31 de
Julho de 2008 - Vinicius Konchinski - Enviado Especial
- Dourados (MS) - Os trabalhos de identificação
dos territórios indígenas da região
sul do estado do Mato Grosso do Sul serão
“estritamente técnicos, nada políticos”.
A afirmação é do antropólogo
Rubem Thomaz de Almeida, coordenador de um dos grupos
de trabalho constituídos pela Fundação
Nacional do Índio (Funai) para demarcação
das áreas que, futuramente, devem ser entregues
à etnia Guarani-Kaiowá.
Almeida chegou na última
terça-feira (29) a Mato Grosso do Sul. No
aeroporto, falou à imprensa e explicou que
aldeias e comunidades indígenas de 26 municípios
sul-mato-grossenses serão consultadas pelos
pesquisadores para que os próprios índios
afirmem quais são os locais em que eles,
tradicionalmente, ocupam ou ocupavam no estado.
Feito isso, esses locais serão visitados
pelos grupos de trabalho. Vestígios encontrados
nessas áreas confirmarão ou não
a presença de indígenas.
“Estamos aqui para ver se a reivindicação
dos índios é verdadeira”, disse o
antropólogo. “Os Guarani-Kaiowá pedem
mais terras há, pelo menos, 30 anos. O problema
está aí. O que vamos fazer com ele?”
Almeida é consultor do
Projeto Integrado de Proteção às
Populações e Terras Indígenas
da Amazônia Legal (PPTAL) e do Programa das
Nações Unidas para o Desenvolvimento
(Pnud). Ele estuda a etnia Guarani-Kaiowá
há 30 anos.
Segundo ele, hoje, cerca de 40
mil Kaiowás - uma das maiores comunidades
indígenas do país - estão “confinados”
em cerca de 40 mil hectares de terra. Na expectativa
do antropólogo, caso a demarcação
da área seja mesmo concluída, esta
área deve ser ampliada para até 3
milhões de hectares. Entretanto, ele ressaltou
que qualquer estimativa é hipotética,
já que o levantamento e o estudo ainda serão
feitos.
Sobre a resistência dos
produtores rurais sul-mato-grossenses com relação
à demarcação, Almeida disse
que espera ser bem-recebido e que haja diálogo
entre governo estadual, federal, índios e
proprietários de terra para que a questão
seja resolvida da melhor forma possível,
sem conflitos.
+ Mais
Agricultores e índios aguardam
com expectativa julgamento sobre ocupação
de reserva
31 de Julho de 2008 - Gilberto
Costa - Repórter da Rádio Nacional
da Amazônia - Brasília - No próximo
dia 27 de agosto, o plenário do Supremo Tribunal
Federal deverá julgar o mérito da
ação cautelar proposta pelo governo
de Roraima, que pediu a suspensão da Operação
Upakaton 3, da Polícia Federal, para a desocupação
definitiva de não-índios ainda presentes
na Reserva Raposa Serra do Sol. A operação
de retirada está suspensa desde o dia 8 de
abril.
Os produtores rurais têm
a expectativa de que o STF considere nula a demarcação
contínua dos cerca de 1,7 milhão de
hectares destinados à terra indígena,
ou que pelo menos determine que uma nova demarcação
seja feita - excluindo áreas de fronteira,
25 mil hectares ocupados por lavouras de arroz e
soja, os municípios de Uiramutã, de
Normandia e a área destinada à construção
da Hidrelétrica do Tamanduá, no Rio
Contingo.
Para Almir Sá, presidente
da Federação da Agricultura e Pecuária
do Estado de Roraima, a decisão do Supremo
pode mudar a política indigenista e tirar
da reserva áreas produtivas e onde há
logística urbana, como estradas e cidades.
“Nós estamos defendendo
que se demarque reservando as estradas federais,
as áreas tituladas, as áreas produtivas
e as áreas dos perímetros urbanos.
Vai sobrar muita terra indígena, e nós
vamos viver em paz na região”, disse.
A expectativa de comunidades indígenas
representadas pelo Conselho Indigenista de Roraima
é exatamente o contrário. Os índios
esperam que o Supremo confirme a demarcação,
iniciada na década de 70, e homologada por
decreto presidencial em 2005.
Lideranças das etnias Macuxi
e Wapixana estiveram reunidas na tarde desta quinta-feira
(31) em Boa Vista, na sede do Conselho Indigenista
de Roraima, com dirigentes da Fundação
nacional do Índio (Funai) para avaliar as
possibilidades do julgamento.
Na opinião de Iranilde
Barbosa dos Santos, da Organização
das Mulheres Indígenas de Roraima, a Justiça
vai confirmar a demarcação.
“Estamos bem conscientes dos nossos
direitos e estamos lutando pelo que é nosso.
