27/08/2008 - O voto do ministro
Carlos Ayres Britto destacou a regularidade do laudo
antropológico que fundamentou a demarcação
da Raposa Serra do Sol, bem como da Portaria 534/05,
do Ministério da Justiça, que estabeleceu
os limites territoriais da área.
O processo de julgamento foi suspenso após
pedido de vista do ministro Menezes de Direito.
O presidente do Supremo Tribunal Federal, ministro
Gilmar Mendes, disse que a conclusão desse
caso deverá ocorrer ainda neste semestre.
O ministro Carlos Ayres Britto,
relator do processo, afirmou que as terras sempre
foram indígenas: “O ato de demarcação
foi meramente declaratório de uma situação
jurídica preexistente, de direito originário
sobre as terras. Preexistente à própria
Constituição e à transformação
de um território em estado-membro”, disse.
O relator também sustentou que os rizicultores
não têm direito adquirido sobre a área:
“A presença dos arrozeiros subtrai dos índios
extensa área de solo fértil e degrada
os recursos ambientais necessários à
sobrevivência dos nativos da região”.
No voto, dividido em tópicos
para facilitar a análise da matéria,
ele citou pareceres e manifestações
favoráveis à manutenção
da Terra Indígena em área contínua,
como as posições do antropólogo
Eduardo Viveiros de Castro, do pesquisador do Instituto
Nacional de Pesquisas da Amazônia (INPA),
Vincenzo Lauriola, e da senadora Marina Silva.
O relator também contestou
a tese de que “índio atrapalha o desenvolvimento”.
Ele argumentou que cabe à União saber
aproveitar a “cosmovisão” dos indígenas
para o desenvolvimento: “Ao Poder Público
não incumbe hostilizar, e menos ainda escorraçar
comunidades indígenas brasileiras, mas tirar
proveito delas, para diversificar o potencial econômico
dos seus territórios e, a partir da culturalidade
intraétnica, fazer um desafio da mais criativa
reinvenção da sua história
sócio-cultural", concluiu.
Antes do início do julgamento,
cerca de 100 pessoas, entre representantes indígenas,
do Movimento de Apoio ao Trabalhador Rural (MATR)
e do Movimento dos Trabalhadores Rurais Sem Terra
(MST), manifestaram-se em frente ao STF com faixas
de apoio à demarcação contínua
e aos índios que vivem na reserva.
A manhã foi marcada pela
sustentação oral inédita de
uma advogada indígena, a wapichana Joênia
Batista de Carvalho, que falou pelas Comunidades
Indígenas Barro, Maturuca, Jawari, Tamanduá,
Jacarezinho e Manalai.
Ela destacou a esperança
em colocar um ponto final na violência vivida
pela disputa das terras e a importância de
se manter a demarcação já consolidada:
“Nesses 30 anos, 21 lideranças indígenas
foram assassinadas, casas foram queimadas, ameaças
foram registradas. Nós somos acusados de
ladrões, de invasores, dentro da nossa própria
terra”.
Segundo a advogada, este é
um momento histórico, já que a manutenção
da demarcação em área contínua
das terras tradicionais indígenas da Raposa
– Serra do Sol representa a voz dos povos indígenas,
que querem que seja aplicado o que já foi
garantido há 20 anos, na Constituição:
“Temos direitos. Porque só os povos indígenas
têm que ser sacrificados e ter a terra retalhada?
Pedaços e pedaços estão nos
tirando. E amanhã, como ficará isso?”,
questiona.
São cerca de 19 mil índios
vivendo em 194 aldeias na Terra Indígena
Raposa Serra do Sol, em Roraima.
A Petição 3388 trata
do tema questionado em mais de 70 ações,
que contestam a demarcação contínua
de 1,7 milhão de hectares, homologada em
2005 pelo governo federal.
Com o pedido de vista do ministro
Direito de Menezes, não há prazo para
que o tema volte a julgamento. O STF deve decidir
se o procedimento formal de demarcação
seguiu os trâmites legais e a conseqüente
obrigatoriedade da saída de rizicultores
e outros que ocupam irregularmente a área.
+ Mais
Comitê Pró - Raposa
- Serra do Sol organiza mobilização
em Brasília
25/08/2008 - Entidades indígenas
e movimentos populares, que formam o Comitê
Nacional em Defesa da Terra Indígena Raposa
- Serra do Sol, mobilizam-se nesta terça-feira,
26/08, em Brasília, para acompanhar o julgamento
no Supremo Tribunal Federal (STF) de ações
que contestam a demarcação da área,
no nordeste de Roraima, previsto para o dia 27 de
agosto.
A partir do dia 26/8, a capital
federal reúne cerca de 300 pessoas, entre
lideranças indígenas e representantes
de organizações e movimentos sociais,
que participam de eventos em defesa da homologação
da Terra Indígena (TI) Raposa-Serra do Sol.
