Posted on 23 November 2009 - Relatório
divulgado hoje na Alemanha afirma que regiões
e ecossistemas mais diversos do planeta correm riscos
de atingir um ponto de colapso que desencadeia consequências
ambientais, sociais e econômicas devastadoras.
A Amazônia é uma destas
áreas e os efeitos do aquecimento global
não ficarão restritos apenas à
região. O possível colapso do sistema
climático na Amazônia pode gerar impactos
econômicos no Centro e Sul do Brasil, em estados
como Mato Grosso do Sul, Santa Catarina, Paraná
e Rio Grande do Sul.
O estudo intitulado Pontos de Colapso no Sistema
Climático Terrestre e suas conseqüências
para o Setor de Seguros (Tipping Points in the Earth’s
Climate System and Consequences for the Insurance
Sector, em inglês), encomendado pela Allianz
SE, em parceria com o WWF (World Wildlife Found)
e o Tyndall Centre, analisou diferentes cenários
de aumento de temperatura para chegar às
suas conclusões.
Caso a elevação
da temperatura média do planeta seja de 1ºC,
em relação aos níveis de pré-industriais,
a floresta amazônica pode entrar em colapso,
perdendo cerca de 1,6 milhão de km2 de sua
cobertura. Para exemplificar um possível
impacto financeiro futuro decorrente da perda do
estoque de carbono florestal nas áreas impactadas,
o relatório utiliza a abordagem do Reino
Unido para o shadow price do carbono, na qual um
preço é aplicado a tonelada de gás
do efeito estufa .
No cenário de 2°C as
perdas derivadas da emissão de gases do efeito
estufa, poderiam chegar à ordem de U$ 3 bilhões.
Se a elevação for superior, entre
3 e 4°C, uma área entre 3,9 milhões
e 4,3 milhões de Km2 poderá ser perdida
e o valor econômico do carbono nestes casos
seria entre US$7,8 bilhões e US$ 9,4 bilhões,
respectivamente.
Boa parte das perdas em ambos
cenários causaria um impacto significativo
no mercado segurador. De acordo com o estudo, as
segurados seriam diretamente afetadas pelos efeitos
econômicos da seca na região amazônica.
Isso implica na desaceleração da economia
e na deterioração das finanças
públicas.
“A atividade seguradora permeia
todos os setores da economia com a função
de ressarcir perdas e advertir a coletividade dos
riscos que ameaçam sua existência e
patrimônio. Por isso, é indispensável
ao setor envolver-se diretamente nas mudanças
que estão acontecendo no meio ambiente”,
afirma Max Thiermann, presidente da Allianz Seguros.
2°C - O WWF-Brasil hoje defende que o limiar
de 2°C não seja ultrapassado. “São
muitos os impactos das mudanças climáticas
se formos além desse patamar. Atingir o ponto
de colapso significa perdas inestimáveis
e definitivas”, explica Denise Hamú, secretária-geral
do WWF-Brasil. “Esse relatório nos alerta,
mais uma vez, para a necessidade de assinarmos um
acordo global de clima justo, eficiente e ambicioso
em Copenhague em dezembro deste ano”, aponta.
Outro impacto no Brasil previsto
pelo relatório é o aumento da frequência
de secas drásticas na região amazônica.
A última ocorreu em 2005 e prejudicou a navegação,
gerou graves problemas de abastecimento de água
na região, além de matança
de peixes, fome e isolamento de dezenas de localidades
ribeirinhas por conta do desaparecimento dos rios
e igarapés.
Trabalhos recentes sugerem que
secas similares àquela de 2005 serão
mais freqüentes, passando de uma a cada 20
anos para uma a cada 2 anos ou menos, entre 2025
e 2050, caso se chegue à estabilização
em 450 a 550 ppmv (partes por milhão em volume)
de CO2 -.
