(28/10/2010)
Num momento em que o planeta todo debate os efeitos
das mudanças climáticas, provocadas,
entre outros, pela concentração do
gás carbônico na atmosfera, a Embrapa
Instrumentação, em São Carlos
(SP), apresenta os primeiros resultados dos testes
que estão sendo realizados
com um sensor para avaliar, em segundos, a estabilidade
do carbono no solo. A apresentação
é na quinta-feira ( 28), durante o I Workshop
da Rede AgroRecicla, que vai até sexta-feira
( 29), com a participação de pesquisadores
de 11 unidades da Embrapa e representantes de 10
instituições, incluindo universidades,
sendo duas internacionais, empresas privadas e órgãos
de pesquisa.
O estudo é da pesquisadora
Débora Milori, também líder
do projeto da Rede AgroRecicla, criada em 2008,
com aporte de recursos de quase R$ 450 mil reais,
visando à incorporação de novos
métodos de reciclagem de resíduos
e geração de novos usos de materiais
e aplicações.
Por meio da análise da
luz emitida, técnica conhecida como espectroscopia,
é possível quantificar o conteúdo
de carbono no solo e sua estabilidade em diferentes
ecossistemas.
Com esse estudo, é possível
estabelecer estratégias para que a agricultura
possa contribuir positivamente com a mitigação
dos efeitos causados pelo aumento da concentração
dos gases do efeito estufa na atmosfera. De acordo
com a pesquisadora, a estabilidade deste carbono
no solo é um dado extremamente relevante,
uma vez que, caso o carbono esteja em estruturas
lábeis (moléculas de fácil
degradação), facilmente será
mineralizado retornando para a atmosfera na forma
de CO2. “A quantificação do estoque
de carbono no solo e a avaliação de
seu grau de estabilidade são, portanto, medidas
importantes no processo de identificação
das práticas agrícolas mais adequadas
com intuito de seqüestrar carbono da atmosfera”,
explica.
Para realizar os testes, a Embrapa
Instrumentação desenvolveu um equipamento
compacto capaz de avaliar o teor e a estabilidade
da matéria orgânica do solo, por meio
da emissão de luz do material quando excitado
por algum processo específico. Esta luz emitida
consiste numa impressão digital do material,
e pode ser utilizada em pesquisas para o acompanhamento
de reações químicas, estudos
estruturais, interações moleculares,
entre outros. Estão sendo analisados ainda
solos da Nova Zelândia, África e Peru.
Débora explica que a matéria
orgânica do solo emite luz azul-esverdeada
quando excitada com luz azul ou ultravioleta. “Esta
emissão característica nos dá
informações a respeito do carbono
no solo. O instrumento desenvolvido utiliza esta
propriedade óptica da matéria orgânica
do solo para medir teor e estabilidade do carbono
no solo”.
A pesquisa foi apresentada na
15ª Conferência das Partes da Convenção
do Clima, realizada pela UNFCCC – Convenção-Quadro
das Nações Unidas sobre Mudança
do Clima, em dezembro de 2009, em Copenhague (Dinamarca).
Joana Silva
+ Mais
Estudantes participam de ações
para preservar o rio São Francisco
(06/10/2010)
“O rio São Francisco é o vento que
você sente/ a flor que você vê;
em tudo que é vida/ está presente,
até mesmo dentro de você”. Se alguns
cuidam do “Velho Chico” em versos, como estes de
Manuka Almeida, outros, a exemplo de pesquisadores
da Embrapa Semiárido, geram conhecimentos
e informações para que o rio e suas
margens jamais deixem de inspirar poetas e nem o
seu uso seja marcado pela degradação
do ambiente.
No caso dos trabalhos de pesquisa,
as experimentações científicas
com recursos tecnológicos que incluem imagens
de satélites, softwares de precisão,
dentre outros, ganharam conteúdos e formatos
voltados para um tipo de público considerado
especial para ações de preservação
do rio: jovens estudantes de escolas públicas
de Santa Maria da Boa Vista, Lagoa Grande e Petrolina,
em Pernambuco.
