Fim de ano e de mandato, proximidade
de eleições e chegada de mais uma
Conferência do Clima, onde o Brasil pretende
se pintar como líder mundial. Esse foi o
tom dado na reunião do Fórum Brasileiro
de Mudanças Climáticas.
O tema e os dados divulgados –
a publicação do novo Inventário
Nacional de Emissões de Gases de Efeito Estufa
e a regulamentação do Fundo Nacional
de Clima – deveriam ser amplamente debatidos pelo
governo, a academia e a sociedade como pontos centrais
do próximo governo, e render questionamentos
e compromissos dos candidatos. Mas o evento, ocorrido
nesta semana em Brasília, serviu de palanque
para o presidente pintar seu governo, indevidamente,
de verde.
Afinal, a principal fonte de emissão
brasileira continua sendo o desmatamento e as queimadas,
seguidos pelo setor agropecuário e pelo de
energia. Das 2,192 gigatoneladas de dióxido
de carbono (CO2) equivalente emitidos em 2005, o
setor de mudança no uso da terra e florestas
é responsável por 61% do total de
emissões.
Ainda assim, nem governo nem sua
candidata não se comprometem com o desmatamento
zero. Trabalham com a meta de redução
da taxa de corte em 80%, que o presidente Lula adiantou
de 2016 para 2012, graças aos bons resultados
nos últimos anos. Mas manter uma taxa, ainda
que menor, de corte significa derrubar cerca de
200 milhões de árvores por ano na
Amazônia.
É um número espantoso
e desnecessário. Já foram desmatados
734 mil km2 na Amazônia, boa parte abandonada
e degradada. A comunidade científica afirma
que hoje há estoque suficiente de terras
já abertas no Brasil para suportar o crescimento
da produção de alimentos, fibras e
biocombustíveis, isso sem contar o investimento
em produtividade.
Cadê o pré-sal?
Na mesma reunião, o governo
apresentou uma estimativa do volume de gases-estufa
emitidos pelo Brasil no ano passado: 1,775 gigatoneladas
de CO2 equivalente, 33% a menos que em 2005.
Segundo o ministro de Ciência
e Tecnologia, Sergio Rezende, a queda é conseqüência
da redução do desmatamento na Amazônia
obtido nos últimos quatro anos. Sinal de
que o problema pode ser controlado. Mas, disse ele,
os outros setores – especialmente agricultura e
energia – teriam mantido sua taxa de crescimento
das emissões.
O desdém com que o governo
lida com essas emissões é patente.
A regulamentação da Lei Nacional de
Mudanças Climáticas, necessária
para que ela seja de fato implementada, ainda não
saiu – e, quando ocorrer, não contemplará
o pré-sal e suas emissões crescentes.
É o fortalecimento de um
modelo energético baseado em fontes sujas,
enquanto o Brasil tem potencial para inundar sua
matriz com energia limpa, vinda do Sol e dos ventos.
Enquanto o governo não rever suas escolhas
e abraçar a energia limpa e o desmatamento
zero, apesar dos avanços em ambos os setores,
ficará difícil acreditar no Brasil
verde que o presidente Lula tenta vender.