Além de todos os problemas
sofridos em 2005, o estudo aponta que as secas podem
gerar ainda combustão espontânea, redução
de produtividade agrícola e na geração
de hidreletricidade. Esses impactos combinados contribuíram,
em 2005, com a redução do PIB brasileiro,
principalmente em Mato Grosso do Sul, Santa Catarina,
Paraná e Rio Grande do Sul. Somente nos dois
últimos, estima-se que as perdas tenham chegado
a US$ 16 milhões. Em 2004, Paraná
e Rio Grande do Sul detinham 17,8% do PIB brasileiro.
“E é preciso lembrar que
os custos econômicos são apenas uma
parte da conta. Os possíveis impactos socais
e ambientais são incalculáveis. O
preço de mudar a economia do país
e do mundo para uma economia de baixa emissão
de carbono é muito menor”, afirma Carlos
Rittl, coordenador do Programa Mudanças Climáticas
e Energia do WWF-Brasil. “Esperamos que as metas
de redução de emissões anunciadas
recentemente pelo governo federal se transformem
em um plano de ação de baixo carbono,”
acrescenta.
Pelo mundo
Também segundo o documento,
haverá derretimento das massas de gelo da
Groenlândia e do Escudo de Gelo Antártico
Oeste - West Antarctic Ice Shield (WAIS) - o que
poderia elevar o nível do mar em 0,5 metro
até 2050. O relatório aponta também
que o aumento do nível dos oceanos irá
afetar a costa leste dos EUA e poderá transformar
a Califórnia em uma região de clima
árido. Além disso, distúrbios
nas monções indianas de verão
na Índia e no Nepal podem afetar centenas
de milhares de pessoas e custar bilhões de
dólares.
“Como seguradores e investidores,
devemos preparar nossos clientes para esses cenários,
enquanto ainda temos margem de manobra. Definir
os prêmios de forma adequada e sustentável
é de interesse vital de todos os envolvidos,
porque essa é a única maneira de garantir
que as soluções de cobertura continuem
a existir”, diz Clemens von Weichs, secretário-geral
da Allianz Reinsurance.
O setor de seguros hoje aprendeu
muito a partir das suas experiências com os
sinistros de porte causados por furacões
como Andrew (1992), Ivan (2004) e Katrina (2005).
Modelos melhores ajudarão as pessoas a entenderem
a frequência e a força dos desastres
naturais. “Porém, modelos melhores não
serão suficientes para proteger o clima”,
explica Michael Bruch, da Allianz Global Corporate
& Specialty, a seguradora industrial do Grupo
Allianz. “O componente humano tem desempenhado um
papel cada vez maior na redução do
risco decorrente de desastres naturais, tanto em
termos de gestão de risco, como de combate
às causas humanas da mudança climática”.
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Entrevista: Sofia Martins Carvalho,
embaixadora do Clima
Posted on 26 November 2009 - Sofia
Martins de Carvalho entregando a camisa da Campanha
TicTacTicTac para o deputado Sarney Filho
Sofia participa ativamente de movimentos ambientais
em prol do clima do planeta. Com apenas 16 anos,
ela já fundou um movimento em sua escola
e foi escolhida embaixadora do clima em Brasília.
Sofia conta o que faz e porque se preocupa tanto
com o aquecimento global.
Sofia Martins Carvalho, 16 anos,
é aluna do colégio Marista de Brasília
e embaixadora do Clima na cidade. Ela foi uma das
organizadoras da mobilização de 350
estudantes na frente do Congresso Nacional, em outubro
de 2009, para chamar a atenção dos
governantes sobre o aquecimento global. Sofia já
fundou um movimento em prol do meio ambiente em
sua escola e tem planos de ampliar a iniciativa
para envolver outros colégios do Distrito
Federal.
Ela já está com
sua passagem garantida para Copenhague, onde líderes
mundiais vão discutir o novo acordo global
de clima em dezembro deste ano.
Na segunda semana de novembro,
Sofia conversou com a jornalista do WWF-Brasil Mariana
Ramos. Confira.
WWF-Brasil - Por que o tema aquecimento
global é importante pra você?
