José Roberto Lima - Brasília
(11/12/2009) – O Brasil pouco conhece de suas cavernas.
Estima-se que em todo o território brasileiro
existam pelo menos 100 mil cavidades subterrâneas.
Desse total, apenas 7.612 são conhecidas
até agora. Elas vão integrar o Inventário
Nacional das Cavidades Subterrâneas
Naturais do Brasil, que está sendo preparado
pelo Centro Nacional de Pesquisa e Conservação
de Cavernas (Cecav), do Instituto Chico Mendes de
Conservação da Biodiversidade (ICMBio).
O inventário deverá
ser publicado em 2010 e, a partir de então,
será atualizado periodicamente. “Nossa base
de dados tem diversos outros cadastros como o da
Sociedade Brasileira de Espeleologia, o da Rede
EspeleoBrasil (Codex) e mais os dados que nos chegam
através dos processos de levantamento e do
próprio Cecav”, diz o chefe do centro, Jocy
Brandão Cruz, ao informar que, com a validação
da base já existente, as atenções
se concentrarão nas novas descobertas.
Cenários de grande impacto
visual, as cavernas atraem a curiosidade humana
pela sua aura de mistério e aventura. O seu
estudo pode revelar muito da evolução
e capacidade de adaptação da vida
animal em situações extremas. Por
isso, o pessoal do Cecav tem se dedicado especialmente
na execução de projetos que levem
à proteção de determinadas
regiões, onde a incidência de cavidades
naturais subterrâneas e as formações
geológicas locais indicam um rico patrimônio
natural que precisa ser muito estudado e resguardado.
É o caso da estrutura verificada
em Laje dos Negros, comunidade do município
de Campo Formoso, na Bahia. Lá está
localizada a Toca da Boa Vista, maior caverna do
Hemisfério Sul, com 107 km. A poucos quilômetros
fica a Toca da Barriguda, outra caverna, com 33
km de extensão. Estas duas cavidades naturais,
somadas a outras descobertas na região, levaram
pesquisadores do Cecav e de outros centros de pesquisa
do Instituto, como o de aves silvestres (Cemave),
a propor a criação de uma Unidade
de Conservação para a área:
o Parque Nacional do Boqueirão da Onça.
Na região do município
de São Desidério, também na
Bahia, encontra-se o maior lago subterrâneo
da América do Sul, o Lago do Cemitério,
na cavidade do Buraco do Inferno, com 12.860 m2
de área. A região, banhada pelo Rio
João Rodrigues, que corre em boa parte de
seu curso por dentro da terra, é formada
por, pelo menos, 10 cavernas das mais relevantes
do Brasil. Lá estão a Garganta do
Bacupari que ostenta o Salão Coliseu, com
24.330 m2 de área, equivalente a mais de
dois campos de futebol. Segundo o pessoal do Cecav,
a luz das lanternas não alcança o
outro lado do salão.
Essa área, de acordo com
o chefe do Cecav, precisa ser preservada. Hoje,
o perímetro dessas cavernas sofre intensa
pressão dos maiores produtores de milho da
Bahia, no entorno do município de Luiz Eduardo
Magalhães. A região é de remanescentes
de cerrado e os fazendeiros exploram a agricultura
mecanizada, formada por grandes pivôs para
irrigação, com intensa atividade subterrânea.
O carste é uma forma de armazenamento e dispersão
da água no solo subterrâneo. Qualquer
ação sobre a área significa
o seu comprometimento.
Outra proposta que o Cecav prepara
para o ano que vem será a preservação
de uma área no município de Pains,
em Minas Gerais. O município, a 260 km de
Belo Horizonte, próximo a Formiga, é
um grande polo de exploração do calcário,
juntamente com Arcos e Doresópolis.
Acontece que, nesta área,
estão cadastradas mais de 800 cavernas. “Uma
coisa puxa a outra. É muito calcário,
consequentemente existe muita exploração.
Outro ponto focal do nosso plano de ação
para 2010 será a Bacia do São Francisco,
hoje um ponto de ameaça seríssimo
no Brasil”, afirma Jocy Cruz.
Segundo ele, o Plano de Ação
da Bacia do São Francisco prevê a conservação
do patrimônio espeleológico e lista
uma série de ações para conservação
focadas principalmente nas áreas cársticas
da Bacia do rio São Francisco. Essas áreas
foram classificadas para efeito de estudos e implementação
de ações, a partir de seus patrimônios.