Pela manhã, o Teatro Nacional é palco
de uma sessão solene da Câmara Legislativa
do Distrito Federal em solidariedade aos povos da
TI Raposa-Serra do Sol. Para o período da
tarde estão programados painéis de
lideranças indígenas e de movimentos
sociais sobre o tema. Às 16h, um ato na Praça
dos Três Poderes, em frente ao STF, conta
com a presença de parlamentares.
Os participantes acompanham, na
quarta-feira 27, o julgamento, no Supremo Tribunal
Federal, de ação que pede a anulação
da portaria do Ministério da Justiça
que declarou de posse permanente indígena
1,7 milhão de hectares - ocupados por 194
aldeias - e do decreto de homologação
da demarcação do Presidente da República.
O STF decidirá se o procedimento formal de
demarcação seguiu os trâmites
legais e a conseqüente obrigatoriedade da saída
de rizicultores e outros que ocupam irregularmente
a área.
Para a advogada do Programa de
Política e Direito Socioambiental do ISA,
Ana Paula Caldeira Souto Maior, a confirmação
da demarcação da terra indígena
pelo STF é um passo muito importante para
consolidar os direitos indígenas consagrados
na Constituição, que marcam a mudança
na forma de o Estado se relacionar com os povos
indígenas: “Antes de 1988, a política
para os povos indígenas era assimilacionista,
não respeitava o direito à diferença
cultural, as terras eram demarcadas acreditando-se
que os índios deixariam de existir. Depois
da Constituição, as terras são
demarcadas para garantir a sobrevivência física
e cultural, considerando que esses povos têm
direitos originários sobre as áreas
que habitam”, ela diz.
Ainda no dia 26, em diversas cidades
brasileiras, ocorrem atos em apoio à manutenção
da homologação da TI.
Saiba mais sobre o caso da Terra
Indígena Raposa-Serra do Sol.
O Comitê Nacional em Defesa
da Terra Indígena Raposa - Serra do Sol é
formado por:
*Fórum em Defesa dos Direitos
Indígenas (FDDI)
ABA - Associação
Brasileira de Antropologia
ANAI - Associação Nacional de Ação
Indigenista
APOINME - Articulação dos Povos Indígenas
do Nordeste, Minas Gerais e Espírito Santo
CCPY - Comissão Pró-Yanomami
CIMI - Conselho Indigenista Missionário
CIR - Conselho Indígena de Roraima
COIAB - Coordenação das Organizações
Indígenas da Amazônia Brasileira
CTI - Centro de Trabalho Indigenista
Frente Parlmentar Indígena
FOIRN - Federação das Organizações
Indígenas do Rio Negro
INESC - Instituto de Estudos Socioeconômicos
ISA - Instituto Socioambiental
OPAN - Operação Amazônia Nativa
*Fórum Nacional de Entidades de Direitos
Humanos (FNEDH)
*Via Campesina-Brasil
*Grito dos Excluídos
+ Mais
STF pode aprovar Complexo Hidrelétrico
do Juruena sem consulta aos povos indígenas
afetados
25/08/2008 - As pequenas usinas,
construídas de forma sucessiva, afetarão
as populações indígenas situadas
ao longo do rio Juruena, que corta o noroeste do
estado de Mato Grosso - ainda que nenhuma seja instalada
dentro de Terra Indígena -, causando impacto
intenso na vida dos povos e em seus recursos naturais,
como caça e pesca.
No dia 6 de junho de 2008, o presidente
do Supremo Tribunal Federal (STF), ministro Gilmar
Mendes, cassou a liminar que paralisava a construção
de cinco Pequenas Centrais Hidrelétricas
(PCHs) no Rio Juruena, em Mato Grosso. A decisão
favorece diretamente o governador Blairo Maggi,
autor do pedido de liberação das obras
e dono da empresa que pretende erguer outras quatro
usinas no mesmo rio. Na visão do Ministério
Público Federal (MPF), porém, as hidrelétricas
receberam licenças irregulares do governo
mato-grossense e, se forem erguidas, podem inviabilizar
a pesca em reservas indígenas.
Em apoio ao MPF, o Instituto Socioambiental
(ISA) ajuizou, na última sexta-feira 22/08,
uma petição na condição
de Amicus Curiae (“amigo da corte”, instituto que
permite que terceiros passem a integrar uma demanda
judicial) no Supremo Tribunal Federal (STF), para
que seja juntada ao processo que tenta impedir a
continuidade das obras do Complexo Hidrelétrico
do Juruena. Um dos argumentos do Instituto é
a necessidade de consulta prévia aos povos
indígenas afetados, como determina o art.
