Márcia
Néri - Brasília (30/01/2009) – Se
as praias do litoral brasileiro têm a preferência
dos que apreciam o sol e o calor do verão,
outras belezas naturais despertam o interesse de
turistas que procuram recarregar as energias em
contato com a natureza. Neste caso, nada melhor
que uma caminhada pelas trilhas dos Parques Nacionais,
verdadeiros refúgios ecológicos que
guardam florestas, cânions, cavernas, cachoeiras,
variadas plantas e animais, alguns em extinção,
além de paisagens deslumbrantes.
Administrados pelo Instituto Chico
Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio), os Parques Nacionais (Parnas) estão
distribuídos de Norte a Sul do País.
Muitos deles estão abertos à visitação
e podem ser aproveitados tanto por visitantes aventureiros,
dispostos a longas caminhadas, quanto por aqueles
que querem somente passar algumas horas do dia contemplando
os tesouros naturais de cada região.
ANTIGAS CIVILIZAÇÕES
– Além da natureza exuberante, alguns parques
exibem traços histórico-culturais
de antigas civilizações. É
o caso do Parna Serra da Capivara (PNSC), no Piauí.
Por meio de trilhas abertas a visitação
e demarcadas em meio à vegetação
da caatinga, o turista tem oportunidade de conhecer
vestígios do homem pré-histórico,
que deixou em terras piauenses evidências
de sua passagem pelo local há pelo menos
50 mil anos.
Considerado um dos maiores museus
a céu aberto do planeta e declarado Patrimônio
Cultural da Humanidade pela Unesco, o Parna da Serra
da Capivara conduz o visitante a uma viagem no tempo.
Milhares de pinturas rupestres retratam aspectos
peculiares da rotina dos antigos habitantes. Os
registros, distribuídos entre os mais de
460 sítios arqueológicos cadastrados,
podem ser vistos em meio aos belos cânions,
encostas e formações rochosas esculpidas
em rocha arenítica.
A infra-estrutura do PNSC é
comparável a de parques internacionais, com
sinalização, passarelas, iluminação,
centro de visitantes e todo aparato necessário
para se conhecer bem o lugar. Na entrada da unidade
está o Boqueirão da Pedra Furada,
cartão-postal do Parna, onde há registro
de três diferentes tipos de pintura. Os mais
dispostos podem trilhar caminhos mais longos e encontrar,
além das surpresas pré-históricas,
os mais ilustres moradores do parque, como macacos,
cotias, gatos do mato e até a onça
parda.
MATA ATLÂNTICA – Mas as
opções naturais espalhadas pelo Brasil
não param por aí. Se a intenção
do turista é conhecer uma porção
remanescente da Mata Atlântica, um destino
interessante é o Parque Nacional da Serra
dos Órgãos (Parnaso), entre Petrópolis
e Teresópolis, no Estado do Rio de Janeiro.
Nessa unidade, há opções para
todos os visitantes, sejam eles montanhistas, praticantes
do trekking ou ainda os que se satisfazem com uma
caminhada leve e contemplativa pela floresta.
A inusitada e original Trilha
Suspensa é uma novidade do local. Construída
sobre um antigo aqueduto, dela é possível
a observação de um paredão
rochoso em contraste com um verdadeiro tapete verde
formado pelas copas das árvores. São
400 metros de caminhada muito leve sobre piso de
madeira e corrimão, permitindo inclusive,
o acesso a portadores de necessidades especiais.
Já os 1.100 metros da moderada
Trilha Mozart Catão levam o visitante ao
Mirante Alexandre Oliveira, de onde é possível
avistar a cidade de Teresópolis. Para aqueles
que apreciam edificações antigas,
a dica é um passeio pela Trilha da Capela,
que leva à capelinha de Nossa Senhora da
Conceição do Soberbo, patrimônio
histórico construído em 1713. Ao lado
dela, um belo poço com uma cachoeira de sete
metros convida ao banho nos dias mais quentes.
Quando o visitante é do
tipo desbravador, que topa passeios mais longos
com direito a acampamentos e pernoites em abrigos
nas montanhas, o Parna da Serra dos Órgãos
reserva belezas inesquecíveis. O chefe da
unidade, Ernesto Viveiros de Castro, lembra que
a trilha mais famosa é a Travessia Petrópolis-Teresópolis.
“Com 30 quilômetros de extensão, ela
liga as duas sedes do Parnaso pelo alto da Serra
dos Órgãos, proporcionando uma vista
panorâmica de tirar o fôlego”, diz.
Nessa travessia, o visitante pode acampar nas formações
rochosas conhecidas como Castelos do Açu
e Pedra do Sino, as únicas autorizadas para
essa finalidade, ou dormir em um dos abrigos equipados
com banheiros, lava-louças e mesas.
Há também trilhas
mais curtas para aqueles que suportam longas caminhadas,
mas não encaram os 30 quilômetros da
Petrópolis-Teresópolis. “Na Trilha
da Pedra do Sino, a recompensa após um trajeto
de 11 quilômetros é a vista da Baía
de Guanabara e da capital carioca nos dias ensolarados,
a 2,2 mil metros de altitude”, conta Castro. Na
base da pedra está localizado o Abrigo 4,
refúgio com dormitórios, banheiros,
cozinha e área de camping.
