Divulgação/MCT -
Estudos avaliaram 30 espécies marinhas, mas
o ouriço foi a que apresentou os melhotres
resultado.
12/04/2010 - 17:23
Cientistas da Universidade Católica de Brasília
(UCB) descobriram no ouriço-do-mar uma substância
com a qual pretendem desenvolver um antibiótico
para ajudar no combate as infecções
hospitalares. Estudos que ainda estão em
andamento mostram que uma proteína presente
nos animais eliminou com maior eficiência
as bactérias Escherichia coli, Salmonella,
Proteus e Klebsiella, que causam infecções
intestinais, renais e pulmonares.
Há 15 anos trabalhando
com antibióticos, o pesquisador Octávio
Franco do Centro de Ciências Genômicas
e Biotecnologia da UCB, coordena dois projetos que
buscam o controle dessas doenças por meio
de compostos extraídos de animais marinhos.
No início dos estudos foram analisadas cerca
de 30 espécies de invertebrados, mas foi
o ouriço-do-mar que se mostrou mais eficiente.
“Foi um sucesso porque descobrimos
uma coisa nova num organismo tipicamente nacional
e que funciona muito bem; além de ser totalmente
natural”, comemora o pesquisador.
O Centro trabalha com uma série
de antibióticos e detém cinco patentes.
Seu foco é encontrar princípios ativos
alternativos aos convencionais, em geral fungos
e bactérias. A pesquisa recebe investimento
do Conselho Nacional de Desenvolvimento Científico
e Tecnológico (CNPq/MCT), da Coordenação
de Aperfeiçoamento de Pessoal de Nível
Superior (Capes), da Fundação de Apoio
a Pesquisa do Distrito Federal (FAP-DF) e do Fundo
de Amparo à Pesquisa do Estado de Minas Gerais
(Fapemig), além da própria universidade.
Franco, que também é
professor, explica que com o passar do tempo, as
bactérias causadoras de infecção
hospitalar se tornam resistentes aos medicamentos
convencionais, e “desta forma é preciso buscar
outras fontes de fármacos”, diz.
Segundo ele, o que despertou o
interesse do grupo por animais marinhos foi a capacidade
deles de se adaptarem muito bem a ambientes extremamente
agressivos e competitivos, cheios de microorganismos.
“Então, basicamente os escolhemos pela alta
capacidade de resistência a agressividade
ambiental que enfrentam. Acabamos usando deles o
que a natureza levou milhões de anos para
desenvolver”, diz Franco.
Os cientistas da UCB, que trabalham
em rede com grupos da Bahia, Inglaterra, Estados
Unidos, Austrália e Cuba, receberam exemplares
de diversas espécies da costa brasileira
e do caribe para as pesquisa.
Essa articulação
foi necessária, diz Franco, porque Brasília
está muito longe da faixa litorânea.
O trabalho cooperativo permite se economizar com
o deslocamento de uma grande equipe e na infraestrutura
para a coleta marinha.
O pesquisador conta que o antibiótico
se mostrou eficaz em laboratório e que aguarda
o desenrolar do processo de patenteamento. Franco
diz, que, além da falta de experiência
com a burocracia nos trâmites para essa finalidade
a equipe ainda tem que enfrentar outras questões
para prosseguir com os testes clínicos. “Encontramos
muita dificuldades hoje no País para fazer
com que um fármaco aconteça. É
muita burocracia a ser enfrentada e isso atrapalha
muito”, desabafa. Em sua opinião, “é
muito mais fácil se descobrir um antibiótico
do que colocá-lo no mercado”, critica o cientista.
Franco diz que “é extremamente frustrante
saber que temos uma série de compostos estudados
e que grande parte deles, não se transformará
em benefício real à população”,
lamenta.
Ainda de acordo com o professor,
atrair o interesse de empresas multinacionais produtoras
de fármacos é “realmente problemático”,
pois elas geralmente trabalham com a perspectiva
de alto lucro ”e não se interessam em investir
em medicamentos que trarão retorno apenas
razoável, como antibióticos”.
De qualquer maneira ele diz que
não se pode parar com as pesquisas. Para
ele, um dos meios de se vencer parte desse entrave
“é o governo, além dos estudos, investir
também nas empresas, principalmente as de
pequeno porte que atuam no ramo da produção
de medicamentos”.
Consumo
Estudo divulgado no mês
passado pela Revista Panamericana de Saúde
Pública aponta que entre 1997 e 2007 aumentou
em 10% o consumo médio de antibióticos
nos oito países de maior mercado farmacêutico
da América Latina. Os autores do levantamento
analisaram indicadores de venda de antibióticos
com e sem prescrição médica
em farmácias, clínicas privadas e
hospitais da Argentina, Brasil, Chile, Colômbia,
México, Peru, Uruguai e Venezuela.
Como parâmetro ele usaram
a Dose Diária Definida (DDD) por mil habitantes.
Isso significa que 10 pessoas em cada grupo de mil
consomem uma dose diária de antibiótico.
Indica o levantamento que enquanto em 1997 o consumo
promédio foi de 10,92 DDD, em 2007 se elevou
para 11,99 DDD, o equivalente a um aumento de 9,8%.
Em 1997, o consumo mais alto de
antibiótico foi registrado no México
(15,69 DDD), seguido da Argentina (14,37), Chile
(14,07), Colômbia (12,17) e Venezuela (11,18).
O menor uso foi registrado no Peru (7,91), Brasil
(6,51) e Uruguai (5,43).
Dez anos depois a lista é
encabeçada pela Argentina (16,64), seguida
da Venezuela (15,99), Peru (13,50), México
(13,26) e Chile (12,53). O consumo mais baixo foi
registrado no Brasil (7,01), Colômbia (8,07)
e Uruguai (8,9).