Panorama
 
 
 

CÓDIGO FLORESTAL: MUITO MAIS CARBONO NO AR

Panorama Ambiental
São Paulo (SP) – Brasil
Junho de 2010

Notícia - 10 jun 2010
Cálculo conservador conclui que, somente na Amazônia, a conta de emissões de CO2 aumenta em 31,5 bilhões, caso seja mantida proposta de mudança no Código Florestal.

A destruição das florestas tropicais coloca o Brasil entre os maiores emissores de CO2 do mundo.
Se aprovada, a proposta ruralista para o novo Código Florestal, apresentada ontem (09.06) pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), poderá provocar, em um cálculo conservador, um aumento de nas emissões brasileiras de CO2 na atmosfera.

O cálculo, resultado de uma estimativa preliminar do Greenpeace e do Instituto de Pesquisa Ambiental da Amazônia (Ipam), vale somente para a Amazônia e foi feito com base em um dos artigos do novo texto, o que extingue das pequenas propriedades a Reserva Legal, área de mata nativa que, pelo atual Código Florestal, deve ser mantida em qualquer propriedade rural.

A conta: ficam dispensadas de preservar a área de Reserva Legal propriedades com menos de quatro módulos – na média, algo em torno de 400 hectares. Multiplicando este valor pelo número de pequenas propriedades da região, estimado pela própria Confederação Nacional da Agricultura (CNA), perderemos cerca de 30 milhões de hectares protegidos.

O Greenpeace partiu para um cálculo ainda mais conservador. Descontou destas, um terço, considerando que são propriedades que não se encontram sob o registro do bioma Amazônia, onde o percentual de proteção é de 80%, e sim do Cerrado, cujo valor cai para 35%. Fechou-se assim em 20 milhões de hectares.

Para as fazendas maiores de quatro módulos, a área de Reserva Legal começa a ser computada descontando-se os 400 hectares. Se considerarmos que temos 122 mil fazendas nestas condições – de novo, números da CNA - a matemática nos leva a mais 48,8 milhões de hectares que deixam de ser preservados. Mais uma vez sendo conservador, o cálculo supôs que todas estas propriedades estão no bioma Cerrado e lá se vão outros 17 milhões de hectares de floresta.

“Se levarmos em consideração que todo o Acre, Amapá, Amazonas, Pará, Rondônia e Roraima e partes do Tocantins e Maranhão são regiões de bioma Amazônia, que deveriam ter 80% de Reserva Legal preservadas, o número real é muito maior”, diz Paulo Adário, coordenador da Campanha de Amazônia.

Somados os valores acima, chega-se a 85 milhões de hectares de áreas protegidas perdidas. “Isto, multiplicado por 366 toneladas de CO2 por hectare, número também conservador do governo para a quantidade de carbono por área de floresta, estaremos emitindo 31,5 bilhões de toneladas de CO2, ou sete vezes mais do que a meta de redução do governo brasileiro para 2020”, conclui Paulo Adário.

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Embate pelo atum azul na Europa

Notícia - 14 jun 2010
Greenpeace tenta libertar peixes presos em cercado de engorda no Mediterrâneo; espécie está ameaçada de extinção por causa da superexploração.

Ativistas do Greenpeace realizaram ontem um protesto contra a pesca predatória do atum azul, espécie ameaçada de extinção, no Mediterrâneo. Apesar de a ação ter caráter não-violento, os pescadores responderam agressivamente, lançando sinalizadores sobre os ativistas e disparando canhões de água.

O foco da ação foi um cercado cheio de peixes, capturados alguns dias antes. A estrutura foi montada para engordar os animais e vendê-los a preços exorbitantes no mercado internacional. Os ativistas partiram em sete botes infláveis, a partir de dois navios do Greenpeace na região, o Arctic Sunrise e o Rainbow Warrior, e tentaram libertar os animais.

Cerca de 80% do atum azul do Mediterrâneo já foi pescado. O Greenpeace pede uma moratória da exploração dessa espécie, para que a população possa se recuperar.

