18 de
Janeiro de 2009 - Líder histórico
da reserva extrativista Verde Para Sempre, Idalino
Nunes de Assis, Participa de protesto junto a ativistas
do Greenpeace.
Porto de Moz (PA) — Reserva Extrativista Verde Para
Sempre aguarda implementação há
quatro anos
Ativistas do Greenpeace e lideranças
comunitárias de Porto de Moz, no Pará,
inflaram hoje um boi de seis metros de altura em
uma área desmatada ilegalmente por fazendeiros
de gado dentro da reserva extrativista Verde Para
Sempre. A atividade é um protesto contra
a falta de implementação da resex,
criada há quatro anos pelo presidente Luiz
Inacio Lula da Silva. A falta de ação
do governo e o avanço da pecuária
sobre a floresta estão entre as principais
causas do desmatamento na Amazônia, maior
fonte de emissões brasileiras de gases que
provocam o aquecimento global.
Durante reunião realizada
neste final de semana, lideranças comunitárias
relataram diversos problemas sociais e ambientais
relacionados com o fato da resex só existir
no papel: o levantamento sócio-econômico
realizado em 2006 para subsidiar o plano de manejo
comunitário da unidade sequer foi divulgado.
Não há placas de sinalização
indicando os limites da reserva. A regularização
fundiária não avançou. Os créditos
do Instituto Nacional de Colonização
e Reforma Agrária (Incra) prometidos pelo
presidente do órgão em 2005 nunca
chegaram. A sede da reserva em Porto de Moz não
foi instalada, apesar de uma casa da Marinha ter
sido disponibilizada para isso. Para completar,
a exploração madeireira persiste,
as invasões de barcos pesqueiros são
constantes e funcionários do Instituto Chico
Mendes raramente visitam a unidade de conservação.
“Faltou uma grande responsabilidade
e essa responsabilidade do governo tem que ser retomada.
E com respeito. Por que quem mora aqui é
gente e merece respeito. É o apelo que eu
faço para todas as autoridades, pois o descaso
aqui é muito grande”, disse Raimundo Ribeiro
da Silva, presidente da Associação
de Moradores da Reserva Extrativista Verde Para
Sempre. “Quando o presidente Lula venceu as eleições,
ele disse que a esperança havia vencido o
medo. Aqui, o medo é que está vencendo
a esperança”, concluiu.
A reserva já teve desmatados
cerca de 30 mil hectares de sua área total
de 1,2 milhão de hectares. Nos últimos
quatro anos, a área perdeu 8.468 hectares
de floresta. Em sobrevôo recente pela região,
o Greenpeace identificou novos desmatamentos dentro
da reserva, ainda não apontados pelo sistema
Prodes, do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais
(Inpe).
“As unidades de conservação de uso
sustentável, como a resex Verde Para Sempre,
deveriam ser uma alternativa aos modelos predatórios
de desenvolvimento da região amazônica.
No entanto, sem implementação, acabam
se tornando alvo de atividades predatórias,
como a pecuária”, disse André Muggiati,
da campanha da Amazônia do Greenpeace.
Entre 11000 e 2003, o rebanho
bovino cresceu 240%, passando de 26,6 milhões
para 64 milhões de cabeças de gado.
Segundo estudo do Imazon, os estados do Mato Grosso
e Pará, juntos, concentram 60% do rebanho
bovino da Amazônia. Esta expansão vem
acompanhada de crescente pressão sobre a
floresta, gerando mais desmatamentos e perda acelerada
da biodiversidade. Segundo dados do Instituto Brasileiro
de Geografia e Estatística (IBGE), entre
1996 e 2006, a área de pastagem aumentou
em cerca de 10 milhões de hectares só
na Amazônia, o equivalente a uma área
100 vezes maior que a da cidade de Paris.
Desmatamento Zero. É agora
ou agora.
O desmatamento das florestas tropicais responde
por 20% das emissões globais de gases do
efeito estufa. No Brasil, essa conta é ainda
mais perversa: a destruição florestal
e o mau uso do solo representam 75% das emissões
nacionais, colocando o país como o quarto
maior poluidor do clima global. Zerar o desmatamento
da Amazônia até 2015 é a principal
contribuição que o Brasil pode dar
para salvar o planeta dos impactos das mudanças
climáticas.
A atividade em Porto de Moz, no
Pará, faz parte da expedição
do Greenpeace “Salvar o planeta: É agora
ou agora” para alertar a população
brasileira sobre os problemas causados pelo aquecimento
global .
O navio do Greenpeace saiu de
Manaus (AM) e segue agora para Belém (PA),
Fortaleza (CE), Recife (PE), Salvador (BA), Rio
de Janeiro (RJ) e Santos (SP) e, durante os finais
de semana, estará aberto à visitação
pública. Os visitantes serão informados,
de uma forma lúdica e interativa, sobre os
problemas causados pelas mudanças climáticas.
A entrada é gratuita. Confira as datas e
o roteiro do navio e acompanhe a expedição.