Para fortalecer
o sistema estadual de unidades de conservação
(UCs) do Pará, o WWF-Brasil e o governo do
estado assinaram um termo de cooperação
técnica, por meio da Secretaria de Estado
de Meio Ambiente (SEMA). A cooperação
entre SEMA e WWF-Brasil inclui apoio aos processos
de criação de UCs estaduais, às
atividades de implementação, gestão
e avaliação dessas unidades e à
gestão integrada de ecossistemas no estado.
O termo de cooperação, assinado em
fevereiro, tem vigência de cinco anos.
As unidades de conservação
cobrem cerca de 33% da área total do Pará.
As UCs federais, como parques nacionais, reservas
biológicas, reservas extrativistas e florestais
nacionais, correspondem a aproximadamente 16% do
território estadual. Já as unidades
de conservação estaduais, objeto do
termo de parceria , cobrem cerca de 17% da área
total do estado e somam 21.135.431 ha. São
19 unidades de conservação, sendo
cinco de proteção integral, como parques
estaduais e estações ecológicas,
e 14 de uso sustentável, como áreas
de proteção ambiental, reservas de
desenvolvimento sustentável e florestas estaduais.
De acordo com o termo de cooperação,
o WWF-Brasil, sob orientação da SEMA,
oferece ao governo do Pará recursos humanos,
tecnológicos e materiais para as ações
de fortalecimento do sistema estadual de UCs, com
base na experiência institucional de aprimoramento
da gestão de UCs, adquirida ao longo dos
anos de trabalho na Amazônia. As ações
visam à construção de instrumentos
de aprimoramento da implementação
das unidades estaduais. Em contrapartida, a SEMA
oferece apoio logístico e encaminhamento
às ações, a partir das informações
técnicas geradas nos trabalhos de campo.
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Gradual lança fundo de
investimentos que reverterá recursos para
a conservação da natureza
O WWF-Brasil e a Gradual Investimentos fizeram parceria
corporativa e criaram o Fundo Gradual Amazônia
Viva FI Renda Fixa, que tem como meta garantir recursos
para projetos que visam a promover a conservação
da natureza e o uso sustentável dos recursos
naturais. O fundo será lançado na
próxima quinta-feira, dia 5 de março,
a partir das 19h, no Hotel Da Vinci em Manaus.
Ao adquirir uma cota do Gradual
Amazônia Viva, além de garantir retornos
compatíveis aos seus objetivos pessoais,
o investidor colabora para conservar o meio ambiente
e garantir qualidade de vida para a presente e as
futuras gerações. Qualquer pessoa,
física ou jurídica, pode investir.
Até mesmo estrangeiros podem participar.
Os primeiros recursos doados serão
destinados à compra de equipamentos para
unidades de conservação (UCs) na Amazônia.
"Para o WWF-Brasil, as unidades
de conservação, ou áreas protegidas,
têm se mostrado um instrumento de sucesso
para a promoção do desenvolvimento
sustentável nas regiões onde são
implementadas e funcionam como importante barreira
à expansão do desmatamento e degradação
ambiental, impulsionada pela expansão da
pecuária e pela grilagem, especialmente na
Amazônia. Contribuir com implementação
de UCs significa fortalecer esses bons resultados",
declarou Denise Hamú, secretária-geral
do WWF-Brasil.
Financeiramente, o Fundo Amazônia
Viva tem como objetivo alcançar retorno próximo
aos Certificados de Depósito Interbancário
(CDI) no longo prazo, por meio de uma gestão
ativa de investimentos em renda fixa, basicamente
através de títulos do governo. O fundo
não permite alavancagem e nem operações
com Renda Variável. Além disso, não
tem taxa de performance e a taxa de administração
é de 1,20% ao ano. A aplicação
inicial, movimentação mínima
e saldo mínimo são de R$ 1.000,00.
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A ilusão dos números
04 Mar 2009 - Por André
Tavares e Karen Suassuna* - Modelagens e números
servem a diversos propósitos em nossa sociedade.
Seu uso correto permite preparar-nos para o futuro,
revela conclusões surpreendentes sobre o
mundo ao nosso redor e é essencial para o
progresso técnico da sociedade.
No entanto, quando mal usado,
um número pode ser corrompido para expressar
idéias que a ele não compete por ser
completamente livre de qualquer ideologia. É
como diz aquele velho ditado: “torture os números
e eles te dirão o que você quer”. Um
bom exemplo disso é o famoso Produto Interno
Bruto (PIB) per capita. O PIB é a soma de
todas as riquezas produzidas no país e não
inclui considerações de distribuição
de renda ou demográfica ou mesmo outros fatores
de bem-estar social ou ambiental. Em um país
onde a distribuição de renda é
o seu calcanhar de Aquiles, usar PIB per capita
para medir riqueza é um instrumento que acaba
não refletindo a realidade.
