Aranhas,
sapos, perereca e lagartixa são destaques
da expedição, que registrou mais de
600 espécies
Arlington, EUA — Cientistas anunciaram
hoje a descoberta de 56 espécies provavelmente
novas para a ciência, com destaque para uma
lagartixa, uma perereca, dois sapos e aranhas saltadoras,
durante uma expedição às montanhas
da região central da Papua-Nova Guiné,
ilha localizada no Oceano Pacífico.
A expedição Programa
de Avaliação Rápida (RAP, da
sigla em inglês), liderada pela Conservação
Internacional (CI), durou um mês e foi realizada
entre julho e agosto de 2008. Participaram da expedição
cientistas locais, da CI e das universidades de
British Columbia (UBC), do Canadá, e Montclair
State, dos Estados Unidos, além de membros
das comunidades da região.
Mais de 600 espécies foram
registradas durante a expedição. Desse
total, 50 aranhas, duas plantas, dois sapos, uma
perereca e uma lagartixa são provavelmente
novas para a ciência. Entre os anfíbios,
estão um sapinho marrom que emite um som
alegre e agudo (Oreophryne sp.), uma perereca verde
clara de olhos enormes (Nyctimystes sp.) e um sapo
de cachoeira que tem um canto alto e estridente
(Litoria sp.). A lagartixa (Cyrtodactylus sp.) foi
a única do seu tipo encontrada em ambientes
densos de floresta na área estudada pelo
RAP.
“As montanhas Kaijende e os vales
no seu entorno são umas das maiores áreas
selvagens e intocadas da Papua-Nova Guiné
e são habitadas por clãs tribais locais.
Essas florestas são essenciais para o estilo
de vida tradicional desses povos”, afirma Steve
Richards, o cientista da CI que liderou a expedição.
Essa área selvagem é
fonte vital de caça e coleta de produtos
florestais para as comunidades de clãs locais,
além de ser fonte importante de água
potável para dezenas de milhares de pessoas
que vivem em vales próximos. Em uma perspectiva
mundial, a área tem papel fundamental na
desaceleração da mudança climática
por meio do sequestro de grandes quantidades de
dióxido de carbono.
Como parte da expedição,
o antropólogo da Montclair State University,
William Thomas, trabalhou com os clãs Hewa
para documentar a história natural e o conhecimento
local sobre os recursos naturais como parte do projeto
“Forest Stewards”, uma iniciativa lançada
por Thomas e pelo cientista da CI, Bruce Beehler.
“Dr. Thomas dedicou sua vida profissional
ao estudo de sistemas tradicionais de conhecimento
dos povos Hewa. A forma de gestão e o conhecimento
que esses povos têm acerca dessa enorme área
selvagem levou à conservação
de seus animais e do meio ambiente. O objetivo do
Dr. Thomas é ajudar os Hewa a manter o bom
manejo da área no próximo século,
visando tanto ao bem-estar das pessoas que moram
ali quanto à saúde do planeta como
um todo”, explica Beehler.
Entre as espécies de aranhas,
a descoberta de três gêneros inteiramente
novos merece destaque, segundo o cientista da UBC,
Wayne Maddison, que também é diretor
do Beaty Biodiversity Museum. “Elas são linhagens
evolutivas bastante distintas e que eram desconhecidas
até então, dentro de um grupo que
já é muito diferente na árvore
evolutiva das aranhas saltadoras”, aponta Maddison.
“A posição chave desses gêneros
na árvore evolutiva vai nos ajudar a entender
como esse grupo único de aranhas saltadoras
evoluiu”.
Grande parte das áreas
selvagens da Papua-Nova Guiné continua sem
ser explorada para documentação científica.
O programa RAP da CI planeja mais três expedições
ao país a partir de abril deste ano.
A expedição cujos
resultados estão sendo anunciados hoje foi
financiada pela Porgera Joint Venture (PJV), uma
propriedade da Barrick Gold Corporation. O relatório
resultante vai prover informação para
aqueles tomadores de decisão que buscam o
equilíbrio entre o desenvolvimento e a proteção
da biodiversidade, visando beneficiar as comunidades
locais e os ecossistemas mundiais. As descobertas
serão utilizadas para subsidiar estratégias
futuras de conservação, as atividades
de mineração da PJV e as políticas
de desenvolvimento dos governos local e nacional.
“Isso mostra como somos comprometidos
com a responsabilidade ambiental. Estamos satisfeitos
em poder contribuir com a descoberta de novas plantas
e animais e, principalmente, com a sua preservação
para as gerações futuras”, conta o
gerente geral da Barrick Gold Corporation na Papua-Nova
Guiné, Mark Fisher.
Desde 11000, o programa RAP da
CI realizou mais de 60 expedições
pelo mundo e descobriu mais de 700 espécies
provavelmente novas para a ciência. O website
“Discovering Species” (www.conservation.org/discoveries)
foi lançado recentemente e oferece informações
detalhadas, em inglês, sobre as expedições
realizadas pela CI, como as RAP, e também
traz algumas das descobertas.