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ENTIDADE USA ESTUDO QUE NÃO AVALIA RISCOS À SAÚDE PARA DEFENDER USO DO AMIANTO

Panorama Ambiental
Brasília (DF) – Brasil
Fevereiro de 2009

12 de Fevereiro de 2009 - Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Proibido pelo Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) de divulgar uma campanha em defesa do amianto, o Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC) mantém a tese de que o uso de telhas e caixas d´água de amianto não oferece risco às pessoas.

Em nota enviada à redação na última quinta-feira (6), o instituto contestava uma matéria sobre a proibição do uso de amianto em órgãos ligados ao Ministério do Meio Ambiente, publicada pela Agência Brasil. O instituto pedia um esclarecimento “à população e aos órgãos de imprensa brasileiros” de que o uso de telhas e caixas d´água de amianto não são prejudiciais à saúde humana.

No texto, o IBC afirmava não existir na literatura médica mundial nenhum registro de pessoa que tenha desenvolvido alguma doença associada ao uso de material onde o amianto tenha sido empregado.

Para reforçar a tese de que a exposição ao produto não oferece riscos, o IBC menciona um estudo desenvolvido em 2006 pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT), de São Paulo. De acordo com o IBC, o trabalho teria “concluído que as fibras de amianto permanecem amalgamadas ao cimento, não se soltando dessa matéria-prima nem sob as mais severas condições”, razão pela qual seria “necessário tranquilizar a população brasileira”.

Procurado, o IPT informou ter sido contratado pelo próprio IBC para realizar esse estudo, mas explicou que o trabalho tratou exclusivamente de aspectos técnicos referentes à forma como a fibra de amianto se “liga” ao cimento das telhas. O estudo não levou em consideração aspectos relacionados à saúde, “o que não é uma especificidade desse instituto”, garantiu a assessoria. O IPT afirmou ainda que a conclusão a respeito de aspectos relacionados à saúde humana é responsabilidade dos representantes do instituto do crisotila, e não de seus pesquisadores.

Hoje (12), por telefone, a presidente do IBC, Marina Júlia de Aquino, admitiu a existência de estudiosos que sustentam que o amianto pode provocar doenças, principalmente em quem trabalha com o produto. "O interessante é que são os [estudos] mais antigos que falam que o amianto faz mal à saúde, mas isso porque, antes, realmente, havia uma verdadeira epidemia devido ao uso inadequado. De lá para cá, as empresas aprenderam a trabalhar tomando os cuidados necessários, por saber que ele faz mal à saúde [dos trabalhadores]."

Para a auditora-fiscal do Ministério do Trabalho em São Paulo, Fernada Giannasi, o uso indevido de estudos é frequente em meio ao que ela classifica como uma “guerra de informações”. Uma das fundadoras da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina e da Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea), Fernanda acusa o IBC de impedir que a população conheça os verdadeiros riscos do amianto ao tentar isentar o produto de riscos.

“Pura manipulação. E a opinião pública fica dividida em meio a essa guerra de informações. É extremamente prejudicial para o país o poder econômico usar a máquina que tem a sua disposição para gerar dúvidas e, assim, evitar que o país tome uma decisão política.”

De acordo com a Organização Mundial de Saúde (OMS), o amianto – ou asbesto, como também é conhecida a fibra – pode causar doenças como a asbestose (doença crônica pulmonar que provoca endurecimento do órgão), câncer de pulmão e mesotelioma de pleura (membrana que reveste o pulmão), pericárdio (membrana que reveste o coração) e peritônio (membrana que recobre a cavidade abdominal).

O Ministério da Saúde alegou que ainda está levantando informações sobre o assunto e preferiu não comentar o tema até ter dados conclusivos sobre a existência ou não de eventuais riscos à saúde humana.

A gerente de segurança química do Departamento de Qualidade Ambiental do Ministério do Meio Ambiente, Taís Pitta Cota, afirmou que, apesar de o amianto permanecer preso ao cimento, o risco à saúde existe quando o material é manipulado. “O problema é que, quando uma telha com amianto se quebra ou um trabalhador a perfura, há contaminação pela dispersão [das fibras].
O amianto é comumente encontrado em telhas, caixas d´água e até em pastilhas de freio de automóveis.

