amazônia
precisa ter voz própria, algum poder de iniciativa,
de criação. O efeito reverso dos tremores,
que têm seu epicentro fora da região,
não pode ser sempre de acordo com os interesses
dos que criam esses efeitos e estão armados
das melhores informações.
O esgotamento das fontes de energia
na Amazônia para incrementos significativos
da produção é um fato, em boa
parte resultante da imprevidência dos que
monopolizam o poder decisório. Esse fato
pode ser atenuado e, em alguns casos, resolvido
por outras fontes de energia, inclusive as não
propriamente alternativas, como o gás, cujas
pesquisas no litoral amazônico são
mantidas num banho-maria inexplicado (e inaceitável).
Quando a demanda é urgente, essas respostas
deixam de ser satisfatórias porque as pesquisas,
mesmo que venham a ter o apoio merecido, que hoje
não têm, não darão resultados
imediatos. Mas a equação da solução
não pode ser montada apenas pelos agentes
produtivos.
É realmente do interesse
do Pará que a Albrás produza mais
lingote de alumínio, produto de baixo valor
agregado, à custa de muita energia, com tarifa
favorecida, e sem gerar o principal imposto, o ICMS,
porque a exportação de semi-elaborados
não é taxada? Na ponta do lápis,
não. Pode o governo fornecer a energia no
volume requerido e por preço atrativo se
a Vale do Rio Doce instalar unidades de transformação
do metal básico, que criarão melhores
empregos, irão gerar mais renda e pagarão
imposto? Por que não colocar essa exigência
na mesa de negociação?
A Vale não está
sozinha nem é a dona do mercado. Apesar de
toda a sua propaganda e relações públicas,
a Vale ainda não conseguiu criar uma imagem
de companhia sustentável porque seu discurso
está sempre colidindo com os fatos. Apesar
do enorme dinheiro que gastou para lançar
a sua nova marca, a novidade não se estendeu
ao conceito de responsabilidade social de tal maneira
a convencer os auditórios mais exigentes
no mercado mundial, justamente o seu alvo. Esse
desempenho resulta da dificuldade que a empresa
tem para praticar jogos que não sejam aqueles
nos quais põe sua marca, os quais quer sempre
ganhar.
Diga-se também que esse
jogo é viciado porque do outro lado não
há contendores sérios e conseqüentes.
No momento em que essa onda de novos “grandes projetos”
vem bater no território paraense, empurrada
pelo mercado mundial, constatar que a interlocução
não é séria dá uma sensação
de desalento que nenhum marketing é capaz
de retocar. Mesmo porque a maquilagem dura pouco,
como estamos vendo. Se outros grandes projetos do
passado mão desenvolveram de fato o Pará,
estes novos projetos mudarão essa história?
Lúcio Flavio Pinto
+ Mais
Assembléia da Oibi elabora
propostas para o manejo pesqueiro na Bacia do Içana
30/07/2008 - Baniwa debatem as
informações que vêm obtendo
com o monitoramento de pescarias e sugerem medidas
para compor um acordo de sustentabilidade da pesca
nessa região do noroeste amazônico.
Todo ano tem muito peixe nascendo
nas águas que formam as cabeceiras do Rio
Negro. E eles irão se somar aos que estão
crescendo na extensa malha de igarapés, lagos,
igapós e canais de afluentes principais do
Rio Negro como o Içana, Ayari, Xié,
Tiquié e Waupés. Dieta preferida das
mais de 30 mil pessoas que vivem na região
- sejam frescos ou moqueados; assados ou em forma
de mojecas, caldeiradas e kiñampiras quase
sempre acompanhadas de deliciosos beijus e farinhas
- todo ano também tem muito peixe sendo retirado
dessas águas. Dos diversos e complexos processos
que contribuem para o resultado dessa equação
depende grande parte da manutenção
de um dos mais ricos conjuntos da fauna aquática
do País, além da segurança
e cultura alimentar da população altorionegrina.
Esta por sua vez, é composta em sua maioria
por membros de 22 etnias que ocupam cerca de 11
milhões de hectares de Terras Indígenas
homologadas de forma contínua desde 1998,
no noroeste amazônico, ao longo da megadiversa
faixa transfronteiriça de Brasil, Colômbia
e Venezuela.
Preocupados com a crescente escassez
de peixes, os índios Baniwa, representados
pela Organização Indígena da
Bacia do Içana (Oibi) e com apoio da Foirn
(Federação das organizações
Indígenas do Rio Negro), do ISA e do Instituto
Leônidas e Maria Deane (ILMD)/Fiocruz Amazônia
vêm empreendendo, desde meados de 2006, uma
série de encontros e conversas. O objetivo
principal é implementar um plano de manejo
que fortaleça as condições
de sustentabilidade da pesca na bacia do Içana,
onde vivem aproximadamente 6 000 pessoas. A partir
daí foi elaborado o projeto Kophé
Koyaanale, que em Baniwa significa “casa/fonte/mãe
de peixe”, coordenado pela Oibi e financiado pelo
PDPI/MMA.
