Posted on 08 December 2009 - Uma
das mais importantes áreas de Mata Atlântica
no estado de São Paulo poderá receber
uma nova unidade de conservação. A
área protegida proposta, no município
de Bertioga, tem 8.025 hectares e deve reforçar
a proteção de parte da restinga paulista,
ecossistema que abriga rica biodiversidade e vulnerável
à pressão imobiliária e turística.
Além de proteger rios que abastecem a região,
espécies ameaçadas e exclusivas do
bioma, a unidade de conservação será
a primeira a pôr a
salvo a planície vizinha ao Parque Estadual
da Serra do Mar.
A definição levou
em conta uma série de critérios, tais
como as características da vida silvestre,
da vegetação e dos recursos hídricos,
e recebeu apoio do Programa Mata Atlântica
do WWF-Brasil, que em parceria com a Fundação
Florestal e o Instituto Florestal de São
Paulo, realizou estudos numa área de 10.393
hectares. O chamado Diagnóstico Socioeconômico,
Ambiental e Cultural do Polígono Bertioga
envolveu pesquisadores de diferentes especialidades
e demonstrou que o trecho possui rica diversidade
biológica e protege rios que formam três
sub-bacias hidrográficas – Una, Itaguaré
e Guaratuba - , essenciais para a região.
“A criação e a gestão
de áreas protegidas principalmente em um
local de grande concentração populacional
tem o desafio de equilibrar a harmonia do ser humano
com o ambiente o que permite que a vida das pessoas
também tenha maior qualidade”, lembra a coordenadora
do programa Mata Atlântica, Luciana Simões.
A proposta para criar a unidade
de conservação em Bertioga já
está sendo discutida com diversos setores
da sociedade. Nos dias 4 e 7 (sexta e segunda-feira)
foram realizadas quatro reuniões públicas
em preparação para a proposta final
que será apresentada posteriormente em audiência,
convocada no Diário Oficial e demais mídias.
A previsão é que a audiência
pública final seja realizada em fevereiro
de 2010.
Estudos oferecem subsídios
para a criação de UCs
A seleção do local
serviu como piloto para testar critérios
que ajudem a proteger habitats com maior representatividade,
evitando as lacunas na conservação
de espécies de fauna e flora, bem como dos
processos ecológicos. A metodologia objetiva
garantir a escolha de áreas a partir de parâmetros
técnicos que confirmem sua importância,
e não mais balizada por oportunidades circunstanciais,
o que ainda predomina.
“A história mostra que
os parques foram criados porque havia oportunidades,
mas essa forma não deve se manter, pois não
atende ao objetivo de conservar a biodiversidade.
Queremos sair do oportunismo e da forma de criar
parques de forma aleatória”, salienta a Coordenadora
do Programa Mata Atlântica, Luciana Simões.
Patrimônio biodiverso no
litoral paulista
As restingas se estendem por quase
toda a costa brasileira e formam um engenhoso complexo
de plantas e animais adaptados à influência
marítima e ao solo arenoso. Atualmente, existe
apenas uma unidade de conservação
que abrange o hábitat no sistema estadual
paulista.
Dados do Diagnóstico Socioeconômico,
Ambiental e Cultural do Polígono Bertioga,
realizado pelo WWF-Brasil, reforçam a necessidade
de proteger a porção de restinga restante.
Apesar de, por enquanto, ainda possuir menos estudos
se comparadas às UCs mais intensamente pesquisadas,
duas áreas dentro dessa região foram
identificadas entre os trechos de Mata Atlântica
com maior riqueza de espécies no estado de
São Paulo, com ênfase à diversidade
de anfíbios – a maior conhecida no bioma
–, à concentração de aves ameaçadas
e, em relação à flora, ao número
de espécies de orquídeas.
Estudos realizados no Parque Estadual
da Serra do Mar também reforçam a
necessidade de conservação dos ambientes
da planície litorânea. As matas de
baixada de Bertioga, aquelas entre 0 a 50 metros
de altitude, são consideradas IBAs (sigla
de Important Bird Area) ou área importante
para a conservação de aves. Segundo
a Birdlife International / SAVE Brasil esses são
locais criticamente importantes para a conservação
à longo prazo das aves.
Os pesquisadores encontraram ainda
1.000 espécies de plantas no polígono
de Bertioga. Elas correspondem a aproximadamente
13% do total encontrado no estado de São
Paulo em áreas muito maiores e melhor estudadas.
Destas, 44 espécies estão ameaçadas
de extinção e outros 17 tipos de vegetação
são endêmicos, ou seja, só existem
nos estados de São Paulo e do Rio de Janeiro.
Cobrindo parte da encostas do
Parque Estadual da Serra do Mar, o polígono
de Bertioga funcionará como um corredor de
biodiversidade até o planalto, além
de proteger a rede de corpos d’água que abastece
três sub-bacias hidrográficas na planície
litorânea onde os remanescentes continuam
sofrendo grande pressão.
Dados da UC proposta
Representatividade
Ecossistema de restinga, a mais
ameaçada da Mata Atlântica paulista
Localização
Litoral centro do estado de São
Paulo no município de Bertioga
Dimensão
8.025 mil hectares
Água
Duas sub-bacias hidrográficas
– Rios Itaguaré e Guaratuba
Biodiversidade
40 espécies de anfíbios
e 53 espécies de répteis
25 espécies de mamíferos de médio
e grande porte
6 espécies de mamíferos ameaçados
de extinção
Considerada uma IBA – sigla de “Important Bird Area”
ou área importante para a conservação
de aves
Cerca de 1.000 espécies de plantas
44 espécies de flora ameaças de extinção
17 tipos de vegetação endêmica,
que só ocorre nos estados de São Paulo
e Rio de Janeiro