16 de
Janeiro de 2009 - Mapeamento comunitário
em parceria com o Sindicato dos Trabalhadores e
Trabalhadoras Ruarais de Santarém. As comunidades
tradicionais da Amazônia detêm um vasto
conhecimento dos espaços que ocupam.
Santarém (PA), Brasil
Comunitários de Santarém e Belterra
produzem mapa participativo baseado em imagens de
satélite e conhecimento tradicional
Um mapa inédito, com os
impactos da produção de soja na região
oeste do Pará, foi lançado nesta sexta-feira
por comunidades tradicionais de Santarém
e Belterra a bordo do Arctic Sunrise, navio do Greenpeace.
O trabalho identificou os principais pontos de desmatamento
e outros problemas associados à expansão
desordenada da soja na região, como o assoreamento
e contaminação de igarapés
por agrotóxicos, bloqueio de acessos tradicionais
da população local pelas plantações
e o desaparecimento de comunidades tradicionais.
O projeto mapeou ainda 121 comunidades
locais, algumas das quais nunca incluídas
em qualquer outro mapa. A iniciativa, apoiada pelo
Greenpeace e Projeto Saúde e Alegria (PSA),
capacitou mais de 50 lideranças de 28 diferentes
comunidades no uso de GPS e interpretação
de imagens para mapear e documentar os impactos
da expansão da soja na região, e foi
liderada pelos Sindicatos dos Trabalhadores e Trabalhadoras
Rurais (STTR) de Santarém e Belterra.
Eu vejo o mapa como uma imagem
de um microscópio porque a gente vê
nele aquilo que a gente costumava não ver,
disse um comunitário que participou do mapeamento
e que não quis ser identificado.
As comunidades tradicionais da
Amazônia detêm um vasto conhecimento
dos espaços que ocupam. Em uma região
marcada pela falta de governança, esse conhecimento
é crucial para a defesa de territórios
e dos recursos naturais.
"Ao unir conhecimento tradicional
a técnicas modernas de mapeamento, os povos
da floresta estão mais preparados para lutar
pelos seus direitos e participar da gestão
de seus próprios territórios",
disse Raquel Carvalho, da campanha da Amazônia
do Greenpeace.
"Esse tipo de iniciativa
permite que os comunitários produzam seus
próprios mapas, fazendo um contraponto importante
à inexistência desse tipo de informação
oficial ou não."
Além de fortalecer o conhecimento
tradicional, o mapa é um retrato atual dos
impactos da soja na região.
"A mitigação
destes impactos deve ser incorporada às análises
do Estudo de Impacto Ambiental (EIA/RIMA) do porto
graneleiro da Cargill, que ainda aguarda audiência
pública", disse Raquel.
De acordo com os dados da Companhia
Nacional de Abastecimento (Conab), até 2002,
o cultivo de soja no estado do Pará ocupava
cerca de dois mil hectares. No ano seguinte, após
a instalação do porto da Cargill em
Santarém, a área cultivada saltou
para 35 mil hectares. Essa expansão acelerada
da soja na região ocorreu em várias
outras áreas do bioma e foi alvo de intensa
campanha do Greenpeace, que resultou na assinatura
da Moratória da Soja, um compromisso assumido
pela Abiove (Associação Brasileira
da Indústria de Óleos Vegetais) de
não comercializar soja plantada em novos
desmatamentos a partir de agosto de 2006.
Ainda que tenha obtido resultados
positivos, a moratória se limita a conter
a abertura de novas áreas e não elimina
os demais impactos da produção do
grão dentro do bioma principalmente na
área de influência direta do porto
, nem pretende ser uma solução definitiva.
"A moratória é
a melhor estratégia para reduzir o avanço
do desmatamento sobre o bioma Amazônia pelo
menos até que os mecanismos de governança
necessários estejam implementados",
afirma Raquel Carvalho.
O avanço da fronteira agrícola
é uma das principais causas de desmatamento,
acarretando em perda de biodiversidade e recursos
naturais, deslocamento de populações
tradicionais e aquecimento global. A destruição
das florestas e mudanças no uso do solo,
principalmente na Amazônia, são responsáveis
por 75% das emissões brasileiras de gás
carbônico, colocando o país como o
quarto maior emissor de gases de efeito estufa do
mundo. A floresta amazônica é de fundamental
importância para o equilíbrio do clima
global. A manutenção da cobertura
florestal tropical pode evitar que 800 milhões
de toneladas de carbono sejam liberadas na atmosfera
por ano.
Salvar o planeta. É agora
ou agora.
O lançamento do mapa comunitário
faz parte da expedição do Greenpeace
Salvar o Planeta. É Agora ou Agora, para
alertar a população brasileira sobre
os problemas causados pelo aquecimento global e
pressionar os governos a tomarem medidas urgentes
contra os impactos das mudanças climáticas.
Para fazer a sua parte,
o Brasil deve se comprometer com metas setoriais
de redução de gases do efeito estufa,
zerando o desmatamento da Amazônia até
2015, promovendo fontes renováveis de energia
e eficiência energética e implementando
uma rede de áreas marinhas para proteger
os oceanos.