Na região da Bacia do São Francisco
estão cadastradas 2.301 cavernas ou 38% do
total nacional atualmente conhecido.
A Serra do Ramalho, na Bahia,
é outra área que hoje tem recebido
muita atenção da espeleologia brasileira.
Além das várias cavidades identificadas
na região, a característica mais marcante
delas são as espécies troglóbias
(adaptadas à vida em condições
especiais), como os bagres, que não têm
pigmentação nem olhos. “Muitos invertebrados
também sofrem adaptações à
vida na caverna. Essas espécies podem fornecer
para a ciência informações preciosas
sobre o processo de adaptação a ambientais
incomuns”, observa Jocy Cruz.
O Cecav deverá auxiliar
o Parque Nacional do Amazonas na preparação
de seu Plano de Manejo, que está em fase
de conclusão. Uma equipe do Centro foi solicitada
pelo chefe do parque para fazer um levantamento
das cavidades naturais da região. Segundo
o chefe do Cecav, há uma estratégia
de atuar em outros Planos de Manejo, como é
o caso do Parque Nacional Furna Feia, no Rio Grande
do Norte, que está sendo proposto pelo próprio
Centro. Outro exemplo é o Domo do Araguainha,
cratera de 40 km de diâmetro localizada no
Mato Grosso, formada pela queda de um corpo celeste
há milhões de anos.
Ascom/ICMBio
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Incêndio que devastou mais
de 150 hectares do Parque Nacional do Descobrimento
está sob controle
Sandra Tavares - Brasília
(10/12/09) – A chefe do Parque Nacional do Descobrimento,
Maria Carolina Portes, informou nesta quinta (10)
à tarde que o incêndio que já
devastou mais de 150 hectares de mata nativa na
unidade, localizada no litoral da Bahia, está
sob controle. “Restam alguns focos que estão
sendo combatidos. Se tudo der certo, na semana deveremos
iniciar o trabalho de rescaldo”, disse ela.
O Parque Nacional do Descobrimento,
localizado em Prado, a 794 km de Salvador, no extremo
sul do litoral baiano, abriga um mais valiosos resquícios
de mata atlântica do nordeste brasileiro,
moradia de várias espécies da flora
e da fauna em extinção. Além
disso, a unidade tem importante valor histórico-cultural.
Foi na região que a armada de Pedro Álvares
Cabral ancorou em 1500 no chamado episódio
do Descobrimento do Brasil.
O incêndio começou
na manhã de segunda-feira (7), quando as
primeiras equipes de brigadistas foram ao local.
Ainda não se conhece a origem do fogo, mas
a chefe Maria Carolina Portes informou que foram
encontrados cachorros próximos ao foco de
incêndio, o que indica que caçadores
devem ter invadido a divisa do parque, a 400 metros
de comunidades mais próximas, além
de terem feito alguma fogueira de acampamento.
“Mas só saberemos mesmo
após uma perícia feita por nossos
técnicos ou pela Polícia Federal”,
frisa Portes. No momento um aceiro vem sendo feito
envolvendo 21 brigadistas contratados pelo Instituto
para atender esses ilícitos no parque e dois
voluntários, ex-brigadistas que atuam como
vigilantes.
“Temos que agradecer o apoio que
está sendo dado por parceiros como as empresas
de papel e celulose Fibria, Suzano e Veracel”, destacou
a chefe do parque. O combate ao fogo conta com apoio
de 36 homens encaminhados pela empresa Fibria na
terça-feira (8) e 34 enviados nesta quarta
(9); de cinco homens, além de um coordenador
de fogo, carros e equipamentos de combate encaminhados
pela empresa Suzano e de 12 homens e um coordenador
de fogo enviados pela Veracel. A operçaão
de combate conta ainda com apoio de 6 bombeiros,
além de um capitão e caminhão
de transporte de água e motosseras.
“Solicitamos à Coordenação
de Proteção Ambiental do Instituto
Chico Mendes (CGPro/ICMBio) um helicóptero
com o qual poderemos sobrevoar a área atingida
para avaliar os prejuízos causados e traçar
estratégias ainda melhores de combate ao
fogo e recuperação da área
atingida”, frisou Portes. Segundo ela, o clima é
seco, porém com ventos fortes que podem comprometer
o controle feito pelos técnicos por meio
de aceiro.
Segundo a chefe, a brigada do
parque está trabalhando desde segunda-feira.
