Carla
Lisboa - Brasília (14/04/2009) – Ainda neste
mês, a Vale do Rio Doce vai entregar ao Instituto
Chico Mendes de Conservação da Biodiversidade
(ICMBio) parte de um estudo inédito sobre
a área de canga, conhecida também
como savana metalófila, na Floresta Nacional
(Flona) de Carajás, no Pará, com o
mapeamento ecológico da vegetação.
Com base nesse estudo, o Instituto deverá
definir uma área de conservação
e conceder ou não licenciamento para a Vale
extrair minério de ferro na região.
Considerada única no mundo,
a canga é um tipo de rocha na qual se ergue
uma vegetação típica de solos
ricos em minério de ferro e, no Brasil, ocorre
apenas em Carajás e em alguns regiões
ferríferas de Minas Gerais. O estudo tem
o objetivo de detectar similaridades ecológicas
em quatro porções de mais de três
hectares desse tipo de vegetação escolhidas
para realização das pesquisas e subsidiar
o ICMBio na definição dessa área
mínima para conservação do
bioma para iniciar um processo de licenciamento
para extração do minério de
ferro.
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De acordo com representantes da
Vale, as conclusões preliminares sugerem
haver similaridades entre as quatro áreas
de canga nas quais foram realizados levantamentos
de fauna, flora e meio físico e indicam a
possibilidade de exploração mineral
na região. A coordenadora de Controle e Monitoramento
de Florestas Nacionais do Instituto Chico Mendes,
Viviane Lasmar, afirma que o ICMBio ainda não
se posicionou sobre esses resultados e informa que
qualquer decisão somente será manifestada
depois que todo o estudo estiver concluso e analisado
por equipes do Instituto.
Contudo, ela adianta que “se todas
as áreas forem parecidas, haverá maior
tranquilidade para liberação de uma
parcela para desenvolvimento de um projeto de mineração.
Caso não haja essa similaridade, a área
mínima de conservação a ser
definida deverá ser ampliada para contemplar
todas as diferenças”, explica Lasmar.
Os resultados indicam também
a existência de várias novas espécies
ainda não descritas pela ciência e
de espécies endêmicas (pertencente
somente à região) de Serra Sul. Os
levantamentos biológicos da primeira e da
segunda campanhas começaram há 3 anos,
mas a conclusão dos trabalhos está
prevista para os próximos 20 meses, uma vez
que ainda faltam detalhes a serem pesquisados, dentre
eles, o estudo de genética, de ecologia e
de interação das espécies.
Além de fazer parte do
conjunto de regras da legislação brasileira
para obtenção de licenciamento para
exploração de minério, “o estudo
é uma das condicionantes para extração
do minério de ferro no Projeto de Ferro Serra
Norte, região situada no interior da floresta
nacional e onde a Vale já extrai o metal”,
esclarece Viviane Lasmar. Essas condicionantes foram
estabelecidas pelo Ibama, em 2002, quando a mineradora
requereu licenciamento para extração
do ferro.
SEGUNDO WORKSHOP – Referente à
segunda fase da campanha realizada pelos pesquisadores,
a parte do estudo a ser entregue ao Instituto, intitulada
Projeto de Similaridade das Paisagens de Savana
Metalófila em Carajás, foi apresentada
no 2º Workshop sobre Estudo da Canga, realizado
em Brasília pela Vale do Rio Doce, nos dias
1º e 2 de abril.
O evento contou com a participação
de representantes do ICMBio, do Ibama, da Vale,
da Universidade Federal do Pará (UFPA), Universidade
Federal Rural da Amazônia (UFRA), Universidade
Federal de Minas Gerais (UFMG), da E-labore – Assessoria
Estratégica em Meio Ambiente, do Museu Paraense
Emilio Goeldi e do Conselho Consultivo da Flona
de Carajás.
Os grupos de estudo foram contratados
pela Golder Associates que, por sua vez, foi contratada
pela Vale. Dentre eles, destacam-se a UFPA, a UFRA,
a UFMG e o Museu Paraense Emilio Goeldi. “Trata-se
de um grande estudo com a participação
de vários institutos de pesquisa e universidades.
O papel do ICMBio é acompanhar, supervisionar
e analisar os relatórios produzidos ”, explica
o chefe da Flona de Carajás, Frederico Drumond.