Os resultados foram debatidos
durante a assembléia da Oibi entre os dias
17-19 de julho, na comunidade de Tukumã-rupitá,
no Médio Rio Içana. Cerca de 250 pessoas,
representantes de 30 comunidades, coordenadores
e alunos de seis escolas e de dez associações
indígenas do Baixo, Médio e Alto Içana,
e dos afluentes Ayari e Cuiari. Os participantes
discutiram as informações reunidas
em dois anos de auto-monitoramento da pesca exercido
ao longo de 200km da calha do rio, o estabelecimento
de um consenso para se chegar a uma régua
de tamanho mínimo de captura dos peixes e
aprovaram uma série de recomendações
para compor um acordo de pesca a ser implementado
de agora em diante na região. (veja mais
adiante)
Água-Peixe-Floresta-Gente
Entender como os peixes nascem,
crescem e morrem na Bacia do Içana, associados
aos ciclos de vida dos próprios Baniwa, e
como estas sociedades interagem criando novas ordens
a partir daí, tem sido um dos caminhos trilhados
pela equipe do projeto Kophé, no sentido
de identificar e estabelecer etiquetas de regulação
dessas relações que favoreçam
ambas as partes. Uma rica tradição
mítica já foi documentada pelos próprios
Baniwa por meio de um esforço que constituiu
a mitoteca baniwa associada aos peixes. (Saiba mais).
Eles narram como diversos heróis míticos,
ancestrais dos Baniwa atuais empreenderam várias
negociações, trocas matrimoniais e
relações de guerra, vingança
e domesticação com os ancestrais dos
peixes. Retratam uma época em que a condição
destes últimos era muito mais de uma humanidade-peixe
do que a condição atual, em que é
crescente a animalização dessa “sociedade”,
fomentada sobretudo pelo poder e influência
do pensamento ocidental.
"Por aqui os peixes nascem
de várias formas e em vários lugares",
conta Juvêncio Cardoso (Dzoodzo em Baniwa),
coordenador da Escola Indígena Baniwa-Coripaco
(EIBC-Pamáali), e um dos maiores interessados
no projeto Kophé. Nascem das piracemas que
ocorrem no subir do nível do rio, entre os
meses de março e maio – e o projeto Kophé
Koyaanale já mapeou cerca de 120 delas -;
nascem dos ninhais sob vigília, que traíras,
acarás, tucunarés e jacundás
estabelecem nas "samambaias" e na raizama
dos igapós, cuja porção mais
extensa na bacia se encontra no Médio Içana.
Nascem também quando, a cada inverno, a cada
enchente, Koyaanale, a entidade que é casa/pai/mãe/fonte
dos peixes, os vomitam nos locais sagrados de diversos
lagos; ou por meio de magníficas metamorfoses
percebidas desde tempos imemoriais pelos Baniwa.
Da mesma forma que as andorinhas
Olíuda, quando ao léu das pesadas
chuvas de piracema, caem nas águas do Içana
para se transformar nos peixes Toloya (veja ilustração
abaixo); ou quando as larvas das palmeiras Jauari,
extensamente distribuídas nas margens alagadas
do rio, se transformam nos peixes Kawiri. E existem
ainda tantas outras dessas metamorfoses, proporcionais
mesmo à diversidade da vegetação
que acompanha os cursos dos rios, lagos e igarapés.
Assim, Ponamanawi, bicho de Patauá, se transforma
em Ooro. Kadaapali, bicho de Koodama, se transforma
em Maanapi. Muito se alegram os Baniwa, quando açaizais
e jauarizais inteiros resolvem transformar seus
coquinhos em saborosos peixes, dando provas incontestes
das interdependências e dos fluxos de matéria
e energia do sistema água-peixe-floresta-gente.
Recentemente, muito peixe também
tem nascido de reproduções assistidas
em modernas estações de piscicultura
construídas através da parceria ISA/Foirn.
Dzoodzo ou Juvêncio, por exemplo, é
um dos maiores especialistas Baniwa em reprodução
assistida de peixes e sabe de cor e salteado quantos
alevinos já nasceram na estação
de piscicultura EIBC-Pamáali. Inaugurada
em dezembro de 2003 a estação atingiu
em 2008, a marca de 1 milhão de alevinos,
que vêm sendo distribuídos para uma
crescente rede de viveiros de piscicultura amenizando
um pouco a situação das comunidades
nos períodos de extrema escassez de peixes
no Içana. (Saiba mais). Em contraste à
grande diversidade de sua ictiofauna, as águas
da Bacia do Rio Negro são das mais pobres
em produtividade pesqueira na Amazônia. Devido
a isso a pesca na Bacia do Içana não
é uma atividade comercial.
Diariamente, a maioria dos homens
no Alto Rio Negro ou está caçando
ou está pescando. E essa rotina começa
bem cedo na vida dos Baniwa. Caso do pequeno Edmilson
Lopes da Silva, de 13 anos, do clã Hohoodene
da comunidade de Tarumã, que entre 16 de
março de 2006 e 30 de março de 2008
realizou pelo menos 218 pescarias que resultaram
no abate de 2675 peixes pertencentes a 61 espécies,
incluídos ai, por exemplo, 113 Tucunarés,
sete Surubins, 198 Traíras, 268 Aracus, 328
Sarapós e 75 Acarás. A garantia de
precisão com que informações
como estas a partir de agora estarão disponíveis
aos Baniwa se deve, neste caso, ao pai do próprio
Edmilson, Jaime Lopes, que é um dos 17 Agentes
Indígenas de Manejo formados pela Oibi e
que vêm monitorando a pesca no Içana
com o intuito de alimentar de informações
as discussões do Plano de Manejo da Pesca
na bacia.
1000 dias de monitoramento
Ao todo os agentes de manejo já
monitoraram 4 500 pescarias em dois anos de atividade.
Minuciosamente registrados na Ficha de Acompanhamento
da Pesca no Médio Içana, agora os
dados estão sendo convertidos em relatórios
de pesquisas e vêm fomentando as discussões
como as que ocorreram na assembléia. Mário
Farias, vice-presidente da Oibi e coordenador do
projeto, apresentou as informações
já sistematizadas para uma platéia
atenta de homens, mulheres e crianças Baniwa
e Coripaco. O monitoramento da pesca se estendeu
por 1000 dias seguidos. Foram registradas pescarias
de 22 mulheres com idades entre 8 e 85 anos e de
271 homens com idades entre 5 e 91 anos. Nas fichas
de registro foram anotadas a identidade clânica
da pessoa, o local de pesca, o horário de
início e término da pescaria, as espécies
capturadas, a quantidade e o tamanho de cada peixe,
as artes de pesca utilizadas e, por último,
o pescador era convidado a dar sua opinião
se a pescaria foi boa, ótima ou fraca. Clique
aqui para ver o modelo da Ficha de Acompanhamento
da Pesca.
