26/05/2010
Luana Lourenço
Repórter da Agência
Brasil
Brasília - Entre 2008 e 2010, uma área
equivalente à de 12,5 mil campos de futebol
foi devastada em Minas Gerais. O estado é
o campeão de desmatamento da Mata Atlântica
no período, de acordo com os novos dados
do Atlas dos Remanescentes Florestais da Mata Atlântica,
divulgado hoje (25) pelo Instituto Nacional de Pesquisas
Espaciais (Inpe) e pela Fundação SOS
Mata Atlântica.
Em relação ao atlas
anterior, com dados de 2005 a 2008, houve aumento
de 15% na taxa anual de desmate em Minas Gerais.
De acordo com a diretora de Gestão do Conhecimento
e coordenadora do atlas pela SOS Mata Atlântica,
Márcia Hirota, o crescimento está
relacionado à expansão da fronteira
agropecuária e principalmente à produção
de carvão vegetal para usinas siderúrgicas
da região. “A Bacia do Jequitinhonha é
hoje a mais ameaçada do país.”
O município de Porto dos
Volantes, na região do Jequitinhonha, registrou
sozinho 3,2 mil hectares de desmatamento, mais que
o dobro da devastação somada dos estados
do Rio de Janeiro, de São Paulo, Mato Grosso
do Sul, do Espírito Santo e de Goiás
no mesmo período
“No caso do carvão, é
possível resolver o problema, muitas siderúrgicas
já partiram para fazer o plantio. Não
é só proteger o bioma, o mico-leão,
estamos falando de gente sendo usada como mão
de obra escrava, dentro dos fornos de carvão.
Passam os anos e não vemos a presença
do Poder Público, são lugares conhecidos”,
acrescentou o diretor de políticas públicas
da ONG, Mário Mantovani.
Nove estados do bioma foram avaliados
para o atlas: Rio de Janeiro, São Paulo,
Mato Grosso do Sul, Espírito Santo, Goiás,
Minas Gerais, Paraná, Santa Catarina e Rio
Grande do Sul. Os estados nordestinos com Mata Atlântica
não foram mapeados por causa da cobertura
de nuvens e devem ter os dados incluídos
até o fim do ano.
O Paraná aparece como segundo
colocado no levantamento. De 2008 a maio de 2010,
a taxa anual de desmatamento da Mata Atlântica
foi de 2,7 mil hectares. O estado, que tinha 98%
de seu território coberto pelo bioma, hoje
tem apenas 10,5% de floresta remanescente.
Apesar de reduzir o desmate em
75% em relação ao período anterior
(2005-2008), Santa Catarina é o terceiro
estado listado pelo atlas entre os que mais desmataram
o bioma costeiro. A taxa anual de desflorestamento
registrada pelo Inpe foi de 2.143 hectares. A queda
expressiva pode estar ligada às catástrofes
naturais que atingiram o estado nos últimos
dois anos e que podem ter freado a economia e a
demanda por produtos florestais.
“Foi uma surpresa que merece estudos.
Porque a lei lá continua ruim, induz a degradação.
Santa Catarina é um dos estados que mais
se voltou contra a Lei da Mata Atlântica”,
avalia Mantovani.
O Rio Grande do Sul registrou
aumento de 83% na taxa de desmatamento anual, que
saiu de 1.039 hectares/ano para 1.897 hectares/ano.
De acordo com o atlas, Minas Gerais,
Paraná e Santa Catarina são as áreas
mais críticas para a Mata Atlântica,
pois concentram grandes porções do
bioma, o que acaba resultando em desmatamentos de
grande extensão.
A conservação do
que restou e a recuperação do bioma
dependem de fiscalização e do desenvolvimento
de negócios sustentáveis, como o ecoturismo,
segundo Márcia Hirota. A coordenadora também
destaca o papel das Reservas Particulares do Patrimônio
Natural (RPPNs). “Já são mais de 700
no bioma. A maior parte do que resta de Mata Atlântica,
mais de 80%, está nas mãos de particulares,
temos que ajudá-los a preservar”.
Edição: Lílian Beraldo