Desmatamento
- 09/01/2009 - Calcular a biomassa presente em uma
floresta é fundamental para estimar a quantidade
de carbono que seria emitida em caso de queimada
e, consequentemente, para fazer avaliações
ambientais e atribuir valor à floresta em
pé.
Mas, de acordo com um estudo realizado
por pesquisadores do Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT), as equações
utilizadas para esses cálculos têm
distorcido os dados na região do arco do
desmatamento na Floresta Amazônica, superestimando
sua biomassa.
Coordenado por Philip Martin Fearnside,
o trabalho foi realizado por Euler Melo Nogueira,
Bruce Walker Nelson, Reinaldo Imbrozio Barbosa e
Edwin Willem Hermanus Keizer. Os resultados foram
publicados em setembro último na revista
Forest Ecology and Management. O artigo está
entre os mais consultados da publicação
desde então.
Os dados mostram que a emissão
de gases de efeito estufa proveniente da queima
de biomassa florestal na Amazônia é
bem inferior ao que se pensava. A estimativa de
biomassa é feita com o auxílio de
um modelo alométrico: uma equação
matemática que relaciona algumas variáveis
das árvores, como o diâmetro e a altura,
com a biomassa.
Mas essas equações,
feitas com base nas características da floresta
densa, não funcionam bem, segundo Fearnside,
quando aplicadas à floresta aberta do arco
do desmatamento – que corresponde a um terço
da Amazônia e gera 80% das emissões
por desmatamento.
As novas equações
alométricas criadas pelos pesquisadores,
mais adequadas à realidade da floresta aberta,
indicam que a floresta emite anualmente 24 milhões
de toneladas de carbono a menos do que se imaginava.
Fearnside explica que o problema
dos cálculos feitos até agora é
que eles se baseiam na extrapolação
de dados obtidos exclusivamente na Amazônia
central. Até hoje, todos os dados são
das regiões de Manaus, Belém e de
áreas de florestas densas perto do rio Amazonas.
Mas no arco de desmatamento o que existe é
um outro grupo de florestas, a floresta aberta.
Para ele dados como a densidade
de madeira, forma e altura das árvores são
importantes de serem levados em consideração.
Na falta deles, para calcular a biomassa no arco
do desmatamento eram usadas equações
com base nas áreas da Amazônia central.
O inventário brasileiro sobre as emissões
de carbono, por exemplo, utilizou equações
que foram feitas em Manaus, para florestas densas,
e aplicou ao arco do desmatamento.
Na opinião do pesquisador
isso extrapola os resultados. "Foi uma coisa
que descobrimos em pesquisas anteriores: as árvores
de lá são mais leves do que as da
Amazônia central. A madeira é menos
densa e, portanto, tem menos biomassa". Assim,
os cálculos feitos até agora estavam
superestimados, segundo Fearnside.
"O procedimento normal para
as estimativas de biomassa começa ao se medir
as árvores grandes de diversas parcelas de
floresta. Com a equação alométrica,
essas medidas são convertidas em volume de
madeira. Para calcular a biomassa, multiplica-se
o volume pela densidade. A partir daí se
pode calcular a quantidade de carbono da floresta
para estimar qual será a quantidade de emissões
em caso de desmatamento. Mas, se a madeira é
mais leve, com o mesmo volume de madeira temos menos
biomassa e menos emissões".
O pesquisador diz que foi em pesquisas
realizadas em 1997 que se descobriu que as árvores
da floresta aberta são mais leves do que
as da Amazônia central. "Na oportunidade
mostrávamos que as espécies mais leves
apareciam com mais frequência no arco do desmatamento.
O que descobrimos agora é que as árvores
da mesma espécie também são
mais leves por lá. Além disso, o teor
de água na madeira é maior do que
na área de floresta densa. Quando a madeira
é mais leve, ela contém mais água.
Então, quando se multiplicavam os valores
por uma constante, para extrair o peso certo, sempre
se usavam dados da área de Manaus. Além
disso, observamos que as árvores de diâmetro
semelhante nas duas regiões são mais
curtas na área de floresta aberta. Tudo isso
contribuiu para um grande exagero nas estimativas
de biomassa", explica Fearnside.
O pesquisador do Inpa diz que
cada um dos fatores mencionados acrescenta uma redução
de biomassa e, quando se soma tudo, a diferença
é gritante. "No caso do desmatamento
de 2004, por exemplo, quando houve um pico de desmatamento
de 27,4 mil quilômetros quadrados desmatados
em um ano, a diferença de cálculo
é de 24 milhões de toneladas de carbono.
E é preciso lembrar que a parte mais considerável
dessa devastação se deu no arco do
desmatamento e, portanto, essa diferença
se aplica".
Desta forma Fearnside garante
que os cálculos feitos até agora estavam
errados. Para ele, houve um exagero considerável:
24 milhões de toneladas de carbono em um
ano equivalem ao triplo das emissões na cidade
de São Paulo. "É impressionante.
Mas temos que encarar isso como o processo contínuo,
normal, do melhoramento dos números da ciência",
diz.
O trabalho realizado agora pelos
cinco pesquisadores conclui que a emissão
potencial de carbono é muito menor do que
se imaginava. Mas isso não prejudica a argumentação
contra o desmatamento
"Ao contrário, os
argumentos contra o desmatamento se fortalecem,
porque os cálculos estão mais corretos.
Por acaso, os valores de emissões eram mais
baixos do que os previstos. Mas o importante é
ter certeza se os dados são ou não
confiáveis. O fato de sempre haver muita
incerteza é um dos principais argumentos
para não dar valor à floresta. O resultado
da pesquisa joga a favor da preservação.
Não tenho a menor dúvida disso",
afirma Fearnside.
Com informações de Fábio de
Castro da Agência Fapesp.
Assessoria de Comunicação do MCT