08/03/2010 - Em abril de 2008
o Instituto Brasileiro de
Meio Ambiente e dos Recursos Naturais Renováveis
– IBAMA interditou todas as cavernas do Vale do
Ribeira alegando falta de Planos de Manejo Espeleológico
– documentos técnicos que orientam o uso
do patrimônio natural, visando a sua conservação.
Os municípios no entorno dos parques estaduais
de Intervales, Turístico do Alto Ribeira
– PETAR, e Caverna do Diabo se viram diante de uma
situação desesperadora: a ameaça
ao turismo, principal fonte de renda da região.
A visitação pública aos parques
caiu mais da metade, hotéis e restaurantes
começaram a fechar as portas, o desempregou
aumentou e muitas famílias começaram
a arrumar as malas e tentar a vida em outro lugar.
Um Termo de Ajustamento de Conduta
entre a Fundação Florestal, responsável
pelos parques, e o Ministério Público
Federal garantiu que algumas cavernas fossem reabertas
desde que os Planos de Manejo fossem entregues em
um prazo de dois anos. Desafio assumido, começou-se
um trabalho inédito para se cumprir os prazos
e elaborar os 32 Planos exigidos pelo órgão
federal. “Muita gente achou loucura, que não
daria para fazer”, conta José Amaral Wagner
Neto, diretor executivo da Fundação
Florestal. Mas a meta foi atingida e nessa sexta-feira,
05.03, Neto, acompanhado do secretário do
Meio Ambiente do Estado de São Paulo, Xico
Graziano, entregou o Plano de Manejo Espeleológico
da Caverna do Diabo, o primeiro dos 31 que serão
entregues até o final do mês.
“Não há precedentes
no mundo de 32 Planos de Manejo sendo feitos ao
mesmo tempo”, conta Neto que destaca que para cumprir
o prazo assumido foi necessário o empenho
de diversos atores sociais. Ao todo, foram mais
de 100 especialistas envolvidos. “Sozinhos não
iríamos conseguir, procuramos os maiores
espeleólogos do país e formamos uma
grande equipe, além de contarmos com a participação
efetiva da comunidade”, diz o diretor da Fundação.
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A entrega do Plano de Manejo se
deu juntamente com a da revitalização
do Parque da Caverna do Diabo, que agora conta com
um centro de visitantes, estacionamento e restaurante
reformados, nova rede elétrica, projeto paisagístico,
além de um projeto inovador de iluminação
da Caverna, principal atrativo do Parque. Os investimentos,
na ordem de R$ 4 milhões, integram o contrato
de empréstimo com o Banco Interamericano
de Desenvolvimento – BID feito pelo Projeto de Ecoturismo
na Mata Atlântica, da Secretaria do Meio Ambiente
do Estado – SMA, que investirá, até
o final deste ano, US$ 15 milhões nos Parques
Estaduais Turístico do Alto Ribeira – PETAR,
Intervales, Carlos Botelho, Ilha do Cardoso, Ilhabela
e da Caverna do Diabo. O objetivo do Projeto é
aprimorar o desenvolvimento turístico na
região de Mata Atlântica de São
Paulo, proporcionando o desenvolvimento de maneira
sustentável.
“Esta é a região
mais rica em recursos naturais, em culturas tradicionais,
mas uma das mais pobres em desenvolvimento econômico
e social. A cadeia produtiva do ecoturismo é
que vai proporcionar esse desenvolvimento”, diz
Anna Carolina Lobo, coordenadora do Projeto de Ecoturismo
na Mata Atlântica. Anna ainda explica que
este ano conseguiu empenhar todos os recursos do
Projeto, contratar todas as obras necessárias
para os seis parques e agora dará início
às capacitações do setor produtivo
do ecoturismo – empresários, empreendedores,
comunidade e monitores ambientais – para prepará-los
no atendimento da demanda de turistas que irão
para a região em função das
melhorias em andamento.
“Hoje você olha o mapa do
Estado de São Paulo e vê uma mancha
verde: É o Vale do Ribeira, o pulmão
do Estado”, declara o prefeito da Estância
Turística de Eldorado – município
que abriga a Caverna do Diabo –, Donizete Oliveira.
“Damos muito valor a isso, somos chamados de região
atrasada, mas este é o custo dos cuidados
que temos para manter a região preservada”,
declara.
O secretário Xico Graziano
destacou que todas essas mudanças no Vale
do Ribeira começaram há três
anos, quando o ecoturismo tornou-se prioridade e
compôs um dos 21 projetos ambientais estratégicos
da pasta de Meio Ambiente do governo do Estado.
“O Ecoturismo passou a ter recursos e a região
do Vale do Ribeira foi privilegiada, a maior parte
dos investimentos veio para cá”, lembra o
secretário, apontando para o painel que indica
os investimentos no Projeto: R$ 3,6 milhões
para o PETAR, R$ 11,4 milhões para o Parque
Estadual da Ilha do Cardoso, R$ 3,9 milhões
para o Carlos Botelho, R$ 4,5 milhões para
Intervales, R$ 2,5 milhões para Ilhabela,
além dos R$ 4 milhões para o Caverna
do Diabo.
Graziano ainda ressaltou que os
Planos de Manejo Espeleológicos vão
servir de exemplo para todas as Unidades de Conservação
do Brasil. “Estamos dando um exemplo de como se
faz desenvolvimento sustentável”. A população
de Eldorado concorda. O hino da cidade – cantado
pelas crianças da escola municipal para abrir
o evento de entrega de melhoria – diz “Eldorado,
no futuro hás de brilhar”, para o secretário,
hoje o futuro chegou. “O futuro que associa preservação
ambiental com geração de empregos
chegou e o nome desse futuro é ecoturismo”,
completa o secretário, acompanhado de uma
platéia ansiosa e bem preparada para ver
o turismo sustentável tomar conta do Vale
do Ribeira.
Texto: Evelyn Araripe Fotografia: Pedro Calado