Tais informações
passarão a vigorar como indicadores da situação
da pesca no Içana, uma vez que a equipe pretende
seguir adiante e acumular uma série com novas
rodadas de monitoramento. Atualmente, por exemplo,
a opinião sobre o resultado das pescarias
registra que 57% das acompanhadas foram consideradas
boas, 13% ótimas e 30% fracas. O resultado
varia com a faixa etária, sendo o maior índice
de pescarias fracas registrado entre os mais jovens,
com idades entre 5 e 15 anos, e diminuindo com o
aumento da idade dos pescadores.
Mário Farias alerta que
os resultados das pescarias que os Baniwa realizam
afetam em muito as relações sociais
entre as pessoas e comunidades, pois a ética
Baniwa orienta que uma parte dos peixes pescados
deve se consumida pela família do pescador,
e a outra parte deve ser partilhada por todos durante
as refeições comunais que se realizam
duas vezes por dia nos centros comunitários.
Ele afirma que como as pessoas não conseguem
peixes em quantidade maior, preparam os poucos que
conseguem em mojeca. “Na maioria das vezes não
levam a comida para o centro comunitário,
diferente dos períodos de boas pescarias,
porque dá apenas para sustentar os filhos,
a família.” O pescador considera pescaria
boa quando pega cinco a seis peixes, que atingem
cerca de 1kg a 2kg. "Com esses peixes, dá
para fazer uma mojeca para alimentar a família,
e levar um pouco para o centro comunitário",
diz.
Proposta de acordo de pesca
A assembléia fez várias
sugestões para a elaboração
do acordo de pesca. Uma das etapas que mais animou
os participantes foi chegar a um consenso sobre
o tamanho mínimo de captura dos peixes da
Bacia do Içana. O princípio do tamanho
mínimo de captura como prática de
manejo tem dado bons resultados nos lugares onde
vem sendo aplicado. Na assembléia, foi amplamente
lembrado o caso do manejo de Pirarucu na Reserva
de Desenvolvimento Sustentável Mamirauá
(AM). Ao capturar os peixes cujo tamanho indique
que ele já teve oportunidade de se reproduzir
por pelo menos uma vez no rio, têm-se a garantia
de repovoamento natural com novos indivíduos
que crescerão nas áreas que alimentarão
futuras pescarias.
A legislação nacional
sobre a pesca já define vários tamanhos
mínimos de captura para diferentes tipos
de bacias hidrográficas, mas a lista de espécies
estudadas pelos órgãos oficiais ainda
é muito pequena em comparação
com a lista de espécies consumidas pelos
Baniwa. Como a região representa um vácuo
de pesquisa científica, a equipe do projeto
também suspeitou que muitas das recomendações
das listagens oficiais para a Amazônia ampla
não eram adequadas às condições
de desenvolvimento das espécies nos ambientes
oligotróficos do Alto Rio Negro. Para superar
isso os 17 agentes de manejo pediram aos sabedores
e velhos de suas comunidades que dessem suas opiniões
sobre o tamanho mínimo reprodutivo de cerca
de 118 espécies que são mais pescadas
nas comunidades do Içana. Como muitas respostas
variaram de uma comunidade para outra, a assembléia
foi escolhida como a ocasião ideal para o
estabelecimento de um consenso.
Tamanho decidido no voto
Com a ajuda dos alunos da Escola
EIBC-Pamáali, todas as opções
de tamanhos indicadas pelas comunidades foram desenhadas
e levadas para votação na assembléia.
Após a decisão de que apenas os maiores
de 15 anos poderiam votar, o centro comunitário
de Tukumã-rupitá transformou-se num
grande palanque onde todos tiveram a oportunidade
de comparar e indicar calmamente o tamanho mínimo
a partir do qual os peixes já teriam realizado
a primeira reprodução. Os mais jovens
trabalharam como "mesários", anotando
os votos dos mais velhos que percorreram todo o
salão numa longa fila. No dia seguinte, Mário
Farias e a equipe de agentes de manejo apresentaram
o resultado final, que a partir de agora será
amplamente divulgado, permitindo que cada pescador
possa identificar se está pescando abaixo
do tamanho mínimo e corrigir com vistas à
sustentabilidade da pesca.
Mário Farias aproveitou
a oportunidade para mostrar a régua de tamanho
mínimo de captura divulgada pelo Programa
Nacional para o Desenvolvimento da Pesca Amadora,
que inspirou a equipe, e a partir de agora ganhará
sua primeira versão adaptada ao Alto Rio
Negro. Os Baniwa também manifestaram interesse,
sobretudo das escolas presentes, em avançar
nas pesquisas de registro direto das condições
de reprodução dos peixes para paulatinamente
irem adaptando, caso seja necessário, os
tamanhos mínimos de captura mais apropriados
para o manejo pesqueiro na bacia.
Reunidos em grupos os Baniwa também organizaram
uma série de recomendações
que depois foram lidas e discutidas uma a uma com
o intuito de formar a base de consenso para o acordo
de pesca. Como resultado, uma carta da assembléia
escrita em Baniwa retornou para as comunidades e
funcionará como uma carta-consulta, uma pré-proposta
de acordo a ser retomada para que seja oficialmente
formalizada na próxima assembléia,
prevista para novembro de 2008.
