07 de
Janeiro de 2009 O potencial de países como
o Brasil para a geração de energia
por meio de fazendas eólica é gigantesco
e o custo (financeiro e ambiental) bem menor do
que o de fontes sujas como a nuclear.
São Paulo (SP), Brasil — Texto que traça
planejamento energético do país para
10 anos prioriza fontes sujas de energia, como termelétricas
a carvão e óleo diesel.
O governo brasileiro deu uma banana
para as negociações que mundo vem
fazendo para chegar a um acordo sobre novas e rígidas
metas de redução das emissões
dos gases do efeito estufa. Às vésperas
do Natal, o Ministério das Minas e Energia
abriu o Plano Decenal de Energia (2008-2017) para
consulta pública, com um texto que vai na
contramão de tudo que vem sendo discutido
até agora para a construção
de um novo acordo climático, a ser finalizado
em dezembro de 2009, na reunião da ONU sobre
clima, em Copenhangen.
Enquanto o mundo estuda meios
de reduzir drasticamente as emissões globais
dos gases do efeito estufa, o Plano Decenal de Energia
do Brasil prioriza e estimula as fontes sujas de
energia, ignora o potencial da eficiência
energética e considera a questão socioambiental
como mero entrave para o progresso do país.
Um desastre total.
O Plano Decenal prevê a
construção de 81 usinas termelétricas
no país entre 2008 e 2017. O Nordeste, por
exemplo, que conta com os melhores regimes de ventos
no Brasil, vai receber 55 novas usinas térmicas.
Enquanto o Greenpeace discute a geração
de uma Itaipu de ventos na região com o Banco
do Nordeste, governadores e a comissão de
energias renováveis do Congresso, o governo
federal promove uma energia cara e suja.
Na reunião da ONU sobre
clima realizada em Poznan, na Polônia (dezembro
de 2008), o Ministério do Meio Ambiente anunciou
com pompa e circunstância o Plano Nacional
de Mudanças Climáticas com metas de
redução de emissões. Agora,
para consumo interno, mostra a sua verdadeira face.
"Mais uma vez, o governo
mostra a esquizofrenia da sua política ambiental.
Fez barulho em Poznan com um plano de metas para
reduzir o desmatamento e as emissões, mas
no Brasil, anuncia às vésperas do
Natal um aumento de 172% nas emissões de
CO2 no setor termelétrico, um belo presente
de grego para os brasileiros”, diz Marcelo Furtado,
diretor executivo do Greenpeace.
Num primeiro momento, a expansão
de usinas termelétricas ocorre no Nordeste,
com unidades prioritariamente à base de óleo
diesel. Num segundo momento, entre 2014 e 2017,
a expansão ocorre na região sul com
uma fonte ainda mais poluente – o carvão
mineral. O IPCC aponta o ano de 2015 como ano-chave
para atingirmos o pico das emissões globais
de gases do efeito estufa. A partir deste ponto
deveremos reduzir de maneira equitativa essas emissões.
Enquanto o mundo busca converter sua matriz elétrica
suja em renovável, o Brasil toma justamente
o caminho oposto.
O planejamento energético
proposto pelo governo em seu Plano Decenal é
orientado por uma abordagem ultrapassada e que privilegia
o aumento da geração e não
a administração da demanda. Ou seja,
ignora de maneira espetacular os benefícios
da redução do consumo pelo aumento
da eficiência energética como troca
de lâmpadas incandescentes e outros equipamentos
por substitutos com menor consumo. É emblemático
o fato de que o plano, em nenhum momento, faz referência
à ‘eficiência energética’.
A referência bibliográfica
do plano deixa claro que toda a contribuição
técnica proporcionada pela sociedade civil
na discussão de uma nova matriz elétrica
para o Brasil foi ignorada.
O plano ignora, por exemplo, o
verdadeiro potencial das fontes de energia renováveis
modernas no Brasil, como solar e eólica,
e minimiza completamente o papel da biomassa e das
pequenas centrais hidrelétricas. A participação
prevista para a geração a biomassa
é de apenas 2,7% e a energia eólica,
restrita aos projetos do Proinfa, totaliza apenas
0,9% da matriz elétrica em 2017. Por outro
lado, promove novas (e desnecessárias) usinas
hidrelétricas na Amazônia, que têm
alto impacto ambiental e consumirão grandes
quantidades de recursos financeiros, que poderiam
ser melhor aproveitados para a geração
de emprego e renda no país, com fontes limpas
e sustentáveis. O potencial hidrelétrico
a ser instalado na próxima década
é estimado em 43.053 MW, dos quais apenas
341,8 MW seriam provenientes de PCHs.
O Brasil não precisa de
mais hidrelétricas na Amazônia nem
de termelétricas em qualquer parte. O estudo
[R]evolução Energética, do
Greenpeace, apresenta um cenário para o país
em que poderemos atingir uma matriz elétrica
com 88% de energias renováveis e índices
de eficiência energética de até
30%. Como não bastasse, essa matriz limpa
é bilhões de reais mais barata do
que a proposta pelo governo.
“Momentos de crise são
também momentos de oportunidade, e o governo
brasileiro deveria estar, a exemplo de outras nações,
comprometido com a solução para as
mudanças climáticas. Os novos investimentos
para o setor elétrico deveriam ser prioritariamente
feitos para promover as energias renováveis,
especialmente num país que é privilegiado
nesse tipo de fonte energética”, afirma Marcelo
Furtado.