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CONSTITUIÇÃO GARANTE A INDÍGENAS “DIREITO INSUSCETÍVEL” A TERRA, AFIRMA MINISTRO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Dezembro de 2008

10 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Carlos Alberto Menezes Direito afirmou agora pouco durante seu voto sobre a constitucionalidade da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, em Roraima, que “não há índio sem terra”.

“A relação dos índios com o solo é fundamental. Por isso, a importância do solo para garantir seus direitos. De nada adianta reconhecer direitos sem assegurar-lhes as terras”, argumentou.

Segundo o magistrado, a definição da terra indígena leva em consideração a ocupação permanente e consistente da área, além de fatores econômicos, ecológicos, culturais e demográficos.

O ministro afirmou que a alegação de que a demarcação da área viola direitos particulares – devido a alguns agricultores terem posse de áreas na região antes da definição da reserva – não se sustenta, pois a Constituição garantiu “direito insuscetível” dos indígenas a terra.

O ministro também rebateu alegações de que nem todos os grupos interessados na área puderam participar da discussão sobre o processo de demarcação.

“Não enxergo qualquer vício do procedimento demarcatório”, afirmou ao contestar a alegação de que o governo de Roraima não participou da análise para definição da reserva.

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Índios da Raposa Serra do Sol dançam enquanto acompanham julgamento no STF

10 de Dezembro de 2008 - Marco Antônio Soalheiro - Enviado Especial - Vila Surumu (Terra Indígena Raposa Serra do Sol), RR - Após passarem toda a manhã praticamente parados, índios ligados ao Conselho Indígena de Roraima (CIR), reunidos na Vila Surumu, iniciaram apresentações de danças típicas na quadra da comunidade do Barro. Pelos dois únicos telefones públicos existentes no local, as lideranças recebem notícias do andamento do julgamento no Supremo Tribunal Federal (STF) sobre a constitucionalidade da demarcação da reserva em faixa contínua.

O já anunciado pedido de vista do ministro Marco Aurélio de Mello foi recebido com naturalidade pelos líderes indígenas. Segundo eles, o mais importante é estarem em vantagem até o momento - quatro ministros já votaram pela manutenção da demarcação em área contínua.

“Se for definido em área contínua está bem. Pode levar tempo, mas nós somos desta terra e aqui vamos ficar”, afirmou Martinho Macuxi, um dos coordenadores da mobilização na Vila Surumu.

Ele justificou não ter sido possível reunir mais de mil pessoas na comunidade, como tinha sido prometido pela direção do CIR, pelo fato de os caminhões da comunidade estarem quebrados.

O clima de animosidade previsto por autoridades políticas, produtores de arroz e líderes indígenas não se confirmou até o momento. Segundo agentes da Polícia Federal, que há mais de um mês patrulham a vila, os índios favoráveis e contrários à presença dos arrozeiros na reserva convivem pacificamente.

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Menezes Direito vota pela demarcação contínua de Raposa, com 18 ressalvas

10 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - O ministro do Supremo Tribunal Federal Carlos Alberto Menezes Direito votou pela manutenção da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, mas com 18 ressalvas para garantir o que chamou de “conciliação” entre os interesses indígenas, de defesa nacional e de preservação do meio ambiente.

O ministro afirmou que o “usufruto da riqueza do solo pode ser suplantado pelo interesse público da União”, ao recomendar a proibição de exploração dos recursos hídricos e do potencial energético pelos indígenas no interior da reserva. O garimpo, a faiscação, a pesquisa e lavra de recursos naturais também deverão ser vedados, na avaliação do ministro.

Para ele, a instalação de bases militares, por se tratar de área de fronteira, e o acesso da Polícia Federal e do Exército sem necessidade de autorização da Fundação Nacional do Índio (Funai) à área também devem ser garantidos.

Menezes Direito também condiciona a manutenção da demarcação contínua à garantia de acesso de visitantes e pesquisadores ao Parque Nacional do Monte Roraima, dentro da reserva. A administração da unidade de conservação deverá ficar sob a responsabilidade do Instituto Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade (ICMBio).

O ministro votou pela proibição de atividades de caça, pesca, coleta de frutos ou qualquer atividade agropecuária por pessoas estranhas. Essa restrição atinge diretamente os grandes produtores de arroz que ocupam a área atualmente. Menezes Direito acrescentou que “é vedada a ampliação da terra indígena já demarcada”.