Nos últimos dois meses,
o engenheiro agrônomo Tony Jarbas Ferreira
Cunha, pesquisador da Embrapa Semiárido,
está envolvido com palestras em estabelecimentos
de ensino das áreas urbana e rural, onde
apresenta conclusões do projeto que coordena
“Contribuição à revitalização
do rio São Francisco com base na restituição
de sua mata ciliar e recuperação de
áreas degradadas”. Este projeto conta com
a parceria da Embrapa Solo, Embrapa SNT, Codevasf
e IBAMA.
Mais que isso, porém, tem conduzido os estudantes
pela dinâmica de uma aula diferente. No viveiro
de plantas do Escritório de Petrolina da
Embrapa Transferência de Tecnologia, aprendem
a produzir mudas de espécies nativas que
formam a vegetação natural das margens
do rio São Francisco.
Em outro momento, são levados a conhecer
um trabalho experimental da instituição
de recomposição da mata ciliar em
uma área que teve a vegetação
totalmente extraída e havia deixado o solo
sem nenhuma cobertura. No local, os jovens veem
espécies como ingazeira, jatobá e
muquém replantadas em seu local de origem.
Salvar – Desta iniciativa já
participaram cerca de 150 estudantes. Geneali Evangelista,
do Colégio Estadual Santa Maria, em Lagoa
Grande, revelou: “Eu não sabia que plantando
essas árvores ajudava a preservar o rio”.
As árvores da margem servem
de barreiras naturais contra a invasão dos
sedimentos, principalmente quando ocorrem chuvas.
A destruição da mata ciliar faz com
que a areia das margens avance para dentro do rio,
num fenômeno chamado de assoreamento. É
um dos mais graves problemas registrado na bacia
do rio São Francisco.
Outra estudante, Simone Elys,
aluna do 30 ano do ensino médio, esteve presente
em curso ministrado por Tony Jarbas no local onde
estuda - Escola Estadual Pacífico da Luz,
de Petrolina, e ainda participou, junto com mais
50 colegas, do dia de campo “Contribuição
à revitalização do rio São
Francisco”, onde aprendeu a fazer mudas de plantas
da mata ciliar.
Para ela, “o rio tem grande importância
para a região. Deve ser bem cuidado, é
uma das nossas riquezas”.
Tony Jarbas destaca que as informações
reunidas pelos pesquisadores envolvidos na execução
do projeto respondem à parte da gravidade
representada pela destruição das plantas
que existem nas margens do rio. Ações
dessa natureza precisam de importante complemento:
“sensibilizar as próximas gerações
a respeito dos problemas ambientais.
“Vocês poderão ser
os futuros prefeitos, vereadores, professores e
precisarão estar atentos para a preservação
do rio porque se ele morrer, as nossas cidades também
morrem”, disse o pesquisador. A degradação
do rio é uma séria ameaça à
principal atividade agrícola da região:
a agricultura irrigada, garante.
Para a professora Leonilza Moreira,
do Colégio Estadual Santa Maria, os eventos
programados pela Embrapa são “momentos de
cidadania”. “È necessário que as pessoas
entendam a importância da natureza para a
nossa sobrevivência. Temos que estar em equilíbrio
com o meio ambiente, a cidadania também envolve
esse tipo de questão”, avaliou a professora.
Preservação - O conjunto dos municípios
localizados no submédio do vale do São
Francisco, entre eles Lagoa Grande e Petrolina,
faturam R$ 2 bilhões por ano com a fruticultura
irrigada. Destes, R$ 500 millhões resultam
das exportações de manga e uva.
Toda essa riqueza tem origem no
rio São Francisco. Porém, essa fonte
de vida e dividendos tem sido degradada progressivamente.
Atentos ao problema ambiental gerado pela degradação
do São Francisco, diferentes organizações
tem enfrentado o desafio de revitalizar o rio.
O projeto, que envolve as duas
Unidades da Embrapa em Petrolina-PE, já produziu
cerca de 200 mil mudas de espécies nativas
para apoiar as ações de revegetação
da Codevasf ao longo de 400 km da margem esquerda
do rio, entre os municípios pernambucanos
de Petrolina e Petrolândia, no submédio
São Francisco.