O coordenador do projeto e representante
da Golder Associates, Jackson Campos, disse que
o trabalho enviado para avaliação
apresenta levantamentos biológicos em quatro
blocos de canga selecionados em Serra Sul, além
da Serra do Trazan, da Serra Leste e de uma outra
área associada à Serra Sul conhecida
como Serra do Rato, mais especificamente na porção
mais conhecida como Serra da Bocaina. O primeiro
seminário, com apresentação
dos resultados da primeira campanha da pesquisa
ocorreu em junho do ano passado.
ANTAGONISMO E COMPATIBILIDADE – No entendimento
de Dumond, o estudo é positivo “porque se
trata da busca pela compatibilização
da atividade mineral com a conservação,
todavia, ainda existe um ponto de conflito, ou seja,
ainda não temos com clareza o desenho da
área que vai ser conservada”, afirma. Ele
garante que só será dado andamento
ao processo de licenciamento a partir do momento
em que houver clareza e consistência administrativa
para essa decisão.
Segundo ele, se por um lado a
canga é rica em minério de ferro e,
por isso, ela é motivo de interesse da Vale,
por outro, ela também se caracteriza como
um sistema único no Brasil e, portanto, ela
é de interesse do ponto de vista da conservação.
“Por isso, para mim, em primeiro lugar, temos de
definir a área a ser conservada, depois,
dar prosseguimento ao licenciamento. A nossa expectativa
é a de que encontremos um desenho para o
zoneamento da unidade que garanta a conservação
de uma parte da canga e também a possibilidade
de minerar a outra parte”, afirma Dumond.
Na avaliação de
Viviane Lasmar, os interesses da Vale e os do ICMBio
são antagônicos, consequentemente,
a delimitação dessa área será
um desafio tanto para a mineradora como para o Instituto.
A idéia da Vale é desenvolver atividades
de mineração de forma sustentável,
contudo, “é impossível falar em produção
mineral sustentável, pois a sustentabilidade
está relacionada com a manutenção
de recursos para gerações futuras
e a mineração explora até exaurir
a mina”, argumenta o chefe da Flona Itacaiunas e
analista ambiental do ICMBio na Flona Carajás,
Edilson Esteves.
O diretor de Unidades de Conservação
de Uso Sustentável e Populações
Tradicionais (Diusp), Paulo Maier, disse que o estudo
vai aprofundar o conhecimento da área e permitir
ao ICMBio identificar as possibilidades ou não
de intervenção. “Em havendo a possibilidade,
que tipo de restrição tem de ser imposta?
Não havendo a possibilidade, que tipo de
informação temos ainda de produzir
ou que tipo de cuidado temos de ampliar na área
para que realmente a gente faça com que a
unidade cumpra um de seus papéis que é
a conservação da biodiversidade?”,
questiona.
Maier informa que depois da conclusão
desse trabalho deverá haver um conjunto de
esforços independentes com o objetivo de
avaliar as informações que existem
e, apenas depois disso, o ICMBio terá informações
suficientes para uma tomada de decisão segura.
SINGULARIDADE E PLURALIDADE –
Os estudos comprovam informações reveladas
em pesquisas anteriores: a canga tem um endemismo
muito alto e é um ecossistema singular porque
está situado numa altitude diferenciada para
a Amazônia. Nessas altitudes, Serra Sul mantém
lagos enormes abastecidos somente por água
de chuva, dos quais seis são permanentes
e os demais são intermitentes. Os estudos
mostram que, embora não sejam ricas em peixes,
essas lagoas são o habitat e o alimento de
várias outras espécies, como jacarés
e aves migratórias. Há também
uma composição florística diferenciada
e espécies da flora nunca registrada pela
comunidade científica.
Tanto é que os estudos
da Vale identificaram novas espécies de flores.
As espécies endêmicas não estão
restritas à flora. Há na região
endemismo de répteis e de entomofauna. Para
Dumond, a riqueza biológica da canga guarda
um enorme potencial de desenvolvimento da Flona
de Carajás tanto do ponto de vista da pesquisa
científica e da educação ambiental
como do ecoturismo. Além disso, ela tem uma
riqueza mineral extraordinária. É
uma das jazidas de minério de ferro das mais
ricas do mundo.
A região é rica
em cavernas. Segundo Edilson Esteves, espeleólogos
realizaram um grande estudo na região e constataram
que a representatividade de cavernas na canga é
bem singular. “Só em Carajás são
1.140 cavernas, todas associadas ao minério
de ferro e, recentemente, descobriram mais 13 de
arenito. É a maior concentração
de cavidades naturais de minério de ferro.