231 da Constituição e também
prevê a Convenção 169 da OIT,
em vigor no Brasil desde 2003.
Ao longo da Bacia do Alto Rio
Juruena se situam onze Terras Indígenas (Enenawê-Nawê,
Menku, Nambikwara, Pirineus de Souza, Tirecatinga,
Juininha, Paresi, Uirapuru, Utiariti, Erikbaktsa
e Japuíra), territórios das cinco
etnias Enawenê-Nawê, Menku, Nambikwara,
Paresi e Rikbaktsa, organizadas em cerca de 88 aldeias,
que, por sua vez, dependem diretamente dos recursos
e serviços ambientais oferecidos naturalmente
pelo rio para sua sobrevivência física
e cultural.
Em 2006, o Ministério Público
Federal instaurou procedimento administrativo (processo
nº. 1.20.000.000336/2006-28) para verificar
as circunstâncias do licenciamento ambiental
do Complexo Juruena, denominação dada
a uma seqüência de usinas hidrelétricas
e pequenas centrais hidrelétricas previstas
para serem implantadas (algumas em fase de implantação)
em pontos localizados entre as cabeceiras do rio
do mesmo nome e sua confluência com o rio
Juína, numa extensão de 287,05 Km.
Segundo a Agência Nacional
de Energia Elétrica - ANEEL, cada PCH pode,
individualmente, gerar até 30MW e ter um
reservatório de no máximo 3 Km2. Porém,
num trecho de menos de 130 quilômetros do
rio foram identificados 12 locais para a instalação
de aproveitamentos hidrelétricos, sendo 2
usinas hidrelétricas (UHEs) e 10 pequenas
centrais hidrelétricas (PCHs). Se todos fossem
instalados, vários estariam a menos de 10
km de distância um do outro. Apesar do exagero
no número de aproveitamentos previstos em
2002, a ANEEL autorizou a exploração
de 11 aproveitamentos hidrelétricos nesse
trecho, todos pelas mesmas empresas integrantes
do Consórcio Juruena, que reúne a
Maggi Energia S.A., Linear Participações
e Incorporações e MCA Energia e Barragem.
Fica claro que as usinas, mesmo que pequenas, sendo
construídas de forma sucessiva, causarão
grande impacto no local.
A legislação estadual
só exige a realização de Estudo
de Impacto Ambiental - EIA/RIMA para empreendimentos
com potencial superior a 30 MW, o que permite que
todas as centrais hidrelétricas no Estado
de Mato Grosso sejam construídas sem tais
estudos, sendo incompatível com a Constituição
Federal. Mesmo afetando principalmente as populações
humanas que dependem do rio, como os povos indígenas,a
Secretaria Estadual de Meio Ambiente do Mato Grosso
– SEMA/MT emitiu, entre agosto e dezembro de 2002,
Licença Prévia Ambiental (LP) e Licença
de Instalação (LI) para 8 desses empreendimentos
sem exigir a avaliação dos impactos
cumulativos nem um Estudo de Impacto Ambiental.
Todavia, não poderia ser outorgada licença
sem antes haver a autorização do Congresso
Nacional e a realização de consulta
prévia aos povos indígenas.
Em 2007, mesmo sem o EIA-RIMA,
a Superintendência de Infra-Estrutura, Indústria,
Mineração, Serviços e Resíduos
Sólidos renovou as Licenças de Instalação
(LI) de oito dos empreendimentos hidrelétricos.
Assim como ocorreu quando da concessão das
primeiras Licenças Prévias e de Instalação,
a SEMA renovou as licenças ambientais sem
que a área técnica da Funai se manifestasse
sobre o componente antropológico dos estudos
complementares elaborados para identificar, prevenir
e mitigar os impactos resultantes da construção
das obras do Complexo do Juruena sobre os grupos
indígenas.
E os Indios?
Em nenhum instante os índios
foram chamados a participar das discussões
sobre os empreendimentos. As conversas só
aconteceram após a liberação
da Licença Prévia e tiveram seu foco
em compensações de prováveis
impactos, sugerindo que a construção
ou não desses empreendimentos já estava
fora de questão. Mesmos estas conversas têm
sido insatisfatórias, visto que os índios
já organizaram inúmeros protestos
para serem ouvidos.
Na última decisão,
o presidente do STF sustenta que a paralisação
das obras teria criado "grave risco de lesão
à ordem, à saúde, à
segurança, à economia e à saúde
pública do Estado", além de causar
danos ao meio ambiente, alertando que "merecem
atenção os efeitos deletérios
ao próprio meio ambiente pela manutenção
de grande área desmatada e cavada, podendo
até mesmo assorear o próprio rio".
Para o ministro, o argumento do MPF – de que o projeto
dependeria de autorização do Congresso,
já que o rio tem forte influências
em Terras Indígenas já demarcadas
– não é merecedor de atenção:
"As pequenas centrais hidrelétricas
não serão instaladas em áreas
indígenas, mas em suas adjacências”,
conclui.