Em seu voto, o magistrado defendeu aperfeiçoamento do processo de demarcação de terras indígenas conduzido pela Funai, com participação dos estados envolvidos no processo demarcatório e consulta a equipes multidisciplinares.

Após o voto de Menezes Direito, o ministro Marco Aurélio Melo adiantou que vai pedir vista do processo, ou seja, requerer mais tempo para analisar o caso antes de declarar seu voto. A sessão está suspensa para almoço e será retomada às 14h. O presidente do SFT, ministro Gilmar Mendes decidirá se acata o pedido de vista imediatamente ou se os outros ministros poderão declarar seus votos ainda na tarde de hoje (10).

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Marco Aurélio critica manutenção de julgamento depois de pedido de vista

10 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - O ministro do Supremo Tribunal Federal (STF) Marco Aurélio Mello, que adiantou pedido de vista do processo sobre a constitucionalidade da demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol, no julgamento de hoje (10), criticou a possibilidade de votação de outros ministros ainda nesta tarde.

“Se eu fosse um deles, aguardaria o voto de um colega que pediu vista. Não é uma matéria para se decidir sem uma reflexão maior”, ponderou.

A sessão foi suspensa para almoço e será retomada às 14h para que fique estabelecido se o pedido de vista antecipado será acatado de imediato ou se os seis ministros anteriores votam e o julgamento é interrompido apenas no momento em que Marco Aurélio for chamado.

Marco Aurélio argumentou que a decisão do Tribunal sobre a Raposa vai influenciar outras decisões sobre terras indígenas e por isso não pode ser tomada de forma apressada.

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Ayres Britto pede cassação da liminar que suspendeu operação para retirada de arrozeiros

10 de Dezembro de 2008 - Luana Lourenço - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Diante do placar, que já garante maioria dos votos em favor da demarcação contínua da reserva, o ministro relator Carlos Ayres Britto pediu a cassação da liminar que, em abril, suspendeu a Operação Upatakon 3, da Polícia Federal, desencadeada para retirar os arrozeiros da terra indígena.

“A partir da nossa decisão, o Brasil vai se olhar no espelho da história e não vai mais corar de vergonha. Vai resgatar sua dignidade, tratando os índios brasileiros como nossos irmãos queridos”, comentou.

Britto lembrou ainda a Declaração Universal dos Direitos Humanos, que completa 60 anos hoje (10), e disse que a importância da decisão do Supremo Tribunal Federal (STF) em favor da manutenção da reserva é comparável ao texto pela “democracia e o mais apurado humanismo”.

“Como disse Einstein, é muito mais fácil desintegrar um átomo do que desfazer um preconceito; nós aqui estamos desfazendo um preconceito multisecular”.

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Índios podem recorrer a cortes internacionais se STF anular demarcação contínua da Raposa

10 de Dezembro de 2008 - Amanda Cieglinski - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Os índios que defendem a demarcação contínua da Terra Indígena Raposa Serra do Sol (RR) podem recorrer a cortes internacionais se o Supremo Tribunal Federal (STF) decidir que produtores rurais podem permanecer na região. A afirmação é do líder indígena Edinaldo Macuxi, que está em Brasília para acompanhar o julgamento, no STF, de ação que contesta a demarcação da reserva em área contínua.

A análise foi iniciada em 27 de agosto deste ano e suspensa por um pedido de vista do ministro Carlos Alberto Menezes Direito, após o relator, Carlos Ayres Britto, ter votado pela manutenção da demarcação contínua, com a saída de todos os não-índios da reserva.

“Hoje, dia em que a Declaração Universal dos Direitos Humanos completa 60 anos, a gente espera que seja cumprido o que está na Constituição. Estamos otimistas, mas se isso acontecer [o Supremo anular a demrcação contínua], o que está escrito na nossa Constituição deixa de ter validade.”

A advogada dos povos indígenas da Raposa Serra do Sol, Joênia Batista de Carvalho, da etnia Wapichana, disse esperar que os demais ministros do Supremo acompanhem o voto do relator.

O presidente da Fundação Nacional do Índio (Funai), Márcio Meira, também assiste ao julgamento e afirmou estar confiante em uma decisão favorável aos índios.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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