"Libertar o atum azul é a única coisa responsável a ser feita, pelo futuro dos peixes e dos oceanos", afirma Oliver Knowles, coordenador da campanha de oceanos do Greenpeace Internacional, a bordo do Rainbow Warrior. "O Greenpeace confrontará a qualquer pesca de atum azul em qualquer ponto do Mediterrâneo."

Na semana passada, a Comissão Europeia ordenou a alguns navios que interrompam suas atividades uma semana antes do fim do período permitido de pesca, depois de já terem atingido sua cota, uma vez que a continuidade da exploração pode levar a espécie a sumir. Isso não impediu, contudo, que a exploração continuasse.

Os ativistas que passaram a temporada a bordo do Rainbow Warrior e tentaram impedir a pesca desenfreada do atum azul sofreram sérias represálias. Ao participarem de uma ação, foram feridos por ganchos atirados por um barco pesqueiro.

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Liberou geral

Notícia - 14 jun 2010
Proposta de mudança do Código Florestal entrega na mão dos estados, recheada de interesses políticos, a delicada tarefa de legislar sobre nossas florestas.

Florestas são bens de interesse comum a todos os habitantes de um país. Mas, se depender da proposta ruralista de alteração do Código Florestal, as nossas vão virar balcão de negócios. O novo texto, elaborado pelo deputado Aldo Rebelo (PCdoB/SP), prevê que o poder de legislar e definir as normas e regras ambientais não será mais do governo federal, sim de cada Estado, ou até mesmo município.

Estadualizar uma lei de forma a torná-la mais flexível é algo inconstitucional. Do ponto de vista técnico, as regras federais são gerais e cabe aos Estados serem mais restritivos. A proposta segue o caminho oposto, descaracterizando leis que deveriam atender ao interesse de todos, tornando-as mais permissivas e, acima de tudo, sujeitas a interesses políticos.

"As florestas não conhecem divisão administrativa de Estado. Como vai ser para um rio que corte mais de um estado, se cada uma deles definir que pode desmatar mais do que o outro?", diz Rafael Cruz, coordenador da Campanha de Código Florestal. "Além disso, falta capacidade operacional de fiscalização e análise técnica nas instâncias estaduais. Isto é tarefa para o governo federal."

O texto ruralista dá sinal de liberou geral para o desmatamento. Ele prevê que passe a ser competência dos Estados elaborar um chamado Plano de Regularização Ambiental (PRA), conjunto de normas que ditam a adequação das propriedades rurais à lei.

Logo surgem as maldades. O texto agracia os proprietários rurais com cinco anos (prazo dado para que o tal PRA seja implementado em cada Estado) de isenção de multa por crime ambiental, além de dar aval para que explorem as florestas como bem lhes convier, mesmo que suas atividades estejam desrespeitando a lei.

A definição do tamanho das Áreas de Preservação Permanente (APP), regiões como margens de rios e cursos d’água, que têm função essencial de estabilizar o solo, guardar fontes de água e proteger a biodiversidade do entorno, também vira responsabilidade – ou, dependendo do caso, irresponsabilidade – dos Estados. O mesmo vale para a separação entre quais áreas desmatadas merecerão ser recuperadas e quais serão anistiadas.

A tarefa de aprovar o Plano de Zoneamento Ecológico Econômico (ZEE), que define as áreas que não poderão mais ser desmatadas e as compensações para quem já passou a motosserra, que antes passava pela esfera federal, vira tarefa exclusivamente estadual. Na prática, tudo isto transforma nossas florestas em moedas de troca de interesses entre proprietários e políticos.

"A regularização das áreas rurais acabou virando desculpa para a anistia, ou a autorização para mais desmatamentos. E esta decisão passou a ser de cada estado, baseada em suposições e atendendo aos interesses locais", afirma Rafael. "Aldo perdeu a chance histórica de elaborar uma proposta que diminuísse diferença entre ambientalistas e ruralistas", complementa.

Bayer joga a toalha

Notícia - 23 jun 2010
A Bayer CropScience retirou hoje o pedido de plantio e venda do arroz transgênico Liberty Link (LL62) à Comissão Técnica Nacional de Biossegurança (CTNBio). Com isso, fica suspensa, pelo menos por enquanto, a entrada da variedade geneticamente modificada no mercado brasileiro. O anúncio da decisão ocorrerá oficialmente amanhã durante a plenária da CTNBio, a ser realizada em Brasília.