Em abril 2008, entretanto, o Ministério
Público Federal (MPF) em Mato Grosso conseguiu,
no Tribunal Regional Federal, uma determinação
para suspender as licenças de instalação
de cinco empreendimentos do complexo hidrelétrico
Juruena. Ao determinar a paralisação
das obras em 24 de abril de 2008, a Desembargadora
Selene Maria de Almeida, do Tribunal Regional Federal
da 1º Região (TRF-1), afirmou que a
construção das PCHs acarretaria "uma
série de graves riscos para a sustentabilidade"
das aldeias e induziria uma das etnias da região
ao que chamou de genocídio cultural: "Parece
que mais uma vez se cumpre o processo histórico
de ações lesivas ao meio ambiente
e às populações indígenas",
escreveu a desembargadora.
Com a apresentação
da petição, o ISA espera ajudar para
que o processo de licenciamento do Complexo do Juruena
garanta o cumprimento dos direitos dos povos indígenas,
de forma que os impactos ambientais cumulativos
dos barramentos realizados pelas PCHs entrem, definitivamente,
para as análises de impactos provocados por
este tipo de empreendimento.
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Mosaico de áreas protegidas
do Baixo Rio Negro envolve comunidades tradicionais
em sua construção
25/08/2008 - A I Oficina de Gestão
do Mosaico do Baixo Rio Negro, realizada nos dias
12 e 13 de agosto, visa fortalecer a gestão
conjunta e integrada das áreas protegidas
da região, de forma a criar espaços
democráticos de colaboração
e de diálogo entre os gestores e as populações
residentes. Vivem na região cerca de 80 comunidades,
formada por ribeirinhos e indígenas das etnias
Kambeba, Baré, Tukano, Saterê-Maue,
karapanã e Desano.
Desde 2006 diversas organizações
não-governamentais, governamentais, entidades
ligadas ao movimento social e comunidades indígenas
e ribeirinhas vem se reunindo através de
oficinas e grupos de trabalho com a finalidade de
construir o "Mosaico de Áreas Protegidas
do Baixo Rio Negro". O mosaico visa a gestão
conjunta e integrada das áreas protegidas
desta região, de forma a criar espaços
democráticos de colaboração
e de diálogo entre os gestores e destes com
as populações residentes. Tal iniciativa
teve impulso nos dias 12 e 13 de agosto com a realização
da I Oficina de Gestão do Mosaico do Baixo
Rio Negro.
Segundo Rafael Illenseer, gestor
técnico do projeto “Mosaico” do Instituto
de Pesquisas Ecológicas (IPÊ), “a estratégia
de gestão através de mosaicos é
um instrumento para tratar de conflitos que surgem
em razão do distanciamento de gestão
das áreas protegidas entre si e destas com
as comunidades rurais e urbanas no baixo rio Negro”.
O Snuc (Sistema Nacional de Unidades
de Conservação) afirma, em seu artigo
26, que quando houver um conjunto de unidades de
conservação (UC) de categorias diferentes
ou não, em proximidade, justapostas ou sobrepostas,
é interessante a criação de
um mosaico, com gestão integrada e participativa,
de forma a considerar a conservação
da biodiversidade, a valorização da
diversidade sociocultural e o desenvolvimento territorial.
As áreas de proteção
abarcadas pela iniciativa são onze (ver mapa)
e, juntas, totalizam uma área de aproximadamente
10 milhões de hectares, sendo: Reserva Extrativista
do Unini; Parque Nacional do Jaú; Parque
Estadual Rio Negro Setor Sul; Parque Estadual Rio
Negro Setor Norte; APA Margem Direita do Rio Negro;
APA Margem Esquerda do Rio Negro; Estação
Ecológica de Anavilhana; Reserva de Desenvolvimento
Sustentável do Tup; APA M.E Tarumã
Açu-Tarumã Mirim. Os índios
Waimiri-Atroari também demonstram interesse
em participar das discussões.
O mosaico é uma área
com importante biodiversidade e sociodiversidade.
Vivem na região cerca de 80 comunidades,
formada por ribeirinhos e indígenas das etnias
Kambeba, Baré, Tukano, Saterê-Maue,
karapanã e Desano. Estas vivem principalmente
da agricultura e do extrativismo florestal, principalmente
madeireiro, e buscam se envolver em atividades ligadas
ao turismo e venda de artesanato.
O histórico da criação
das UCs no Baixo Rio Negro é carregado de
conflitos. Segundo Marina Fonseca, pesquisadora
do Instituto Socioambiental (ISA), “as discussões
a cerca do Mosaico de Áreas Protegidas do
baixo rio Negro são de grande relevância,
uma vez que muitas UCs foram criadas nesta região
sem que nenhuma consulta fosse realizada às
comunidades locais, gerando conflitos expressivos
de uso e ocupação do território.”
