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A alteração da temperatura
influencia na vida marinha. 22/04/2010 - Além
das possíveis alterações climáticas
e suas consequências, o aumento da temperatura
no planeta ameaça também o ecossistema
marinho. Ambientalistas e pesquisadores se dizem
alarmados com o branqueamento dos corais, fenômeno
registrado no Brasil e em quase todo o mundo, atribuído,
principalmente, à elevação
da temperatura dos oceanos.
Na costa da Bahia, por exemplo,
as primeiras avaliações realizadas
após o verão já mostram mudanças.
O tom colorido das algas que encobrem a estrutura
dos corais tem dado lugar ao branco do esqueleto
calcário dessas espécies marinhas.
De acordo com informações
do Projeto Coral Vivo - Organização
de pesquisadores ligados ao Museu Nacional da Universidade
Federal do Rio de Janeiro (UFRJ) -, neste ano, a
temperatura da água do mar ficou muito acima
da normal. Situação notada mesmo em
locais sem controle de temperatura formal. A informação
é confirmada por Zelinda Leão, do
Instituto de Geociências da Universidade Federal
da Bahia (Ufba).
Professora do curso Pós-graduação
em Geologia da UFBA ela coordena, juntamente com
Ruy Kikuchi, o grupo de pesquisa Recifes de Corais
e Mudanças Globais, credenciado pelo Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq/MCT).
Entre as linhas de estudo, o grupo
monitora, desde 1998, o estado de saúde,
as condições dos recifes e a resposta
dos corais às variações dos
parâmetros ambientais, como a temperatura
e a turbidez da água. Segundo Zelinda, a
anomalia térmica já alcança
quase 1ºC (acima da máxima dos últimos
10 anos, sendo a média de 28ºC). “O
suficiente para os corais ficarem brancos”, ressalta.
Simbiose
Corais são animais marinhos
do grupo dos cnidários, que inclui também
as anêmonas, as águas-vivas ou medusas
e os “corais de fogo” (hidrozoários). São
invertebrados (animais sem espinha dorsal) capazes
de secretar por baixo do tecido um esqueleto externo
calcário (como nossos ossos) ou córneo
(como nossas unhas). No interior do tecido do coral
vivem várias algas microscópicas chamadas
zooxantelas. Estas algas têm uma relação
de simbiose com o coral, na qual a alga fornece
ao pólipo alimento por meio do processo de
fotossíntese e, em troca, recebe proteção
e nutrientes.
A especialista em geologia de
recifes esclarece que a descoloração
dos corais pode ser explicada pela morte, expulsão
ou perda de pigmento das algas. “O esqueleto do
coral é branco, o tecido do coral é
transparente. Ele tem cor porque vive em simbiose
com essas microalgas que têm pigmentos, o
coral tem, portanto, o pigmento delas”, explica.
Zelinda conta que a situação
não é nova. Os eventos de branqueamento
passaram a ser registrados no Brasil desde 1993
e, na Bahia, desde 1998. “Foi a primeira vez que
avaliamos quantitativamente o fenômeno no
estado. Também tivemos registros nos verões,
de 2002, 2003, 2005 e agora; relacionados a anomalias
térmicas mais elevadas e mais duradouras,
coincidindo com a presença do El Niño
(alteração do clima em todo o Pacífico
equatorial, quando as massas de ar quentes e úmidas
acompanham a água mais quente, provocando
chuva excepcional na costa oeste da América
do Sul).
Para especialistas, essa condição
pode representar ameaça de extinção
das espécies no futuro. O mundo perdeu 19%
dos seus recifes de coral desde 1950 e outros 15%
estão seriamente ameaçados de desaparecer
ao longo das próximas duas décadas.
Essas são algumas informações
da edição de 2008 da Status dos Recifes
de Coral do Mundo, publicação bianual
da Rede Mundial de Monitoramento de Recifes de Coral
(GCRMN, na sigla em inglês), que reúne
informações sobre a situação
de 96 países.
Uma boa parte dos recifes consegue
se recuperar, mas os pesquisadores temem que o aquecimento
do planeta torne os branqueamentos cada vez mais
frequêntes e perigosos, causando mortandade
em massa de corais ao redor do mundo. “Mas nós
ainda (Brasil) não tivemos branqueamento
de larga escala como foi registrado no Atlântico
Norte e no Oceano Pacífico. O nosso (Atlântico
Sul) é um branqueamento de menor escala.
Ainda não registramos mortalidade em massa
dos corais”, afirma Zelinda.
Os estudos agora estão
voltados à avaliação da resistência
das espécies, por meio de testes com variação
de temperatura em aquários. “O nosso objetivo
é ver que espécies resistirão
mais ao branqueamento, para fazer previsões
de como serão esses recifes no futuro. O
que se observa no mundo é que os corais em
processo de branqueamento estão se tornando
mais fracos, menos resistentes e atacados por doenças
causadas por vírus, bactérias, etc.
Isso está causando a morte, inclusive no
Brasil”, revela.