24 de Julho
de 2009 - Luana Lourenço - Repórter
da Agência Brasil - Brasília - Mais
cinco empresas ligadas à produção
de gado, criado em área de desmatamento da
Amazônia, assinaram esta semana acordos com
o Ministério Público Federal (MPF)
no Pará para adequar a atividade pecuária
a regras ambientais.
Com a adesão dos frigoríficos
Eldorado, Rio Maria e Ativo Alimentos e das exportadoras
Agroexport e Boi Branco chegam a nove os empreendimentos
que aderiram aos termos de ajustamento de conduta.
De acordo com o MPF, as empresas que já assinaram
o acordo são responsáveis por 95%
da produção pecuária exportada
pelo Brasil.
O termo de ajuste de conduta prevê
uma moratória ao desmatamento, ou seja, as
empresas compradoras vão exigir que os pequenos
fornecedores comprovem que o gado não foi
criado em área desflorestada ilegalmente,
embargadas ou que utilizem mão de obra análoga
à da escravidão.
Além disso, deverão
exigir o reflorestamento de áreas degradadas
e o licenciamento ambiental. Os frigoríficos
terão que informar a origem da carne aos
consumidores e ao MPF, que vai checar a existência
de trabalho escravo, crimes ambientais ou problemas
fundiários, como de grilagem ou invasão
de terras indígenas e unidades de conservação.
Os frigoríficos que assinaram
o termo de ajustamento de conduta serão retirados
das ações que tramitam na Justiça
Federal. Em junho, o MPF processou 13 empresas por
contribuir para a degradação ambiental
da Amazônia, além de 20 fazendas, responsáveis
pelos “bois do desmatamento”. Quatro empresas e
os pecuaristas ainda não entraram em acordo
com o Ministério Público.
Com a assinatura do acordo, as
empresas que receberam a recomendação
do MPF para encerrar os contratos com os frigoríficos
poderão retomar as operações,
entre eles os grupos Pão de Açúcar,
Carrefour e Wal Mart, que chegaram a suspender as
compras de carne com origem no desmatamento ilegal.
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Pesquisadora defende articulação
entre ciência e conhecimentos tradicionais
indígenas
13 de Julho de 2009 - Amanda Mota
- Repórter da Agência Brasil - Manaus
- A médica e antropóloga Luiza Garnelo
defendeu hoje (13) a articulação entre
a ciência e os saberes tradicionais, principalmente
os relativos às práticas usadas para
cuidados e cura de doenças entre índios
da etnia Baniwa, que vivem no norte do Amazonas.
Pesquisadora da Fundação Oswaldo Cruz
(Fiocruz), Luiza disse que essa articulação
poderá contribuir para avanços no
sistema de saúde, de um modo geral. Ela fez
palestra durante a 61ª Reunião Anual
da Sociedade Brasileira para o Progresso da Ciência
(SBPC), em Manaus.
“É possível fazer
essa articulação e produzir múltiplas
formas de conhecimento", afirmou Luiza. Para
ela, a melhor forma seria a interlocução
com os índios para que eles determinem os
termos em que querem fazer essa participação."A
decisão tem que ser deles também,
considerando que são detentores de conhecimentos
relacionados sobretudo ao uso de plantas e técnicas
próprias da organização do
conhecimento desses povos.”
Desde 1996, a pesquisadora estuda
os costumes e o modo de vida dos Baniwa, que vivem
na região do Alto Rio Negro, no Amazonas.
Segundo Luiza, quase 100 comunidades Baniwa residem
nessa área, no norte do estado, onde também
se localiza São Gabriel da Cacheira, município
que tem de 95% de indígenas em sua população.
Para a pesquisadora, o que chama a atenção
nas práticas de cuidado e cura de doenças
entre os Baniwa é o respeito à vida:
considerar o contexto de cada paciente é
fundamental para o tratamento das enfermidades.
“As pessoas dessa etnia têm
de fato a consciência clara de que eles matam
animais para sobreviver e que isso exige um cuidado
para evitar a depredação. Eles sabem
que têm um preço a pagar como sociedade.
Além disso, o itinerário terapêutico
depende muito das conjunturas de cada sujeito, seja
numa sociedade indígena, ou não”,
ressaltou a pesquisadora.
Luiza Garnelo considera um desafio
promissor para a ciência contemporânea
estudar e conhecer mais sobre a Amazônia.
“Como parte da sociedade que está na Amazônia
e vive da Amazônia, temos que refletir mais
sobre nosso papel nesse contexto. Isso é
promissor. A sociedade amazônica, na minha
opinião, precisa refletir mais do que tem
feito e descobrir como valorar esses conhecimentos
tradicionais e como lidar com isso de forma respeitável
e harmônica”, afirmou.
De acordo com a pesquisadora,
a insuficiência de reflexões sobre
as prioridades da sociedade contemporânea
tem contribuído para uma certa inversão
de valores entre a ciência e a economia. Em
entrevista à Agência Brasil, Luiza
disse que a atual dimensão econômica
da ciência está relacionada à
busca de lucros e, por isso, existem dificuldades
no diálogo com as pessoas.
Ela observou que, atualmente,
quem manda na ciência não são
as instituições que produzem o saber,
e sim as indústrias que financiam e definem
que tipo de remédio deve ser produzido. "Isso
mostra a inversão de um processo que antigamente
estava fundamentado na produção de
conhecimento e depois no uso das respectivas patentes.
Hoje, tem-se a patente antes de o conhecimento existir
e antes de se saber sequer qual a sua utilidade
real." Na indústria de medicamentos,
com a garantia do direito a patentes, descobre-se
depois a qual a finalidade o remédio atende
melhor e, obviamente, o que é mais rentável,
acrescentou.
“A nossa condição
de vida está ameaçada. Temos que pensar
se o nosso bem-estar imediato vale mais que a nossa
vida em escala planetária”, acrescentou a
pesquisadora.