EXTREMO SUL – E como o Brasil
tem dimensões continentais, seus extremos
também revelam tesouros naturais que podem
ser desvendados pelas trilhas das unidades de conservação.
Junto à divisa de Santa Catarina e Rio Grande
do Sul, os Parques Nacionais de Aparados da Serra
e Serra Geral abrangem uma área de 27,5 mil
hectares repleta de atributos históricos-culturais
e de biodiversidade. O visitante que procura os
dois Parnas pode conhecer a exuberância de
seus cânions em seis trilhas abertas aos turistas.
Com extensões que variam
de 1,5 a 12 quilômetros, os trajetos contemplam
paredões verticais, cachoeiras, rios e matas.
Devido à instabilidade climática da
região não é permitida o pernoite
no interior dos Parnas. “As trilhas são contemplativas,
mas as do Rio do Boi e dos Cânions exigem
cuidados especiais devido ao grau de dificuldade.
Por isso, para grupos sem experiência, exigimos
a presença de guias credenciados. No caso
das trilhas que adentram os cânions, os meses
do verão são propícios para
um banho na água dos rios”, lembra Deonir
Zimmermann, chefe do Parna de Aparados da Serra.
RIQUEZA AMAZÔNICA – Para
o turista que deseja conhecer a Floresta Amazônica,
um passeio pelo Parque Nacional do Jáu, no
Amazonas, dá a perfeita dimensão da
riqueza da região. Das oito trilhas disponíveis
aos visitantes do Parna, a da Sumaúma, espécie
considerada a rainha da floresta, permite uma caminhada
leve e possibilita a contemplação
de um majestoso exemplar da árvore. “Já
a Trilha da Biodiversidade, que tem cerca de um
quilômetro de extensão, passa por dois
ecossistemas diferentes, o que possibilita a apreciação
tanto da mata de igapó quanto a de terra
firme. Assim, pode-se constatar as diferenças
de aspecto e composição das duas vegetações.
Uma experiência fantástica”, revela
Alessandro Marcuzzi, chefe do Parna Jaú.
A Amazônia apresenta ainda
um outra maravilha: o Parque Nacional de Anavilhanas,
que até o final do ano passada era uma estação
ecológica. Com a transformação
em parque, a unidade começa agora a organizar
as atividades de visitação. Anavilhanas
é o segundo maior arquipélago fluvial
do mundo, situado no rio Negro, no município
de Novo Airão, a aproximadamente 100 km de
Manaus. Por isso, suas trilhas, se é que
se pode dizer assim, não são no meio
do mato. São na água.
Suas 400 ilhas de formato alongado,
cobertas pela floresta tropical amazônica,
compõem uma intrincada rede de canais, tida
como uma das mais belas paisagens fluviais do mundo,
que podem ser percorridos em barcos pelos visitantes.
O rio Negro neste trecho apresenta uma largura de
aproximadamente 20 quilômetros e o arquipélago
alcança um comprimento de aproximadamente
60 quilômetros. Desde 2003, Anavilhanas é
considerada como Sítio do Patrimônio
Natural da Humanidade pela Unesco. Se não
PLANALTO CENTRAL – O Planalto
Central também guarda belezas raras. E as
trilhas do Parque Nacional da Chapada dos Veadeiros,
250 quilômetros ao norte de Brasília
revelam um pouco o que essa região tem de
tão especial. As duas trilhas abertas à
visitação permitem ao vistante contemplar
espécies da fauna e flora do cerrado. Uma
leva ao cânion, paredões entre os quais
passam as corredeiras do Rio Preto. A outra leva
a um imensa cachoeira, com mais de 170 metros de
altura, que forma um lago ideal para refrescantes
mergulhos. O chefe da unidade de conservação,
Daniel Borges, lembra que, de quebra, os visitantes
podem apreciar a flora e a fauna do cerrado.
Os trajetos são explorados
em um dia e o menor deles tem 9 quilômetros
de ida e volta. “Apesar da distância a ser
percorrida, as caminhadas são muito mais
de contemplação do que de aventura.
No caminho, cânions, quedas d'água
e paisagens que comprovam que o cerrado é
um bioma surpreendente, de beleza rara”, diz Daniel.
O Parque foi reconhecido como Patrimônio Natural
Mundial pela Unesco em 2001 e preserva também
áreas de antigos garimpos, como parte da
história local.
Ainda no Planalto Central, uma
outra opção é o Parque Nacional
de Brasília. Fincado no meio do coração
da capital da República, o parque, que fica
a quinze minutos do Plano Piloto, área central
da cidade, é conhecido por suas piscinas
de água mineral, que brotam do solo e oferecem
deliciosos banhos aos visitantes. A unidade têm
também pequenas trilhas que podem ser feitas
por pessoas de todas as idades. Os percursos são
curtos, não passam de dois quilômetros
de extensão, mas o pouco tempo no meio da
mata é iningualável. Principalmente
quando se tem a companhia de divertidos saguis que
se exibem em animadas acrobacias nos galhos das
árvores.
Ascom/ICMBio