15 de Julho de 2009 - Luana Lourenço
- Enviada Especial - Manaus - Imagine um “rio voador”
com vazão maior que a do São Francisco.
Dentro dele, um avião
“navegando” para recolher gotas de água que
serão levadas para laboratórios de
alta tecnologia. A descrição poderia
ser parte de um roteiro de ficção
científica, mas ocorre no Brasil. O projeto,
chamado Rios Voadores, analisa o percurso do vapor
d'água oriundo de árvores da Amazônia
até virar chuva para o Centro-Sul do país.
Piloto do avião que viaja
pelos rios voadores, o pesquisador suíço
Gérard Moss apresentou o projeto durante
a 61° Reunião Anual da Sociedade Brasileira
para o Progresso da Ciência (SBPC). Acusado
por alguns cientistas de “banalizar ou vulgarizar”
a ciência, Moss argumentou que a divulgação
também é parte do processo de produção
de conhecimento.
“A ciência precisa avançar,
mas também precisa ser divulgada. E é
preciso conectar o Brasil com as questões
amazônicas”, defendeu.
Uma das metas do projeto é
investigar como a redução da floresta
pelo desmatamento e pelas mudanças climáticas
pode influenciar o regime de chuvas no restante
do país. De acordo com o professor Pedro
Leite Dias, do Laboratório Nacional de Computação
Científica (LNCC), o aumento da temperatura
de 1 grau Celsius (°C) a 2,5 °C pode reduzir
as chuvas em até 20%.
Pesquisador da Universidade de
São Paulo, o especialista em análise
isotópica Marcelo Moreira é um dos
responsáveis pela identificação
da “impressão digital” das moléculas
de vapor d'água dos rios voadores para dizer
se as gotículas capturadas pelo avião
de Moss no interior de São Paulo vieram mesmo
de árvores da Amazônia.
“Tenho certeza de que, se todos
fôssemos cientes do valor de cada ecossistema,
não estaríamos hoje discutindo se
escolhemos as florestas ou derrubamos para pastos
e plantação se soja”, criticou Moss.
Além da valorização
dos serviços ambientais prestados pela Amazônia
– o que reforça a ideia de que é economicamente
vantajoso manter a floresta em pé – o projeto
Rios Voadores tem colaborado de outra forma com
a comunidade científica, à medida
que se mostra uma nova forma de financiamento de
pesquisas.
Patrocinado com recursos da Petrobras,
o projeto conseguiu garantir verba e velocidade
para as pesquisas relacionadas, segundo Dias Leite.
“A articulação com o Gérard
tornou viável experiências que custariam
muito e levariam muito mais tempo. A questão
do custo é crítica para a realização
desse tipo de experimento. As parcerias institucionais
são fundamentais.”
+ Mais
Minc admite que pode ter havido
injustiça na punição de frigoríficos
do Pará
14 de Julho de 2009 - Amanda Cieglinski
- Repórter da Agência Brasil - Brasília
- Durante encontro com prefeitos em Brasília,
o ministro do Meio Ambiente, Carlos Minc, admitiu
hoje (14) que pode ter havido injustiça no
caso em que pecuaristas e frigoríficos do
Pará foram punidos em ação
do Ministério Público Federal (MPF)
acusados de causar desmatamento na Amazônia.
Segundo questionou o prefeito de Ananindeua, Helder
Barbalho, algumas fazendas sofreram injustiça,
porque foram punidas com base apenas na notificação,
sem que o caso tivesse sido julgado.
Na avaliação do
Minc, “pode ter sido cometida alguma injustiça”
no caso do Pará, mas a medida foi importante
porque grandes frigoríficos firmaram termos
de ajuste para se adequar às exigências
ambientais. “Isso vai obrigar todo mundo a correr
atrás”, afirmou.
No início de junho, o MPF
ajuizou ações contra pecuaristas e
frigoríficos do estado por causarem devastação
da Floresta Amazônica. Alguns dias depois,
três grandes redes de supermercados - Pão
de Açúcar, Carrefour e Wal-Mart -
decidiram suspender a compra de carne de onze frigoríficos
localizados em áreas apontadas como de desmatamento
na região amazônica.
Minc disse ainda que o caso do
Pará acelerou a discussão sobre a
necessidade de reforço na rastreabilidade
do gado. “Logo em seguida a Câmara aprovou
uma lei sobre rastreabilidade e o BNDES aprovou
um crédito especial para colocar isso na
ordem. A gente tem que se modernizar e a questão
ambiental faz parte disso”, disse. Segundo Minc,
está sendo discutida com o Ministério
da Agricultura uma parceria para tratar do assunto.
O ministro defendeu que os produtos
brasileiros precisam tem um “selo verde”, caso contrário
não vendem no exterior. “Isso vai melhorar
a nossa carne e vai abrir mais mercado externo.
Porque não é só a questão
ambiental, é também a sanitária”,
apontou.
+ Mais
Polícia Militar apreende
200 toneladas de madeira ilegal da Amazônia
em São Paulo
17 de Julho de 2009 - Ivy Farias
- Repórter da Agência Brasil - São
Paulo - A Polícia Militar de São Paulo
apreendeu até o início da tarde de
hoje (17) cerca de 200 toneladas de madeira ilegal
da Amazônia. Chamada de Xilema (nome dado
ao transporte de água e sais minerais dentro
da árvore), a operação também
multou empresas e caminhoneiros em R$ 225,7 mil
desde ontem, quando a ação começou.
A operação aconteceu
nas rodovias que cruzam cinco cidades paulistas:
Presidente Epitácio, Castilho, Rubinéia,
Colômbia e Icém, todas rotas de transporte
da madeira, que passam pelos estados de Mato Grosso
e de Minas Gerais. Pátios das cidades de
Araçatuba, da região do ABC Paulista,
de Campinas, Presidente Epitácio, São
José dos Campos e Taubaté também
foram fiscalizados.
A operação faz parte
do projeto São Paulo Amigo da Amazônia,
que realiza ações de fiscalização
em pátios de empresas madereiras e em estradas
desde 2007. Segundo o capitão Marcelo Robis,
responsável pela operação,
143 políciais militares intensificaram as
ações de fiscalização
desde ontem comparando o Documento de Origem Florestal
(DOF), que foi declarado online, com a madeira encontrada.
Para ter certeza de que a madeira
declarada é a mesma encontrada, os policiais
analisaram, com a ajuda de um microscópio,
as amostras de madeira. "O microscópio
tira a foto e nós enviamos a por e-mail para
o departamento técnico, que compara a foto
e produz um laudo em aproximadamente 30 minutos",
explicou o capitão.
Graças à tecnologia,
os policiais apreenderam na cidade de Colômbia
um caminhão, cujo motorista afirmou que transportava
dois tipos de madeira quando, na verdade, transportava
quatro. Segundo o capitão Robis, estudos
da Fundação Getulio Vargas apontam
que 70% da madeira extraída da Amazônia
vão para o estado de São Paulo. "Deste
percentual, estima-se que 30% sejam ilegais",
afirmou. Entre os tipos de madeira mais apreendidas,
estão a cambará, angelim, cumaru e
garapeira.