Belém,
PA, 06 de março de 2009 — A revista científica
Science publicou nesta sexta-feira, 6 de março
de 2009, um estudo mostrando que a Amazônia
é mais sensível a secas do que os
cientistas imaginavam. Segue abaixo comentário
da ecóloga Sandy Andelman, co-autora do estudo
intitulado “Drought Sensitivity of the Amazon Rainforest”
(“Sensibilidade da Floresta Amazônica à
Seca”) e vice-presidente do Programa de Ecologia,
Avaliação e Monitoramento de Florestas
Tropicais (Team, na sigla em inglês), uma
iniciativa da ONG Conservação Internacional.
Confira também o release (em inglês
ou português) produzido pela Universidade
de Leeds sobre o estudo.
“Enquanto a maior parte do debate
sobre mudança climática se concentra
em segurança energética e segurança
alimentar, esse estudo enfatiza a importância
fundamental da segurança de ecossistemas
– para resumir, mostra como a natureza nos mantém
saudáveis. O estudo aponta que um clima em
aquecimento não é o único problema;
um clima mais seco pode ser igualmente ruim ou pior,
para a natureza e para as pessoas.
Mais da metade das espécies
do planeta e pelo menos dois bilhões de pessoas
dependem diretamente das florestas tropicais para
a sua sobrevivência. Ao mesmo tempo, as florestas
da bacia do Congo, na África, e a Amazônia,
na América do Sul, têm um papel vital
na regulação do clima, pois absorvem
e guardam quantidades enormes de carbono atmosférico.
Agora, o estudo revela que o clima mundial, cada
vez mais seco devido à mudança climática,
pode causar danos irreparáveis à selva
Amazônica e à sua capacidade de funcionar
como um estoque de carbono.
Além disso, os dados mostram
que é necessário um aumento exponencial
na pesquisa sobre ecossistemas tropicais. Por enquanto,
possuímos somente uma fração
minúscula da informação científica
necessária para entender e combater os efeitos
da mudança climática na região
dos trópicos.
Felizmente, começamos a
criar ferramentas para obter dados científicos
fundamentais. Por exemplo, a rede Team*, da Conservação
Internacional, é a primeira rede científica
global a produzir dados e análises sobre
as florestas tropicais, que podem ser consultados
em tempo real. Na prática, esses dados e
análises funcionam como um sistema de aviso
prévio sobre a saúde do planeta. Existe
uma necessidade urgente desse tipo de pesquisa e
estamos correndo contra o relógio para obter
os dados que precisamos para fazer alguma diferença
no nosso planeta”.
* Team – O Programa de Ecologia,
Avaliação e Monitoramento de Florestas
Tropicais (Team, na sigla em inglês) é
uma rede de estações de monitoramento
da biodiversidade, implementada em áreas
de florestas tropicais com alta diversidade biológica.
Tem por objetivo monitorar possíveis tendências
de mudanças na biodiversidade ao longo do
tempo por meio da aplicação de metodologias
padronizadas de coleta de dados. Utiliza protocolos
de pesquisa que visam obter medições
uniformes de diversas variáveis, tanto numa
escala local quanto regional, permitindo fazer comparações
diretas dos resultados entre localidades de uma
mesma região e entre regiões. A idéia
é medir e comparar diversidade de fauna e
flora em uma variedade de ambientes, desde áreas
bem preservadas até aquelas mais afetadas
por ações humanas, a fim de identificar
em tempo hábil o status da biodiversidade
e poder indicar ações eficazes de
conservação.
No Brasil o projeto vem sendo
desenvolvido na Floresta Nacional de Caxiuanã
(PA) e na Reserva Florestal Adolpho Ducke (AM) e
conta com estudos feitos no Parque Estadual do Rio
Doce (MG). Para mais informações,
acesse http://www.teamnetwork.org/en/
O estudo na íntegra pode
ser acessado no website da Science (em inglês):
http://sciencenow.sciencemag.org/cgi/content/full/2009/305/1
Rafael Guedes
Especialista em Comunicação - Programa
Amazônia, Conservação Internacional
(Brasil)
Patricia Yakabe
Coordenadora de Comunicação, Conservação
Internacional (EUA)
Sandy Andelman
Vice-presidente da rede Team, da Conservação
Internacional (EUA)
+ Mais
CI assina manifesto em defesa
do Banco dos Abrolhos
Salvador, 12 de março de
2009 — A Conservação Internacional
(CI-Brasil) assinou ontem, na capital baiana, o
Manifesto pela Proteção do Banco dos
Abrolhos e pelo Clima do Planeta, capitaneado pelo
Greenpeace e com apoio da Coalizão SOS Abrolhos,
uma rede de organizações mobilizadas
para proteger a região com a maior biodiversidade
marinha registrada no Atlântico Sul. O documento
foi entregue por ativistas à direção
da Agência Nacional de Petróleo (ANP),
que em 2003 ofertou na região de Abrolhos
um dos blocos de exploração de gás
e óleo.