“Eles estão trabalhando das 5h às
19h, e estamos num esforço concentrado para
que o incêndio continue sob controle e cesse
totalmente”, destacou Portes.
Criado em 20 de abril de 1999,
o Parque Nacional do Descobrimento tem área
de 21.213 hectares e abriga diversos animais, como
onça pintada, pacas, porco-do-mato, anta,
sussuarana, macacos e tatu, além de árvores
nativas, como jacarandá, palmito, jequitibá
e jatobá.
Ascom/ICMBio
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Ministério do Meio Ambiente
lança plano para reduzir queimadas
Brasília (08/12/2009) –
Integração, prevenção
e planejamento. De acordo com o ministro de Meio
Ambiente, Carlos Minc, essas são as bases
do Programa Nacional de Redução e
Substituição do Fogo nas Áreas
Rurais e Florestais (Pronafogo), lançado
na manhã desta terça-feira (8), em
Brasília. O lançamento contou com
a participação de representantes do
Instituto Chico Mendes de Conservação
da Biodiversidade (ICMBio), Ibama e do Corpo de
Bombeiros Militares de vários estados.
Coordenado pelo MMA, o Programa
prevê ações integradas do ICMBio,
Ibama, Incra, Funai, Embrapa, Emater e Corpo de
Bombeiros. O Pronafogo também se insere nas
diretrizes da Política Nacional sobre Mudança
do Clima e é mais uma forma de alcançar
as metas de redução de emissões
de CO² assumidas pelo País e que serão
apresentadas nesta semana na Convenção
das Nações Unidas sobre Mudanças
Climáticas (COP-15), em Copenhague, na Dinamarca.
"Foi uma guerra definir essas metas. Agora
será outra guerra cumpri-las, mas esse Programa
vai ajudar nisso", avaliou Minc.
De acordo com o ministro, no mundo,
queimadas e incêndios em áreas rurais
e florestais respondem por 17% a 19% da geração
de CO². "No Brasil, ultrapassa 60%",
disse. Segundo ele, o fogo gera impactos no clima,
com as emissões de gases do efeito estufa;
na biodiversidade, pela perda de fauna e flora;
na saúde, por afetar a qualidade do ar; e
na segurança aérea, por comprometer
a visibilidade em decolagens e pousos.
O ministro destacou ainda que
o Pronafogo permitirá a integração
e articulação de ações
dentro da estrutura do próprio Ministério,
e do MMA com outros ministérios e com os
Corpos de Bombeiros Militares nos estados. Além
disso, segundo o ministro, o Programa prevê
maiores investimentos em ações de
prevenção a incêndios, como
a educação ambiental, por exemplo.
"Se gastarmos mais em prevenção,
gastaremos menos no combate", apontou.
A opinião do ministro é
corroborada pelo tenente-coronel do Corpo de Bombeiros
Militares do Estado Rio de Janeiro e assessor do
ministro, Wanius de Amorim. "A logística
necessária para combater as queimadas é
muito mais cara que as ações de prevenção".
Segundo ele, o Brasil é o único país
do mundo que tem um ciclo de incêndio de 365
dias ao ano. "Ou seja, podemos ter incêndios
em qualquer mês do ano, em todos os estados."
Para o deputado Paulo Rocha (PT-PA),
representante da chamada Bancada da Amazônia
na Câmara dos Deputados, que compareceu à
solenidade, o Programa é importante por tratar
de forma integrada os desafios da preservação
da Amazônia. "Até então,
os problemas eram tratados isoladamente por cada
órgão", observou.
O vice-presidente da Liga Nacional
dos Corpos de Bombeiros Militares, Giovanni Tavares
Maciel Filho, reafirmou o interesse da corporação
em participar ativamente na execução
do Pronafogo. "Nos sentimentos co-responsáveis
pela Amazônia brasileira, e entendemos que
muitas das queimadas ocorrem por falta de uma cultura
conservacionista", disse, ao parabenizar o
ministro pela iniciativa.
Comissão - Na solenidade,
Minc assinou a Portaria do MMA que institui a Comissão
Ministerial Conafogo, que deverá analisar
e propor, no prazo máximo de 90 dias, a implantação
do Programa. A proposta deverá contemplar
o planejamento orçamentário-financeiro
das atividades e das ações previstas
no Pronafogo a curto, médio e longo prazo.
O grupo também ficará responsável
por coordenar a execução das ações
planejadas em conjunto pelas instituições
envolvidas.
Ascom/MMA