Há mais de 15 meses em pauta, a liberação do arroz transgênico LL62 é um pedido da Bayer, empresa química alemã que produz farmacêuticos, agrotóxicos e sementes transgênicas, entre outros. Se fosse aprovado, o Brasil seria o primeiro país do mundo a produzir e consumir arroz transgênico.

“Tentar empurrar uma variedade transgênica goela abaixo do brasileiro é um desrespeito. Ninguém quer esse arroz”, afirma Iran Magno, coordenador da campanha de transgênicos do Greenpeace Brasil. Até hoje não foram apresentados estudos que garantam a segurança da saúde humana, da biodiversidade e do ambiente com a introdução dessa variedade.

A Bayer divulgou em seu site uma nota esclarecendo a retirada. Alegou a “necessidade de ampliar o diálogo com os principais integrantes da cadeia de produção no Brasil”. Bem sabemos que, na realidade, os produtores não mudaram a sua posição inicial contrária a variedade.

Em audiências públicas anteriores, promovidas pela CTNBio, a posição dos produtores era clara e pesquisadores da Embrapa também apontavam que a variedade não traria vantagem alguma. A Federarroz, entidade que representa produtores de arroz do Rio Grande do Sul, que produzem cerca de 70% do arroz brasileiro, ressaltou que o arroz transgênico representa um risco para as exportações brasileiras. A Federação da Agricultura do Estado do Rio Grande do Sul (Farsul) também se posicionou contrária.

“Do jeito que a Bayer se esforça para aprovar esse arroz, mesmo com toda a controvérsia envolvida, eles podem colocar o pedido de novo na pauta da CTNBio. Vamos acompanhar de perto”, completa Iran.

O histórico da Bayer com o arroz geneticamente modificado não é dos melhores. Três variedades de arroz transgênico cultivadas em campos experimentais contaminaram, em 2006, os estoques nos Estados Unidos, com impacto negativo na indústria de arroz americana, que viu os mercados internacionais fecharem as portas para o seu produto.

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Nota sobre competitividade agrícola

Notícia - 23 jun 2010
Union (União Nacional de Fazendeiros), principal sindicato rural norte-americano, e apoiado pela Avoided Deforestation Partners (Parceiros pelo Desmatamento Evitado) – uma aliança informal de pessoas e organizações que defendem o fim do desmatamento no mundo, foi feito para promover a aprovação da lei de mudanças climáticas, em tramitação no Senado americano. Um dos dispositivos desse projeto de lei prevê a possibilidade de que grandes poluidores norte-americanos possam compensar suas emissões de gases do efeito estufa, financiando a proteção de florestas em países tropicais. É o caso da Indonésia e do Brasil, onde o desmatamento torna esses dois países o terceiro e o quarto maiores poluidores do clima no planeta, respectivamente.

Elaborado com a intenção de convencer parte da bancada republicana – contrária à lei – a mudar de posição, sobretudo a pertencente a estados com grande produção agropecuária, o estudo defende que o investimento em mecanismos de desmatamento evitado em países tropicais elevaria os ganhos da agricultura norte-americana, não só diminuindo os custos com a mudança de tecnologia para reduzir a emissão de gases do efeito estufa, mas, sobretudo, afastando a competição de produtores rurais desses países, que hoje competem diretamente com os americanos pelos mercados de commodities agrícolas. Segundo o estudo, os ganhos poderiam alcançar US$ 270 bilhões entre 2012 e 2030 só com a diminuição da competição dos países tropicais.

Em função dessa conclusão infundada, esse estudo vem sendo usado, nos últimos dias, por diversos parlamentares e lideranças ruralistas brasileiros para defender a tese de que a proteção de florestas no Brasil é algo que contrariaria o interesse nacional. Com isso, querem justificar a necessidade de aprovação de um projeto de lei que altera dramaticamente a legislação florestal brasileira. Nessa história, no entanto, estão enganados os ruralistas norte-americanos e os brasileiros.