No debate sobre o setor elétrico,
ocorre semelhante distorção, já
que é frequente o uso inadequado de duas
variáveis como argumentos para justificar
diversas políticas de planejamento e expansão
do setor elétrico brasileiro. A primeira
é o consumo de kWh por habitante como única
variável capaz de medir o bem-estar advindo
do consumo de energia elétrica. Esta medida
não considera eventuais desperdícios,
que acabam aumentando os custos para os consumidores
e ainda geram impactos socioambientais desnecessários.
Isso sem nem falar nas questões distribuição,
onde o desperdício também é
grande.
O próprio Plano Nacional
de Mudanças Climáticas destaca que
o potencial atual de conservação no
país está na faixa de 32 TWh, ou seja,
quase 8% do consumo per capita de energia elétrica
no país. Otimizar o consumo não significa
redução do bem-estar. Muito pelo contrário,
pode contribuir enormemente para este fim ao reduzir
custos. Nada ilustra melhor o potencial de redução
de consumo de energia que a lâmpada fluorescente
que consome até 9 vezes menos energia que
lâmpadas convencionais, dura dez vezes mais
e oferece o mesmo bem-estar.
Além disso, comparar este
dado entre diferentes países do mundo mascara
as diferentes realidades de consumo entre os países,
realidade moldada por variáveis tão
heterogêneas quanto clima – por viver nos
trópicos, precisamos de mais eletricidade
para refrigeração, por exemplo – ou
arquitetura.
Energias alternativas
Outra deturpação ocorre com os custos
mais elevados de formas alternativas de energia
também conhecidas como energias renováveis
não-convencionais. O dado bruto de custos
por MWh compara diversas formas de geração
de energia e mostra que energia eólica, por
exemplo, pode ser mais cara que outras formas de
energias convencionais como hidrelétricas
convencionais. Entretanto, o preço final
da eletricidade gerada está diretamente relacionado
a diversas considerações políticas,
financeiras e tributárias.
Ora, se fossem tomadas medidas
adequadas como estabelecimento de uma política
industrial efetiva, isenções fiscais
ou regras de amortização diferenciadas
para a energia eólica, o preço da
energia poderia cair consideravelmente sem a necessidade
de novos avanços tecnológicos. Além
disso, o fato de o Brasil operar hoje com um sistema
de rateio por todo o sistema elétrico do
custo da transmissão de energia entre os
centros geradores e os centros consumidores, faz
com que os dados de custo por MWh mascarem o fato
de que energias produzidas em lugares mais distantes,
como por exemplo na Amazônia, são de
fato mais caras do que aquelas produzidas em lugares
mais próximos.
Complementariedade
A questão fundamental posta na mesa não
é o embate entre hidrelétricas e termelétricas,
mas sim a complementariedade entre as duas fontes.
No período do ano de menos
chuvas ou durante picos de consumo de energia, são
necessárias outras fontes para suprir as
necessidades de consumo de eletricidade. Em outras
palavras, a energia hídrica produzida pelo
país não é suficiente para
satisfazer a demanda o tempo todo. São necessárias
outras fontes que a complementam.
A visão do WWF-Brasil
O WWF-Brasil defende o uso de biomassa e de energia
eólica, não por ser um substituto
à energia hídrica, mas sim por ser
uma alternativa ambientalmente mais correta e de
farta disponibilidade em comparação
às fontes térmicas convencionais movidas
a óleo combustível, carvão
ou gás. Além disso, podem vir a ser
igualmente competitivas, visto o leque de opções
de apoio financeiro disponível ao estado.
Em setembro de 2006, o WWF-Brasil
deu importante contribuição para o
setor ao lançar o estudo Agenda Elétrica
Sustentável 2020, documento realizado por
pesquisadores da Universidade de Campinas, que resume
as principais colocações da instituição
sobre o tema mais amplo de planejamento do setor
elétrico.
No ano de sua publicação,
o estudo apontava uma possibilidade de baixar a
demanda esperada de energia em 38% até 2020,
bem como gerar 8 milhões de novos postos
de trabalho e manter um patamar de 20% de energias
renováveis não-convencionais na matriz
elétrica brasileira.
Não cabe aqui ressaltar
todas as vantagens do estudo. Basta dizer que o
país possui um enorme potencial para produção
de energias alternativas em curto, médio
e longo prazo, e este ainda não está
sendo plenamente utilizado. Medidas específicas
para as diversas energias renováveis não-convencionais
devem ser implementadas pelo governo com vista a
transformá-las de alternativas a convencionais.
Entre essas medidas, estão
leilões específicos para diferentes
tipos de energia elétrica como de biomassa
ou energia eólica, algo que já está
sendo feito pelo governo. Mas, o esforço
precisa ser ainda maior, sobretudo considerando
as necessidades urgentes em reduzir as emissões
de gases de efeito estufa da humanidade.
Em suma, em muito aumentaria o
bem-estar dos brasileiros se esta guerra de números
se transformasse no que realmente deveria ser o
foco das discussões: um debate de funções.
André Taveres e Karen Suassuna são
analistas em Mudanças Climáticas do
WWF-Brasil