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Presidente de entidade admite não haver consenso em pesquisas sobre amianto

12 de Fevereiro de 2009 - Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília - A presidente do Instituto Brasileiro de Crisotila (IBC), Marina Júlia de Aquino, reconheceu a existência de uma “guerra de informações” entre quem quer manter o uso do amianto e quem quer proibi-lo.

Por telefone, Marina admitiu que ainda não há consenso científico sobre os perigos do amianto, mas destacou que os estudos mais recentes tendem a inocentar a fibra.

“Há correntes de cientistas que realizaram estudos em uma determinada situação e têm suas conclusões [e outros que chegam à conclusão diferente]. O interessante é que são os mais antigos os que falam que o amianto faz mal à saúde. As pesquisas mais recentes concluem que, desde que usado de forma responsável, não há como ele fazer mal à saúde. Especialmente do consumidor final.”

Marina disse que o amianto não provoca mal à saúde de usuários de telhas ou caixas d´água feitos com a fibra, uma vez que o produto está “amalgamado” (ligado) ao cimento. “Falar da fibra de amianto é uma coisa. Já o produto final, é uma outra coisa. Há apenas 8% de amianto amalgamado ao cimento.”

Na semana passada, o IBC encaminhou nota à Agência Brasil afirmando não existir, na literatura médica mundial, casos de pessoas que tenham desenvolvido alguma doença associada ao amianto em razão do uso de produtos feitos com a fibra.

A gerente de segurança química do Departamento de Qualidade Ambiental do MMA, Taís Pitta Cota, disse que o risco dos produtos com amianto está ligado ao uso ou degradação do material. O IBC, por sua vez, afirma em nota publicada em seu site que “mesmo que as telhas sejam serradas, quebradas ou trituradas, elas não oferecem nenhum risco à saúde”.

A presidente do IBC admitiu ainda que o estudo realizado pelo Instituto de Pesquisas Tecnológicas (IPT) de São Paulo - citado em nota pelo órgão para sustentar que o uso do produto não oferece qualquer risco de doença - não trata de questões sanitárias.

“A conclusão final [do IPT] diz que, ao longo do tempo, submetido a condições diversas, a liberação de fibras é pouca ou nenhuma. Essa é a conclusão do IPT. Se fizemos esta inferência [de que o estudo indica que os produtos não oferecem risco], isso está realmente errado. Sabemos que o IPT não faz estudos ligados à saúde”, afirmou Marina.

Marina discordou da recomendação do Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) para que as empresas de comunicação deixem de veicular a campanha publicitária em que o IBC defendia o uso do amianto crisotila. Para ela, as propagandas não ferem o regulamento do órgão.

“Em nossa propaganda estamos falando apenas sobre os consumidores finais, aquelas pessoas que moram sobre telhas de amianto. Se existisse problemas com o consumidor final, a gente teria uma verdadeira epidemia no Brasil, porque mais de 50% dos telhados brasileiros são cobertos com telhas com amianto, um produto para a população de menor poder aquisitivo”, concluiu.

Segundo a auditora-fiscal do Trabalho em São Paulo, Fernanda Giannasi, pesquisas européias demonstram que o registro de consumidores que desenvolveram alguma doença vem crescendo. Fundadora da Rede Virtual-Cidadã pelo Banimento do Amianto na América Latina, Fernanda critica o IBC.

“Eles estão dizendo qualquer coisa, tentando fazer com que nós tenhamos que comprovar que os doentes estão assim em função da exposição, enquanto eles mesmos não conseguem comprovar a segurança dos produtos que fabricam.”