Para Guilherme Dutra, diretor
do programa marinho da CI-Brasil, esta é
uma ação política importante
e que merece todo o apoio da comunidade científica.
“Sabemos que, apesar de seu reconhecido papel ecológico
e relevância econômica, a região
dos Abrolhos ainda é frágil e enfrenta
muitas dificuldades e desafios. Por isso a ação
ocorrida ontem em Salvador reúne um grande
grupo de cientistas e demais profissionais, dedicados
a pesquisas e ações socioambientais
pelo uso sustentável da biodiversidade de
Abrolhos, com o intuito de mostrar às autoridades
a séria ameaça imposta à região
representada pela exploração das reservas
de gás e óleo”, aponta. “Viemos exigir
do governo Lula o resgate da Zona de Amortecimento
(ZA) do Parque Nacional Marinho dos Abrolhos”, comenta.
Zona de Amortecimento - Criada
em maio de 2006, a ZA de Abrolhos foi suspensa pela
justiça em junho de 2007, deixando o entorno
do parque vulnerável a atividades potencialmente
impactantes. A decisão judicial não
questionou os estudos técnicos que subsidiam
a zona, mas conclui apenas que o instrumento legal
que a criou– Portaria do Ibama – é inadequado.
“Queremos, portanto, que ela seja restituída
por meio de um instrumento legal cabível,
pois ela é de fundamental importância
para assegurar a proteção da biodiversidade
da região”, esclarece Dutra.
Arquipélago de Abrolhos
– A região resguarda porção
significativa do maior banco de corais e da maior
biodiversidade marinha do Atlântico Sul. O
Parque Nacional Marinho dos Abrolhos protege algumas
das principais áreas-berçário
das baleias-jubarte, que migram para o banco para
ter seus filhotes. É também a única
região do planeta onde é possível
encontrar o coral Mussismilia braziliensis, conhecido
por coral-cérebro por seu aspecto peculiar.
Espécies de tartarugas-marinhas
ameaçadas de extinção - como
as tartarugas de couro, cabeçuda, verde e
de pente - também se refugiam no parque,
além de aves como a grazina e os atobás.
Em um levantamento da biodiversidade do Banco dos
Abrolhos, publicado em 2006 pela CI-Brasil, foram
registradas aproximadamente 1.300 espécies
na região; 45 delas são consideradas
ameaçadas, segundo listas da IUCN e do Ibama.
Muitas dessas espécies ocorrem na área
do parque.
Segundo estimativas da Coalizão
SOS Abrolhos, baseadas em monitoramento de desembarque
pesqueiro, a pesca nas regiões vizinhas ao
parque movimenta mais de R$ 100 milhões por
ano, o que representa 10% da receita da atividade
no Brasil. Por se tratar de um local seguro para
a procriação de inúmeras espécies,
o parque assegura a presença delas também
fora dos seus limites, contribuindo para manter
ativa a pesca - meio de subsistência para
cerca de 20 mil pessoas na região.
O turismo é outra expressão
da importância econômica do parque,
que recebe cerca de 5 mil visitantes todo ano. Outras
8 mil pessoas dos municípios do entorno visitam
anualmente o Centro de Visitantes em Caravelas.
O fluxo turístico gerado pelo parque garante
centenas de empregos em hotéis, pousadas,
restaurantes e demais atividades ligadas ao setor.
Segundo dados do Prodetur, a contribuição
do turismo para o PIB dos municípios da Costa
das Baleias representa cerca de 20% do valor total,
o que no ano 2000 correspondeu a R$ 65,3 milhões.
Estima-se que esse impacto gerou uma renda de US$
10 milhões para a população
residente. Pelas pesquisas da Bahiatursa, os atrativos
naturais são a motivação de
viagem mais relevante para os turistas, com valores
acima de 90%. As águas claras de temperatura
amena, naufrágios e a rica fauna marinha
também fazem do Parque o principal atrativo
natural da região um dos melhores pontos
de mergulho do Brasil e do mundo.
Para mais informações
sobre as atividades realizadas ontem em Salvador
e sobre a campanha do Greenpeace, acesse http://www.greenpeace.org/brasil/oceanos/noticias/ativistas-fazem-protesto-em-de