31 de Março de 2010 - Washington
— Indústrias Koch agem longe dos olhos do
público e, por baixo dos panos, financiam
os argumentos falsos de quem
nega o aquecimento global.
Uma empresa pouco conhecida, mas
com bastante trabalho, passou a ExxonMobil no quesito
financiamento dos céticos do clima de acordo
com um levantamento realizado pelo Greenpeace. As
Indústrias Koch, com sede nos Estados Unidos,
têm o petróleo no centro de seus negócios,
produziram o 19º homem mais rico do mundo e
carregam um passivo ambiental imenso, que tentam
esconder de todos os jeitos.
O relatório do Greenpeace,
“Indústrias Koch: financiando secretamente
os céticos do clima”, detalha como a empresa
multinacional tem um papel dominante no discurso
negacionista do aquecimento global nos Estados Unidos.
Ela gasta milhões de dólares na promoção
de céticos e seus institutos lobbistas e
na oposição ao avanço de tecnologias
limpas de geração de energia. “Está
na hora de as Indústrias Koch limparem o
jogo e deixarem de lado sua campanha suja e feita
por baixo dos panos contra as ações
de controle das mudanças climáticas”,
afirma Kert Davies, diretor de pesquisa do Greenpeace
dos Estados Unidos.
A Koch financiou (entre outros
exemplos):
- Vinte organizações
especializadas em negar o aquecimento global, que
ecoaram a quatro cantos o Climagate, caso em que
e-mails de cientistas da Universidade de East Anglia
foram hackeados, no fim do ano passado. Essas organizações
afirmam que as mensagens mostram que a ciência
do clima é pouco confiável e ignoram
a avaliação de grupos independentes
que falam o contrário;
- Um artigo pseudocientífico
de 2007, em conjunto com a ExxonMobil e o Instituto
Americano do Petróleo, que tenta refutar
a ciência que mostra como os ursos polares
são ameaçados de extinção
por causa do aquecimento global;
- Um grupo dinamarquês que
produziu um estudo contrário à indústria
de energia eólica da Dinamarca. Esse material
foi usado nos Estados Unidos para rebater o apoio
do presidente Barack Obama a energias renováveis.
Neste ano, o ministro do Meio Ambiente da Dinamarca
rejeitou os resultados do documento;
- Grupos que apóiam e promovem
uma antiga e já refutada análise,
que liga a indústria de energias renováveis
ao desemprego na Espanha. Entre eles, destaca-se
um chamado Americanos pela Prosperidade, fundado
e dirigido por David Koch. Hoje, esse grupo está
em campanha aberta contra o projeto de lei voltado
a energias limpas de Obama, em discussão
no Congresso americano.
“Ao gastar milhões de dólares
no lobby e em financiamento a candidatos, Charles
e David Koch poluem não apenas o ambiente
mas também o processo político americano,
trabalhando para impedir a aprovação
da lei de energia limpa e clima por meio de um lobby
corporativo intenso e financiamento de céticos”,
diz Davies. “Esse processo tem como objetivo atrapalhar
o avanço das negociações internacionais
em torno de uma política de controle das
mudanças climáticas, com o enfraquecimento
da legislação americana no centro
dessa estratégia.”
Carta aberta do Greenpeace as
Índústrias Koch no Brasil
As Indústrias Koch são
um conglomerado de US$ 100 bilhões, dominado
por negócios em petroquímica, que
operam em cerca de 60 países, com 70 mil
funcionários. A maioria das operações
é invisível ao público, com
exceção de algumas poucas marcas,
como Lycra® e Cordura®. No Brasil o grupo
Koch está presente na forma de quatro empresas,
“Georgia Pacific”, “Koch mineral services”, “Koch
chemical technology group” e “Invista”.
“As empresas e funcionários do grupo Koch
no Brasil tem a obrigação moral de
exigir explicações e mudanças
das atitudes de seus pares norte-americanos”, diz
João Talocchi, coordenador da campanha de
clima do Greenpeace Brasil. “No site das empresas
existem diversas referências ao uso da boa
ciência, responsabilidade socioambiental e
criação de valores. Ao atacar a ciência
e legislação sobre mudanças
do clima, eles só aumentam o buraco entre
o discurso e a realidade”, complementa Talocchi.
Parte da influência da Koch
é centrada em três fundações,
também controladas por David e Charles Koch.
No financiamento de campanhas de céticos,
a ExxonMobil gastou cerca de US$ 9 milhões
entre 2005 e 2008. No mesmo período, as fundações
controladas pelas Indústrias Koch gastaram
cerca de US$ 25 milhões. Entre os grupos
financiados, estão velhos centros de negação
da ciência do clima, entre eles o Mercatus
Center, a Fundação Heritage, o Instituto
Cato, a Fundação Legal de Washington
e a Fundação para Pesquisa de Economia
e Ambiente (Free, na sigla em inglês).
+ Mais
ANP impedida de licitar blocos
de exploração de petróleo na
região de Abrolhos
22 de Março de 2010 - Na
região de Abrolhos, a exploração
de petróleo e a carcinicultura ameaçam
uma grande área de algas calcáreas,
que funcionam como depósitos de carbono.
Decisão da Justiça Federal, divulgada
hoje, impede a Agência Nacional de Petróleo
(ANP) de licitar blocos exploratórios de
petróleo e gás que estejam em um raio
de 50 Km no entorno do Parque Nacional Marinho de
Abrolhos e adjacências, no Sul da Bahia.
Criado em 1983, o Parque Nacional
Marinho dos Abrolhos está sendo ameaçado
pela tentativa da ANP de expandir a exploração
de gás e óleo em seu entorno"Além
da importância do Banco dos Abrolhos para
a biodiversidade, estamos falando aqui do maior
vetor do aquecimento global: a exploração
de petróleo", afirma Leandra Gonçalves,
coordenadora da campanha de oceanos do Greenpeace
Brasil.
A notícia é boa,
mas não é definitiva. Ainda cabe recurso
da decisão da Justiça Federal. Em
2009 o Greenpeace realizou uma série de protestos
em Abrolhos, pedindo a criação da
Zona de Amortecimento (ZA) com 95 mil quilômetros
quadrados para proteger o Parque Marinho e ajudar
a manter a capacidade dos oceanos de atuarem como
reguladores climáticos. “Essa Zona ainda
não foi regulamentada e, apesar da determinação
de hoje amenizar o problema, isso ainda não
é a solução”, comenta Leandra.
A decisão da Justiça
teve origem em uma ação proposta pelo
procurador da República Danilo Dias, baseado
em um estudo da ONG Conservação Internacional
do Brasil. O documento, elaborado por especialistas
de diversas áreas, concluiu pela zona de
exclusão de 50 km, além de listar
153 impactos negativos sobre distintos grupos de
organismos, ecossistemas e meio sócio-econômico
das regiões afetadas nas três fases
que compõem a exploração de
petróleo.
A região tem a maior biodiversidade
do Atlântico Sul, com um mosaico de ambientes
marinhos e costeiros margeados por remanescentes
de Mata Atlântica, incluindo recifes de coral,
fundos de algas, manguezais, praias e restingas.
Lá podem ser encontradas várias espécies
endêmicas (que só existem na região),
incluindo o coral-cérebro, crustáceos
e moluscos, além de tartarugas e mamíferos
marinhos ameaçados, como as baleias jubarte.