02/02/2010 - A preservação das áreas
úmidas como uma resposta para as mudanças
climáticas globais é o tema do Dia
Mundial das Áreas Úmidas, que é
comemorado hoje (2). A data marca o aniversário
da Convenção de Ramsar, acordo firmado
em 1971, no Irã, para
promover a proteção e o uso sustentável
destes biomas. No entanto, quase 40 anos depois,
o próprio significado do que é uma
área úmida permanece desconhecido
para a maioria das pessoas.
“Estes ecossistemas são
áreas de transição, que permanecem
uma parte do tempo alagados e outra parte, secos.
Como é o caso do Pantanal Mato-grossense,
a maior planície alagável continental
do mundo”, explica o professor Paulo Teixeira de
Sousa Jr., do Centro de Pesquisa do Pantanal (CPP).
Manguezais, brejos, charcos, veredas
e as margens dos rios são outros exemplos
de áreas úmidas. Cada um tem papel
importante no equilíbrio ambiental das regiões
em que se localizam. Em grandes cidades como São
Paulo, a drenagem e o aterramento destes locais
acabam piorando a situação das enchentes.
“Em condições naturais, as áreas
úmidas funcionam como esponjas que absorvem
a água e controlam sua redistribuição.
A ocupação desordenada acaba com essa
proteção”, conta o pesquisador.
Esta não é a única
proteção natural que as áreas
úmidas oferecem contra os impactos das mudanças
climáticas. Locais que possuem áreas
úmidas preservadas sofrem menos com as secas,
pois elas ajudam a regular o clima e, graças
a esse “efeito esponja”, também purificam
a água, cuidando para que seja redistribuída
livre de impurezas no lençol freático.
“As áreas úmidas
estão em todos os lugares e sua dinâmica
ajuda a garantir o acesso a água limpa, que
serve tanto para consumo quanto para a produção
de alimentos. Proteger o Pantanal, por exemplo,
significa proteger também as Veredas, áreas
úmidas que ficam no Cerrado, na região
do Planalto. Pois é nelas que nascem os rios
que formam o Pantanal”, explica a pesquisadora do
CPP, Cátia Nunes.
As áreas úmidas
também têm valor inestimável
para a produção de alimentos, remédios
e a manutenção da biodiversidade.
Os manguezais, por exemplo, são considerados
o berço da vida no mar, pois ali crescem
os meios de subsistência básicos para
a cadeia alimentar marinha. Seu papel na proteção
da vida humana também é relevante.
Estas florestas costeiras formam uma barreira natural
contra tempestades, furacões e marés.
Inclusive, os especialistas são unânimes
em afirmar que em algumas áreas os impactos
do tsunami de 2004 na costa asiática foram
piores justamente porque suas áreas úmidas
não foram preservadas.
Em países como França
e Estados Unidos, a destruição das
áreas úmidas teve um preço
alto, cobrado na forma de grandes enchentes no país
europeu e na escassez de água potável
em várias partes da América. No Brasil,
cientistas e ambientalistas buscam proteger esses
patrimônios naturais para evitar novas tragédias.
Além dos projetos de pesquisa que gerencia
no Pantanal, o Centro de Pesquisa do Pantanal trabalha
para que seja implantado no país o INAU,
o Instituto Nacional de Ciência e Tecnologia
em Áreas Úmidas.
“Será uma vitória
para nossos profissionais. Até pouco tempo
atrás nem havia esse conceito no País.
Os pesquisadores estudavam o bioma em apenas uma
das fases: seca ou alagada. Hoje, conseguimos ver
essas áreas em sua totalidade, mas o nosso
conhecimento ainda é muito pequeno. O instituto
vai fomentar trabalhos que preencham essa lacuna”,
adianta o professor Wolfgang Junk, que estuda o
Pantanal há mais de 40 anos e é um
dos líderes do projeto.
Para o professor Paulo Teixeira
de Sousa Júnior, destacar a relação
entre mudanças climáticas e áreas
úmidas é uma forma de colocar o assunto
dentro da realidade de todas as pessoas e atrair
mais atenção para o tema. “Os estudiosos
já perceberam importância de se preservar
esses ecossistemas. Agora, é a hora dessa
mobilização atingir as populações
como um todo”, conclui o pesquisador.
+ Mais
Embrapa pesquisa fontes alternativas
para aumentar a produção de bioetanol
Ronan Nascimento - ASCOM/MCT -
Plantação de Cana-de-açúcar
da Embrapa - 02/02/2010 - O Brasil poderá
produzir biocombustível usando fontes renováveis
já existentes em larga escala no País.
A Embrapa Cerrados, unidade da Empresa Brasileira
de Pesquisa Agropecuária de Planaltina (DF),
vai começar em março a desenvolver
formas de produzir etanol a partir de matérias-primas
alternativas, além da cana-de-açúcar.
Com o financiamento de R$ 800 mil e quatro anos
para entregar os resultados, o projeto também
pesquisará tecnologias mais baratas para
obter o combustível de outras partes da cana.
Atualmente só o caldo é utilizado.
Entre as fontes alternativas estão
o eucalipto e o pino, o tachi branco e a aparica,
sendo essas duas últimas espécies
comuns no solo amazônico, e mais três
variedades de gramíneas forrageiras. “Usadas
para alimentar o gado, as forrageiras são
abundantes na pastagem brasileira. São 50
milhões de hectares”, afirma o coordenador
do projeto na Embrapa, Marcelo Ayres. O pesquisador
relata que a escolha das fontes se baseou na boa
adaptação delas na agricultura nacional
e no conhecimento que já se possui do manejo
e plantio das espécies. “A grande contribuição
da Embrapa nas pesquisas em bioetanol é a
longa tradição que temos em pesquisa
agrícola”, diz.
O etanol atualmente produzido
no Brasil é obtido pela fermentação
da sacarose, açúcar presente no caldo
da cana. Mas 70% do bagaço que não
são aproveitados podem ser convertidos em
álcool com processos mais complexos, que
ainda são muito caros em comparação
com o processo comum de fermentação.
“O etanol de segunda geração tem uma
etapa anterior, onde você vai quebrar grandes
cadeias de celulose em açucares para então
fazer a fermentação”, ensina Marcelo
Ayres.
Um dos objetivos do projeto é
diminuir os custos do etanol de segunda geração.
Para a pesquisadora Cristina Machado, a vantagem
é aumentar o potencial de produção
por área, porque mais biomassa poderá
ser usada. “Não acho que conseguiremos um
preço mais barato. Mas se alcançarmos
um preço competitivo, isso já é
excelente em caso da necessidade de produção
para o consumo global”, acredita.
Ayres explica que o trabalho terá
quatro linhas. A primeira calculará a capacidade
de produção de biomassa das plantas.
A segunda descobrirá as características
físico-químicas de cada uma e quais
tecnologias terão melhor resultado na decomposição
delas em açucares que possam ser fermentados.
Na terceira, será medido o volume de álcool
que pode ser obtido por espécie e a quarta
linha avaliará a viabilidade econômica
de levar essa produção a uma escala
industrial. O projeto, que conta com 54 pesquisadores,
envolve nove unidades da Embrapa, as universidades
de Brasília e São Paulo, UnB e USP
e o apoio do Laboratório Virtual da Embrapa
no Exterior, Labex Europa.