Sofia Martins Carvalho - Por que,
além da gente estar tratando de uma questão
que afeta principalmente as gerações
futuras, todo e qualquer ser humano e todo e qualquer
ser vivo, a gente está tratando dos direitos
da Terra. É uma polêmica muito forte
porque não é só a questão
do bem-estar do ser humano, mas de todos os danos
que nós temos causado à Terra. A gente
precisa reverter essa situação. Por
isso, que eu tenho o aquecimento global, as mudanças
climáticas, como uma inscrição
fundamental e que eu acho que deveria estar na cabeça
de cada cidadão.
WWF-Brasil - O que significa ser
embaixadora do clima pra você?
Sofia Martins Carvalho - O embaixador
do clima é um jovem provavelmente engajado
nas questões ambientais, com enfoque em mudanças
climáticas. A gente tem a missão de
conscientizar a nação, de fazer um
trabalho com as comunidades para desenvolver práticas
de sustentabilidade e conscientização.
A ideia é que conscientizemos as pessoas,
não só nos colégios, mas também
em outros setores da sociedade da nossa faixa etária
e que a gente crie incentivos para expandir para
a nossa cidade, para outras cidades, para o país.
Então, ser embaixador do
clima é conscientizar a população
de todos os efeitos e danos que nós temos
causado à Terra e mostrar que ainda podemos
deter o aquecimento global. É nosso dever
como cidadão.
WWF-Brasil - Como você se
interessou em participar do programa Embaixadores
do Clima do Conselho Britânico?
Sofia Martins Carvalho – Eu já
havia tentado participar dois anos atrás,
mas não tinha idade suficiente ainda. Então,
esse ano recebi novamente um email falando sobre
a inscrição. Daí, eu corri
atrás. Acho essa iniciativa importantíssima,
pois envolve a geração que, felizmente
ou infelizmente, ficou no dever de lidar com a situação
do aquecimento global. Acredito que o programa realmente
mobiliza os jovens, que são os maiores torcedores
por uma solução para as mudanças
climáticas.
WWF-Brasil - Você e o João
Pedro, o outro Embaixador do Clima daqui de Brasília,
mobilizaram cerca de 350 estudantes de Ensino Médio
do DF numa manifestação que aconteceu
no Congresso Nacional em Outubro.Isso foi um desafio?
Sofia Martins Carvalho - Definitivamente.
A nossa iniciativa era muito ambiciosa por que mobilizar
estudantes - principalmente jovens - já é
bastante complicado pois, no mundo em que nos vivemos
hoje você não encontra um grande contingente
de pessoas que se interessam mesmo pelas causas
ambientais. Então, foi muito trabalho, mas
valeu muito a pena. Estamos imensamente gratificados
com isso. Conseguimos coletar 330 assinaturas dos
estudantes, das pessoas que estavam por lá
para o abaixo-assinado da campanha TicTacTicTac,
que é de uma coalização de
ONGs [da qual o WWF-Brasil faz parte]. Foi muito
bacana mesmo, superou as nossas expectativas e nós
conseguimos sim o que nós queríamos
do cidadão brasileiro, principalmente de
Brasília. A ação que nós
fizemos aqui em Brasília foi divulgada mundialmente.
As pessoas do mundo inteiro estão cientes
que no Brasil e em Brasília têm jovens,
têm pessoas que realmente querem ver uma mudança.
WWF-Brasil – Durante a manifestação
vocês entregaram pro deputado Sarney Filho
uma carta para ele entregar pro presidente Lula,
pedindo que ele engajasse outros lideres na questão
do novo acordo global de clima. Vocês também
conseguiram que ele assinasse o abaixo-assinado.
Como foi pra você, ter esse contato com um
político tão importante no contexto
nacional?
Sofia Martins Carvalho - Foi muito
importante mesmo, especialmente porque o deputado
José Sarney Filho está na Frente Parlamentar
Ambientalista. Foi gratificante conseguir a assinatura
dele por que, sendo uma pessoa de tamanha importância
no contexto ambiental do país, faz com que
nosso trabalho se torne cada vez mais real. A gente
tem conseguido realmente atingir um grande número
de pessoas de importâncias diversificadas.
