20/09/2010 - 13:10
O Instituto Nacional de Pesquisas
da Amazônia (Inpa/MCT) realizou uma pesquisa
que avaliou o efeito da ocupação dos
índios Yanomami sobre a floresta e, se uma
possível maior sedentarização
alterou os processos de regeneração
das áreas por eles ocupadas.
O estudo foi desenvolvido pelo
aluno de mestrado do Programa de pós-graduação
em Ecologia (Cpec), Maurice Seiji Tomioka Nilsson,
intitulado Mobilidade Yanomami e os efeitos à
paisagem florestal de seu território, orientado
pelo pesquisador do Inpa Philip Fearnside.
A pesquisa consiste em uma análise
sobre a influência causada por uma tribo indígena,
os Yanomami, que são coletores-caçadores
e agricultores com alta mobilidade, nos ecossistemas
em que se instalam. “Não se trata apenas
da busca de área fértil para cultivo,
mas também para a caça, para a sobrevivência”,
expõe Nilsson.
A sustentabilidade de diferentes
formas de desenvolvimento inclui a agricultura,
a pecuária, o manejo florestal, o extrativismo,
entre outros. Portanto, um grupo que utilize áreas
florestais em benefício próprio, como
os índios, precisa respeitar e compreender
sua responsabilidade com o uso dos recursos oferecidos
pelo meio em que se instalam. O grupo coleta, integra
e interpreta informações sobre todos
esses fatores para maximizar a utilidade do espaço
do qual dependem para viver.
Foram interpretadas 12 imagens
Landsat em quatro épocas separadas por intervalos
de sete anos, uma vez que os mapeamentos indicam
a variação dos deslocamentos realizados.
A área de clareiras foi relacionada com a
situação demográfica dos grupos
populacionais e verificada a mobilidade das residências
e das clareiras. “Segundo a tese de Bruce Albert,
os deslocamentos são explicados pela maneira
como os Yanomami interpretam a morte e a doença,
o que determina as alianças intercomunitárias;
a morte de algum indivíduo os leva a mudar”,
explica Nilsson.
Ele lembra que a mobilidade também
pode ser vista como reposta adaptativa à
dispersão da caça e à proliferação
das capoeiras. Houve mobilidade nos três intervalos
verificados, e poucos grupos sedentários,
vários com residências alternativas.
Os deslocamentos de curta distância
dos povos Yanomami podem ser atribuídos a
maior concentração de grupos em uma
região, de 11 a 1.200 habitantes, deixando
menos espaço para o cultivo da roça.
“Cada família abre uma roça por ano
e trabalham com elas abertas, sem duração
precisa, em ciclos de três a quatro anos.
No fim do ciclo de 15 anos, voltam para a primeira
clareira, que está regenerada, onde caçam
e coletam”, expõe.
A análise das imagens foi
conclusiva, houve uma auto-regeneração
do ambiente considerável, uma resposta adaptativa
à diminuição da caça
e do plantio em um único local. Entretanto,
a convivência de oito anos de Nilsson com
os Yanomami foi um dos fatores que contribuíram
para uma conclusão mais precisa e fundamentada.
“Conviver com eles alimentou indagações
e esse trabalho coroa anos de convivência
e pesquisa”, conclui.