26/11/2010
Luana Lourenço*
Enviada Especial
Belém (PA) - Os desafios da presidenta eleita,
Dilma Rousseff, para a Amazônia serão
muito maiores que a redução do desmatamento
do bioma. A derrubada está
em tendência de queda desde 2006 e este ano
deve chegar a 5 mil quilômetros quadrados,
a menor taxa dos últimos 22 anos. Com o desmate
sob controle, a tarefa será melhorar os indicadores
sociais da região e garantir desenvolvimento
econômico com contrapartidas socioambientais.
Com 25 milhões de habitantes,
a Amazônia ainda tem alguns dos piores indicadores
de desenvolvimento do país. Em 11000, 48%
da população da região viviam
em situação de pobreza. Quase 20 anos
depois, em 2009, o percentual ainda era de 42%,
segundo o pesquisador sênior do Instituto
do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon)
Adalberto Veríssimo.
“Os indicadores sociais na Amazônia
melhoraram ligeiramente, não tiveram a melhoria
que o resto do país teve”, comparou. Segundo
Veríssimo, a combinação entre
crescimento da economia e programas sociais não
será suficiente para reduzir a pobreza na
região. “Os programas são importantes,
mas está provado que na Amazônia eles
têm menos força que em outras regiões,
seja porque a população é muito
rarefeita, seja porque nas grandes cidades há
uma grande população com problemas
graves”, avaliou.
Atrair setores que tenham capacidade
de geração de empregos para a Amazônia
também será um dos desafios dos próximos
quatro anos, segundo Veríssimo. A base do
atual modelo econômico da região ainda
é formada por setores que geram poucas vagas,
como a mineração, pecuária
e agricultura extensiva. “É preciso estimular
um tipo de economia que tenha mais capilaridade
na geração de renda e emprego. E isso
está ligado à economia de base florestal
e de base na pequena produção".
Para o pesquisador, sem isso não será
possível nem manter a queda do desmatamento,
porque ele está sendo feito por pequenos
proprietários.
Outro pilar do desenvolvimento
sustentável, a questão social também
deverá ser incluída na agenda de prioridades
da presidenta eleita para a região amazônica.
As tensões socioambientais, acirradas nos
últimos anos por processos como o das usinas
do Rio Madeira e, mais recentemente, o da Hidrelétrica
de Belo Monte, no Rio Xingu, não foram resolvidas.
“O grande desafio será
incorporar a variável socioambiental ao projeto
de desenvolvimento, que tem como prioridade o crescimento
econômico. Isso foi feito em parte durante
o primeiro governo Lula, mas o segundo mandato deu
prioridade aos grandes projetos, sem aceitar contestações”,
avaliou a coordenadora do Instituto Socioambiental
(ISA), Adriana Ramos.
Segundo ela, o histórico
desenvolvimentista de Dilma, que ficou conhecida
com a “mãe” do Programa de Aceleração
do Crescimento (PAC), não poderá ser
obstáculo para um nova forma de pensar a
economia e o desenvolvimento da Amazônia.
“Como presidenta, num cenário
em que no primeiro turno 20% da população
fizeram a opção por um projeto em
que a sustentabilidade era frontal, acho que ela
precisará ter essa sensibilidade". Para
Adriana, o Brasil tem compromissos relacionados
à redução do desmatamento,
que fazem com que o país necessite de uma
política para a região. "E tem
que haver coerência”.
Além da herança
de Belo Monte, pelo menos mais um grande projeto
na Amazônia deverá ser alvo de polêmica
com ambientalistas, caso saia do papel: a BR-319.
A rodovia, que deveria ligar Manaus a Porto Velho,
poderá cortar uma das regiões mais
preservadas da floresta. “Seria uma temeridade.
O país não está disposto a
pagar por uma rodovia-fantasma, que não tem
sentido econômico. Enquanto em Belo Monte
ainda há a discussão da demanda do
país por energia, essa estrada é apenas
uma obra faraônica”, argumentou Veríssimo,
do Imazon.
Mais de 200 organizações
estão em Belém discutindo os desafios
da região amazônica durante a reunião
anual do Fórum Amazônia Sustentável.