Entre as recomendações,
destacaram-se: a reafirmação da opção
Baniwa pela prática não-comercial
de pesca, conselhos sobre o uso de artes de pesca
que não prejudiquem a reprodução
e crescimento dos peixes até o tamanho mínimo
de captura, conselhos para a garantia do respeito
ao direito de auto-gestão das áreas
de uso de cada comunidade e a criação
de zonas de preservação do recurso
pesqueiro onde a pesca será interrompida
até segunda ordem da Assembléia. Dois
dos maiores lagos do Médio Içana,
Koetane e Hiwaroana, foram indicados para cumprir
essa função. As comunidades de Tapira
Ponta e Juivitera situadas nas “entradas” abaixo
e acima da região dos lagos do Médio
Içana, deverão ser informadas e orientarão
os pescadores de outras regiões que forem
pescar nos lagos. Os Baniwa também manifestaram
o interesse de que autoridades competentes, como
a Fundação Nacional do Índio
(Funai) e o Instituto Brasileiro de Meio Ambiente
e Recursos Renováveis (Ibama), sempre que
sejam chamadas também participem do monitoramento
ao cumprimento das decisões que serão
tomadas nas assembléias. Em novembro os debates
em assembléia serão retomados e os
Baniwa esperam finalmente formalizar o primeiro
acordo de pesca da Bacia do Içana.
Abaixo seguem a versão
em Baniwa da carta escrita pela assembléia
e enviada a todas as comunidades da região
e em seguida a tradução para o Português.
Assembléia anual da Organização
Indígena da Bacia do Içana
Komalhipani, 17ka julho hámoli
2008
Hia Wakitsienaape iemakape idzakaleperiko
ikoami: Waakoenai, Koripaakonai nheete Ñeekatonai.
Whaa ikitsienaape iwakeetaakakapewa
lirikoda lhiehe dzamawalixoopa OIBI iprojetoni Kophe
Koyaanale iwakeetaka whaa inialiitta nheette likepe
yaapidza. 118 wamanopeka whaa iwakeetaakakape kakopedakaro
whaa “koamekaro wamatsiataka lhiehe waitsaletakaa
ayaha Inialiriko likepe riko tsakhaa”.
OIBI ikeñoa ideenhika liprojetoni
marçonako hamoli 2006, lideenhika pesquisa
17 dzakaleeriko OIBI idzarhipadaliko peri. Pandza
março nako tseenakhaa hamoli 2008, lioka
lhinaana liñhaataka pakapa koameka lhie waitsaletakaa
ayaaha iniariko. Linakhittekaro wawapiñeeta
koameka wamatsiataka waitsaletakaa ayaaha wadzakaleperiko
nheette waoniiteriko tsakhaa. Wawapiñeetakaro
wapeedzaalhewa wenipepe ikoawale nheete wadakeenai
ikoawale tsakhaa.
Kadzoxoopa, dzamadaa heekoapi
kaakoka whaa nanako nhaaha projeto ideenhikale,
nhaa iñhaatali wakapa koameka lhie waitsaletakaa
dzamada hamoli nako nerikoda nhaanha 17 dzakaleenai.
Neeni liñhaataka wakapa nhaa waitsatakaa
Matsiaperi nheette Maatshiperi tsakhaa. Nanakhitte
wakaakota koamekaroka “wamatsiataka lhiehe waitsaletakaa
ayaaha wadzakalepe ikoami ayaaha Inialiriko nheette
likeperiko tsakhaa”.
Kadzo, weroita koadzoitepekaro
namakaitepeka wattaiteena wainoaka nhaa kophenai
nakoamitsa. Nheette wakaakota nanako tsakhaa nhaa
Matsiaperi Padzeetkata nheette Maatshiperi Padzeekataka
ayaaha paitsaleta kadanako. Ikapa koaka nhaaha weroitali:
MAATSHIPERI PADZEEKATAKA
Ñeewita (careta); lhiehe
ñeewita maatshitsa pawinitaka liyo ima liwhietaka
kophenai iawa pamodzoalhe, paaphoakadaa liyo deepi
nheette heekoapitsakha, ima kadzo pawhieta naawa
nhaahã kophenai oo ñamekeetsakha naiñha
paitsaletaka, nheette phaa ikanakaita kamarhaiko
iyo ñameetsa koaka pakapali linomapiriko.
Metsa matsiakatsa paaphoaka liyo pakakole oo hiwakape
paadza ooniriko.
Koona, wepiri, hiiwa, waakoraita, cimento kaali
iyo: nhaahã pamaxoopape ñame matsia
pamaka nayo ima nainoaka phiome kophenai neenipenai
iapidza.
Motooronai kalitta liko, ñawapo liko: ñame
matsiaka paanhikawa motoronainako kalittaliko nheette
ñawapoliko ima liwhietaka nhaaha kophenai.
Metsa matsiakatsa paanhika nayo makapekirikotsa.
Óleonai motoro ikoawalepe: ñame matsia
paaroka oleonai oo papeekoka liaronapemi ooniriko,
ima nhaaha kophenai nheraaka nakaalewa ooninakhitte.
Kadzoxoopa walhiotsa whetaka kanheekhaatsa lhiehe
imakadamiwa pamhaitakaroni.
Molokopi: lhiehe molokopi ñame matsiakani,
painoakadaa liyo iiniri keewheperi. Metsa matsiakatsa
painoaka liyo koliri, heema, daapa, yamaro nheette
katshiri tsakha.
Padietaka maawi iyo: ñame matsiaka padietaka
kalitta oo ñawapo maawi iyo. Ima liwhietaka
nhaaha kophenai, ñame keetsa naiñha
paitsaletaka.
