28 Oct
2008 - O relatório Planeta Vivo 2008, publicação
bianual da Rede WWF, mostra que, caso o modelo atual
de consumo e degradação ambiental
não seja superado, é possível
que os recursos naturais entrem em colapso a partir
de 2030, quando a demanda pelos recursos ecológicos
será o dobro do que a Terra pode oferecer.
Alguns países, como os
EUA e a China, demandam mais que sua biocapacidade
(aquilo que seus ecossistemas são capazes
de oferecer), se caracterizando como “países
devedores ecológicos”. Outros, como o Brasil,
por exemplo, são “países credores
ecológicos”, pois ainda possuem mais recursos
ecológicos do que consomem, e usualmente
“exportam” sua biocapacidade para os devedores.
“Assim como a bolha financeira
mundial gerou a crise econômica atual, o consumo
desenfreado dos recursos naturais disponíveis
no planeta pode gerar uma nova crise. Temos que
ficar atentos a isso”, alerta Denise Hamú,
secretária-geral do WWF-Brasil. “O Brasil
precisa ter consciência da importância
de conservar seus ativos ecológicos e de
engajar-se no desenvolvimento de modelos de negócios
inovadores e baseados em uma gestão sustentável
dos recursos naturais. Temos de começar agora
a enfrentar o desafio de gerenciar responsavelmente
o capital natural e, ao mesmo tempo, aumentar a
qualidade de vida dos cidadãos.”
Esta é a sétima
edição do estudo, que traz dois indicadores
da saúde da Terra. Um deles é o Índice
Planeta Vivo, que reflete o estado dos ecossistemas
do planeta. Baseado nas populações
mundiais de 1.686 espécies de vertebrados,
como peixes, aves, répteis e mamíferos,
esse indicador apresentou uma redução
de quase 30% em apenas 35 anos.
Em algumas áreas temperadas,
não houve redução nas populações.
Em compensação, a redução
de 60% na região tropical mostra a urgência
de conservarmos os ecossistemas e seus serviços
ecológicos.
O outro índice medido no
relatório Planeta Vivo é a Pegada
Ecológica, que evidencia a extensão
e o tipo de demanda humana por recursos naturais
e sua pressão sobre os ecossistemas. A média
individual mundial é de 2,7 hectares globais
por ano.
O índice recomendado no
relatório para que a biocapacidade do planeta
seja suficiente para garantir uma vida sustentável
seria de 2,1 ha/ano por pessoa. No entanto, a média
brasileira por pessoa já supera este patamar
e está atualmente em 2,4 ha/ano.
“Para diminuir a Pegada Ecológica
do País é importante que os consumidores
adotem uma postura consciente ao realizar suas compras.
Também é fundamental
que as empresas façam sua parte, pensando
em processos de produção, embalagem
e distribuição menos impactantes.
Já os governos precisam prover infra-estrutura,
estabelecer marcos regulatórios e incentivos
para tornar viáveis ações sustentáveis”,
exemplifica Irineu Tamaio, coordenador do programa
de Educação para Sociedades Sustentáveis
do WWF-Brasil.
Segundo Irineu Tamaio, os astronômicos
níveis de consumo atuais em algumas sociedades
só são possíveis porque há
pessoas consumindo menos que o necessário
para ter uma vida digna em outras. Os países
com mais de um milhão de habitantes que tiveram
maior Pegada Ecológica foram os Emirados
Árabes Unidos, os EUA, o Kuwait, a Dinamarca
e a Austrália.
Segundo o relatório, o
Brasil ocupa o 58º lugar em termos de consumo
entre os países com mais de um milhão
de habitantes. Impedir o crescimento da Pegada Ecológica
e principalmente estabelecer uma padrão consistente
de redução dela é uma lição
de casa para a sociedade brasileira.
O crescente desmatamento de florestas
no Brasil e perda da biodiversidade exemplificam
bem os riscos de aumento da Pegada em conseqüência
de um modelo de desenvolvimento econômico
tradicional.
É preciso zerar o desmatamento
na Amazônia e utilizar de forma sustentável
a floresta, melhorando a qualidade de vida das populações
locais. Nesse contexto são diversas as estratégias
a serem adotadas, como critérios socioambientais
na produção agropecuária, melhor
produtividade em áreas de uso extensivo,
exploração manejada dos recursos florestais
e criação e implementação
de áreas protegidas, além de outras
medidas.
