25/08/2010 - 14:20
Assim como diversos povos
espalhados pela floresta amazônica, os Kulina
- que pertencem à família Arawá
- vivem entre as bacias dos rios Purus e Juruá,
no Amazonas. Para entender melhor a origem e evolução
desse povo, um estudo realizado pela Universidade
Federal do Amazonas (Ufam) buscou contar a história
do povo indígena Kulina, destacando seus
registros e etnografias.
A pesquisa foi realizada pela
estudante do curso de Ciências Sociais, Liliane
Souza de Souza, e foi um dos trabalhos apresentados
no 19º Congresso de Iniciação
Científica (Conic) da Ufam, ocorrido de 16
a 20 de agosto último, em Manaus (AM).
Com o título A presença
Kulina no Sudoeste Amazônico: registros e
etnografias, a pesquisa foi feita no período
de agosto de 2009 a agosto último e teve
recursos da Fundação de Amparo à
Pesquisa do Estado do Amazonas (Fapeam) e do Conselho
Nacional de Desenvolvimento Científico e
Tecnológico (CNPq/MCT) por meio do Programa
de Apoio à Iniciação Científica
do Amazonas, que consiste em apoiar, com recursos
financeiros e bolsas institucionais, estudantes
de graduação interessados no desenvolvimento
de pesquisa em instituições públicas
e privadas do Amazonas.
Resultados
De acordo com Liliane Souza, a
pesquisa buscou refletir sobre o processo migratório,
para entender a repercussão desse processo
na história e na organização
socioespacial do povo Kulina atual. “Nosso objetivo
foi identificar a mobilidade do povo Kulina a partir
da produção etnográfica e de
21 microfilmes do Serviço de Proteção
aos Índios (SPI)”, revelou.
Segundo ela, a pesquisa, que teve
a orientação do professor Carlos Machado
Dias Júnior, identificou que, durante o processo
de mobilidade, ocorreram grandes agentes estimuladores.
“Um deles foi o próprio SPI, que teve o objetivo
de atrair os índios para certas zonas produtivas
fomentando neles uma vida sedentária fundada
nas atividades agrícolas. O outro foi a figura
dos seringalistas, que expropriavam os índios
de suas terras caso elas se apresentassem férteis
e produtivas ao Sistema de Aviamento”, disse.
De acordo com Liliane, num primeiro
momento a mobilidade Kulina teve uma natureza exógena,
ou seja, foi provocada por ações externas,
o que ocasionou a atual ocupação de
terras Kulina nos rios Purus e Juruá, no
Acre e Amazonas e no país vizinho Peru.
"Percebemos, também,
a partir das bibliografias, que os Kulina passaram
a migrar por motivos endógenos, por exemplo,
a viagem dos xamãs do Alto Purus quando vão
realizar rituais de Kulina nas aldeias do Juruá,
quando nestas, não há a presença
de xamãs”, revelou.
Foco Histórico
De acordo com a estudante, para
a realização do estudo foram feitas
pesquisas bibliográficas em teses, dissertações,
relatórios e investigações
em arquivos do SPI e do Instituto Histórico
e Geográfico do Amazonas (Igha) e, a partir
daí, foram realizadas transcrições,
análise e sistematização dos
dados coletados.
“Por ser uma pesquisa com um foco
histórico, este foi o método mais
viável, mas a escolha pelos microfilmes do
SPI se deu pelo fato de que o material representa
um arquivo riquíssimo e que, até então,
era um arquivo inexplorado”, justificou.
Iniciação Científica
As atividades do 19º Conic
reuniram a comunidade universitária, jovens
pesquisadores e seus orientadores e o grande público
para a divulgação dos trabalhos de
iniciação científica realizados
no período de 2009 a 2010.
O programa é financiado
pelo CNPq e pela Fapeam. No evento foram realizadas
sessões de avaliação oral final,
nas áreas de Saúde, Biológicas,
Exatas, Humanas, Sociais Aplicadas e Agrárias.