Toodamaka madalhiwi pakaaphiwi yaapirhe: ñame
matsiaka nhaaha toodamakape tsoodalipetsa ithi,
ima liinoaka phiome nhaaha kophieni itaoñakapettoawa.
Pakamaaka toodamaka iyo koamekaawakatsa: ñame
matsiakani ima liwhietaka nhaaha kophe oo liwadzaka
tsakha nhaa.
Patakhaaka oodawi pamakaro oo pamolokopitakaro:
ñame matsiaka patakhaaka oodawi, ima kophe
iipanakani. Ima patakhakadaani ñameetsa lirhio
liipana liemakarodawa.
Pamaka iiñakapewa: ñame matsiaka pamaka
nhaaha kophe iñakapewa. Ima pamakadaani ñameetsa
napieta neeñakawa neeni.
Paitaka iiñakapewa: ñame matsiaka
paitaka nhaaha kophe iiñakapewa. Ima painoaka
nhaaha keewheperi.
Painoaka kophe tsoitepettoa: ñame pattaita
painoaka nhaaha kophe kadowapettoa itawiñakapettoawa.
Metsa, painoaka nhaaha kophe tsoitepe nadakiperitsa,
kadzo: ookara, koowhi dzo.
Painoaka iiniri keewheeperi: ñame matsiaka
painoaka iiniri keewheeperi. Ima painoakadaana,
ñameetsa koaka inatawiñali nenipe
naphomitte.
hiwiatti: lhiehe yanhekaita hiwiaka ñamekaro
limatshika kophenai iaroaphipe.
Pakanaka Bateria iyo: ñame matsiaka pakanaka
bateria iyo. Ima likanaka thewakaphaa kamarhaiko
iodza.
Papeekoka piila ooniriko: ñame matsia papeekoka
nhaaha piila iwadzakakapemi oonirikolhe. Ima kapoakani,
limatshika ooni, nheette kophenai tsakha. Wadee
tsakha waakeetaka irenaatti linakhitte lhiehe kophe
iiñhakaita piila ipoa.
MATSIAPERI PADZEEKATAKA
tooda (puçá): matsia
paaphoaka liyo kákoli, pakamaaka dzaaka,
phepaka pamanhitta iname iyo. Nheette matsiatsakhaa
phepaka liyo ñawapo inomanaa, híipaliko
tsakhaa.
toodamaka (malhadeira) “madalhiwidali” pakaaphiwi:
matsiatsa lhiehe madalhiwi pakaaphiwida iikaanaamirhedali
ithi ima lhipaka nhaaha kophe makaitepetsa.
iitsa koatshiwikatsa: matsiatsa paitsaletaka nayo
phiome koakatsa kophenai. Ikametsa pheraakadanako
nhaaha tsoitepettoa (ñame perittoa keenipe)
pakadaakatsa naawa, metsa painoaka kophe nadakiperitsa
kadzo nakadzodzo nhaaha kowhi,tewa,ookara tsakhaa.
kaapawi: matsiadalitsa lhiehe kaapawi, ima painoaka
liyo nhaahã makaitepetsa.
molokopi: Lhiehe molokopi matsiatsani, painoakaro
nhaatsa nhaaha maikaipetetsa kophe ñame peritsa
keewhe kadzo nakadzodzo nhaaha (koliri, heemali,
mhookoli, iiniri) . Nheette painoakaro tsakhaa pawiniwa
iitsirinai liyo (heema, daapa, katshiri neniphaa
apanaa).
iitsaakhaa: matsiatsa paitsaletaka itsaakhaa iyo
koamekhaikatsa. Metsa plhiotsa pheepaka koaka nhaaka
wakaiteri 3 nheette 18 nako.
oopitsi: matsiatsa pawinitaka liyo, ima ñameka
liwhieta nhaa kophenai iiñakapewa. Nheette
peroita kadanakoni alaperiko, ñawapoliko
tsakhaa ikametsa hiewalika neeni nhaaha idzeenakapetsa
neeni.
tshioli: matsiatsa lhiehe tshioli, ima kamekatsa
painoalika liyo nhaaha makaitepetsa kophe.
mawipoko: matsiatsa lhiehe mawikopo, ima kamekatsa
painoalika lirikopoko nhaaha kophenai hiewakapetsa
neeni oo keenakadaatsa pañhanaa.
kaadza híipaliko: matsiatsa padeenhika lhiehe
kaadza peroitakaroni híipaliko, metsa aatsa
ayaahã tteephe hirakaaniritsa.
kakoli: matsiadalitsa lhiehe kakoli, pattaita padeenhikani
koamekaawakatsa ooni inomapiriko.
paitsaletaka: matsiatsa paitsaletaka phiome koamekatsa,
metsa palhiotsa pheepaka nhaaha wakaiteri 3 nheette
18 nako.
pakanaka: matsiatsa pakanaka kamarhaiko piila iyodali.