As comunidades aguardam a decisão [do Supremo]
com toda segurança”, afirmou.
Iranilde informou que índios
de todo o país deverão promover atos
durante o mês de agosto em favor de demarcação
da Raposa Serra do Sol e de outras terras indígenas.
A demarcação da
Reserva Raposa Serra do Sol será o assunto
de dois seminários que começam na
próxima segunda-feira (4).
Em Brasília, a Funai promove
simpósio com juristas, parlamentares e antropólogos.
E em Boa Vista, no mesmo dia, a Confederação
da Agricultura e Pecuária do Brasil (CNA)
organiza um encontro nacional de produtores rurais.
Além da reserva de Roraima,
a CNA aponta litígios entre produtores rurais
e indígenas em outros nove estados. Em Mato
Grosso do Sul, por exemplo, a CNA se mobiliza contra
a possibilidade de demarcação de reserva
para a etnia Guarani-Kaiowá, no sul do estado.
+ Mais
Em encontro, índios de
várias etnias pedem demarcação
da Raposa Serra do Sol
26 de Julho de 2008 - Morillo
Carvalho - Enviado especial - Roosewelt Pinheiro/Abr
- Alto Paraíso de Goiás (GO) - Osmar
Kukon Kraô, prefeito da Aldeia Multiétnica,
um dos eventos do 8º Encontro de Culturas Tradicionais
da Chapada dos Veadeiros. Índios de várias
etnias defenderam a demarcação contínua
da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em
Roraima
Alto Paraíso de Goiás (GO) - O fim
da primeira semana do 8º Encontro de Culturas
Tradicionais da Chapada dos Veadeiros, que ocorre
até o dia 2 de agosto, foi marcado pelo encerramento
de uma de suas atrações, a 2ª
Aldeia Multiétnica.
O evento terminou ontem (25) e
reuniu cerca de 130 índios de todo o país,
para celebrar sua cultura e enumerar as demandas
dos povos indígenas. Uma das resoluções
da Aldeia Multiétnica foi a elaboração
de uma carta que pede a demarcação
contínua da Terra Indígena Raposa
Serra do Sol, em Roraima.
“No documento, escrito a muitas
mãos pelos índios, é feita
uma moção de repúdio à
decisão do Supremo Tribunal Federal [STF],
que interditou a desobstrução da Raposa”,
explica o curador do evento, Sandoval Amparo. Entre
os 17 povos que participaram da Aldeia, estiveram
presentes os Wapixana e os Ingaricó, que
vivem na Raposa Serra do Sol.
A segunda edição da Aldeia foi realizada
num local que reproduz a vida nas tribos, distante
cerca de 12 km do povoado de São Jorge (sede
do encontro). O objetivo do evento é promover
a integração dos povos indígenas
e, mesmo não sendo uma audiência pública,
os curadores trouxeram a proposta de discutir a
questão dos territórios indígenas
e, assim, escutar as demandas dos participantes.
“Procuramos colocar essa questão
dos territórios para além da questão
fundiária. Tratamos de outros territórios
não palpáveis, que são os territórios
da identidade, da comunicação e, para
isso, estabelecemos três linhas de discussão:
territórios clássicos, a questão
dos índios urbanos e a questão dos
índios e as culturas populares. Nesta última,
procuramos mostrar as áreas em que as culturas
populares receberam influência da indígena”,
relata Sandoval.
A integração no
promovida pelo 8º Enconteo de Culturas Tradicionais
tem sido uma realidade já no próprio
povoado de São Jorge – distrito afastado
cerca de 40 km do município de Alto Paraíso
de Goiás (GO). Tanto que é fácil
confundir brancos e índios, já que
muitos dos cerca de 5 mil turistas foram tatuados
com tinturas indígenas.
“É importante conhecer
os nossos parentes. É bom encontrar com eles.
A língua não é igual, cada
um tem uma língua diferente e, aí,
sempre falamos em português com eles, porque
não entendemos a língua. Escutamos
palestras e falamos bastante sobre como é
preciso cada vez mais preservar nossa cultura”,
conta o prefeito da Aldeia, que é o líder
máximo do encontro, Osmar Kukon Krahô.
Essa interação entre
os participantes da Aldeia foi, para o principal
idealizador curador do evento, Fernando Schiavini,
o principal resultado desta segunda edição.
“A Aldeia veio desmistificar a
idéia de que a convivência dos índios
com os outros povos é difícil ou é
impossível. Aqui, ficou provado que todos
são pessoas, que têm suas culturas
diferentes e que podem perfeitamente interagir.
Todos, índios e não-índios
conseguiram isso e, inclusive etnias que eram inimigas
no passado, que não conseguiam se relacionar,
aqui se relacionam”, observa Schiavini.