Daniel Mello
Repórter da Agência
Brasil
São Paulo – A proposta de alteração
do Código Florestal, em discussão
no Congresso Nacional, pode ser um “desastre” para
a expansão urbana de São Paulo, avaliou
hoje (15) o pesquisador do Instituto de Pesquisas
Espaciais, Carlos Nobre, que participou de um debate
durante o lançamento do estudo Vulnerabilidades
das Megacidades Brasileiras às Mudanças
Climáticas: Região Metropolitana de
São Paulo.
Na semana passada, o relatório
propondo modificações no Código
Florestal foi apresentado pelo relator da comissão
especial criada na Câmara dos Deputados para
discutir o assunto, deputado Aldo Rebelo (PC doB-SP).
Entre as mudanças propostas pelo relator
estão a atribuição de mais
autonomia aos estados para legislar sobre meio ambiente
e a retirada da obrigatoriedade de reserva legal
(fração destinada à preservação
ambiental) em pequenas propriedades. A votação
da reforma do Código Florestal na comissão
especial estava marcada para hoje (15), mas foi
adiada para a próxima segunda-feira (21).
Para Nobre, caso a cidade cresça
respeitando a legislação atual, o
risco de que as novas ocupações sofram
com inundações e deslizamentos é
pequeno. Entretanto, caso a expansão urbana
aconteça de acordo com as mudanças
que estão sendo propostas, haverá
um grande risco à população.
“Se em todas essas áreas de maior risco,
declividade, topo de morro, áreas muito íngremes,
matas ciliares, onde a cidade não chegou
ainda, se o código for respeitado, o risco
da ocupação diminui muito. Se isso
legalmente mudar, é um convite à ocupação
absurda”, considerou Nobre.
Para o pesquisador, não
há necessidade de modificar a legislação
para aumentar a produtividade da agricultura brasileira.
“Aumentar só a área agrícola
não torna a agricultura do Brasil mais produtiva,
mais competitiva. Competir com a agricultura dos
países desenvolvidos é competir em
tecnologia.”
A tendência mundial, de
acordo com Nobre, é a diminuição
da área utilizada pela agricultura com o
aumento da produtividade por hectare. “Nenhum país
que tenha agricultura de ponta está aumentando
área agrícola. Qual seria a justificativa
para o Brasil ir na contramão da tendência
tecnológica histórica de todos esses
países que são potências agrícolas?”,
questionou.
O relatório apresentado
hoje pelo pesquisador aponta como a região
metropolitana de São Paulo está se
tornando mais vulnerável a desastres naturais
devido ao modelo de ocupação predatória
e às mudanças no clima local e global.
+ Mais
Metrópoles terão
problemas relacionados ao clima no futuro, afirma
pesquisadora
Daniel Mello
Repórter da Agência
São Paulo - As regiões metropolitanas
brasileiras terão problemas relacionados
ao clima nos próximos 20 anos, caso o atual
modelo de desenvolvimento seja mantido.
Segundo a pesquisadora da Universidade
Estadual de Campinas (Unicamp), Andrea Young, a
cidade de São Paulo já apresenta diversas
complicações devido ao modo de ocupação
do solo e a poluição, o que vem sendo
seguido por outras grandes cidades.
“Pode ser que nem cresçam
até o tamanho de São Paulo. Mas a
forma de ocupar o espaço é a mesma,
é sempre essa ideia de ocupar a área
o máximo possível, sem considerar
nenhum critério ecológico, com uma
visão predatória”, avaliou.
Young é uma das autoras
do relatório Vulnerabilidades das Megacidades
Brasileiras às Mudanças Climáticas:
Região Metropolitana de São Paulo,
elaborado por pesquisadores da Unicamp e do Instituto
Nacional de Pesquisas Espaciais (Inpe).
De acordo com o estudo, a capital
paulista enfrenta atualmente uma série de
problemas relacionados diretamente à poluição
e às mudanças no clima da metrópole
causadas pelo crescimento desordenado.
A apropriação dos
cursos de água pelo sistema viário
é um dos principais exemplos de como a expansão
da cidade está expondo a população
a desastres relacionados ao clima. Segundo a pesquisadora,
a bacia hidrográfica foi sufocada pelo sistema
viário e pelas construções
urbanas.
“Então, com o acúmulo
de sedimentos, dos gases poluentes fluindo ao longo
do rio, por conta do sistema viário, das
marginais, ela acabou se transformando em uma bacia
de poluição, tanto dentro do rio,
quanto no ambiente”.
Para a pesquisadora, esse tipo
de transformação destrói mananciais
que poderiam ser utilizados para o abastecimento
da população, aumenta o risco de enchentes
e modifica o clima da região.
As mudanças climáticas
locais corroboram, segundo Young, juntamente com
as alterações no clima global, para
a ocorrência de grandes tempestades, causadoras
de inundações e deslizamentos.
Por isso, a especialista alerta
para a necessidade de se repensar os modelos de
desenvolvimento, pois, determinadas alterações
no meio ambiente são difíceis de serem
revertidas posteriormente.”Principalmente em relação
à água”, destaca.
Entre os possíveis caminhos
para um crescimento mais sustentável de São
Paulo e de outras metrópoles, Young cita
a proteção dos mananciais e das margens
de rios, com a criação de parques,
a remoção das ocupações
de áreas de fragilidade ambiental e de risco
e a elaboração de um plano estratégico
de macrodrenagem para região.
“Não que o plano não
exista, mas tem que haver uma revisão com
os órgãos públicos envolvidos”.
+ Mais
Indústrias de máquinas
e equipamentos vão fazer inventário
de emissão de poluentes
Daniel Mello
Repórter da Agência Brasil
São Paulo - A Associação Brasileira
da Indústria de Máquinas e Equipamentos
(Abimaq) está fazendo uma campanha para que
as 4,5 mil empresas associadas façam um inventário
das emissões de carbono. A partir do levantamento
do volume de gases que as indústrias emitem,
ficará mais fácil adaptar as atividades
para reduzir a produção de poluentes
responsáveis pelo efeito estufa.
No seminário Responsável,
Sustentável e Lucrativa: Rumos da Indústria
Brasileira na era da Descarbonização,
a diretora de Responsabilidade Socioambiental da
associação, Alessandra Bernuzzi, disse
que a contribuição para diminuir os
efeitos das mudanças climáticas é
encarada pelo setor como uma maneira de aumentar
a competitividade da indústria brasileira
no exterior. “Isso vai gerar negócios em
todas as cadeias de valor”, completou Bernzzi.
A previsão da diretora
é que, com os inventários concluídos,
as empresas levem de seis a nove meses para modificar
os processos fabris e reduzir a emissão de
poluentes. Os primeiros resultados devem ser apresentados
pela Abimaq em um ano.