Metsa karoka pattaita painoaka nhaaha kophenai tsoitepettoa
(ñameperittoa keenipe).
pakadaaka neeñawa: ikatsa matsiadalika padeenhika
lhiehe pakadaaka neeñawa, ima ikakatsa nawekakarodakani
hamoli ikoami.
iitsaapo: matsiatsa paitsaletaka phiome koakatsa
iitsaapo iyo, metsa palhiotsa pheepaka nhaaha wakaiteri
3 nheette 18 nako.
pakoetaka: matsiatsa padeenhika lhiehe ima nhaakatsa
painoali nhaaha kophe maikaitepetsa. Pakoetaka ttiiri,
tsiipa, kaattama tsakha.
pakadaaka kophe tsoite yaawa: lhiehe kanakaidali
padeenhika, ima nhaaha kophe tsoitpettoa ñaperittoa
keenipe kanakaittoa pakadaaka naawa naakarottoa
natawiñawa. Littaitakaro watsa neeniminikatsa
kophe makaitepe waitsaletawa waoníiteriko.
inameda: matsiadalitsa padeenhika, ima kamekatsa
painoalika liyo nhaa kophe makaitepetsa. Palhiotsa
padeenhikani matsia, pawapaka pakapa pakoawada matsia
pakapakeena phetaka nakoatsa nhaa pañhanaa
ikameena paakawa.
padowiretaka: matsiadalitsa padeenhika, metsa palhiotsa
pheepaka nhaaha wakaiteri 3 nheette 17 nako.
kottiiphe, iname tsakha: nhaaha pattaitheni watsa
pamaka iyo tsoopetsa ñawapo tsookhaipetsa,
oodawidape ñawapoliko peri makakhaiperiko
oo Kalittaliko.
Kakoli kophe iiñakaroaphiriko: Matsiadalitsa
padeenhika, ima ñameka liwhietakaro nhaaha
liiñakhe. Nheete kophe hiewhenitsawa manopakadaatsani.
Iñapakaatti, ittathakhetti: matsiaperitsa
padeenhika. Metsa pañapaka nheette pattathaka
kaanheeka likotsa. Wadee pattathaka oo pañapaka
papañeetakaadzawatsa nhaaha kophenai.
Paaphoetanikhaa kadowaape yetsha: matsiatsa padzeekatakani,
ima ñameka painoakaro oo pawhietakaro nhaaha
kophe liyo, metsa padeenhini padzakale idalipatsa.
Pamawataka: matsiatsa padzeekatakani, ima ñameka
painoa manope kophe liyo, ikametsa Dowiriita neeni
kadaa.
WAAPIÑEETANIDA WEEMA XOOPAWA MATSIADALITSA
NAAPIDZA NHAAHA WAKITSIENAAPE PADEENIRI INIALIRIKO
LIKEPE IAPIDZA TSAKHA
Resumo dos Trabalhos de Grupo
de 18 de Julho de 2008.
– PESCA PARA VENDA: ONDE?
paitsaletaka pavenderiwa peemaxoopawa
Lhia watseehe paitsaletakaapani hanipadali ñame
wadeenhikarokani ima meeñenikatsa wadzakale
ima padeenhikaro pesca comercial palhiotsa paamaka
tonelada kilo kophe metsa wavenderi watsa tsoopetsa
wakitsienaape irhio koakatsa iomakade wainai kadzotsaa
pandzadzo.
– LOCAL DE PRESERVAÇÃO: QUAL?
Koetani nheette Hiwaroanaa. ikatsa
nhaaha kalittanai wakadaawape wawadanipe iwekaka
kophenai nakoawale nhaaha apaana kalittanai, phiome
inaili iyapikaliko. nheette nanakhitte tsakhaa wakapa
watsa kaphaaka nadiaka kathinaa nhaaha kophenai,
wanhee xoopa watsa ñameka nawadzakadzokawa
oo whaakatsani inoakanheriitsana kadzokaro wakaiteka
nawadzakakawa.
OBS: ayali, kanakaittoa nakaakotaka
nainaiwaaka nakapakaro watsa kalheaphika kalittaka
nhaaha naamali nakadaaka nakapawa natañeetawape
phiome nhaaha ayaliita. *nhaaha koripakonai ñamettoa
nakaiteka neenika watsa kalitta nakadaawape (natañeetawa).
– DEFINIÇÃO DE ÁREA
DE USO DAS COMUNIDADES:
• lhiawatsa lhiehe waanhikaawa
wawinita oo wadeenhikaawa tsakha heekoapialitsa
walhionitsa lhiehe liokakaawa , metsa ñameka
wakaitexoopa ñameka pattaita padzeenaka apaana
ianhikaawaliko. Likheette waakadanakowa wawinita
apadawa comunidade iwinitakaawaliko hekoapiali palhiotsa
pakaiteka nhema paakattoa paanhiwa nadalhipa naanhikaawaliko
kadzo kaakopedakapidzo whaa assembleialiko.
– FISCALIZAÇÃO DA
ÁREA PRESERVADA:
• nhaawatsa nhaaha ikapali nanako
nhaaha kalittanai wakadaanipettoa wakapawa, nhaawatsa
ikapali nanako phiometsa watsa nhaaha comunidade,
metsa nanakhitte watsa nhaaha manopedali comunidadenai
inialirikoperi wakadaa watsa nhaaha tsoomeperiitsa
naadza nhaaha wakadaanipe. kadzokadzodzo nhaaha;
Paitsipe poawhetteperi irhio nheette Tapira Ponta
pokhoetteperi irhio metsa nhaametakadaani, lioma
watsa lhidzaakowa funai rikhitte oo matshinaadali
ibamanai iinai.
• nanomanaape watsa nhaaha kalittanai
wakadaanhi ttoa wakapawa weroita watsa tsipalaitapee
lhinaanawa wakaiteri watsa inako ñamekattoa
wattaita waitsaletaka neeni.
Assembléia Anual da Organização
Indígena da Bacia do Içana (Oibi)
(Tradução de Raimundo
Benjamim e Juvêncio Cardoso (EIBC-Pamáali)
Tucumã, 17 de julho de
2008.
A vocês parentes de todas
as comunidades: Baniwa, Coripaco e Nhengatú
Nós, 118 pessoas de toda
bacia do Içana e afluentes reunidos nesta
segunda assembléia da OIBI sobre o Projeto
Kophe Koyanaale, para discutir como podemos melhorar
a situação de pesca na região
do Içana e afluentes.