Estas questões estarão sendo abordadas
e devem ser superadas no decorrer dos trabalhos
de criação do Mosaico no baixo.
A I Oficina do Mosaico de Áreas
Protegidas do Baixo Rio Negro
O evento foi realizado em Manaus
pelo IPE, com parceria do Instituto Chico Mendes
(ICMBio), da Secretaria Estadual de Desenvolvimento
Sustentável (SDS/CEUC), da Secretaria Municipal
de Meio Ambiente de Manaus (Semma),GTZ, Projeto
Corredores Ecológicos, WWF-Brasil, FVA e
prefeitura de Novo Airão, recebendo apoio
do Fundo Nacional de Meio Ambiente (Fnma). O evento
contou com a participação de representantes
de inúmeras comunidades e organizações
sociais entre as quais cita-se: Fudação
Almerinda Malaquias/Novarte (FAM), Conselho Nacional
dos Seringueiros (CNS), Associação
dos Moradores Remanescentes de Quilombo da Comunidade
do Tambor (AMRQ - Tambor), assim como instituições
como o Programa Waimiri-Atroari (PWA) e o Instituto
Socioambiental (ISA). A Oficina objetivou integrar
instituições envolvidas na gestão
de UC´s do Baixo Rio Negro, comunidades rurais
e organizações da sociedade civil
na construção do Mosaico.
Durante as palestras e debates
do primeiro dia, foram abordadas temáticas
afim de construir a identidade conceitual e territorial
do mosaico. Houve explanações e debates
acerca do histórico do processo e a gestão
em mosaico. Posteriormente o status de cada UC presente
no Baixo Rio Negro foi apresentada, assim como algumas
experiências de territórios indígenas,
ribeirinhos e quilombolas. Além do debate,
aconteceu intercâmbio com o mosaico do Amapá
e do Grande Sertão Veredas. O “Programa de
Cooperação Brasil-França na
Gestão de Áreas Protegidas”, apresentado
por Caroline Delelis, trouxe as experiências
francesas de desenvolvimento territorial e marcou
positivamente com a cooperação com
a região do Mosaico.
No segundo dia do evento foram
elaborados diretrizes e planos de ação
da gestão compartilhada do território
protegido. O enfoque neste dia foram os grupos de
trabalho. Ao final averiguou-se os temas chaves
para serem trabalhados no plano de ação
do mosaico, dentre estes o que esteve presente em
todos os grupos foi “uso de recursos naturais e
alternativas econômicas”, seguido por “educação
ambiental e organização social” e
“turismo e visitação educativa”.
A oficina foi um grande passo
para a implementação do mosaico. Até
o reconhecimento oficial do Ministério do
Meio Ambiente (MMA) estão traçadas
metas como a construção e capacitação
do conselho consultivo, elaboração
da portaria e do plano de desenvolvimento territorial
do mosaico.
O mosaico está sendo impulsionado
através do projeto “Mosaicos de Áreas
Protegidas do Baixo Rio Negro”, desenvolvido pelo
Instituto de Pesquisas Ecológicas (IPÊ)
com apoio do Fundo Nacional do Meio Ambiente (Fnma)
através do Edital 01/2005.
Por Thiago Mota Cardoso, do IPÊ
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Icco promove a visita de estudantes
holandeses a iniciativas socioambientais na Bacia
do Xingu
27/08/2008 - Sete estudantes da
Holanda e representantes da Organização
Intereclesiástica para o Desenvolvimento
(Icco) estiveram na região da Bacia do Xingu,
de 13 a 19 de agosto. Os estudantes holandeses fazem
parte de um programa da Icco, que trata do tema
mudanças climáticas, denominado Fair
Climate.
Iniciativas socioambientais em
assentamentos e pequenas propriedades rurais, a
realidade de uma aldeia indígena, uma fazenda
produtora de soja e muitos quilômetros de
estrada de chão batido estiveram no roteiro
da visita de sete estudantes da Holanda e representantes
da Organização Intereclesiástica
para o Desenvolvimento (Icco) à região
da Bacia do Xingu, de 13 a 19 de agosto.
Os estudantes holandeses fazem
parte de um programa da Icco que trata do tema mudanças
climáticas, denominado Fair Climate. Por
esse motivo, eles são chamados “embaixadores
do clima” e têm a missão de disseminar
os conhecimentos que foram apreendidos durante a
visita para as escolas, universidades, famílias
e igrejas de seu país de origem. A Icco,
sediada em Utrecht, na Holanda, é uma das
instituições apoiadoras da Campanha
Y Ikatu Xingu e parceira do Instituto Socioambiental
(ISA).