Em primeiro lugar o estudo, que desconhece a realidade brasileira, é equivocado ao assumir que o fim do desmatamento por aqui significaria paralisar a expansão da produção de commodities agrícolas a preços competitivos. Segundo dados da Universidade de São Paulo/Esalq, temos pelo menos 61 milhões de hectares de terras de elevado potencial agrícola hoje ocupadas por pecuária de baixa produtividade e que podem ser rapidamente convertidas em áreas de expansão agrícola. Com o fim da expansão horizontal da fronteira agrícola, há forte tendência de valorização da terra e de substituição dos sistemas de produção agropecuária de baixa produtividade (que garimpam os nutrientes e degradam o meio ambiente) por sistemas de produção mais intensivos e com maior produtividade. Estudos da Embrapa mostram que há um cenário ganha-ganha quando se incorpora tecnologias (recuperação de áreas de pastagens degradadas, agricultura com plantio direto, sistemas integrados de lavoura-pecuária e lavoura-pecuária-floresta) nas áreas atualmente ocupadas com agricultura e pecuária, aumentando a produção, reduzindo custos e emissões de gases do efeito estufa. No caso do Brasil, onde 4/5 das terras agricultáveis são ocupadas por pastagens, tais ganhos são especialmente expressivos - de forma que poderíamos dobrar nossa produção de alimentos sem ter que derrubar novas áreas de floresta e ainda recuperando aquelas áreas onde o reflorestamento se faz necessário por seu potencial de prover serviços ecossistêmicos.

Portanto, o aumento da produção agrícola não passa necessariamente pelo aumento ou continuidade do desmatamento, como quer fazer crer o estudo norte-americano. Os produtores competitivos não são os que usam métodos do século XVIII, grilando terras públicas, desmatando e usando mão de obra escrava e sonegando impostos. Pelo contrário, são os que investem em tecnologia e mão de obra qualificada para o bom aproveitamento de terras com infraestrutura adequada. Por essa razão até mesmo a Confederação Nacional da Agricultura – CNA, afirma que não é mais necessário desmatar para aumentar e fortalecera produção agropecuária brasileira.

Não devemos esquecer que a preservação e a recuperação de florestas no Brasil interessam, antes de tudo, a nós mesmos. O fornecimento de produtos florestais, a regulação das águas e do clima, a manutenção da biodiversidade, são todos serviços ambientais prestados exclusivamente pelas florestas e indispensáveis à sustentação da agropecuária nacional.

Frente a isso, repudiamos não só as conclusões do estudo norte-americano, como a tentativa de usá-lo para legitimar propostas que, essas sim, atentam contra o interesse nacional, ao permitir o desmate de mais de 80 milhões de hectares e a anistia definitiva para aqueles já ocorridos, o que coloca em cheque a possibilidade de cumprirmos com as metas assumidas de redução de emissões de gases de efeito estufa e recuperar a oferta de serviços ambientais em regiões hoje totalmente desreguladas, algumas inclusive em desertificação. Aumentar a produção agropecuária com base no desmatamento de novas áreas é uma lógica com data marcada para acabar, tão logo os recursos naturais se esgotem e o clima se modifique. Não podemos, nesse momento em que o Código Florestal pode vir a ser desfigurado pela bancada ruralista do Congresso Nacional, nos desviar da discussão que realmente interessa ao país, que é saber se precisamos ou não das florestas para o nosso próprio bem-estar e desenvolvimento.

A defesa das florestas é matéria de alto e urgente interesse nacional.

Assinam:
Amigos da Terra – Amazônia brasileira
Associação de Preservação do Meio Ambiente e da Vida- APREMAVI
Conservação Internacional – CI-Brasil
Fundação SOS Mata Atlântica
Fórum Carajás
Greenpeace
Grupo de Trabalho Amazônico - GTA
Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia - IMAZON
Instituto Centro de Vida - ICV
Instituto Socioambiental


 

Fonte: Greenpeace-Brasil
Assessoria de imprensa

 
 
 
 

 

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