Uma delas pode ser a maior caverna de minério
de ferro em extensão do mundo”, afirma.
Ascom/ICMBio
+ Mais
MMA começa a monitorar
desmatamento em todos os biomas do País
Brasília (16/04/2009) –
A partir de agora o Brasil saberá o que acontece
com o que resta da vegetação nativa
em todo o seu território. O monitoramento
por satélite da cobertura florestal, que
era restrito, em âmbito do governo à
Amazônia, foi estendido à Caatinga,
ao Cerrado, à Mata Atlântica, ao Pampa
e ao Pantanal. Uma solenidade presidida nesta quinta-feira
(16) pelo ministro Carlos Minc no Centro Nacional
de Apoio ao Manejo Florestal (Cenaflor), em Brasília,
marcou o início da execução
técnica do projeto, que acompanhará
e divulgará anualmente os índices
de desmatamento de todos os biomas.
Além de orientar políticas
públicas e tomadas de decisão para
combate ao desmatamento e para conservação
da biodiversidade, essas informações
permitirão calcular o volume de gases de
efeito estufa decorrentes do desmatamento e alteração
do uso do solo no País e produzir o relatório
periódico de emissões previsto na
Convenção Sobre Clima da ONU. "Ter
monitoramento e ter série são pré-requisitos
para estabelecermos metas de emissão. A Caatinga,
o Cerrado, o Pantanal, o Pampa e a Mata Atlântica
exigem o mesmo cuidado que a Amazônia",
afirmou o ministro.
Acompanhado pelo pelo diretor
de Conservação de Biodiversidade Bráulio
Dias, que representou a secretária de Biodiversidade
e Floresta Maria Cecília Wey de Brito, o
Chefe do Centro de Sensoriamento Remoto do Ibama,
Humberto Mesquita Jr, e o diretor de Proteção
Ambiental do Ibama, Flávio Montiel da Rocha,
Minc visitou o Centro de Monitoramento, onde técnicos
já monitoram as imagens do bioma Cerrado
captadas por satélite.
O ponto de partida do monitoramento
são os mapas de áreas florestais remanescentes
nos biomas extra-amazônicos produzidos pelo
Probio (Projeto de Utilização e Conservação
da Diversidade Biológica Brasileira) com
base em imagens captadas pelo satélite Landsat
em 2002. Eles mostram que a Mata Atlântica
é o bioma com a vegetação nativa
mais devastada.
Da área total de 1.059.027,85
Km2 restavam, há seis anos, apenas 285.640
km2 (27%) com a cobertura vegetal nativa em diferentes
graus de conservação. O segundo bioma
mais antropizado (atingido por intervenções
humanas) é o Pampa, que perdeu quase a metade
da cobertura original da sua área de 178.243
km2. O Cerrado havia perdido, até 2002, 39%
de cobertura original e a Caatinga 36%.
O bioma nordestino é, atualmente,
um dos mais pressionados especialmente pelo uso
da lenha e do carvão, que respondem por cerca
de 40% da energia consumida na Região. O
Pantanal é o bioma extra-amazônico
mais preservado, com 87% de sua cobertura nativa
intacta.
O Programa de Monitoramento é
de responsabilidade da Secretaria de Biodiversidade
e Floresta do MMA, com financiamento do Pnuma (Programa
das Nações Unidades para o Meio Ambiente)
e da Agência Brasileira de Cooperação
e execução técnica do Centro
de Monitoramento Ambiental do Ibama. As áreas
áreas de vegetação remanescente
já começaram a ser monitoradas com
o Landsat e o satélite sino-brasileiro Cbers.
Na Mata Atlântica, mais susceptível
à cobertura de nuvens, será utilizado
também o satélite japonês Alos,
que capta imagens mais precisas.
Os primeiros resultados do monitoramento
serão sobre o desmatamento do Cerrado no
período 2002/2008 e deverão estar
disponíveis em setembro. O segundo produto
previsto é o monitoramento do desmatamento
da Caatinga, que deve ser divulgado em novembro.
Até março de 2010 estarão prontos
os mapas das alterações antrópicas
no período 2002/2010 nas áreas remanescentes
dos demais biomas.
Ascom/MMA