Antes de irem a Canarana, os holandeses
estiveram em Brasília, onde conversaram com
Mercedes Bustamante, especialista em biodiversidade
do Cerrado e professora do Instituto de Ciências
Biológicas da Universidade de Brasília
(UnB), e Carlos Gurgel, do Laboratório de
Gaseificação de Biomassa, também
da UnB. Ainda em Brasília visitaram o escritório
do ISA, o Museu Juscelino Kubitscheck e o Memorial
dos Povos Indígenas, onde foram recebidos
por Marcos Terena.
Em Canarana, os estudantes conheceram
a casa de sementes e o viveiro de mudas - construído
pelo ISA em parceria com a prefeitura - e também
a fazenda de Terezinha Goldoni, no Garapu, onde
há experimentos com agrofloresta, plantio
de mudas e de sementes de forma manual e mecanizada.
Eles também tiveram uma reunião com
Eliane Felten, secretária de agricultura
do município, e receberam informações
sobre o processo de colonização e
a estrutura fundiária da região. No
município de Querência, aconteceram
visitas à Escola Família Agrícola
(Emfaque), à aldeia Ngôjwêre,
ao Projeto de Assentamento (PA) Brasil Novo e à
Fazenda Tanguro. Diferentes realidades para contextualizar
a situação do desmatamento no Mato
Grosso, e apresentar algumas soluções
criadas para minimizar esse problema. Toda a visita
foi acompanhada por Luciano Eichholz, engenheiro
florestal e técnico do ISA.
No escritório do ISA, em
Canarana, os estudantes conheceram os princípios
que norteiam a Campanha Y Ikatu Xingu, antes de
irem a campo presenciar a realidade dos projetos
e das iniciativas apoiados pela campanha. Rodrigo
Junqueira, coordenador adjunto do Programa Xingu,
falou, entre outros assuntos, sobre uma das estratégias
da campanha, que é o incentivo à responsabilidade
socioambiental compartilhada para a recuperação
e conservação dos recursos naturais
da Bacia do Xingu. Ele expôs a necessidade
dessa responsabilidade ser dividida entre os índios,
as ONGs, os pesquisadores, os ruralistas, os agricultores
familiares e o poder público. Durante sua
palestra, Junqueira falou sobre a legislação
ambiental brasileira e os principais conflitos que
envolvem a questão da adequação
ambiental das propriedades rurais.
Na quinta-feira, dia 14, o grupo
seguiu para o município de Querência,
onde visitou a Emfaque e foi recebido pela diretora
Lenir Tieker e professores. A Emfaque trabalha com
seus alunos - a maioria filhos de pequenos agricultores
familiares - a “pedagogia da alternância”.
Eles passam 15 dias na escola e 15 dias em casa
praticando aquilo que aprenderam em sala de aula.
“Esse sistema é uma solução
para nossa região, onde os assentamentos
estão distantes das escolas e os alunos perdem
muito tempo dentro do ônibus”, explicou Tieker
aos holandeses. Com o incentivo da Campanha Y Ikatu
Xingu, a escola realiza experimentos com agrofloresta
e recuperação de Áreas de Preservação
Permanente (APPs). Os estudantes da Holanda ficaram
entusiasmados com uma informação dada
pela diretora da escola: as crianças que
freqüentam a Emfaque já conseguem motivar
os pais a não cortarem as árvores
das suas propriedades e plantarem espécies
nativas.
Primeiro contato
Nesse mesmo dia, os visitantes
seguiram viagem para a aldeia Ngôjwêre,
localizada na Terra Indígena Wawi, área
próxima ao Parque Indígena do Xingu,
onde foram recebidos pelos índios Kisêdjê.
No dia 15, uma reunião com as lideranças
da aldeia ofereceu a oportunidade para os estudantes
ouvirem o que os índios têm a dizer
a respeito das mudanças observadas na natureza.
“Eu nasci aqui. Quando eu era novo eu não
via nada desmatado, tudo era floresta. Agora a mata
está só ali na beirinha do rio. Eu
vi os brancos chegarem, invadirem essas terras,
montarem as fazendas e destruírem tudo. A
chuva não cai mais na época certa.
A queimada deixa a temperatura mais quente e por
isso nossas roças são prejudicadas
e nossa alimentação está ficando
fraca. Dizem que os índios também
acabam com as matas e queimam tudo. Mas a gente
não faz isso e sempre buscamos preservar
a mata e, por isso, onde a gente está continua
existindo a mata”, falou Tony, irmão do cacique
Kuiussi.
