28/08/2008
- “Seu” Toninho é guarda do Parque Estadual
da Cantareira há 52 anos, Leonardo pratica
“trekking” e pedaladas com os amigos, e Cezar estuda
no sexto semestre do curso de Lazer e Turismo da
Universidade de São Paulo - USP. São
três pessoas com histórias de vidas
completamente diferentes, mas com um detalhe em
comum: o amor pela natureza, que pôde ser
manifestado nesta quinta-feira (28/08), no Núcleo
Pedra Grande desse parque, onde a Secretaria Estadual
do Meio Ambiente (SMA) lançou o Programa
Trilhas de São Paulo. A iniciativa é
uma ação pioneira envolvendo 40 trilhas
localizadas em 19 unidades de conservação,
num total de mais de 200 km de percurso, para incentivar
pessoas como “seu” Toninho, Leonardo e Cezar a praticaram
o turismo na natureza.
Para despertar a vontade de percorrer
cada uma dessas áreas naturais, a Fundação
Florestal, órgão da SMA que vai implementar
o programa, criou o “Passaporte para as Trilhas
de São Paulo”. Trata-se de uma publicação,
com o formato de um passaporte, apresentando as
40 trilhas classificadas como de baixo, médio
e alto nível de dificuldade, contendo ainda
mapas dos trajetos e informações sobre
os atrativos dos parques.
Em cada página do livro,
há espaço para um carimbo atestando
que o proprietário do passaporte realizou
o percurso apresentado, fazendo jus a um brinde.
Quem completar todas as trilhas de baixo nível
de dificuldade ganhará uma garrafa “squeeze’’,
já quem fizer as de nível médio
levará para casa uma pochete com porta “squeeze“
e câmera digital, e o aventureiro que encarar
todas as de nível alto, ganhará uma
mochila. Agora, quem conseguir carimbar todas as
páginas com as 40 trilhas do passaporte,
ganhará uma camiseta com o logo e nome do
programa e a frase “Eu fiz’’. O passaporte custará
R$ 5,00 e poderá ser adquirido na própria
sede dos parques, na SMA e na Fundação
Florestal.
“Se olharmos bem, veremos que
lançamos um programa que não é
tão revolucionário, o que mostra que
estávamos atrasados na agenda do ecoturismo’’,
disse o secretário do Meio Ambiente, Xico
Graziano. No seu entender, “conseguimos dar um passo
significativo, mas que precisa ser acompanhado com
outros passos’’. Por isso, novas trilhas continuarão
sendo mapeadas para as próximas edições
do passaporte. Além disso, a SMA vai realizar
investimentos em infra-estrutura nos parques e nos
planos de manejo. Graziano também anunciou
a idéia de se mapear trilhas de longo percursso,
para os aventureiros que gostam de trilhas que duram
dois, três ou mais dias, e um passaporte para
as cavernas do Estado de São Paulo.
Para garantir a implementação
dessas propostas, Graziano assinou, durante o evento,
um acordo com o Instituto Ilhabela Sustentável
para a co-gestão da Trilha da Cachoeira do
Gato, no Município de Ilhabela, e uma parceria
com a Associação Brasileira das Empresas
de Ecoturismo e Turismo de Aventura (ABETA) para
formular em conjunto propostas de ajustes administrativos
necessários para a expansão do ecoturismo
no Estado.
Amor, desafios e oportunidades
Nascido e criado dentro do Parque
da Cantareira, “seu“ Toninho, na verdade Antônio
Cassalho, de 71 anos, ficou emociando com a iniciativa.
O guarda-parque que já “viu de tudo’’ na
unidade de conservação, de passarinhos
a onças, se disse feliz por ver as melhorias
que o parque vem recebendo e as pessoas freqüentando
cada vez mais o local que tanto ama. “É muito
bonito ver tudo arrumado, bem cuidado e as pessoas
visitando e gostando do parque. Elas vêm e
não querem ir embora’’, declarou.
Já Leonardo Barbosa, estava
feliz por outro motivo: foi o primeiro visitante
a receber um carimbo em seu passaporte. Aventureiro,
Leonardo, que já pratica turismo de aventura
há bastante tempo e criou um grupo para praticar
viagens em meio à natureza, montou um programa
para percorrer as 40 trilhas em três meses.
“Quero ser o primeiro a completar todo o passaporte’’,
afirmou.
O estudante de Lazer e Turismo
da USP, Cezar Juliano, comemorava o lançamento
do Trilhas de São Paulo por enxergar a iniciativa
da SMA como uma oportunidade para os profissionais
do turismo. “É um projeto pioneiro, um pontapé
inicial no setor de ecoturismo do Estado e do país.
Tenho certeza que esse trabalho vai abrir muitas
portas para os estudantes e profissionais desta
área’’, comemorou.
Trabalho
A idéia do Programa Trilhas
de São Paulo, que integra o Projeto Ambiental
Estratégico de Ecoturismo da SMA, nasceu
no ano passado por sugestão do próprio
secretário Xico Graziano. Desde então,
foi preciso muito trabalho para concluir o primeiro
produto do programa. Outros produtos estão
previstos: manuais de monitoramento dos impactos
da visitações e de interpretação
ambiental das trilhas, e um manual com procedimentos
para criação de trilhas em áreas
conservadas.
“No dia do pregão eletrônico,
para adquirirmos as placas das trilhas, caiu um
raio perto da Fundação Florestal e
perdemos acesso à internet e telefone. A
Diretoria Administrativa correu para uma “lan house“
para realizar a licitação. Foi o primeiro
pregão eletrônico do mundo feito em
uma lan house’’, contou José Wagner do Amaral
Neto, diretor executivo da Fundação
Florestal.
A história foi contada
para ilustrar os esforços aplicados neste
projeto. Neto ainda ressaltou que, para a efetivação
da proposta do projeto de ecoturismo da SMA, estão
sendo elaborados os planos de manejo de todas as
unidades de conservação do Estado.
Além disso, foi assinado o decreto das estradas-parque
e foi criada a gerência de Ecoturismo e Visitação
Pública da Fundação Florestal,
para acelerar a implantação do Projeto
de Ecoturismo na Mata Atlântica que, por meio
de um contrato firmado com o Banco Interamericano
de Desenvolvimento (BID), em quatro anos, investirá
US$ 15 milhões nos parques estaduais de Ilhabela,
Ilha do Cardoso, Carlos Botelho, Intervales, Caverna
do Diabo e Turístico do Alto Ribeira.
Segundo Neto, mais do que consolidar
as unidades de conservação como produtos
turísticos com capacidade de atrair visitantes,
preservando o capital socioambiental das regiões
envolvidas, este programa tem a missão fundamental
de trazer as pessoas para a conservação
ambiental. “Visitando estes parques, fazendo estas
trilhas, tendo este contato com a natureza, as pessoas
terão um incentivo para conservar o meio
ambiente. Esta é a lógica: ‘Conhecer
para Conservar’”, falou o diretor executivo da Fundação
Florestal, parafraseando o lema do Programa Trilhas
de São Paulo.
Texto: Evelyn Araripe
Foto: Pedro Calado