A OIBI iniciou a execução
das atividades do projeto nas 17 comunidades de
sua abrangência política em março
de 2006. E hoje novamente no mês março
de 2008, o projeto chega na fase de apresentar os
resultados das pesquisas de acompanhamento das pescarias
e indicar como estamos pescando na região
do Içana. Para que através desses
resultados pensemos como melhorar as nossas formas
de pesca na nossa região e no nosso rio.
Para pensarmos o futuro desses recursos para os
nossos filhos e netos.
Por isso, nesses dois dias de
assembléia discutimos e trabalhamos sobre
os resultados das pesquisas que mostram os dados
das pescarias acompanhadas nestes dois anos nas
17 comunidades. E os resultados nos mostram as formas
de pesca boas e também as não-boas,
que ajudam acabar com os peixes. Através
destes, discutimos como “melhorar as nossas formas
de pesca na nossa região, afluentes e comunidades”.
Discutimos e decidimos sobre o tamanho mínimo
de captura de cada uma das espécies de peixes
existentes na nossa região. Discutimos também
sobre as boas e más formas de pesca. E colocamos
a seguir as definições sobre os temas:
Práticas ruins para os
peixes e a sustentabilidade da pesca
Careta (máscara) de Mergulho:
a careta não é boa para fazer pescaria,
pois a pesca com esse material de dia e noite faz
com que os peixes vão cada vez mais para
fundo do rio, e não comem mais isca e as
pessoas que pescam a noite com lanterna de zagaia
não conseguem mais pegar peixe na beira do
rio. Mas, esse instrumento é bom para mergulhar
cacurí e para resgate de objetos que deixamos
cair no rio, caso seja fundo.
Timbó, Wepiri, hiwa, waakoraita, cimento:
esses materiais para tinguijar não são
bons, pois matam os peixes de todos os tamanhos,
grandes e pequemos, filhotes e ovos.
Pescadores usando os motores nos lagos e igarapés:
não é bom entrar de motor nos lagos
e igarapés, pois assim assustamos os peixes.
Mas, podemos usar os motores no rio principal (Içana).
Óleos para Motores: Não é bom
jogar óleo e vasilhame de óleos para
motores na água dos rios. Pois os peixes
respiram oxigênio na água, e assim,
ficam contaminados. Se comermos os peixes contaminados,
nós podemos ficar doentes também.
Molokopi: Essa arte de pesca não é
boa, pois com esse instrumento matamos peixes com
ovos e estragamos os ninhais. Mas, pode ser usado
para matar surubim, anta, paca, arraia e jacaré.
Arrastão: usamos esse nome para designar,
a forma de pesca quando se usa pari para cercar
um igarapé ou lago para pegar os peixes.
Essa forma de pesca assusta os peixes, e assim não
se consegue mais pegar os peixes com anzol e linha
de pesca nestas áreas.
Malhadeira com malha abaixo de três dedos:
Não é bom usar as malhadeiras com
malhas abaixo de três dedos, pois acaba com
os peixes menores que ainda estão crescendo,
que ainda não se reproduziram.
Pescar com malhadeiras em qualquer lugar: Não
é bom fazer pescaria ou colocar malhadeira
em qualquer lugar, pois assusta e acaba também
com os peixes.
Cortar samambaia para tinguijar ou usar Molokopi:
Não é bom cortar samambaias, pois
são as casas de muitos peixes. Se forem cortadas
esses peixes não vão ter mais onde
ficar.
Tinguijar peixes em piracema: não é
bom tinguijar os peixes em piracema, pois se for
tinguijado, os peixes não vão fazer
mais piracema no local onde foi tinguijado.
Cercar os peixes em piracema: Não é
bom cercar os peixes em piracema, pois assim acabamos
com os peixes com ovos para reprodução.
Matar os peixes menores: não é bom
matar os peixes menores que ainda estão crescendo
e que ainda não atingiram o tamanho mínimo
reprodutivo. Mas, podemos pescar os peixes pequenos
como Okara, koowhi, porque são peixes de
tamanho pequeno mesmo.
Matar traíra na época de reprodução:
não é bom matar traíra na época
de reprodução. Pois se esses peixes
forem capturados nessa época, não
vai ter mais quem continuar reproduzindo e garantindo
a continuidade da espécie.
Benzimento: Para a pessoa que sabe benzer, não
benzer os locais-estoque de peixe.
Faxiar com lanterna a bateria: não é
bom faxiar com lanterna a bateria, pois, a luz é
muito forte e chega a iluminar a uma profundidade
muito maior do que a lanterna comum. Essa forma
também, assusta os peixes.
Jogar pilha na água: Não é
bom jogar pilhas usadas na água. Pois a pilha
é um produto que contém produtos químicos
que contaminam a água e os peixes. Pois se
comermos os peixes contaminados com os produtos
químicos da pilha, podemos ficar doentes.
Práticas boas para os peixes e a sustentabilidade
da pesca
Puçá: podemos usar
puçá para pegar peixes no cacurí,
pegar camarão, pegar peixes tinguijados por
iname. Podemos usar para pegar peixes na saída
de igarapés e cachoeiras.
Malhadeira: podemos usar malhadeiras com malhas
acima de três dedos, pois assim somente os
peixes grandes são pescados.
Anzol de qualquer tamanho: podemos usar qualquer
tamanho de anzol para pescar os peixes. Mas temos
que soltar os peixes menores que ainda não
se reproduziram nenhuma vez. Podemos matar os peixes
menores se forem piabas.
Arco e Flecha: consideramos que esse instrumento
não prejudica os peixes ao ser usado, pois,
com ele podemos pegar somente os peixes grandes.