Os holandeses, que ouviram atentamente
as falas dos índios, contaram um pouco das
suas preocupações com relação
às alterações no clima. Disseram
que na Holanda eles não têm proximidade
com a natureza para perceber as mudanças
que ocorrem, na mesma medida com que os índios
as acompanham. Além disso, enfatizaram que
no país deles não há desmatamento
porque tudo já foi desmatado. Judith Grootscholten,
da Icco, concluiu a fala dos estudantes agradecendo
a hospitalidade dos índios e a oportunidade
de trocar idéias com eles. “É uma
experiência muito valiosa e impressionante
passar a noite na aldeia e compartilhar as refeições
com vocês”, disse Grootscholten. “Muitas pessoas
já estão conscientes dos efeitos das
mudanças climáticas e nós da
Icco pensamos que aqueles que têm atitudes
destrutivas devem pagar pelos danos que causam ao
planeta, e que esses recursos sejam revertidos para
os países subdesenvolvidos e que mais sofrem
com as mudanças climáticas”, complementou.
Agricultura Familiar
No sábado, dia 16, os holandeses
foram até o Projeto de Assentamento (PA)
Brasil Novo, também em Querência, onde
conheceram Sêo Armando Menin e suas experiências
com a Associação Agroecológica
Estrela da Paz, que têm proporcionado retornos
significativos na organização dos
pequenos agricultores, além de colher os
frutos da agrofloresta, conservando e recuperando
áreas de APPs e Reserva Legal. “Hoje a agricultura
familiar planta árvores e colhe alimentos
para si através da agrofloresta. Eliminamos
o veneno e o adubo químico, aprendemos a
usar o adubo verde”, disse Menin aos estudantes.
Ele contou que alguns associados da Estrela da Paz
passaram a se dividir em grupos nos últimos
anos para trabalhar com produtos e cultivos específicos.
Há, por exemplo, o grupo da farinheira, do
mel, da pinga, do açúcar mascavo e
da seringueira.
Em contraste com tudo o que viram
nos dias anteriores, os estudantes visitaram, no
dia 17, a Fazenda Tanguro, onde conheceram parte
da infra-estrutura da fazenda e as plantações
de soja. A bióloga Artemizia Moita acompanhou
o grupo e falou sobre o projeto de recuperação
de 27 APPs existentes na fazenda, que totalizam
622 hectares.
Depois o grupo retornou a Canarana
e foi até o Garapu conhecer a pequena fazenda
de Terezinha Goldoni. Os técnicos do ISA
Eduardo Malta, Osvaldo Luis de Sousa e Luciano Eichholz
explicaram aos estudantes alguns experimentos em
andamento na fazenda, como a agrofloresta, o plantio
com mudas e plantio direto com sementes (manual
e com máquina). O objetivo é comparar
rendimentos e custos.
A visita dos holandeses foi concluída
com um sobrevôo em algumas áreas dentro
do Parque Indígena do Xingu e no seu entorno.
Antes de retornarem ao seu país, foram até
Brasília para uma reunião com o embaixador
da Holanda no Brasil para conversarem sobre políticas
de cooperação entre os dois países
para mitigar efeitos e impactos das mudanças
climáticas. Reuniram-se ainda com Geraldo
Siqueira, chefe de gabinete da Secretaria de Mudanças
Climáticas e Qualidade Ambiental.
Raimer Rodrigues Rezende, 30 anos,
é brasileiro e mora na Holanda há
sete anos, onde faz mestrado em políticas
ambientais na Universidade de Utrecht. Foi numa
conferência sobre mudanças climáticas
em seu país, em dezembro de 2007, que ficou
sabendo da viagem que seria feita ao Brasil e resolveu
entrar para o programa Fair Climate da Icco, tornando-se
também um embaixador do clima. Ele conta
que, quando voltar à Holanda, escreverá
artigos sobre o que viu na visita à região
da Bacia do Xingu, e pretende publicá-los
em sites e revistas que têm a ver com a América
Latina. “Não basta cessar o desmatamento
e o consumo de soja. O problema está no modelo
de desenvolvimento e nos padrões de consumo
que foram exportados pelos países ricos para
todo o mundo. E agora é preciso apoiar a
difusão de modelos alternativos de desenvolvimento”.
ISA, Sara Nanni.
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Cuiabá sedia seminário
sobre impactos das mudanças climáticas
na agricultura
28/08/2008 - Quais serão
os riscos e as oportunidades que as mudanças
climáticas vão trazer para o estado
de Mato Grosso e a sua agricultura? É o que
tentarão responder os fazendeiros, empresários,
agricultores familiares, lideranças locais
e indígenas que vão se reunir com
pesquisadores e especialistas no Seminário
de Mudanças Climáticas, em Cuiabá,
entre os dias 9 e 11 de setembro.
Realizado pelo Instituto Socioambiental
- ISA e Instituto Centro de Vida - ICV, em parceria
com a Secretaria Estadual de Meio Ambiente de Mato
Grosso - Sema/MT, o seminário pretende discutir
a contribuição do Estado para as modificações
no clima e o impacto dessas mudanças na agricultura.