Esse momento de crise mundial
é uma oportunidade de atuar decisivamente
nos três fatores responsáveis pela
expansão da Pegada Ecológica: crescimento
populacional, consumo per capita e intensidade e
forma de uso dos recursos naturais.
As soluções para
conter uma possível crise ambiental são
diversas e muitas se complementam. Ente elas estão
a diversificação da matriz elétrica,
já proposta pelo WWF-Brasil no estudo Agenda
Elétrica Sustentável 2020, e o aumento
dos investimentos em infra-estrutura sustentável,
como a criação de modelos habitacionais
baseados em um melhor uso de água, energia
e solo.
Outra estratégia fundamental
é incentivar os meios de transportes coletivos,
tornando-os mais eficientes, menos poluentes e mais
confortáveis, além de promover a conservação
de áreas verdes em grandes centros urbanos.
“Não é mais possível
ignorar os recursos naturais nos modelos de negócio
praticados nas diferentes atividades econômicas.
O capital natural é tão importante
quanto o financeiro, o humano e o material envolvidos
na produção de qualquer bem. Enquanto
o custo de preservá-lo adequadamente não
estiver incluído no preço dos produtos,
estaremos caminhando rapidamente para exaurir o
nosso crédito ecológico”, conclui
Carlos Alberto de Mattos Scaramuzza, superintendente
de Conservação de Programas Temáticos
do WWF-Brasil.
+ Mais
Marina Silva homenageada com a
Medalha Duque de Edimburgo
28 Oct 2008 - A ex-ministra do
Meio Ambiente, senadora Marina Silva, foi homenageada,
hoje, pelo Príncipe Philip, com a Medalha
Duque de Edimburgo, no Palácio de Saint James,
em Londres.
O Príncipe Philip da Inglaterra
entregou, hoje (28/10), em Londres, a Medalha Duque
de Edimburgo de Conservação à
senadora Marina Silva, em reconhecimento à
sua trajetória e sua luta em defesa da Amazônia
brasileira.
A medalha Duque de Edimburgo é
o prêmio mais importante concedido pela Rede
WWF. Concebida em 1970, como Medalha de Ouro do
WWF, a condecoração passou a levar
o nome de Duque de Edimburgo em homenagem ao Príncipe
Philip (ele é o Duque), quando de sua aposentadoria
da presidência da ONG conservacionista, em
1996.
“Com esta condecoração,
nós reconhecemos um compromisso de vida da
senadora Marina Silva para com a Amazônia
e, em particular, suas extraordinárias contribuições
para a conservação daquele bioma enquanto
Ministra do Meio Ambiente”, declarou James Leape,
diretor-geral do WWF-Internacional.
Leape destacou que, como ministra,
Marina Silva instituiu o Programa de Áreas
Protegidas da Amazônia (Arpa), em parceria
com o WWF e outras instituições. Na
opinião do dirigente do WWF, o Arpa é
o mais ambicioso programa de conservação
florestal já instituído.
“Até hoje, o ARPA já
garantiu a proteção de mais de 32
milhões de hectares, uma área quase
do tamanho da Alemanha, e tem o objetivo de proteger
60 milhões de hectares na sua segunda fase”,
observou o dirigente do WWF.
James Leape avaliou que a Senadora
conduziu uma reforma compreensível das leis
florestais brasileiras, fortaleceu as instituições
ambientais e construiu um arcabouço de incentivos
e desincentivos que contribuíram para a quase
60% de redução do desmatamento durante
sua gestão.
Na opinião da secretária-geral
do WWF-Brasil, Denise Hamú, a homenagem é
um reconhecimento a Marina Silva por seu destaque
como personalidade com visão abrangente da
conservação ambiental.
“À frente do Ministério do Meio Ambiente,
Marina Silva teve o mérito ter honrado compromissos
anteriores e avançado na discussão
da agenda ambiental e no desenvolvimento de políticas
de governo, em especial as relacionadas às
áreas protegidas na Amazônia. Sua atuação
é um reflexo de sua formação
e atuação inclusiva, e de sua visão
holística dos urgentes problemas socioambientais,”
afirmou Hamú.
Entre os vencedores anteriores
da Medalha Duque de Edimburgo, a mais prestigiada
condecoração internacional de conservação
desde 1970, estão o film maker David Attenborough
e o cientista climático da Nasa, James Hansen.
Entre os brasileiros, outro homenageado foi o Professor
Dr. Paulo Nogueira-Neto, ecólogo e referência
mundial da área ambiental brasileira, em
1997.