Molokopi: esse instrumento não prejudica
os peixes, e pode ser usado para matar os peixes
grandes como surubim, tucunaré-grande, piraíba
e traíra. Mas, não pode ser usado
para matar os peixes que estão na época
de reprodução. E pode ser usado para
pegar caça, animais como anta, paca, jacaré
e outros animais.
Linha de pesca: pode ser usado qualquer número
de linha de pesca, mas, devem ser obedecidas as
regras descritas nos ítens 3 e 16 de práticas
boas.
Matapí: podemos pescar com esse instrumento,
pois não assusta os peixes em piracema. E
se for colocada nos igarapés e igapó
só vai pegar os peixes que passarem no local
onde é colocado, que é uma área
pequena.
Tsiole: esse instrumento pode ser usado, pois usando
este só vamos pegar os peixes grandes.
Mawipoko: pode ser usado este instrumento, pois
só pegamos os peixes que entrarem ou só
os peixes que gostarem da isca, que vai depender
de quem colocou a isca dentro do instrumento.
Kaadza na Cachoeira: podemos usar esse instrumento
nas cachoeiras, mas somente na época quando
passam as piabas.
Cacuri : o cacuri pode ser usado, e colocado em
qualquer parte do rio.
Faxiar: podemos faxiar usando lanterna a pilha.
Mas, não podemos matar os peixes que ainda
não se reproduziram (peixes menores).
Deixar a piracema acontecer: deixar a piracema acontecer
é uma prática que podemos fazer, pois
é nesse momento que os peixes se reproduzem
a cada ano.
Caniço: Podemos usar caniço para pescar
qualquer tipo de peixe. Mas, temos que considerar
os itens 3 e 16 das praticas não boas.
Puladinho: podemos pescar usando essa técnica,
pois só matamos os peixes grandes como mandubé,
pacu e outros.
Soltar os peixes menores: é uma prática
boa, pois os peixes menores que ainda não
se reproduziram precisam ainda crescer, para poder
reproduzir. Assim, sempre teremos peixes para pescar.
Inameda (iname) colocado dentro de uma isca: Pode
ser usado como técnica de pesca, pois com
esse material somente pegamos os peixes grandes.
Temos que esperar até quando termina o número
de isca jogado na água. E terminando o número
de isca jogado podemos ir para outro lugar.
Amarrar Anzol: pode ser praticado, mas devem ser
considerados os itens 3 e 16, buscando não
prejudicar outros peixes.
Kottiphe, iname: podemos usar essas plantas-timbó
para tinguijar igarapés pequenos, samambaias
dos igarapés e lagos.
Cacuri na piracema: pode ser feito, pois não
assusta os peixes que estão fazendo piracema.
Pois os peixes só entram quando é
bem preparado, dentro das regras tradicionais (linopa).
Benzimento, oração: podem ser feitas,
para o bem. Isso deve ser feito com cuidado. Para
não benzer e acabar com os peixes.
Espinhel com anzóis pequenos: podemos usar
essa forma de pesca, pois, não matamos e
assustamos os peixes com esse instrumento. Mas,
devemos praticar isso somente próxima da
nossa comunidade.
Linha com vários anzóis (pamawataka):
pode ser usada essa forma de pesca, pois só
são pescados peixes da espécie peixe-espada
(dowiriita).
Trabalho em grupo de 18 de julho de 2008
Propostas de Manejo dos Recuros
Pesqueiros para a subsistência dos Povos Baniwa
e Coripaco na Região do Içana e Afluentes
– PESCA PARA VENDA: ONDE?
:: Pesca como fonte de renda:
a pesca em grandes quantidades ou em toneladas,
não vai poder ser realizada na nossa região,
porque não existe mais grande quantidade
peixes para essa forma de pesca. Mas, podemos pescar
e vender em pequenas quantidades somente para os
nossos parentes das comunidades da região,
como já viemos fazendo.
– LOCAL DE PRESERVAÇÃO:
QUAL?
:: Koetani e Hiwaroana: São
estes lagos que escolhemos como locais para preservação
e onde os peixes vão se reproduzir. Esses
lagos vão distribuir peixes para outros lagos
e como também para toda região do
Içana. Através desses lagos preservados
será possível ver se os peixes vão
voltar aparecer e isso vai nos indicar que não
estão desaparecendo ou se somos nós
mesmos que estamos acabando com os peixes das nossas
pescarias.
Obs: -As comunidades da Região
do Ayarí ainda vão se reunir para
decidir quais lagos da região deles vão
ser escolhidos para serem locais de preservação.
- Os Coripaco também ainda vão escolher
qual será o lago para preservação
na região deles.
– DEFINIÇÃO DE ÁREA
DE USO DAS COMUNIDADES:
Nas nossas comunidades já
temos os nossos limites, a área onde ou até
onde podemos pescar. Mas, não estamos querendo
dizer que não podemos pescar na área
de pescaria das outras comunidades. Se quisermos
pescar na área de outra comunidade devemos
avisar os responsáveis ou as pessoas da comunidade
para onde vamos pescar, como tratamos aqui na assembléia.
– FISCALIZAÇÃO DA
ÁREA PRESERVADA.
Os responsáveis pela fiscalização
dos lagos preservados serão as comunidades
próximas dos lagos. Comunidade Juivitera
para as pessoas do alto e comunidade de Tapira Ponta
para as pessoas do baixo. Se as pessoas não
respeitarem os responsáveis, os mesmos pedirão
reforço da Funai (Posto de Tunui) e, em casos
mais graves, para o IBAMA.
Na entrada dos lagos preservados
serão colocadas placas indicando que as pessoas
não poderão entrar para pescar nesses
lagos.
ISA, Adeilson Lopes da Silva.