Voltado para atores sociais envolvidos com o agro-negócio,
setor industrial, agricultura familiar e questões
indígenas, o evento pretende gerar uma agenda
comum de trabalho para avaliar os efeitos das mudanças
no clima, propor atividades de mitigação
e oportunidades de negócios. “A agricultura
têm forte peso na economia brasileira, somos
uma potência biodiversa, mas com florestas,
ecossistemas e regimes de chuvas vulneráveis
ao aquecimento global. Se formos capazes de identificar
as vulnerabilidades e trabalhá-las, não
vamos ficar a mercê da mera contemplação
do apocalipse”, reflete Márcio Santilli,
coordenador da Iniciativa sobre Mudança Climática
do Instituto Socioambiental - ISA.
O encontro será realizado
no Hotel Fazenda Mato Grosso, onde serão
abordadas questões como: o cenário
nacional e mundial; os impactos das mudanças
climáticas na agricultura; as emissões
de metano pela pecuária e suas oportunidades;
monitoramento de emissões de carbono; alternativas
para a intensificação da produção
agropecuária; desmatamento evitado; políticas
públicas de incentivo à conservação
pela agricultura familiar; e propostas de REDD -
Redução das Emissões do Desmatamento
e da Degradação, para Mato Grosso.
O encontro vai servir para subsidiar a política
do Estado do Mato Grosso, bem como para marcar o
início da participação popular
no Fórum Estadual de Mudanças Climáticas,
a ser lançado futuramente.
“Este diálogo é
relevante por ampliar a transparência na construção
dos instrumentos de gestão ambiental compartilhada.
Será uma oportunidade única para que
os parceiros da sociedade civil organizada discutam
suas responsabilidades, avanços e metas a
serem alcançadas. Tentamos antecipar as medidas
para este cenário no estado mobilizando a
sociedade para trabalhar junto com o governo”, diz
Luiz Henrique Daldegan, secretário de Meio
Ambiente de Mato Grosso – SEMA- MT.
Para tratar destes temas com os
grupos de trabalho, o evento irá contar com
a presença de profissionais atuantes nos
cenários regional, nacional e internacional.
Estão entre eles o pesquisador Antonio Manzi,
do Instituto Nacional de Pesquisas da Amazônia
– INPA; Giampaolo Pellegrino, da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária, na unidade Embrapa
Informática Agropecuária, que vai
apresentar o estudo recentemente lançado
avaliando os impactos na agricultura; e Magda Lima,
que pesquisa na Embrapa as emissões de metano
causadas pela pecuária. “As mudanças
no clima trazem riscos econômicos para o agronegócio
em Mato Grosso, principalmente se o desmatamento
continuar. Mas também existem oportunidades
para termos desenvolvimento com valorização
da floresta. O objetivo deste seminário é
reunir atores sociais para definir estratégias
conjuntas de mitigação dos impactos
das mudanças climáticas e para aproveitar
essas oportunidades”, conclui Sérgio Guimarães,
coordenador do Instituto Centro de Vida – ICV.
Especial para jornalistas
No dia 8, noite anterior ao encontro,
o jornalista Marcelo Leite conversa com os profissionais
da imprensa local e estudantes de comunicação
sobre a abordagem dos temas relacionados às
mudanças climáticas na mídia
nacional e internacional. Doutor em Ciências
Sociais pela Unicamp, Marcelo Leite é colaborador
do caderno Mais! do jornal Folha de São Paulo,
responsável pelo blog Ciência em Dia
e autor de livros como: "Os alimentos transgênicos"
(2000), "A floresta amazônica" (2001)
e "O DNA" (2003), todos pela série
"Folha Explica".
De acordo com Marcelo Leite, a
temática das mudanças climáticas
é a pauta mais importante do jornalismo científico
e ambiental. “Se os efeitos que se projetam hoje
para os próximos 10 ou 20 anos acontecer
será o maior assunto jornalístico
de maneira geral, mas também um dos mais
difíceis de cobrir por duas razões.
Primeiro, pela parte cientifica, pois é muito
difícil prever o que vai acontecer com as
florestas, os gases e cada um dos seus efeitos no
clima. O outro ponto é o aspecto internacional
do tema. Já há 20 anos o IPCC está
elaborando tratados políticos internacionais
e os jornalistas precisam conhecer esses documentos,
ter essa noção histórica para
fazer reportagens relevantes e não ficar
reproduzindo conceitos e confundindo mais do que
explicando o que pode acontecer. A discussão
nacional é muito mal encaminhada, ainda há
falsas dicotomias como meio ambiente versus desenvolvimento”,
diz o jornalista.