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Conar mantém proibição a veiculação de propaganda sobre amianto

12 de Fevereiro de 2009 - Alex Rodrigues - Repórter da Agência Brasil - Brasília - Dois meses depois de recomendar que os veículos de comunicação deixassem de divulgar uma campanha publicitária favorável ao uso do amianto, o Conselho Nacional de Autorregulamentação Publicitária (Conar) decidiu hoje (12) manter essa orientação.

Produzida para o Instituto Brasileiro do Crisotila (IBC), entidade que defende os interesses das empresas que produzem ou utilizam a fibra em seus produtos, a campanha Amianto Crisotila: A fibra que ajuda o Brasil a crescer foi retirada do ar, em caráter liminar, no início de dezembro.

Como o IBC recorreu da decisão liminar, o assunto foi levado à votação. Hoje (12), seguindo o voto do relator do processo, o médico Pedro Kassab, todos os conselheiros presentes à sessão votaram a favor de que a campanha não volte a ser veiculada. A assessoria do órgão ainda não divulgou cópia da decisão ou as razões técnicas para que a campanha seja suspensa. Após ser notificado, o IBC terá dez dias para recorrer.

A denúncia que motivou a abertura do processo foi feita pela Associação Brasileira dos Expostos ao Amianto (Abrea). A liminar que recomendou que as peças publicitárias deixassem de ser veiculadas foi concedida com base no entendimento de que a campanha oferecia flagrante prejuízo ou perigo para os consumidores.

A assessoria do conselho destacou que não cabe ao órgão proibir a divulgação ou fazer fiscalizações para que a campanha não seja exibida. Em casos como o que envolve o IBC, o órgão apenas recomenda aos veículos de comunicação de todo o país que não veiculem o material. Segundo a assessoria do Conar, a orientação costuma ser atendida.

Embora tenha sido aberto em novembro de 2008, quase dois meses após o lançamento da campanha, o processo julgado hoje é mais uma batalha na disputa de informações travada entre o IBC e a Abrea.

Para o presidente da Abrea, Eliezer João de Souza, a decisão do Conar é muito importante. “Principalmente por ser a terceira vez que o Conar decide, por unanimidade, manter fora do ar as propagandas. Não é possível que depois disso o Instituto Brasileiro do Crisotila volte a tentar enganar a população."

"Sabemos que isso não passa de um jogo de cena da indústria para tentar manter o seu produto no mercado. Essa nova decisão mostra a irresponsabilidade da indústria”, afirmou.

Já a presidente do IBC, Marina Júlia de Aquino, disse estar “bastante preocupada” com a decisão do conselho. “Ficamos muito decepcionados. Nossa propaganda está totalmente de acordo com o regulamento do Conar, que nós conhecemos porque somos membros. Eu acho que como já existe o estigma contra o amianto, as pessoas que analisam o assunto começam a avaliar se ele faz mal ou não, esquecendo-se de avaliar do ponto de vista do regulamento.”

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Marina diz que a entidade vai esperar receber cópia da decisão para decidir se irá ou não recorrer.

Em novembro de 2004, o Conar já havia tomado decisão idêntica à de hoje. Na ocasião, a Abrea afirmou que a campanha veiculada pelo IBC era enganosa e ofensiva ao meio ambiente e à qualidade de vida, já que daria a impressão de que o uso do amianto crisotila não ofereceria riscos à saúde humana, ao contrário do que, segundo a Abrea, indicariam os estudos científicos que associam o contato com o produto ao desenvolvimento de cânceres de pulmão.

Nas peças publicitárias daquele ano, o IBC afirmava, como continua fazendo, que o amianto atualmente empregado no Brasil, o crisotila, é diferente do tipo e da maneira como era usado até a década de 70. O instituto sustentava também que a exploração, comercialização e aplicação da fibra estavam altamente controladas, em conformidade com as mais exigentes normas da Organização Internacional do Trabalho (OIT), e gerava mais de 200 mil empregos no Brasil.

O médico oncologista Sérgio Simon, então relator do processo, defendeu a suspensão da divulgação da campanha e foi seguido pelos demais conselheiros.

 
 

Fonte: Agência Brasil - Radiobras

 
 
 
 

 

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