23/08/2010
- A adoção da mistura B5, desde 1º
de janeiro último, elevou a 5% a adição
obrigatória de biodiesel ao óleo diesel
para uso veicular. Correspondendo ao avanço
de mais uma etapa do Programa Nacional de Produção
e Uso de Biodiesel, essa medida impulsionou o mercado
de biodiesel, mas também suscitou algumas
reclamações por parte dos postos de
combustíveis. Representantes do setor manifestaram
preocupação face ao aumento da freqüência
de trocas de filtros e bombas de combustível
e de limpezas nos tanques.
Esses problemas estão associados
aos processos de formação de borras
a que estão sujeitas o diesel e em particular
as misturas diesel/biodiesel, observados notadamente
a partir da introdução de teores crescentes
de biodiesel no diesel. O fato já havia sido
antecipado pelos especialistas do Instituto Nacional
de Tecnologia (INT/MCT) por ocasião da estruturação
da Rede de Brasileira de Estudos e Projetos sobre
Estabilidade, Armazenamento e Problemas Associados
(Armazbiodi) em 2008.
A Rede Armazbiodi, liderada pelo
tecnologista Eduardo Cavalcanti, da área
de Corrosão e Degradação do
INT, tem a temática da formação
das borras nas misturas incorporada ao seu programa
de trabalho. Estudos para minimizar o problema já
são conduzidos em escala de laboratório
pelas equipes do Instituto, em conjunto com as universidades
federais da Paraíba (UFPB) e do Rio Grande
do Sul (UFRGS). Cavalcanti também ressalta
a importância de serem adotadas as boas práticas
de transporte, limpeza e armazenagem, preconizadas
pela norma ABNT NBR 15512, de 2008, ora em fase
de revisão.
A questão, no entanto,
tem se mostrado complexa. “Uma solução
efetiva exige a participação de todos
os elos da cadeia, ou seja, desde a produção
do biodiesel, passando pela estocagem em bases e
terminais, distribuição, revenda até
a injeção do combustível nos
tanques dos veículos”, alerta o tecnologista.
O coordenador da Rede Armazbiodi
explica que tais borras são de duas naturezas:
uma abiótica, compreendendo depósitos
orgânicos e inorgânicos, e outra microbiana,
envolvendo a vasta proliferação de
bactérias, fungos e leveduras, que acabam
se aglomerando e formando o que o mercado denomina
de bio-depósitos.
Essa última formação
é estimulada inicialmente pela umidade do
ar. Observa-se também o aparecimento de água
dissolvida na massa estocada e a subsequente condensação
nas paredes dos tanques e acúmulo no fundo
dos tanques de armazenamento e de transporte do
combustível. “Um dos pontos críticos,
que favorece o acúmulo de água nos
tanques é o procedimento de desodorização,
quando o tanque de caminhões é lavado
para receber nova remessa da mistura e não
devidamente secos”, explica. Cavalcanti destaca
ainda que o biodiesel exibe uma grande tendência
a oxidação, o que é agravado
pela exposição à luz, calor
e oxigênio.
Entre as medidas indicadas para
prevenir e combater a formação de
borras e a contaminação do combustível
por microorganismos está o constante monitoramento
das misturas e dos tanques além, do uso de
aditivos e biocidas (estes ainda dependendo de aprovação
dos órgãos ambientais).
Atenta à dificuldade dos
postos e distribuidores, a Agência Nacional
do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis
(ANP) anunciou a elaboração de um
Guia de Procedimentos de Transporte e Armazenagem
de Óleo Diesel B, voltado para a prevenção
e o controle desses processos de natureza degenerativa.
Segundo a Federação Nacional do Comércio
de Combustíveis e Lubrificantes (Fecombustíveis),
a partir da introdução do B5 foi constatado
o consequente aumento de custos operacionais.
Vinculada à Rede Brasileira
de Tecnologia de Biodiesel do MCT/Finep, a Rede
Armazbiodi, por sua vez, está iniciando novos
estudos sobre a duração da vida do
biodiesel e suas misturas na prateleira e sobre
a tendência a formação de borras
nos tanques de armazenamento. O trabalho se estenderá
em instalações de campo, em cada uma
das regiões do País.
Ao final do levantamento, os grupos
de trabalho liderados pela ANP, que têm a
participação dos especialistas da
Rede, pretendem validar uma série de medidas
capazes de mitigar o problema.