Em dezembro, estarei em Copenhague para entregar
essas assinaturas coletas junto com o embaixador
do Clima de Recife.
WWF-Brasil - Como você vê
a próxima reunião da Organização
das Nações Unidas que irá reunir
os líderes globis para discutir o novo acordo
de clima em Copenhague, em dezembro? Está
otimista?
Sofia Martins Carvalho - Na verdade,
fico sinceramente bastante descontente com as notícias
que tenho acompanhado. A posição do
Brasil realmente é muito complicada porque
é muito difícil aqui você deixar
de falar em questões sociais e falar sobre
meio ambiente. A verba orçamentária
é curta e não dá para cobrir
todos os setores. É bastante complicado,
uma situação muito polêmica.
Mas acredito que temos muito para
contribuir, principalmente em relação
à Amazônia, que representa uma diversidade
imensa de espécies. O Brasil é um
país que tem uma posição fundamental
quando se fala de mudanças climáticas.
Além disso, nosso país tem uma enorme
capacidade de geração de energias
por fontes alternativas. Acho que podemos tomar
medidas mais eficazes nesse sentido.
Eu esperava mesmo que o Brasil
não ficasse só na esperança
de que os Estados Unidos ou que a Europa fizessem
algo maior, mas que tomasse iniciativa. A meu ver,
a gente tinha que começar a tomar medidas
internas desde já para que pudéssemos
ser uma nação-modelo para os outros
países.
Continuo esperançosa, afinal
"o brasileiro não desiste nunca",
não é? [risos] Espero que nós
consigamos sair de Copenhagen com o acordo feito
ou já em andamento para deter as mudanças
climáticas.
WWF-Brasil - E quais são
seus próximos planos em relação
ao tema clima?
Sofia Martins Carvalho - Eu fundei
um movimento na escola chamada Mema (Mobilização
dos Estudantes em prol do Meio Ambiente). A princípio,
contamos com participação de grupos
do Colégio Marista, mas queremos expandir
já no ano que vem para outros colégios.
Alguns já se mostram interessados em fazer
essa parceria conosco.
O Mema está desenvolvendo
vários projetos dentro do colégio
que adotem ações de sustentabilidade.
Queremos que o colégio Marista possa ser
de fato um exemplo para os outras escolas, que elas
queiram também adotar essas práticas
de sustentabilidade, ter uma área direcionada
para a conscientização dos alunos,
dos jovens, a respeito da mudanças climáticas,
dos efeitos causados por nós e do que podemos
fazer para melhorar isso.
Nós temos feito já
um trabalho de conscientização dentro
do colégio em que tentamos envolver a comunidade
ao redor, do entorno, e também aqui do Plano
Piloto. Nosso principal projeto, que estamos tentando
fazer ainda esse ano e ao mais tardar no início
do ano que vem, é o reflorestamento do Parque
da Asa Sul,que fica ao lado do colégio Marista.
É uma área muito bacana por que tem
nascentes de água, tem a lagoa e tem uma
área verde vasta. Ali, antes, era um lixão.
Queremos transformar a área realmente num
parque, fazer com que os alunos façam parte
do reflorestamento para que a gente consiga de fato
devidamente recuperar o local. Esse é o nosso
principal projeto no momento.
Mas, talvez mais importante que
isso, é a conscientização que
estamos promovendo dentro da escola com os alunos
e com nossos amigos também. O Mema tem sido
bem-sucedido e estamos conseguindo atingir um número
grande de jovens. Isso cada vez fica mais bacana
por que nós jovens, digamos assim, temos
um fogo a mais para movimentar, para batalhar pelos
nossos direitos. Fico muito grata de ver cada vez
mais pessoas se agregando a nós. Está
sendo ótimo, uma experiência maravilhosa
mesmo.
WWF-Brasil - E o Mema tem quantos
alunos envolvidos diretamente hoje?
Sofia Martins Carvalho - Mais
de vinte. Começamos há cerca de três
semanas. Mas esse número tende a crescer.
Então está sendo muito gratificante
e eu estou adorando ver o resultado desse processo.