Essa e pelo menos outras cinco
espécies, como o pinóquio das pererecas
e uma peculiar lagartixa, são as novidades
encontradas por cientistas
durante expedição na ilha de Nova
Guiné, na Indonésia
Arlington, 17 de maio de 2010
— Uma expedição científica
na ilha de Nova Guiné, na Indonésia,
revelou uma impressionante diversidade de espécies,
muitas das quais provavelmente novas para a ciência,
segundo anúncio feito hoje pela ONG Conservação
Internacional (CI) e a National Geographic Society,
durante a semana que comemora o Ano Internacional
da Diversidade Biológica em 2010.
O grupo de novas espécies,
que inclui vários mamíferos, um réptil,
um anfíbio, nada menos que doze insetos e
a notável descoberta de uma nova ave, foi
encontrado por uma equipe colaborativa de cientistas
indonésios e internacionais que integraram
o Programa de Avaliação Rápida
(RAP, da sigla em inglês) da Conservação
Internacional, que explorou as remotas Montanhas
Foja, na ilha da Nova Guiné, Indonésia,
no final de 2008.
Os levantamentos RAP, que tipicamente
duram entre três e quatro semanas, reúnem
equipes de biólogos de campo para conduzir
uma primeira etapa de avaliações rápidas
sobre o valor biológico de áreas selecionadas.
Os biólogos dessa expedição
arriscaram suas vidas em chuvas torrenciais e inundações
repentinas enquanto procuravam espécies desde
o sopé das montanhas na vila Kwerba até
um cume de 2.200 metros, relatando notáveis
descobertas que incluíram uma estranha perereca
com nariz pontudo; um enorme, mas incrivelmente
manso, rato lanudo; uma lagartixa-gárgula,
com dedos tortos e olhos amarelos; um pombo-imperial;
e um pequeno canguru-da-floresta, o menor membro
de sua família documentado em todo o mundo.
A perereca (Litoria sp. nov.),
detentora de uma longa protuberância em seu
nariz – do tipo Pinóquio, que aponta para
cima quando o macho está vocalizando, mas
desinfla e aponta para baixo quando ele está
menos ativo -, representa um achado particularmente
único, que os cientistas estão interessados
em documentar e estudar em mais detalhes. Sua descoberta
foi um golpe de sorte, quando o herpetólogo
Paulo Oliver observou o animal em cima de um saco
de arroz no acampamento.
Outras descobertas registradas
durante o levantamento RAP incluem um morcego-de-flor
(Syconycteris sp. nov.) que se alimenta de néctar
da floresta tropical, um pequeno camundongo-arborícola
(Pogonomys sp. nov.), uma borboleta preta e branca
(Ideopsis fojana), parente da borboleta monarca,
e um arbusto em flor (Ardisia hymenandroides). Imagens
dos animais nunca antes vistos foram capturadas
pelo fotógrafo da revista National Geographic,
Tim Laman. Além do novo diminuto canguru
(Dorcopsulus sp. nov.), os cientistas obtiveram
as primeiras fotografias de um exemplar de canguru-arborícola-de-manto-dourado
na natureza, que é extremamente raro e criticamente
ameaçado de extinção pela caça
em outras partes da Nova Guiné.
Talvez a maior surpresa da expedição
tenha ocorrido quando o ornitólogo Neville
Kemp observou um par de uma nova espécie
de pombo imperial (Ducula sp. nov.) com penas cor
de ferrugem, brancas e acinzentadas. Esse novo pombo
imperial foi avistado quatro vezes pelos cientistas,
mas não foi visto em estudos anteriores,
o que poderia indicar uma população
muito pequena.
A expedição de novembro
de 2008 foi realizada com apoio científico
e financeiro da National Geographic Society, do
Instituto Smithsonian e do Instituto de Ciências
da Indonésia e marcou o retorno a uma região
montanhosa reconhecida por cientistas como grande
fonte de espécies devido ao seu relativo
isolamento elevação e ambiente tropical.
As Montanhas Foja, localizadas
na província indonésia de Papua, na
ilha de Nova Guiné, abrangem uma área
superior a 300.000 hectares de floresta tropical
sem estradas, desenvolvimento ou distúrbios
antrópicos. A saúde e a biodiversidade
dessa grande região natural fornecem sequestro
de carbono crítico para o planeta, bem como
outros serviços ambientais vitais para uma
série de povos que vivem na floresta e dependem
de seus recursos.
Relatórios recentes mostram
que os países falharam no cumprimento das
metas acordadas em 2002 para reduzir a taxa de perda
de biodiversidade até 2010, declarado pelas
Nações Unidas como o Ano Internacional
da Biodiversidade. Em outubro, a comunidade internacional
se reunirá no Japão para discutir
novas metas para os próximos 40 anos.
Enquanto animais e plantas estão
sendo aniquilados em todo o mundo num ritmo nunca
visto em milhões de anos, a descoberta dessas
formas de vida absolutamente incríveis são
notícias positivas muito necessárias,
afirma Bruce Beehler, pesquisador sênior da
CI e integrante da expedição. “Locais
como esses representam um futuro saudável
para todos nós, e mostram que não
é tarde demais para frear a atual crise de
extinção de espécies",
diz.
Um artigo especial sobre a expedição,
“Descoberta nas Montanhas Foja”, será publicado
na edição de junho de 2010 da revista
National Geographic. O Conselho de Expedições
da National Geographic Society forneceu apoio financeiro
ao projeto.
“As Montanhas Foja são
uma ilha virtual onde espécies têm
evoluído há milênios”, aponta
John Francis, vice-presidente de Pesquisa, Conservação
e Exploração da National Geographic
Society. “Estamos muito satisfeitos em apoiar essa
expedição reveladora, que aumenta
nossa valorização da biodiversidade
global”.
A CI espera que a documentação
dessa biodiversidade endêmica e incomparável
venha a incentivar o governo da Indonésia
a fortalecer a proteção dessa área
em longo prazo, que hoje é classificada como
um santuário nacional de animais silvestres.
Com 20 anos de história
de levantamentos RAP, a Conservação
Internacional está agora prestes a embarcar
em um projeto ambicioso – duplicar ou mesmo triplicar
o número de espécies descobertas por
cientistas colaboradores no decorrer dos próximos
anos, buscando aumentar sua procura em cantos inexplorados
de nosso planeta. Muitas das espécies ainda
não descritas podem beneficiar a saúde,
a alimentação e o fornecimento de
água potável necessários à
humanidade e, portanto, são importantes para
a conservação.