15/05/2010
Agência Brasil
Rio de Janeiro – A poluição é
o principal fator de empobrecimento das comunidades
pesqueiras da Baía de Guanabara. Esta é
a avaliação do presidente da Federação
dos Pescadores do Rio de Janeiro (Feperj), José
Maria Pugas. Para ele, o Programa de Despoluição
da Baía de Guanabara, que poderia reativar
a pesca na região, anda em ritmo lento.
“O nosso maior apelo é
que as questões ambientais sejam enfrentadas
verdadeiramente, e os critérios de licenciamento
de empreendimentos industriais sejam mais rígidos.
O programa de despoluição da Baía
ficou parado por quatro meses, só as estações
de tratamento de esgotos estão evoluindo,
mas não em sua plenitude. As redes de coletas,
que ao meu ver são a prioridade, estão
sendo construídas e tem melhorado. Mas tudo
está longe do ideal”, destacou Pugas.
Pugas também critica a
ocupação industrial das áreas
ao redor da baía. E é acompanhado
pelo ambientalista Sérgio Ricardo, da organização
não governamental Verdejar, que denuncia
os impactos ambientais que decorrentes dessa ocupação
sem planejamento. “De quatro anos para cá,
a baía está sofrendo um processo de
reindustrialização. Isso gera vários
impactos ambientais como as áreas de exclusão
de pesca: cada empreendimento ocupa um local que
proíbe a pesca a determinada distância.
Sobraram apenas 13 áreas pequenas próximas
do canal central e da ponte Rio-Niterói,
e não está havendo nenhuma compensação
ambiental”, afirmou o ambientalista.
Na comunidade da Vila Pinheiro,
no Complexo da Maré, zona norte do Rio, existe
uma colônia de pescadores embaixo do viaduto
da Linha Vermelha, uma das principais vias expressas
da cidade. Aproximadamente 40 pescadores circulam
cotidianamente na região, entre os canais
do Cunha e do Fundão. Dependendo das condições
do mar, chegam a pescar, em média, 40 quilos
de peixes, que são vendidos na Central de
Abastecimento (Ceasa).
“Estamos tendo muitos barcos danificados
devido às obras, os canos de dragagem têm
obstruído o canal [do Cunha]. Antes nós
passávamos até com maré vazia.
Amanhã eu não sei, a tendência
é melhorar, mas hoje não vemos diferença
nenhuma”, reclama o pescador Francisco de Assis,
da colônia da Vila Pinheiro.
Pedro Machado, também da
colônia, elogiou a implantação
das barreiras ecológicas, chamadas Eco Barreiras
que, além de conter o lixo, geram renda para
as cooperativas da região. Mas o pescador
pondera que as pessoas precisam ser educadas para
não jogar lixo nos rios. “A minha família
mora às margens do Rio Faria Timbó,
em Manguinhos. A última chuva forte no Rio
encheu mais de 1 metro dentro de casa, coisa que
as pessoas achavam que não ia mais acontecer
por causa da dragagem que fizeram na região
há cinco anos. Colocaram essa barreira de
contenção, que ajudou muito. Mas ainda
falta conscientização, reeducar as
comunidades e explicar que não pode jogar
lixo nos rios”, disse o pescador.
“O Canal do Cunha é a parte
mais poluída da Baía de Guanabara,
tanto por esgotos como pela poluição
industrial. Recebe esgoto sem tratamento de toda
a zona norte e da Leopoldina, onde concentram-se
grandes favelas, como Maré, Manguinhos, Jacarezinho
e Alemão. Além do parque industrial
instalado na região, como a refinaria de
Manguinhos, que há décadas polui a
Baía de Guanabara”, explicou Sérgio
Ricardo.
Edição: Vinicius Doria
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Dragagem do Canal do Fundão
ameniza poluição que afeta a Baía
de Guanabara
15/05/2010
Da Agência Brasil
Rio de Janeiro - A degradação ambiental
do Canal do Fundão é preocupante.
O canal está assoreado, o que dificulta a
navegação pesqueira. O mau cheio é
habitual. O problema começou em 1950, quando
a região foi aterrada para a criação
da Ilha do Fundão, onde hoje funciona a maioria
das instalações da Universidade Federal
do Rio de Janeiro (UFRJ), e do Complexo da Maré,
que já foi a maior favela sobre palafitas
do Rio e hoje está parcialmente urbanizada.
Desde essa época, o risco
de doenças nas comunidades da região
é permanente, sobretudo nos afluentes do
Canal do Cunha, cujas águas desembocam no
Canal do Fundão, antes de chegar à
Baía de Guanabara. O acúmulo de materiais
contaminados, do lixo sólido e do grande
volume de esgoto doméstico e industrial contribuem
para aumentar os índices de poluição.
As obras no Canal do Fundão,
que iniciaram em maio de 2009, integram o Programa
de Despoluição da Baía de Guanabara
(PDBG). O projeto está sendo executado pela
construtora Queiroz Galvão, com financiamento
da Petrobras, sob responsabilidade da Secretaria
Estadual do Ambiente e da Fundação
Bio-Rio. O valor do contrato é de R$ 184
milhões, e visa a recuperação
ambiental da região com a reurbanização
completa do local.
O subsecretário estadual
do Ambiente, Antônio da Hora, destaca que
já foram dragados cerca de 400 mil metros
quadrados (m³) de sedimentos com a retirada
de 150 toneladas de resíduos no Canal do
Fundão. Uma das dificuldades, segundo o subsecretário,
é levar as máquinas para o canal,
por causa das pontes e da falta de acessos às
margens. Depois de concluído o trabalho de
dragagem, da Hora acredita que os benefícios
serão sentidos rapidamente pela população
local. “Essa região é a foz do Canal
do Cunha, que por sua vez é a foz de diversos
rios da região. Uma vez que vamos desobstruir
a boca de saída deles na Baía de Guanabara,
vamos desobstruir o fluxo dos rios e também
reduzir a possibilidade de enchentes”, disse.
Instalados em aproximadamente
56.000 m², divididos em duas áreas,
os bolsões de desassoreamento do canal irão
retirar 200 m³ de material contaminado por
mês. Em um dos bolsões, os resíduos
retirados do fundo do canal já chegam a 2
metros de altura.
Mas os ambientalistas criticam
a dragagem do canal. “Aquilo ali não tem
nenhum benefício concreto para as comunidades
em volta, não é saneamento básico,
não é recuperação de
nada, é uma dragagem sem conter o assoreamento.
Nós corremos o risco de, daqui a três
anos, ter de dragar novamente”, critica o ambientalista
Sérgio Ricardo, da organização
não governamental Verdejar.
Antônio da Hora contesta
o ambientalista. Ele garantiu que a dragagem não
é “algo para cinco ou dez anos”. Barreiras
ecológicas foram instaladas para conter o
lixo que flutua nos rios e, assim, as águas
passariam a circular normalmente. “Nossa expectativa
é de que a região passe a ter um assoreamento
normal de 1 a 3cm por ano. A água que não
circula terá seu fluxo normalizado, trazendo
benefícios para toda a região”, afirmou
da Hora.